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MONSTRA ’24 | Curtas Premiadas, a Crítica: Os grandes vencedores do Festival de Animação de Lisboa

Na segunda sessão de vencedores, mais precisamente de curtas premiadas, no Cinema São Jorge e no dia 17 de março, tivemos oportunidade de conhecer uma eclética selecção de pequenos filmes que mereceram louvores por parte do júri da MONSTRA em 2024. 

Da MONSTRA à MONSTRINHA, passando pelas secções competitivas dedicadas a Estudantes, a Curtíssimas ou ainda pela Competição Portuguesa, 2024 foi mais um ano de ampla e variada programação no já icónico Festival de Animação de Lisboa. No último dia desta festa do cinema animado, e no Cinema São Jorge, a sua casa, vimos oito filmes que não poderiam ser mais diferentes entre si mas que se vêm unidos por um padrão de qualidade.

Sopa Fria MONSTRA
“Sopa Fria” também foi exibido nesta sessão | ©MONSTRA

Deixamos de parte os comentários a “O Estado de Alma”, Prémio Especial do Júri na Competição Portuguesa, já louvado aqui; e também de lado ficam as considerações sobre “Sopa Fria“, Prémio Especial do Júri e Prémio do Público na Competição Portuguesa (já abordado por aqui).

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ESTÁS AÍ SR.LOBO (LOUISE LAURENT, ALIZÉE VAN DE VALLE, EMMA FESSART, JEANNE GALLAND, CÉLINA LEBON, ANNOUCK FRANÇOIS, FRANÇA, 2023, 7′)

Uma pequena menina chamada Mischa vive nos subúrbios de Moscovo. Ela acabou de fazer um belo violino de papel. Ela quer tocar para os grandes monstros que vivem no apartamento. Mas quanto menos ouvem tocar o violino, mais o Lobo se aproxima perigosamente.

“Estás aí Sr. Lobo?”, a primeira obra exibida nesta sessão de curtas premiadas, integrou a Competição de Estudantes, responsável por garantir uma plataforma para o novo talento de amanhã em todo o mundo. Este filme assinado por seis estudantes foi destacado pelo Júri Junior na categoria de Melhor Curta de Estudantes.

Um filme simples, com animação digital 3D não particularmente memorável, “Estás aí Sr. Lobo?” distingue-se através da música a cargo de Mathis Coopman e do argumento assinado por Louise Laurent. Como maior trunfo, defendemos que é um pedaço de cinema capaz de subverter as expectativas do conto tradicional e imbuí-lo de dramatismo, tensão e de um pendor gótico enriquecedor.

Classificação: 60/100




PEIXE-BALÃO (JULIA OCKER, ALEMANHA, 2022, 4′)

Puffer Fish MONSTRINHA
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Num oceano cheio de peixes grandes e maus, o peixe-balão tenta parecer tão grande e forte quanto possível.

“Peixe-balão” introduz-nos a uma outra secção competitiva nesta sessão de curtas premiadas da MONSTRA 2024. A Competição MONSTRINHA, parte “separada” do Festival dedicada aos mais novos e que se faz representar por sessões escolares matinais e projeções familiares ao início da tarde. Neste caso, a pequena curta alemã levou o Prémio do Público – Escolas.

Assim se confirma a sua popularidade junto dos mais novos. Divertida, descomplicada e com uma mensagem dinâmica sobre a ilusão das aparências, a curta-metragem “Peixe-Balão” foi capaz de provocar o riso de quem assistia à sessão de vencedores no Cinema São Jorge. Cumpre a sua função de forma notória.

Classificação: 70/100

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À DERIVA (LEVI STOOPS, BÉLGICA, 2023, 25′)

À DERIVA curtas
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Duas pessoas à deriva no mar travam uma batalha sangrenta pela sobrevivência, tanto delas mesmas quanto do seu relacionamento.

Nesta sessão de curtas premiadas MONSTRA ’24 pudemos ainda ver o arrojado filme belga “À Deriva”, escrito e realizado por Levi Stoops – uma das histórias mais longas e adultas deste conjunto de vencedores. No Festival de Animação de Lisboa, foi reconhecido com o Prémio Especial do Júri, curiosamente a mesma distinção que lhe foi entregue no Festival de Annecy em 2023.

Mal fadada pequenada que se juntou no Cinema São Jorge num domingo à tarde, pois “À Deriva”, ou “Drijf”, no original, é uma curta algo sórdida, incómoda, provocadora e povoada por um humor sarcástico forte. Sedenta de sangue e empenhada em retratar tanto a fealdade quanto a coragem humana; o realizador descreveu o filme como “muito engraçado, um pouco brutal e relacionável”. Tendemos a concordar, e é no nível extremo da sua representação de perigo que “À Deriva” nos conquista.

Para lá do humor negro e da surreal evolução dos eventos, realçamos também a animação despojada de artefacto e eficaz. Tudo isto naquele que é o primeiro filme de Levi Stoops, para grande surpresa nossa!

Classificação: 80/100




OS GATOS SÃO LIQUIDOS (NATÁLIE DURCHÁNKOVÁ, CHÉQUIA, 2023, 1′)

Curtíssimas 2024
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Um filme repleto de várias cenas engraçadas que provam que os gatos são (contrariando a crença popular) na verdade líquidos em vez de sólidos.

A duração diz-nos tudo o que precisamos de saber. Para quem acompanha o Festival de Animação de Lisboa ano após anos, não é difícil concluir que “Os Gatos São Líquidos” é uma obra que se enquadra no programa da Competição de Curtíssimas em 2024, uma das mais dinâmicas da MONSTRA. Aqui, a criatividade deve libertar-se no espaço de 1 a 2 minutos. As limitações produzem, com frequência, obras estimulantes e fora da caixa.

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Neste caso, “Cats Are Liquid” foi galardoado como Melhor Curtíssima, levando o prémio principal. Aqui o painel de jurados acabou por optar por uma veia menos narrativa e mais técnica, parece-nos, premiando a espirituosa premissa do filme e o seu trabalho maleável e criativo com plasticina.

Classificação: 70/100




O MISTÉRIO DAS MEIAS DESAPARECIDAS (OSKAR LEHEMAA, ESTÓNIA, 2023, 20′)

monstra o mistério das meias desaparecidas
©Nuku Film

A Pequena Pille procura as meias perdidas do pai debaixo da cama e descobre um mundo fantástico de coisas esquecidas. É então que percebe que as meias do pai tiveram um ovo! Agora, Pille tem de proteger as meias do perigo até que o pequeno ovo possa ser chocado.

“O Mistério das Meias Desaparecidas” foi Prémio do Público na Secção Pais & Filhos, aquela que na MONSTRINHA promove a visita às salas por parte de famílias. Com uma animação 3D particularmente digital, este filme não ganha pela inventividade técnica mas antes pela sua bela capacidade de retratar a experiência da infância. Quando todo o mundo é um mistério, onde até a parte debaixo de uma cama – desarrumada e poeirenta – se afirma como um parque de diversões a explorar.

O filme de Oskar Lehemaa é particularmente hábil neste campo e, por isso mesmo, conquistou o seu público infantil. Tendo por base literária a coleção de histórias “Poop, Spring and the Others”, de Andrus Kivirähk, “The Mystery of Missing Socks” é um apelo sincero à imaginação e liberdade criativa dos mais pequenos.

Classificação: 70/100




A ESTAÇÃO PÚRPURA (CLÉMENCE BOUCHEREAU, FRANÇA, 2023, 10′)

À beira de um manguezal, um grupo de meninas vive ao ritmo do clima e dos gansos selvagens ao seu redor. Observam-se a viver e a crescer em idades distintas. Conforme o tempo passa, surgem tensões e desenvolvem-se rivalidades.

Clémence Bouchereau e o seu adulto “A Estação Púrpura” fecharam em altas a sessão “Premiados Curtas 2″ no dia 17 de março. Grande Prémio na Competição de Curtas da MONSTRA em 2024, “La Saison Pourpre” é um filme poético e que através de um plano fechado nos é capaz de contar uma história complexa que se relaciona com as aspirações que temos, no nosso âmago, para uma existência harmoniosa e em sintonia com a natureza.

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O seu estilo de animação infrequente, com recurso a ecrã de alfinetes, é outros dos grandes pontos a favor da obra que venceu assim o Prémio RTP. A equipa de jurados assim defendeu a atribuição do prémio: “O uso magistral de animação ‘pinscreen’ criou um mundo mítico delicado e poderoso de inocência e despertar”.

Classificação: 75/100

A MONSTRA – Festival de Animação de Lisboa passou pela capital, pela 23.ª vez, entre os dias 7 e 17 de março. Cá estivemos para acompanhar a programação, continuando a apresentar alguns dos seus destaques. Desse lado, marcaste presença? 

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  • Excelente!

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