"Marriage Story" ©Netflix

Marriage Story | Um guia para cinema sobre relações desfeitas

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“Marriage Story” estreou na plataforma de streaming Netflix no passado dia 6 de dezembro, e, verdade seja dita, ainda estamos a recuperar do golpe que foi ver e sentir esta grande obra de ficção sobre um casal prestes a finalizar o seu divórcio.

Muitos outros grandes filmes foram feitos sobre o tema de relações desfeitas. Onde o amor deu lugar a animosidade, onde o amor se transformou em ódio, indiferença, nostalgia ou todo o espectro de emoções e micro-emoções que encontramos entre os extremos. Aqui ficam 20 obras de referência, da mais recente para a mais antiga, dentro de diversos géneros – algumas comédias, alguns filmes bem dramáticos, e alguns algures no espaço entre as duas coisas.  Em comum, todos tocam na temática do final de uma relação. Fica o aviso, vai ser uma galeria particularmente melancólica.

Venham descobrir connosco 20  filmes a não perder sobre relações desfeitas!

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MARRIAGE STORY (2019) 

Marriage Story critica
˝Marriage Story” | © Netflix

Reza a lenda que “Marriage Story” é para Noah Baumbach um filme quase auto biográfico. Em parte, recupera a sua separação da atriz Jennifer Jason Leigh, e a sua experiência de partilha de custódia do seu filho. E mesmo que o realizador e argumentista reforce que a obra não é sobre o seu casamento, a verdade é que este se sente como um filme pessoal, inclusive para todos os principais envolvidos. Scarlett Johansson e Adam Driver foram escolhidos para os papéis centrais antes de existir sequer um argumento. Era importante para o autor saber para quem estava a escrever, e este cuidado faz-se sentir nas fortes interpretações que aqui são entregues.

“Marriage Story” é um filme forte, uma viagem emocional marcante onde não existem culpados, e onde dois lados de uma mesma questão tentam ser vistos com imparcialidade por parte do seu criador. Talvez seja ingénuo pensar que este é um objectivo possível, mas prestar-se a este exercício foi sem dúvida um esforço louvável levado a cabo por este mestre do indie que é Noah Baumbach. “Marriage Story” está presente no catálogo da Netflix, e vale cada minuto de visualização!




MANCHESTER BY THE SEA (2016)

Metacritic
“Manchester by the Sea” |© 2016 Amazon Studios

“Manchester By the Sea” é uma pérola indie norte-americana, um filme repleto de mágoa, arrependimento, sentimentos que esmagam, moem e que o tempo não apaga, apenas suaviza. É uma obra sobre a complexidade e a fragilidade das relações humanas, sobre acidentes fatídicos, sobre o poder dos atos e das intenções. É um filme em primeiro lugar sobre família. Sobre um tio, Leo Chandler (Casey Affleck), incumbido da difícil tarefa de tomar conta de um adolescente rebelde, Patrick (Lucas Hedges), depois de este ficar órfão.

À medida que o devastador filme de Kenneth Lonergan se desenvolve, compreendemos como esta é uma narrativa não só sobre relações desfeitas, como famílias destroçadas. Um cenário melancólico ameaça devorar-nos quando a Randi Chandler de Michelle Williams entra em cena e nos destrói com a sua prestação imperdível. A culpa é quase sufocante, mas para lá da mágoa e dos erros do passado, parece haver ainda margem para amor, aprendizagem, novos recomeços e, claro, esperança. Belo e marcante, assim é este “Manchester By the Sea”. A relação de Randi e Leo não é o tema central da história, mas o diálogo mais significativo entre os dois é o momento que resiste na nossa mente e nos atormenta.




O DESAPARECIMENTO DE ELEANOR RIGBY: ELES, ELA E ELE (2014) 

Eleanor Rigby
“O Desaparecimento de Eleanor Rigby: Ele” |©The Weinstein Company

Três filmes que são apenas um na realidade, e que examinam, de três pontos de vista distintos, o final de uma relação amorosa. Uma bela história romântica, que à semelhança de “Marriage Story” procura não conduzir o espectador numa só direcção, fazendo-o contudo de uma forma muito mais radical – dividindo os pontos de vista em filmes. Assim, “O Desaparecimento de Eleanor Rigby” é um filme de 5 horas, dividido em várias partes, cada uma delas com o seu propósito distinto.

O esforço cinematográfico escrito e realizado por  Ned Benson não teve direito a grandes louvores por parte da crítica ou público, mas merece não ser esquecido. Aqui, examina-se, com muita melancolia à mistura, uma premissa simples e realista: “O que acontece a um casal depois da morte de um filho?”. Jessica Chastain e James McAvoy estão excelentes no papel de Eleanor e Conor, um par que tem dificuldade em permanecer unido depois da morte do seu bebé, Cody. Eleanor refugia-se nos seus estudos universitários, e vê em Conor apenas a recordação da vida que perdeu. Uma narrativa triste mas sincera, num esforço consciente para colocar todos os pontos nos “is”, no que diz respeito a um amor que resiste mas que tem dificuldades em sobreviver.




BASTA DE CONVERSAS (2013)

© 2013 – Fox Searchlight Pictures

Uma comédia romântica dramática protagonizada por Julia Louis-Dreyfus (Veep), e pelo falecido James Gandolfini (“The Sopranos”).  A obra, escrita e realizada por Nicole Holofcener, conta uma história invulgar sobre relacionamentos humanos, particularmente bem-recebida no decurso do seu ano de lançamento.

Julia Louis Dreyfus dá vida a uma mãe solteira divorciada, Eva, uma massagista que receia o dia em que a sua filha irá partir para a Universidade. Conhece Albert (Gandolfini), um homem simpático e carinhoso na mesma situação. O seu romance rapidamente se desenvolve, mas Albert é ainda atormentado por alguns fantasmas do passado, nomeadamente a sua ex-mulher. Uma comédia romântica que explora algumas questões um pouco ignoradas pelo cinema, como por exemplo o tipo de relação que um ex-casal mantém pós-divórcio, e a forma como estas dinâmicas poderão afectar novos relacionamentos que se desenvolvam. Não é assim um filme sobre divórcio, mas um filme sobre o que acontece depois, e sobre a procura de uma nova normalidade.

Uma comédia romântica com as melhores das intenções, bela, pouco povoada por lugares comuns, e infelizmente, a última obra em que Gandolfini participou.




O QUE A MAISIE SABE (2012)

Marriage Story - filmes sobre relações desfeitas
Julianne Moore e Onata Aprile em “O Que a Maisie Sabe” |©JoJo Whilden – © Millennium Entertainment

Relações familiares, pais e filhos, casamentos e divórcios, perda e reconciliação, algumas das temáticas que têm vindo a dominar esta lista e que nos levam até ao próximo título. Estreado em Toronto, “O Que a Maisie Sabe” coloca-nos num ponto de partida semelhante ao filme que motivou esta lista, “Marriage Story”. Um casal nova-iorquino está no processo de um divórcio, e quem é arrastado para o centro do conflito é a sua pequena filha, Maisie.

Um belo filme que dá preponderância à perspectiva de Masie, a jovem criança de 7 anos, e coloca-nos assim no seio do caos que se semeia na sua família. A obra conta com competentes prestações da parte de Julianne Moore, Steve Coogan, Joanna Vanderham e Alexander Skarsgård, com especial destaque para a jovem Onata Aprile como Maisie.

“What Maisie Knew” desenha uma visão contemporânea de um romance de Henry James, e propõe diversas propostas à abordagem do que é afinal uma família.




NOTAS DE AMOR (2011) 

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Michelle Williams e Seth Rogen em “Notas de Amor” (2011) |©Magnolia Pictures

“Take This Waltz”, escrito e realizado pela também atriz Sarah Polley (realizadora do notável documentário biográfico “Histórias que Contamos”)  demorou a chegar a Portugal, só cá o pudemos ver em 2013, bastante depois da estreia original, mas valeu a pena. Aqui, traça-se um honesto retrato acerca da ideia de infidelidade, do ponto de vista de quem pensa trair.

Numa viagem de trabalho, a regressar a casa de avião, Margot (Michelle Williams) conhece Daniel (Luke Kirby), um belho estranho. A atração é imediata, e Margot consegue discutir os seus medos e sonhos com este novo conhecimento. Na viagem de táxi, compreendem que são vizinhos, e é aí que esta admite ser casada. O fascínio crescente com o seu vizinho artista faz com que deixe de saber se é feliz no seu casamento com Lou (Seth Rogen), marido de 5 anos que ama mas onde a intimidade parece ver-se comprometida. Seria Margot mais feliz se colocasse em prática as suas fantasias românticas?

“Notas de Amor” é menos um filme sobre uma relação destruída de início, e mais sobre o que acontece quando um matrimónio cai numa rotina que facilmente pode conduzir a um desejo por algo mais, algo diferente, algo novo … sobre intimidade, química, e sentimentos que se tornam frequentemente mais confusos do que evidentes.




UMA SEPARAÇÃO (2011) 

Filmes relações desfeitas - marriage story
“Uma Separação” | © 2011 – Sony Pictures Classics

Dizemos temporariamente adeus ao indie norte-americano que está a dominar de forma evidente esta lista, e vamos até ao Irão para encontrar o próximo título da lista. Aqui, encontramos um casal unido em matrimónio que está perante um dilema que ameaça separá-los. Nader (Payman Maadi) e Simin (Leila Hatami) ponderam mudar-se para outro país, para poder dar uma melhor vida à sua filha. Contudo, Nader recusa-se a ir, pois pretende ficar no Irão e tomar conta do seu pai (Ali-Asghar Shahbazi), que sofre de Alzheimer.

Contudo, Simin está determinada a deixar o país com a sua filha. Uma bela e humana narrativa que vai muito além da sua temática mãe – “Uma Separação”.

Esta obra exemplar valeu ao seu argumentista e realizador,  Asghar Farhadi, o Óscar e o Globo de Ouro de Melhor Filme em Língua Estrangeira pelo Irão.  O filme teve uma (merecida) impecável temporada de festivais e de prémios, tendo vencido na Berlinale o Urso de Ouro, o Prémio do Júri, e ainda Ursos de Prata para os seus intérpretes centrais.




BLUE VALENTINE – SÓ TU E EU (2010) 

©The Weinstein Company

Estreado em janeiro de 2010, no Festival de Cinema de Sundance, nos Estados Unidos, “Blue Valentine”, de Derek Cianfrance, protagonizado pela repetente nesta lista Michelle Williams (inata rainha da melancolia) e por Ryan Gosling, rapidamente se tornou um clássico instantâneo no que diz respeito a filmes sobre finais de relações.

Possivelmente o filme mais amado sobre o final de um casamento a ter sido realizado no século XXI, esta obra apresenta em contraste corrosivo os momentos mais felizes (iniciais) e mais devastadores (finais) de uma mesma relação amorosa. A obra, que valeu à eterna “Jen” (sim, de Dawnson’s Creek) a sua segunda de quatro nomeações aos Óscares, conta a história do jovem casal Dean Pereira e Cindy Heller Pereira. Ambos têm fantasmas do passado que os assombram, ele vem de um lar desfeito e não se imaginava casado, ela teve também uma família disfuncional e  é ainda atormentada por um relacionamento já terminado. São vários os problemas, todos eles aqui expostos calmamente, através de uma teia de temporalidades que faz com que estes personagens se tornem, em menos de 2 horas, nossos conhecidos de longa data.




 (500) DIAS COM SUMMER (2009)

“500 Dias com Summer” |©Fox Searchlight Pictures

“500 days of Summer” é uma bem-amada comédia romântica anti-romântica sobre um romântico incurável que se apaixona por uma mulher que não acredita nos conceitos absolutos de “amor verdadeiro”. O filme de Marc Webb pensa uma relação romântica a partir do seu final, e apesar de se tratar de uma rom-com algo melancólica, deixa uma mensagem de esperança para os românticos incuráveis que levam um “choque de realidade”.

É este mais um inegável clássico de culto a povoar a galeria,  narrado do ponto de vista de Tom Hansen (Levitt), que recorda aqui o espaço de 500 dias durante o qual conheceu Summer Finn (Deschanel). Para ele, ela era o amor da vida dele. Já Summer, realista a um grau que roça o desencanto, apenas vivia ao sabor do vento, sem acreditar sequer no conceito de relação. Dois opostos que se juntam, mas que inevitavelmente dizem adeus. E como canta Damien Rice na sua música “The Blower’s Daughter”, banda sonora de outro filme sobre relações frustradas (“Closer  – Perto Demais”), “I can’t take my mind off you (…) Til I find somebody new”, parece ser um bom mote para Tom, o nosso romântico incurável.




A LULA E A BALEIA (2005)

©Samuel Goldwyn Films

Com “The Squid and the Whale” voltamos à temática pura e dura do divórcio, e também à obra de Noah Baumbach, que motivou esta lista com o seu recente “Marriage Story”. A comédia dramática é, acima de tudo, uma narrativa familiar. Aborda a história de dois irmãos que lidam com o divórcio dos seus pais na Brooklyn dos anos 80.

Conta com prestações marcantes por parte de Laura Linney e Jeff Daniels, que dão vida aos pais, e apresenta-nos ainda um dos primeiros papéis significativos de Jesse Eisenberg. No elenco secundário, encontramos ainda nomes como Anna Paquin ou William Baldwin. A obra valeu ao agora influente Noah Baumbach a sua primeira nomeação ao Óscar por Melhor Argumento, um feito que vai certamente repetir este ano com o seu “Marriage Story”, que tem enormes chances de lhe valer uma estatueta dourada. 




O DESPERTAR DA MENTE (2004) 

Eternal Sunshine of the Spotless Mind
Jim Carrey e Kate Winslet em “O Despertar da Mente” (2004) |© Focus Features

“Eternal Sunshine Of The Spotless Mind” leva-nos para mais uma melancólica narrativa sobre o poder das memórias. E também até mais um incontornável fenómeno de culto que aqui se apresenta.  Ao fim de contas, o sentimento agridoce do final de um amor é, sem dúvida, um terreno fértil para a criação artística.

Aqui, é-nos apresentada a história de Joel Barish, que se encontra desolado no momento em que o encontramos. Este romance dramático tem um ligeiro toque de ficção científica metafórico envolvido, e, no caso de Joel, precisa agora de lidar com uma acção drástica por parte da sua namorada. Clementine decide fazer um procedimento clínico para apagar as suas memórias dele. Joel decide fazer o mesmo, mas à medida que sente que está a perder as memórias dela, compreende que ainda a ama, e que talvez seja demasiado tarde para corrigir o seu erro.

Uma apaixonante embora algo desoladora história criada por Charlie Kaufman, argumentista de grandes obras como “Anomalisa” (2015) ou “Adaptação” (2002).




PAPÁ PARA SEMPRE (1993)

Mrs. Doubtfire (1993)
Robin Williams em “Papá Para Sempre” (1993) |© Twentieth Century Fox

Adeus século XXI, e olá a 1993 e à bem-intencionada comédia dramática familiar “Mrs. Doubtfire”, protagonizada pelo eterno Robin Williams. Aqui nos é apresentado um filme que tem uma profundidade temática bem mais notável do que a comédia apatetada deixa adivinhar. No seu cerne, esta não é nada mais nada menos do que a narrativa de um pai que cometeu diversos erros, e que agora tudo faz para os tentar corrigir. É uma batalha de custódia, como diversas nesta lista, mas uma que já está perdida. Há muito de cómico e algo de trágico, e a linearidade não mora certamente aqui.

Somos apresentados ao excêntrico ator Daniel Hillard. Daniel é um sujeito divertido, e um pai dedicado, com algumas falhas, como tantos outros. Contudo, depois de uma festa de aniversário desastrosa organizada para o seu filho, a sua esposa Miranda (Sally Field)  pede o divórcio. Daniel apenas pode ver os seus três filhos uma vez por semana, o que se revela insuficiente. Quando Miranda coloca um anúncio a pedir uma governanta, as estrelas alinham-se para Daniel, que decide fazer-se passar por uma senhora escocesa, que acaba por ser a figura maternal/ paternal que Daniel não conseguiu inteiramente ser. Uma história bem-intencionada, embora ligeiramente agridoce para uma comédia familiar.




MARIDOS E MULHERES (1992)

Maridos e Mulheres - it's a marriage story
“Maridos e Mulheres”|  © Jack Rollins & Charles H. Joffe Productions

“Husbands and Wives”, da autoria de Woody Allen, é uma obra que pensa as relações matrimoniais, e no qual Allen contracena com a “sua” Mia Farrow.

Tudo começa quando Jack (Sydney Pollack) e Sally (Judy Davis) anunciam que se vão separar. Os seus amigos próximos, Judy (Mia Farrow) e Gabe (Woody Allen) ficam para lá de chocados. Em grande parte, o fim da relação dos seus melhores amigos coloca em perspectiva a sua própria relação. Apercebem-se de que se têm vindo a afastar lentamente, que o seu casamento não era o que tinha sido em tempos, apenas não o sabiam. À medida que Jack e Sally conhecem novas pessoas, o casamento de Gabe e Judy torna-se cada vez mais instável, e acabam por se encontrar atraídos por outras pessoas.

Este filme marca a 12ª e última colaboração no grande ecrã entre Mia Farrow e Woody Allen. “Maridos e Mulheres” foi lançado pouco depois da separação do casal, altamente publicitada, ter sido anunciada. A vida a imitar a arte, a arte a imitar a vida ou coincidência? 



DEPOIS DO AMOR (1982)

shoot the moon - marriage story
Diane Keaton and Albert Finney dão vida ao casal central do filme |©MGM

“Shoot the Moon” é a história de uma família que se desmembra, quando um casamento de 15 anos chega ao fim. Esta situação deixa devastados marido, mulher, os seus quatro filhos. Ele ocupa-se da sua carreira e amante, ela com a sua carreira e as quatro crianças. O casal tenta seguir o seu caminho, mas os ciúmes e ressentimentos continuam a atraí-los um para o outro, por mais destrutivo que possa chegar a ser.

É o retrato dramático de uma crise doméstica, uma narrativa emotiva, tocante e que é trazida à vida por intérpretes notáveis. Nos papéis centrais do casal que se separa encontramos Albert Finney e Diane Keaton. Ambos receberam indicações ao Globo de Ouro por esta interpretação.




KRAMER CONTRA KRAMER (1979) 

kramer contra kramer - another marriage story
“Kramer contra Kramer” |© Columbia Pictures

“Kramer VS Kramer” pode ser tido como a inspiração para o filme que motivou esta lista. Com o lançamento recente de “Marriage Story”, encontramos uma espécie de atualização desta narrativa.  “Kramer Contra Kramer”, no português, é o filme de divórcio por excelência. É, como “Marriage Story”, um filme sobre uma custódia e uma batalha jurídica.

A tag line (frase promocional oficial) afirma: “Existem três lados desta história de amor”. E por isso, no seu âmago, é mais um filme sobre a dolorosa dissolução do amor, se tal é possível, e tudo o que é contaminado por esse tumulto. Aqui, Ted Kramer é um homem de carreira, que coloca o trabalho acima da família. A sua esposa, Joanna, chega ao seu limite, e deixa-o. Agora, Ted tem de lidar com as tarefas domésticas e cuidar, sozinho, do seu jovem filho Billy. Até à altura em que Joanna regressa e reivindica a custódia do seu filho, o que origina uma das mais famosas batalhas jurídicas do cinema.

Este filme essencial foi vencedor de cinco Óscares, incluindo Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Ator para Dustin Hoffman e Melhor Atriz Secundária para Meryl Streep e, entre outras, a nomeação para Ator Secundário para Justin Henry, pelo jovem Billy Kramer, tornando-se, e mantendo-se até à data, aos 8 anos, como o nomeado mais jovem para qualquer prémio nos Óscares.




UMA MULHER SÓ (1978)

An Unmarried Woman (1978)
A protagonista Jill Clayburgh (1978) |©Twentieth Century Fox

Inaugural comédia dramática, “An Unmarried Woman” é uma crónica do que “vem depois” da separação. Ao contrário de outros títulos nesta lista, é mais uma aventura pessoal do que a dois. Coloca no centro da narrativa, e como “heroína” a traída, aquela que não costuma ser mais do que a figura da vítima, e vira o bico ao prego dessa velha história.

Erica está solteira, isto porque o seu marido rico, com quem está há 17 anos, acabou de a deixar por uma jovem que conheceu enquanto comprava uma t-shirt na Bloomingdale. O filme é narrado do ponto de vista de Erica, e narra a sua jornada, à medida que esta aceita o final da sua relação, e cria uma nova relação de amor próprio. Uma história corajosa sobre alguém que deixa de definir a sua personalidade como a extensão da de uma outra pessoa. Um filme sobre independência, e sobre colo lidar com essa mesma independência.

Uma emocionante viagem atribulada nomeada para os Óscares de Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Argumento Original.




ANNIE HALL (1977)

woody allen
“Annie Hall”|  ©United Artists

Encontramos nesta lista mais uma neurose realizada, escrita e protagonizada por Woody Allen. Quiçá, talvez seja este o seu mais famoso devaneio – o eterno e sempre maravilhoso espírito de “Annie Hall”.

Possivelmente a obra mais consensual da carreira de Woody Allen, “Annie Hall” é como que um típico “meet cute”, “rapaz conhece rapariga, apaixona-se por rapariga” – até se tornar  bem mais que isso.

O nosso protagonista é Alvy Singer, um intelectual judeu nova-iorquino que se dedica à comédia de stand-up. Está na casa dos quarenta, é divorciado (duplamente) e é um sujeito neurótico. É o arquétipo do personagem cliché de Allen no seu melhor. Contudo, a verdadeira estrela brilhante do filme, quem lhe confere a sua cor e brilho é Diane Keaton como Annie Hall. Annie Hall é uma insegura aspirante a cantora, que atua num estabelecimento noturno. Alvy fica loucamente apaixonado, e promete a si próprio não cometer nenhum dos seus erros do passado, mas a falta de amor próprio e inseguranças do comediante acabam por interferir com a relação e Annie acaba por o deixar a ele e a Nova Iorque.

Um filme icónico, e altamente premiado com os Óscares de Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Realizador  e Melhor Argumento. No nosso “Top 10 Filmes Woody Allen” “Annie Hall” levou o primeiro lugar, reconhecido como um filme situado algures entre a crónica autobiográfica e a ficção, numa altura em que Keaton e Allen tinham uma forte parceria artística e pessoal que inunda o ecrã e se fixa para sempre nas mentes de quem vê a obra.




CENAS DA VIDA CONJUGAL (1973) 

Cenas da Vida Conjugal
Scener ur ett äktenskap (1973) © Cinematograph AB

“Cenas da Vida Conjugal” é um esforço monumental criado pela lenda Ingmar Bergman, realizador sueco que escreveu e realizou esta obra ambiciosa. Aqui, Bergman (“O Sétimo Selo”, “Morangos Silvestres”) segue uma relação conjugal ao longo de 10 anos. Esta é uma criação que cospe sobre o termo “telefilme”, e sobretudo sobre as conotações negativas que este vai adquirir muitas vezes. Aqui, o esforço de Bergman seguia uma lógica clara de continuidade. 

Havia o interesse de seguir a vida deste casal durante um longo período de tempo, e, por isso, a estreia inicial deste filme no formato de série não foi senão benéfica. Inicialmente, foi estreada em seis episódios, que perfizeram um total de quase 5 horas. O sucesso da série fez com que fosse convertida num filme mais curto, que pudesse estrear nos cinemas.

Seguimos aqui duas personagens, Marianne e Jonah, que são examinados com uma lupa. É uma obra minimalista, claustrofóbica, realista, intensa, valiosa.




GATA EM TELHADO DE ZINCO QUENTE (1958)

Cat on a Hot Tin Roof (1958)
Paul Newman e Elizabeth Taylor na obra de 1958 |©Metro-Goldwyn-Mayer

Não é sobre uma relação desfeita, mas é sobre uma relação matrimonial bastante infeliz. “Cat on a Hot Tin Roof”, baseado na peça de Tennessee Williams e protagonizado por Elizabeth Taylor e Paul Newman, é mais um título memorável que aqui podemos encontrar, nesta pequena galeria.

Um senhor drama que conta a história dos personagens Brick e Maggie. Ele é uma antiga estrela que passa os dias a beber, ela passa o tempo frustrada, sem os seus afetos serem correspondidos. Mais tarde, descobrimos que o pai de Brick está a morrer, e que Brick se refugiou no álcool após o suicídio do seu melhor amigo, por quem estava apaixonado. Isto tendo em consideração que o filme abafou um pouco a temática homossexual, que ainda assim está subentendida. Como muitos outros casais infelizes, o passado tem um peso preponderante no seu fatídico presente. Maggie está profundamente apaixonada, Brick é distante e esquivo, os personagens são robustos, tal como as interpretações dos seus protagonistas. Mais um título essencial nesta lista, e que prova que Liz Taylor consegue, de facto, representar.




CASAMENTO ESCANDALOSO (1940) 

The Philadelphia Story - A Marriage Story
Cary Grant, Katharine Hepburn e James Stewart em “Casamento Escandaloso” (1940) |©MGM

De George Cukor (“Assim Nasce Uma Estrela”, “Minha Linda Lady”) , “The Philadelphia Story” é um incontornável título pertencente ao período clássico “de ouro” do cinema norte-americano, protagonizado por três das estrelas mais brilhantes desta época – Cary Grant, Katharine Hepburn e James Stewart.

Uma narrativa clássica centrada num triângulo amoroso (talvez quadrado, na realidade)  no qual uma herdeira de uma fortuna, Tracy Lord (Hepburn) decide deixar o seu marido, C.K Dexter (Grant), um playboy sem remédio, passado pouco tempo de se casarem. Dois anos mais tarde, Tracy está noiva do respeitável George Kittredge (John Howard). Dexter chega à mansão de Tracy no dia antes do casamento com o escritor Mike Connor (James Stewart) e com a fotógrafa Liz Imbrie (Ruth Hussey), completamente determinado a destruir tudo.

Talvez não seja um filme melodramático sobre um amor que morreu ou que foi esquecido pela força de pressões externas ou eternas, mas é uma comédia romântica de referência, que pensa sobre o final de uma relação (e o começo de outras), e que aqui se inclui para fugir um pouco à melancolia geral da grande maioria dos outros títulos presentes.

E assim fechamos esta nossa viagem por relações desfeitas, arrependimentos cumulativos, amores perdidos para sempre ou, simplesmente, mudanças na dinâmica de relacionamento entre seres humanos.

Muitos outros títulos poderiam aqui figurar. Deixem-nos as vossas sugestões nos comentários!

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