Primavera Sound Barcelona | Uma festa incomparável com Lana Del Rey e The National
Maio, junho e julho são os meses áureos no que diz respeito às celebrações musicais decorrentes dos festivais de verão. A 31 de maio passámos por uma das maiores representações, senão a maior à escala da península ibérica, o Primavera Sound Barcelona, para um dia repleto de headliners!
Os festivais de verão estão agora a acontecer a todo o gás, e a grande época musical veranil é inaugurada, na Península Ibérica, pelo mais rico dos seus festivais, o Primavera Sound de Barcelona. Este ano, o grande evento regressou com um cartaz bastante semelhante ao encontrado em Portugal, na edição que decorreu entre os dias 6 e 8 de junho, mas como é hábito a versão de Barcelona trouxe consigo mais nomes, palcos e eventos simultâneos.
Visitado este recinto, ainda que apenas durante um dia, compreendemos o alarido (justificado) que se gera anualmente em torno do vasto e cénico Primavera Sound Barcelona. Fica abaixo um pequeno resumo dos nomes que tivemos a oportunidade de acompanhar:
Primavera Sound Barcelona em 2024 – 2.º dia incomparável da Pop ao Rock
Ao segundo dia do Primavera Sound Barcelona em 2024, um alinhamento imperdível de bandas e artistas em nome próprio chegou a este que é inequivocamente o maior festival de música da Península Ibérica e um dos mais notáveis da Europa.
Com uma sucessão de bandas quase alucinante, muitos são os destaques a extrair deste segundo dia de música. Por um lado, o Primavera Sound lá ao lado permitiu-nos antever várias das bandas e artistas que marcaram posteriormente presença na versão portuguesa.
Ethel Cain – A Igreja Gótica e Moody com “Mother Cain”
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De “Gibson Girl” a “A House in Nebraska”, passando por “Crush” ou pelo hino pop anti-pop “American Teenager”, a norte-americana sulista Ethel Cain (née Hayden Silas Horner) é tanto uma personagem quanto a manifestação muito real da personalidade da artista que lhe dá vida.
Cain compõe, escreve e interprete as suas músicas com dilacerante intimidade. Munida de uma voz trémula mas poderosa, a sua presença de palco é notável e, ainda pelas 18h20, podemos vê-la como o segundo nome nos palcos principais do Primavera Sound Barcelona (os quais se encontram, lado a lado, na maior área do recinto).
Ethel Cain apresentou um alinhamento curto, onde podemos ouvir todos os temas mais emblemáticos do seu primeiro (e até agora único) disco de originais. Houve também tempo para a estreia de uma nova canção, por lançar, e a notável lembrança de que um novo álbum está para muito breve.
O seu set não diferiu particularmente do que nos foi apresentado em 2023 no Kalorama, em Lisboa, no Parque da Bela Vista. Apenas assim podia ser, uma vez que habitamos ainda a mesma digressão. Contudo, esperam-se novidades empolgantes nos próximos tempos e cá estaremos para acompanhar esta pop irreverente, distinta, negra e profundamente atmosférica.
Cain deveria ter visitado Portugal aquando do Primavera do Porto, na semana seguinte à passagem por Barcelona, mas uma constipação acabou por nos privar da sua visita.
Troye Sivan – Celebração da música disco e sen/sexualidade
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Uma estrela emergente da pop, quiçá uma das maiores, Troye Sivan, de 29 anos de idade, vindo da Austrália, não é bem um novato nas lides da edição de álbuns. Todavia, é recente o seu sucesso mais mainstream. Muito bem conhecido e solidificado na cena queer onde se move, o cantor está agora a chegar a novos patamares de popularidade com singles do seu último disco de originais, como “One of Your Girls”, “Rush” ou o seu hino “Get Me Started”.
A música feita por Troye Sivan carece da especificidade de outro artistas apresentados no mesmo dia e neste palco duplo. Falta-lhe a narrativa poderosa de Cain, a estética e musicalidade própria de Lana Del Rey ou o estatuto como lendas do indie rock detido pelos The National.
Não obstante, o que lhe falta em particularidade, é compensado em entrega, presença de palco e talento puro e duro. Troye Sivan, o miúdo entusiasta vindo do outro lado do mundo, contagiou o Primavera Sound Barcelona como nenhum outro dos performers do segundo dia – 31 de maio de 2024.
Alguns pontos altos inequívocos incluíram claro as prestações dos três singles já mencionados, mas também a interpretação de colaborações variadas de qualidade como “1999” (com Charlie XCX, presente no Primavera Sound no dia seguinte – chamamos a atenção para o delicioso vídeo da celebração canção) e ainda “Dance to This” e “Supernatural”, uma mais antiga e uma incrivelmente recente. Aliás, Sivan referiu, com orgulho que a colaborada nos dois temas, Ariana Grande, não havia ainda cantado esta nova canção ao vivo.
Lana del Rey – Coroação de uma Deusa Nostálgica da Pop
Poucas artistas da pop contemporânea conquistaram já o estatuto de Lana del Rey, uma das cantoras com uma legião de fãs mais dedicada e impressionante. O frenesim fez-se sentir no Primavera Sound Barcelona desde o início da tarde, com uma entrada apressada e empolgada na zona dos dois palcos principais, pautada por uma fila invulgar neste local.
A maior desordem fez-se também na altura em que o concerto de Lana Del Rey começou (ou deveria ter começado), uma vez que, como é característico, a “Lanita”, como é conhecida para os fãs, atrasou-se bastante a chegar ao palco e teve de se apressar a fechar o set. Algo, aliás, já bastante recorrente nos seus espectáculos.
Quanto ao alinhamento, ainda em modo de promoção de “Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd”, o 9.º e mais recente álbum de originais da cantora, pareceu-se em muito ao apresentado no lendário festival norte-americano Coachella, há coisa de pouco mais de um mês.
Das roupas aos cenários, muito se aproximou este espetáculo do apresentado nesse palco dos Estados Unidos. Quanto ao alinhamento, operou uma viagem eficaz entre os muitos originais de Lana Del Rey. Todavia, o concerto no Primavera Sound Barcelona não escapou a um certo meio gás que tem vindo a caracterizar as apresentações desta diva da nostalgia.
Lana é ligeiramente letárgica e tal faz parte da sua imagem. Mexe-se pouco em palco, tem um set curto e que podia ser bem mais longo tendo em conta a extensão da sua carreira e os muitos álbuns lançados, às vezes mesmo ano a ano. Todavia, Lana Del Rey parece sempre ligeiramente farta de estar em palco. Salta as bridges de algumas canções, virando antes o microfone para o público, e muitas vezes depende de forma excessiva do seu coro de cantoras impressionantes.
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Com tudo isto em consideração, o feitiço não se quebra e estamos longe da Lana que visitou o festival português Super Bock Super Rock em dois momentos distintos da sua carreira. A Lana del Rey que esteve no Primavera Sound de Barcelona, e na semana seguinte na edição do Porto, é mais confiante, afinada e competente.
Ela até pode não cantar todas as notas, mas as que canta soam muito bem, até melhor do que na versão gravada. A questão é: com algum esforço não poderíamos ouvir os seus falsetes peculiares durante duas horas ininterruptas? Provavelmente nunca saberemos!
The National – Conforto sem fim e garantia de qualidade a fechar as lides
Depois da norte-americana Lana del Rey, passado muito poucos minutos, os também americanos The National voltaram a pisar palcos da península Ibérica e, com eles, sabemos que nunca ficará qualidade ou entrega em falta.
Os The National estiveram no Primavera Sound, no de Espanha e no de Portugal de seguida, para promover ainda o seu “First Two Pages of Frankenstein”, lançado no último ano e munido de um tom bastante calmo e de imensas colaborações, de Taylor Swift a Phoebe Bridgers, passando por Sufjan Stevens.
Quanto ao alinhamento destas quase duas horas de puro rock, fizeram-se de uma viagem honesta e crua, como habitual, pelos muitos êxitos da banda, com tempo para canções icónicas como “Space Invaders”, “Day I Die”, “Pink Rabbits”, ou “Fake Empire”, temas que nunca costumam faltar nos concertos dos “sad dads of indie”, como são calorosamente apelidados.
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A estrutura do concerto foi semelhante ao que testemunhamos no passado outono no Campo Pequeno, não fosse precisamente esta a mesma digressão em causa. Não obstante, a energia de toda a banda, e particularmente a energia de Matt Berninger, transporta-nos de cada vez que temos o privilégio de assistir à certeza que é um espetáculo de “The National”.
Estiveste presente nos concertos do Primavera Sound Barcelona ou no Porto? Segues o trabalho destes artistas?
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