“Beasts of No Nation” | © Netflix

TOP 10 | Melhores interpretações de crianças no cinema

Crianças divertidas, crianças ingénuas, crianças inocentes. Conhece-as a todas no nosso top 10 interpretações de crianças no cinema. 

A História do Cinema é tão vasta e rica em interpretações de crianças, e sendo junho o mês da criança, com a comemoração do Dia da Criança a acontecer em Portugal a 1 de junho, a Magazine.HD decidiu reunir algumas das melhores interpretações interpretações de crianças no cinema.

Mesmo nas primeiras projeções cinematográficas, nas quais se incluem a primeira exibição da curta-metragem de “Baby’s Lunch” (Irmãos Lumière, 1895), filme em que Auguste Lumière dá de comer à sua filha bebé, os cineastas estavam interessados em filmar crianças. Filmar os seus hábitos, a relação com os seus progenitores e filmar crianças de acordo com o seu mundo.

Mas de um cinema embrionário, com muito de documental, o cinema foi amadurecendo e procurou tornar as crianças em pequenos grandes intérpretes. A afinidade do espectador com os filmes em que entram crianças parece acontecer de maneira mais profunda, mais intensa, que empurram-nos para o nosso lado mais humano. Independentemente dos géneros comédia, drama, terror…as crianças, e os filmes com crianças, remetem-nos à essência da vida.

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Jacob Tremblay em “Quarto” (2015) | © George Kraychyk, A24

As crianças que todos já fomos um dia, são também sinónimo de inocência, mas também de nostalgia, e de saudade. É na infância que a nossa mente começa a dar asas à imaginação daquilo que queremos ser quando somos adultos. Na infância, pouco a pouco, vamo-nos despertando para a realidade. Na infância, vivemos com uma áurea mística, contudo possa também  ser a fase da vida em que sofremos com os nossos primeiros traumas.

O cinema tem-nos feito mostrar crianças de vários grupos étnicos, de diferentes pólos culturais, de diferentes costumes e, obviamente, de diferentes famílias. O cinema tem-nos feito questionar o significado do que é ser criança.

Não é fácil definir um Top 10 das melhores interpretações de crianças no cinema. O objetivo  neste artigo, antes sequer de tirar partido de um ou outro desempenho, é sobretudo perceber a diversidade de contextos infantis que dominam no cinema.

Quem é que não se lembra de Danny Lloyd em “Shining” (Stanley Kubrick, 1980)? Henry Thomas em “E.T – O Extraterrestre” (Steven Spielberg, 1982)? Wil Wheaton, River Phoenix, Corey Feldman, Jerry O’Connell e Corey Feldman em “Stand By Me” (Rob Reiner, 1986)? Giorgio Cantarini em “A Vida é Bela” (Roberto Benigni, 1997), Douglas Silva em “Cidade de Deus” (Fernando Meirelles, 2002) ou Jacob Tremblay em “Quarto” (Lenny Abrahamson, 2015)?

E quem é que não se lembra de Linda Blair em “O Exorcista” (William Friedkin, 1973)? Abigail Breslin em “Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos” (Jonathan Dayton, Valerie Faris, 2006)? Ou mesmo Saiorse Ronan em “Expiação” (Joe Wright, 2007).

O cinema tem-nos feito questionar o significado do que é ser criança.

E como não relembrar o cinema português e as doces e eternas personagens de Horácio Silva, António Pereira, António Santos e Fernanda Matos em “Aniki Bóbó” (Manoel de Oliveira, 1942) a percorrerem as ruas antigas da cidade do Porto? E como deixar de lado o cinema de animação, sobretudo a Boo de “Monstros e Companhia” (2001), ou o Andy e a Bonnie dos filmes “Toy Story”?

Todos eles crianças de diferentes feitios e de diferentes cantos do mundo e com todos eles nos identificamos. Vivemos as suas vidas, e voltamos ao passado.

Prontos para conhecer algumas das melhores interpretações de crianças no cinema? Queremos também saber quais são as tuas interpretações infantis favoritas no cinema e quais as que colocarias num possível top 10.




Alex R. Hibbert em “Moonlight” (2016)

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Alex R. Hibbert © David Bornfriend, A24

Começamos com uma das interpretações mais densas vistas na história do cinema contemporâneo: Alex R. Hibbert no vencedor do Óscar de Melhor Filme: “Moonlight” (2016). Realizado por Barry Jenkins, Alex R. Hibbert interpreta a primeira fase do protagonista deste drama, Chiron (interpretado depois por Ashton Sanders e Trevante Rhodes) e pouco ouvimos a sua voz.

Aos 10 anos, Chiron é uma criança vítima de bullying na escola e de violência doméstica por parte da mãe toxicodependente, na sua casa. No entanto, Chiron encontra alguma paz na figura de Juan (o vencedor do Óscar Mahershala Ali), mentor e o pai que não tem.

Mas como é a interpretação de Alex R. Hibbert? Hibbert vai-nos dando a sensibilidade que a personagem exige, sobretudo por representar uma personagem que não consegue definir-se sexualmente, quando todos ao seu redor já discutem a sua homossexualidade. Aliás há um momento determinante na trama em que Chiron pergunta a Juan “O que é um maricas? Sou um maricas?”.

Através de um profundo retrato sobre a homossexualidade na comunidade negra dos Estados Unidos e a personagem de Alex R. Hibbert mostra-nos esse confronto na infância que existe entre masculinidade e a sexualidade e que persegue jovens durante muito tempo. “Moonlight” explora perfeitamente aquilo que é o prazer sexual, como o prazer pleno da alma, sendo isso que procuramos desde que nascemos ao fim dos nossos dias.




Lewis MacDougall em “Sete Minutos Depois da Meia-Noite” (2016)

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Liam Neeson e Lewis MacDougall | Travis Topa – © 2016 – Focus Features

Os traumas familiares em crianças e pré-adolescentes tem vindo a ser uma temática crescente no cinema sobre e com crianças. Baseado no livro de Patrick Ness, em “Sete Minutos Depois da Meia-Noite”, uma criança, interpretada pelo estreante Lewis MacDougall, tem que lidar com a doença da sua tão doce mãe, interpretada por Felicity Jones, e com a arrogância da sua avó, interpretada por Sigourney Weaver.

Se o filme poderia desviar-sedo foco dramático pelos seus efeitos digitais, Lewis MacDougall consegue entregar-se ao filme e à sua personagem com um realismo mágico pouco visto nos últimos anos no cinema. A personagem de Lewis MacDougall em “Sete Minutos depois da Meia-Noite” reflete os efeitos da depressão nas crianças, e como a dor jamais conseguirá ser superada. A dor acompanhará a criança para o resto da sua vida.

De relembrar que o ator escocês foi um dos esquecidos das nomeações aos Óscares 2017, como revelámos na nossa análise. Quanto ao papel de Lewis MacDougall foi dito:

O principal culpado pelo modo como a obra transcende os seus jogos mais manipuladores é, sem dúvida, o jovem ator escocês Lewis MacDougall e a estonteante prestação que ele dá ao encarnar a personagem. Nas suas mãos, Conor não é um simples miúdo introvertido típico de Hollywood, aquele tipo de arquétipo vácuo que acaba sempre por ser muito apelativo, mas sim uma pessoa realmente anti-social, agressiva e perturbadora. CA




Abraham Attah em “Beasts of No Nation” (2015)

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Abraham Attah © Netflix

Hoje em dia todos falam de “Roma” (Alfonso Cuarón, 2018), o primeiro filme da Netflix nomeado para o Óscar de Melhor Filme, mas antes houve um filme que abriu caminho à plataforma de streaming. Falamos de “Beasts of No Nation” (2015).

Realizado por Cary Fukunaga, em “Beasts of No Nation”, encontramos Abraham Attah como Agu, uma criança tornada soldado que tem que lidar com os horrores da guerra, num país sem nome, um país sem identidade. E, tal como essa nação Attah mostra-nos uma personagem que vai perdendo a inocência, o seu “eu” e o pouco de dignidade que ainda resta neste mundo. 

Agu é essa personagem que sofre horrores, mazelas e ainda vive momentos verdadeiramente traumatizantes nas mãos do ‘Comandante’, um verdadeiro monstro que é o líder do grupo que treina Agu para ser um criança soldado. O Comandante é interpretado por Idris Elba e ao lado de Abraham Attah criam uma das duplas mais sólidas da história recente do cinema.

O talento de Abraham Attah, natural do Gana, surpreendeu até mesmo os produtores de “Beasts of No Nation”. Na sua audição Attah até chorou e afirmou que embora nunca tivesse sido uma criança soldado, havia visto dificuldades suficientes na sua jovem vida. O resultado? Uma interpretação infantil verdadeiramente memorável que conquistou a crítica e venceu o Prémio Marcello Mastroianni para Melhor Jovem Ator no Festival de Veneza de 2015.




Quvenzhané Wallis em “Bestas do Sul Selvagem” (2012)

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Quvenzhané Wallis | Mary Cybulski – © 2012 – Cinereach Ltd

Foi a última criança a receber uma nomeação ao Óscar. Nomeada na categoria de Melhor Atriz (a mais jovem nomeada da história), Quvenzhané Wallis brilha em “Bestas do Sul Selvagem”. O drama profundo segue-a como Hushpuppy uma miúda de seis anos e uma órfã de mãe que vive em condições de vida degradantes junto com o seu pai.

Se muitos críticos e céticos tinham dúvidas se as crianças poderiam ser atores, Quvenzhané Wallis em “Bestas do Sul Selvagem” deixa todos de queixo caído, aliás, foi isso mesmo que aconteceu quando o filme passou no Festival de Cannes em 2012. Sobre a sua interpretação na Magazine.HD foi dito:

Quvenzhané Wallis é o principal veículo para que a simbiose hipnótica que se estabelece entre Hushpuppy e a Natureza seja harmónica e mágica. Mesmo no momento onde a fragilidade emocional de Hushpuppy é posta à prova, sente-se que Wallis tomou um conhecimento completo da sua personagem. Compreendeu que a fragilidade aparente de Hushpuppy merecia não uma lágrima, mas uma ténue exaltação da ingenuidade num enlaço visceral e inspirador. DR

Na verdade, através de uma viagem pelos olhos de uma criança, vamos contactando com um retrato de uma América em que muitas famílias vivem no limiar da pobreza, sem esquecer a alegoria da obra aos efeitos devastadores do furacão Katrina. Em paralelo às imagens degradantes, o realizador Benh Zeitlin, orienta a sua câmara para a jovem atriz, e, de facto, com Quvenzhané Wallis, tudo aquilo que vemos parece tão mais belo, do que jamais poderá vir a ser.

Da fragilidade, mais até do que inocência, começamos a querer ser um pouco mais como Hushpuppy, de forma a compreendermos melhor a realidade dura com que nos confrontamos diariamente.




Max Records em “O Sítio das Coisas Selvagens” (2009)

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Max Records | © Warner Bros.

O lado selvagem, a liberdade e a diversão nunca estiveram tão bem reunidos no só filme “O Sítio das Coisas Selvagens” (Spike Jonze, 2009), ainda relembrado 10 anos depois da sua estreia graças à interpretação de Max Records.

Mesmo assim, “O Sítio das Coisas Selvagens”, baseado no livro infantil do mesmo nome da autoria Maurice Sendak e publicado em 1963, é um retrato imaginário e místico sobre a solidão na infância conseguindo, por vezes, ser bastante deprimente para o espectador continua a querer assistir à obra. Mesmo assim, os espectadores mais velhos serão deliciados com as memórias da sua infância e daquilo que faziam para superar os momentos mais difíceis: sonhar.

A interpretação de Max Records é o ponto mais alto de “O Sítio das Coisas Selvagens”, sobretudo pela forma como o jovem ator cria uma atmosfera idílica que faz o espectador se envolver e querer embarcar na sua mente. A sua personagem, de nome Max, não é apenas uma simples criança incompreendida pelos adultos, e usa um disfarce de lobo.

Max e os monstros que conhece que são apenas uma personificação das suas emoções e sentimentos em amadurecimento, representa todo e qualquer rapaz que vive desajustado da realidade, que procura na sociedade um lugar onde possa pertencer.

Neste filme com uma criança (não é um filme para crianças), Max Records leva-nos ao verdadeiro sítio das coisas selvagens: ao nosso subconsciente.




Victorie Thivisol em “Ponette” (1996)

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Victoire Thivisol | © Arrow Releasing

4 anos tinha Victorie Thivisol quando protagonizou “Ponette”. Sim, 4 anos! Victorie Thivisol é Ponette uma criança de 4 anos que tem de lidar com a morte da mãe, mas que tem fé que a sua mãe ainda volte. O percurso de Ponette ao longo da história é de uma criança que questiona adultos, outras crianças e, por sua vez, a si mesma, sobre o que é a vida depois da morte, o que é Deus e o que é a religião.

Ponette é uma personagem sofrida desde o início, e o ambiente demasiado depressivo que a envolve, faz-nos também compreender que a dor da perda também é difícil de ser superada em crianças. A perda da inocência da criança acontece pela via do sofrimento e da melancolia. Somos envoltos no seu quotidiano, e pouco a pouco vamos mergulhando no mundo fragmentado de Ponette.

Victorie Thivisol teve aqui o lançamento da sua carreira como atriz, provando que há espaço para crianças em tão tenra idade de interpretarem personagens maduras. Por “Ponette”, a atriz venceu o prémio mais importante do Festival Internacional de Veneza, o Volpi Cup em 1991 pelo seu tocante desempenho.

Como acontece com muitas crianças, Victorie Thivisol parece ter deixado a carreira da interpretação de lado. Em 2000 ainda foi vista ao lado de Juliette Binoche no aclamado “Chocolate” ( Lasse Hallström, 2000) e o seu último projeto foi em 2008, nomeadamente no filme “Grown-Ups Down on the Ground” ( Emmanuel Saget, 2008).




Anna Paquin em “O Piano” (1993)

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The Piano © BigStar.TV

Vamos agora até 1993, e à última atriz criança a ganhar o Óscar. A atriz de “Sangue Fresco”, Anna Paquin, participou num pequeno filme áustralo-franco-neozelandês chamado “O Piano”, que valeu à atriz o Óscar de Melhor Atriz Secundária.

“O Piano” conta a história de duas mulheres, mãe e filha. Nos finais do século XIX Ada McGrath chega à Nova Zelândia na companhia da sua filha Flora, de dez anos, e do seu magnífico piano. Ada é muda e comunica com o Mundo através da filha, que interpreta a sua linguagem de sinais e, sobretudo, através do piano.

Aos 11 anos, Anna Paquin entrava num dos filmes mais intensos e profundos dos anos 90. Anna Paquin interpreta Flora McGrath, a filha dedicada da muda Ada (Holly Hunter, também ela numa interpretação impressionante reconhecida com o Óscar de Melhor Atriz), que é a voz da consciência da sua mãe. Flora está disposta a ajudar a sua mãe em tudo e, digamos que se assume como o verdadeiro lado mais inocente de Ada. Mãe e filha neste filme servem como uma só.

Flora McGrath é uma criança que deixa de ter a mãe só para ela, e que apesar de crescer numa situação peculiar, continua a comportar-se como uma criança. Uma das cenas mais intensas, Flora desesperada por assistir ao sofrimento da sua progenitora, e o espectador parece ser ainda mais confrontado com a dor de uma criança, que sabemos está a perder a sua inocência.

“O Piano” é uma das mais notáveis realizações da cineasta neo-zelandesa Jane Campion que em 1993 foi a primeira mulher a conquistar uma Palma de Ouro em Cannes precisamente com este filme ‘feminista’.




Ana Torrent em “O Espírito da Colmeia” (1973)

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Ana Torrent | © 1973 – Janus

Se as crianças de “Aniki Bóbó” (1942) fizeram o cinema português brilhar, do cinema vizinho, o cinema espanhol Ana Torrent fez magia em todas as suas interpretações em criança. Recuemos aos anos 70 e ao tão comentado filme “O Espírito da Colmeia” (1973).

“O Espírito da Colmeia” (1973) é construído em redor da recriado no espírito de uma criança, após ver o filme de Whale no cinema ambulante, e que se desenvolve na atmosfera intensa deprimente do campo espanhol, nos anos que se seguiram ao fim da guerra civil.

De facto, o filme coloca a personagem de Ana Torrent, também ela chamada Ana, em confronto com a própria realidade. Primeiro, através da realidade cinematográfica do filme de Frankenstein, que, pouco a pouco, pensa ser verdade. Segundo, da realidade da sua vida familiar abalada pelas baixas condições de vida.

Esta é uma inclusive uma história de medo (vejamos aos jogos de luz e de sombra de Victor Erice), essa emoção que nos contém face ao mundo desde que somos crianças. O filme coloca Ana Torrent, e ao próprio espectador, em confronto permanente com o medo, mais do que com o terror.

Vejam-se, a título de exemplo, os momentos em que a câmara capta a expressão Ana (a personagem), quando é a própria Ana Torrent (a atriz ainda criança) quem descobre pela primeira vez na sua vida, em tempo real, as imagens em que o monstro entrega uma flor a uma criança na beira do lago. O cinema, ao filmar crianças, pode filmar imaginários, mas também filmar “a verdade”, com todas as nuances que a expressão implica.




Tatum O’Neal em “Lua de Papel” (1973)

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Tatum O’Neal | © Paramount Pictures

“Paper Moon” (1973), do aclamado cineasta Peter Bogdanovich, famoso sobretudo nos anos 70, e por filmes como “The Last Picture Show (1971), leva-nos até aos Estados Unidos da América da época da Grande Depressão. O filme é um olhar profundo sobre uma época transformada da história americana, numa década que também ela acabaria por ser afetada por uma crise económica (a Crise Petrolífera de 1973).

O filme quer levar o espectador numa viagem ao passado e à memória da nação, muito embora não queira ter um olhar lamechas e nostálgico sobre a  mesma. “Lua de Papel” vive da fragilidade de uma criança, que aparenta forte e nunca é vitimizada em relação aos momentos que vive.

Essa criança é exatamente a personagem de Tatum O’Neal: Addie. Addie perdeu a mãe e conhece um homem que pode ou não ser seu pai (interpretado pelo próprio pai da atriz Ryan O’Neal). Addie é uma personagem pouco comum àquelas que vemos no cinema comercial de hoje.

Addie é uma criança áspera, embora seja honesta, mas também desprovida de afetos. Addie é uma criança que tem que ser adulta e que precisa de ser forte para lidar com a situação adversa que se confronta (como aconteceu certamente com outras tantas crianças na Grande Depressão). E embora o filme convide, por vezes, aos risos do espectador, esta é uma comédia ácida e irónica, diante das dificuldades económicas, sociais e, por sua vez, familiares que abalavam a América nessa época.

Do ponto de vista estética, o realismo do filme parece ser conseguido através da profundidade de campo e de cenas longas sem cortes, bem como de imagens de grandes espaços. Uma das maiores influências para a obra foi Orson Welles, que ajudou na direcção de fotografia do filme, filmado a preto e branco, mas com recurso a filtros vermelhos ou verdes em frente da objectiva, para dar mais contraste.

Em caso de Óscares, Tatum O’Neal venceu na categoria secundária, quando é claramente uma personagem principal na trama de “Lua de Papel”. Quem sabe se, justiça tive sido feita, O’Neal fosse nomeada na categoria de Melhor Atriz e Linda Blair levasse o Óscar de Melhor Atriz Secundária por “O Exorcista”. Em qualquer caso, nunca num só ano duas interpretações infantis foram tão aclamadas pelas estatuetas douradas…




Enzo Staiola em  “Ladrões de Bicicletas” (1948)

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Lamberto Maggiorani e Enzo Staiola | © Panocéanic Films

Chegámos ao fim deste artigo tão especial sobre as melhores interpretações de crianças no cinema. Embora existam outras tantas interpretações inesquecíveis, o Top 10 não poderia terminar com a interpretação celebre oferecida por Enzo Staiola em “Ladri di Biciclette”.

Enquanto a América venerava Hollywood de dia e de noite, a Europa começa a filmar os horrores da guerra (e do pós-Segunda Guerra Mundial) e as condições sociais em que viviam muitas das famílias sobreviventes. O designado cinema realista (ou realismo social) teve o peso preponderante na Itália dos anos 40, um dos países visivelmente mais afetados pelo conflito armado, não só com a destruição dos edifícios, como a destruição de muitas vidas reduzidas a ruínas. Neste movimento cinematográfico, cultural, e de alguma forma até político nomes como Vittorio De Sica filmou “Ladrões de Bicicletas” (1948) e um desses ladrões era, inevitavelmente uma criança.

Enzo Staiola em “Ladrões de Bicicletas” interpreta Bruno Ricci, o filho do protagonista Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani). Aliás, a personagem vive da relação com o seu progenitor, ambos engolidos por Roma, por uma Itália em mudança, mas a grande maioria da população a viver no limiar da pobreza. A bicicleta é aqui um elemento importante para a trama, porque no momento em que o protagonista perde a bicicleta, perde também a última chance para conseguir um emprego.

“Ladrões de Bicicletas” pode conduzir o espectador para um final amargo, sem qualquer gota de felicidade. No entanto, a personagem de Enzo Staiola, por ser uma criança, faz-nos ter esperança. Esperança num futuro melhor… e numa vida sem dificuldades. Enzo Staiola personifica aquilo que as crianças são, ou têm sido, nas distintas linguagens cinematográficas mundiais. Afinal, o jovem Bruno consola o seu pai, e ao mesmo tempo, consola o espectador e relembrando-nos que uma coisa as crianças nunca vão perder no cinema: a pureza.

Qual destas interpretações de crianças no cinema é a tua favorita? Quais são as crianças no cinema mais marcantes? 

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