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Óscares 2022 | Ouve as nomeadas a Melhor Canção Original

Na MHD queremos que oiças as músicas nomeadas ao Óscar de Melhor Canção Original 2022 e conheças a nossa previsão na categoria. 

O Óscar de Melhor Canção Original é um dos prémios da Academia mais interessantes e que gostamos de falar todos os anos. Por um lado, a Academia gosta de atribuir o galardão à música cuja letra e melodia encaixam-se perfeitamente na narrativa que estamos a assistir. Por outro lado, a Academia também gosta de celebrar músicas simplesmente pelo que são, ou seja, canções que funcionam isoladamente da trama. Estamos diante uma categoria algo estranha, sobretudo quando Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood homenageia temas que se ouvem apenas nos créditos finais.

007: Sem Tempo Para Morrer Destaque
007: Sem Tempo Para Morrer | © NOS Audiovisuais

Na última década, artistas mundialmente afamados como Adele, Lady Gaga, Sam Smith ou Elton John foram celebrados com o Óscar de Melhor Canção Original. No ano passado, fomos confrontados com a vitória inesperada de H.E.R., que derrotou o largo favoritismo de Diane Warren e Laura Pausini. Este ano, as coisas estão ainda mais complicadas pois ninguém parte como favorito. De qualquer maneira, temos Billie Eilish a liderar a casa de apostas, porque afinal escreveu e interpretou uma música de James Bond, personagem que a Academia tem abraçado nesta categoria. Mesmo assim, a jovem artista americana tem uma concorrência impressionante.

Nestas nomeações encontramos, por exemplo, Lin-Manuel Miranda que está apenas a um Óscar de um EGOT ou até mesmo Diane Warren, que volta a estar nomeada e quebra o seu próprio recorde. Mas não temos apenas artistas previamente nomeados. Um dos nomeados é uma figura proeminente na arte musical que nunca tinha sido celebrada pela Academia.

Vamos lá conhecer todos os nomeados ao Óscar 2022 de Melhor Canção Original na 94ª edição dos prémios da Academia. Ouve ainda as canções e conhece as nossas previsões.

Óscares 2022: nomeadas a Melhor Canção Original

  • “Be Alive” do filme “King Richard: Para Além do Jogo”; Música e letra de DIXSON e Beyoncé Knowles-Carter;
  • “Dos Oruguitas”, do filme “Encanto“; Música e letra de Lin-Manuel Miranda;
  • “Down to Joy”, do filme “Belfast“; Música e letra Van Morrison;
  • No Time To Die”, do filme “007 – Sem Tempo para Morrer“; Música e Letra de Billie Eilish e Finneas O’Connell;
  • “Somehow you Do”, do filme “Quatro Dias ao Teu Lado”; Música e Letra de Diane Warren.



“Somehow You Do”, de Diane Warren

Quatro Dias a Teu Lado Four Good Days
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Começámos com Diane Warren até porque nos parece a melhor maneira para fazer a ponte com a edição dos Óscares 2021. Depois de “Io Sì (Seen)” interpretada por Laura Pausini, Diane Warren volta à categoria que tanto lhe custa vencer. Como todos sabemos, a artista nascida na Califórnia a 7 de setembro de 1956 foi já nomeada 12 vezes aos Óscares e adiciona agora mais uma nomeação ao seu currículo com a composição musical de “Somehow You Do”, interpretada por Reba McEntire.

Sem quaisquer surpresas, “Somehow You Do” é uma balada ao bom estilo melodramático americano, daquelas que estamos habituados a ouvir em histórias inspiradas em factos verídicos. Pertence ao filme “Quatro Dias ao Teu Lado” que conta a vida de Molly (Mila Kunis), uma toxicodependente que dificilmente mostra sinais de recuperação. Numa tentativa de mudar a sua rotina, vai bater à porta da mãe Deb (Glenn Close), com quem tentará passar quatro bons dias sem usar qualquer substância psicoativa. “Quatro Dias a Teu Lado” de Rodrigo García é uma história de luta, de alguém que esqueceu quem é e preciso do apoio da figura materna para superar uma crise. Vem, na verdade, no alinhamento de “Lamento de uma América em ruínas”, onde a própria Glenn Close dá vida a uma matriarca que tentar ajudar a sua filha com problemas com drogas.

“Somehow You Do” de Diane Warren é uma prova do quanto poderemos dar a volta os problemas mais angustiantes que enfrentamos. Tal como “Io Sí (Seen)”, esta é uma canção sobre a esperança, sobre não deixarmos acorrentar eternamente a algo que não vale a pena. A protagonista de “Quatro Dias a Teu Lado” não consegue sair de um túnel escuro sozinha, e precisa do apoio da pessoa que lhe conhece melhor. A música reflete aquilo que Diane Warren chama de “força do espírito humano”, sobre o facto de existir um  futuro possível. Curiosamente esta não é primeira balada que reúne Reba McEntire e Diane Warren. “What If?” e “I’ll Be”, os maiores hits da “Rainha do Country” foram escritos por Diane Warren e conseguiram ser aclamados pelo TOP 100 da Billboard. “Somehow You Do” não tem tido a mesma visibilidade esses temas por pertencer a um filme que quase ninguém viu.

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Sentimos que ainda não será desta que Diane Warren vencerá o Óscar, naquela que é a sua 5ª nomeação consecutiva ao Óscar de Melhor Canção Original. Estamos perante uma das mais brilhantes compositoras de cinema que tem sido capaz de escrever músicas sobre superação, capazes de atingir uma cartazes emocional única que nos leva rapidamente às lágrimas. Pode não ser tanto o caso nesta música, mas Diane Warren continua a merecer o reconhecimento.




“Down to Joy” de Van Morrison

Belfast
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O favorito do povo. “Belfast” de Kenneth Branagh venceu o People Choice Award no Festival de Cinema de Toronto em 2021 portanto é, para muitos o favorito ao Óscar de Melhor Filme. Mas essa não é a sua única nomeação. “Belfast” concorre a outros 6 prémios, entre eles, ao Óscar de Melhor Canção Original. Aqui, talvez por não ter a concorrência do seu maior rival “O Poder do Cão”, poderá sair vencedor. Queremos avisar-te de antemão para essa probabilidade, para não seres surpreendido no próximo dia 27 de março.

“Down to Joy” é uma música escrita e interpretada por Van Morrison e não é a única que ouvimos deste cantor ao longo do filme. No total temos 8 grandes clássicos de Van Morrison em “Belfast” que permite a Branagh dar a autenticidade à sua história com tons auto-biográficos. Falar da cultura da Irlanda do Norte em 1969 é pensar e ouvir Van Morrison por todo o lado. O compositor tinha na altura uma carreira bem estabelecida graças ao trabalho com o grupo “Them“.

“Down to Joy” pode ser ouvida nos créditos iniciais de “Belfast” e apela às audiências para uma certa nostalgia. Para reenviar para a energia sentida numa cidade que não esqueceu o seu passado, mas quer repensá-lo com o mesmo olhar inocente de uma criança de outrora. Somos emaranhados nessa vontade de Branagh prestar homenagem à sua terra natal, aos seus familiares e aos seus próprios conterrâneos. A triunfante voz grave e o doce som do saxofone de Van Morrison garantem esse mergulho nas experiências de Buddy (Jude Hill) que vê a vida a mudar lá fora, devido às lutas entre protestantes e católicos, e vê também a vida a mudar dentro de casa.

Porém, Buddy continua a ser uma criança, continua a maravilhar-se com qualquer experiência nova com se depare. No fundo “Down to Joy” esforça-se por salientar a criança há dentro de todos nós. E se Van Morrison está no filme é porque também ele faz parte da identidade e da memória de Belfast, cidade onde nasceu e cresceu. Curiosamente em grande parte da sua juventude viveu numa casa que estava a apenas cinco quilómetros da casa de infância de Branagh.

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Por último, sentimos que a música “Down to Joy” de Van Morrison celebra a memória coletiva de Belfast, uma cidade de futuro, que conseguiu aceitar as suas transformações políticas e sociais. São temas que a AMPAS gosta de celebrar e o nome de Morrison pode ser razão suficiente para que “Belfast” triunfe.




“Be Alive” de DIXSON e Beyoncé Knowles-Carter

King Richard Corpo
King Richard © Cinemundo

Quanto é bom estar vivo. E quanto é bom estar vivo para ver Beyoncé finalmente na corrida ao Óscar de Melhor Canção Original. Tardou algum tempo, mas aos 40 anos, Beyoncé é agora uma artista nomeada a um prémio da Academia.

Depois de escrever e/ou interpretar músicas originais para obras como “O Rei Leão” ( Jon Favreau, 2019) ou “Dreamgirls” (Bill Condon, 2006) – este filme teve umas impressionantes 3 nomeações para a categoria de Melhor Canção Original! –  Beyoncé é celebrada pelo filme “King Richard: Para Além do Jogo“. O drama biográfico conta a história de Richard Williams, determinado a ajudar as suas filhas Venus e Serena Williams a triunfarem no mundo do ténis. A canção faz uma bonita ligação com a história desse homem que foi capaz de se sacrificar para ensinar às filhas o quanto os sonhos só podem ser alcançados com muito esforço e trabalho. Não basta pensar de noite e sentar-se durante o dia à espera que as coisas aconteçam. É preciso ir para o campo de batalha e mostrar o que valemos. Beyoncé sabe disso muito bem e tal como a família Williams, sente-se orgulhosa da sua identidade e das suas origens. Foi ela própria que mostrou interesse em escrever uma música para o filme e entrou em contacto com Will Smith após uma sessão de apresentação de “King Richard”.

Se há quem diga que Beyoncé não tem possibilidades nesta categoria, nós dizemos o contrário. “Be Alive” tem os ingredientes certos de uma canção vencedora do Óscar, afinal é escrita por uma das maiores artistas do mundo, é uma celebração do R&B e dos batimentos afro-americanos e celebra uma figura real, tão pertinente e popular no coração dos norte-americanos e amantes de desporto. Com uma vitória quase certa de Will Smith no Óscar de Melhor Ator, a Academia poderá aproveitar o Óscar de Melhor Canção Original para dar mais um prémio a este filme.

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Note-se que a par de “Belfast”, “King Richard” está também nomeado ao Óscar de Melhor Filme. Por exemplo, no ano passado, a canção “Fight For You” de H.E.R., Dernst Emile II e Tiara Thomas estava a nomeada ao Óscar de Melhor Canção Original e o respetivo filme do qual faz parte, “Judas and the Black Messiah” também concorria à categoria principal. Ambas são semelhantes até pela forma como são inseridas nos filmes – nos créditos. “Be Alive” é uma faixa poderosa de Beyoncé que honra as conquistas pessoais e familiares de Richard Williams, e faz igualmente menção a muitos afro-americanos progenitores que fizeram de tudo para as gerações vindouras alcançarem o pódio.




“No Time to Die” de Billie Eilish e Finneas O’Connell

no time to die james bond
James Bond em “No Time To Die” | © NOS Audiovisuais

De Beyoncé para Billie Eilish esta é provavelmente a lista de candidatos aos Óscares mais interessantes desde que Sam Smith enfrentou Lady Gaga nos Óscares 2016. Em “No Time To Die” com música e letra dos irmãos Billie Eilish e Finneas O’Connell somos arrebatadas pela voz pausada de Eilish, que pouco a pouco explode até atingir a melancolia própria à personagem principal deste filme de ação. Falamos obviamente de James Bond de Daniel Craig, do qual Eilish parece ser a voz interior, sinónimo de aflição e angústia. É antes de tudo um homem que não se consegue entregar a outra pessoa, pelo passado que o atormenta.

“No Time to Die” foi o primeiro tema de James Bond gravado pela cantora Billie Eilish, que a tornou na mais jovem artista a escrever e a interpretar uma canção para o universo do agente secreto. Temos uma canção inconfundivelmente Bond, com inúmeras camadas, onde dominam os sons do piano e da guitarra elétrica a meio caminho com os sons da orquestra sinfónica arrepiante de Hans Zimmer. É das canções mais obscuras de James Bond, diferente por não ter essa dimensão pop que outras apostas da série. De certa forma, surge no alinhamento das precedentes canções de Adele e Sam Smith, e se inicialmente não seja uma canção a que associamos a este universo a situação muda à medida que a ouvimos.

No Time To Die” pode ser sentida nos créditos iniciais, mas assombra todo o filme de Cary Joji Fukunaga. Estamos perante um agente que está disposto a fazer um sacrifício maior, de mudar por completo o seu destino, e esse suspense nota-se em Billie Eilish. Quanto às chances de vencer o Óscar são muito altas. Até agora venceu o Globo de Ouro, por muito que essa vitória nos dias que correm não signifique quase nada para os prémios da Academia, e é também a música que está à mais tempo no mercado, tendo sido lançada em 2020 (data inicialmente prevista para a estreia de “Sem Tempo para Morrer” no cinema).

Não nos esqueçámos que os dois últimos temas de Bond – “Skyfall” de Adele e “Writing on the Wall” de Sam Smith venceram o Óscar de Melhor Canção Original e não há duas sem três. Billie Eilish conseguiu ainda vencer o Grammy para Melhor Canção escrita para um médio visual com “No Time To Die” na 63ª edição destes prémios. É muito provável que possa continuar a sua série de vitórias nos prémios da Academia. Não sabendo se tem influência ou não, a vitória de Eilish e o facto de estar nomeada, poderá ser ainda importante para aumentar o interesse do público jovem na cerimónia de entrega dos Óscares, porque como todos estamos a par, continua a perder a sua audiência.

Billie Eilish vence o Grammy por “No Time To Die”




“Dos Oruguitas” de Lin-Manuel Miranda

Encanto Disney
Encanto | © 2021 Disney. All Rights Reserved

Terminamos com a música que realmente merece vencer o Óscar 2022 para Melhor Canção Original: “Dos Oruguitas”. Escrita por Lin-Manuel Miranda para o filme “Encanto” da Walt Disney, esta é uma canção importante por ser a única do lote 100% dedicada aos temas da sua narrativa e por estar inserida musical e visualmente na mesma. Mais importante do que isso, “Dos Oruguitas” é fundamental para a mudança de perspetiva da protagonista Mirabel, ajudando-a a entender melhor a Abuela Alma e o seu papel fundamental na família Madrigal.

“Dos Oruguitas” é uma canção astuta e muito diferente das restantes músicas de “Encanto”. Tem uma mensagem de amor e de recuperação, além do seu cariz intrinsecamente histórico. Em primeiro lugar, num tom universal, remete para os desafios enfrentados pelos nossos ancestrais para que consigamos melhorar a nossa relação com o presente. Em segundo lugar, aborda o deslocamento forçado que enfrentaram muitos colombianos no coração do seu país, devido ao comportamento autoritário das forças políticas.  “Dos Oruguitas” é uma caminhada com asas de borboleta para um mundo melhor, um mundo sem atritos familiares ou políticos.

Todos podemos cantar e fazer tiktoks com “We Don’t Talk About Bruno”, mas “Dos Oruguitas” é o centro da narrativa de “Encanto” e que permite a narrativa atingir os seus propósitos. O que, em termos desta categoria, deveria significar alguma coisa. O Óscar de Canção Original devia ser sempre entregue a uma música capaz de elevar o seu filme e de estimular a sua história. “Dos Oruguitas” tem isso e muito mais.

Com esta nomeação, torna-se a segunda música inteiramente em espanhol a ser nomeada ao Óscar da Academia. A primeira vez aconteceu em 2005, com “Al Otro Lado Del Río” escrita por Jorge Drexler e interpretada por Antonio Banderas e Carlos Santana para o filme “Diários de Che Guevara” (Walter Salles, 2004) – e que fez história ao vencer. Mais importante do que igualar o feito de outro artista latino, se “Dos Oruguitas” triunfar, colocará Lin-Manuel Miranda no clube EGOT: esse grupo de personalidades que ganharam o Emmy, o Grammy, o Óscar e o Tony Award.

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Esta é segunda nomeação de Lin-Manuel Miranda ao Óscar de Melhor Canção Original, tendo sido a primeira obtida em 2017 com o tema “How Far I’ll Go” do filme de animação “Vaiana” (Ron Clements, John Musker, Don Hall, Chris Williams, 2016). Dar o Óscar a “Dos Oruguitas” também seria uma maneira extraordinária de celebrar o talento de Lin-Manuel Miranda, um dos maiores nomes de Hollywood e que foi talvez a maior estrela de cinema de 2021 – desculpem-nos os fãs de Tom Holland. Miranda foi o responsável pelas canções de “Encanto” e “Vivo” (filme de animação da Netflix), participou nos arranjos cinematográficos do filme “Ao Ritmo de Washington Heights”, que adaptou o seu musical para o grande ecrã e fez a sua estreia na realização com o filme “Tick, Tick… Boom!”. Não poderemos esquecer que o espanhol é uma das línguas mais faladas nos Estados Unidos e “Encanto” dá a essa visibilidade latina que a América e Hollywood precisam abraçar. A celebração de “Encanto” faz-nos abrir os olhos para os presentes de todos os dias que recebemos dos nossos familiares.

Qual a tua favorita? Qual a música que merece vencer o Óscar de Melhor Canção Original na 94ª edição dos Óscares da Academia? Nós estamos confiantes que a Academia vai celebrar uma vez mais uma língua que não a inglesa nesta categoria, por muito díficil que isso possa parecer.

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