Vincent Lindon no Berlinale 2022 | © Elena Ternovaja/Wikimedia Commons

75º Festival de Cannes | O Presidente do Júri e os seus pares

O Júri do 75º Festival de Cannes e o seu Presidente foram finalmente anunciados: o ator francês Vincent Lindon presidirá ao colectivo que vai escolher a Palma de Ouro 2022 e os outros premiados.

Vincent Lindon, um dos mais conhecido intérpretes franceses da actualidade, vencedor do Prémio de Melhor Ator em 2015 e protagonista de Titane, a Palma de Ouro do ano passado foi anunciado finalmente como Presidente do Júri do 75º Festival de Cannes. É Lindon, que entregará a Palma de Ouro 2022, na cerimónia de encerramento, a um dos 21 filmes em competição este ano, no sábado, 28 de maio, último dia do evento. Será acompanhado de mais oito membros do júri, igualmente agora anunciados: Rebecca Hall (Atriz, produtora, argumentista, realizador, Reino Unido/EUA), Deepika Padukone (Atriz, Índia), Noomi Rapace (Atriz, Suécia), Jasmine Trinca (Atriz, realizadora, Itália), Asghar Farhadi (realizador, produtor, argumentista, Irão), Ladj Ly (realizador, argumentista, ator, produtor, França), Jeff Nichols, realizador, argumentista, EUA), Joachim Trier (realizador, argumentista, Noruega). No contexto deste anúncio dos jurados o Festival de Cannes , aproveitou para anunciar que ‘Marcel!’, a primeiro longa-metragem da italiana Jasmine Trinca, um dos membros do júri, será apresentado nas secção de Sessões Especiais, onde estará também ‘Restos do Vento’, do português Tiago Guedes. 

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75º Festival de Cannes
Vincent Lindon © Stéphane Lavoué – Jasmine Trinca © Andrea Gandini – Noomi Rapace © Saerun Noren – Joachim Trier © Kasper Tuxen – Asghar Farhadi © Duchili – Rebecca Hall © Daemian and Christine – Deepika Padukone © House of Pixel – Jeff Nichols © Ben Rothstein / Focus Features – Ladj Ly © Loic Venance / AFP.

‘É uma grande honra e motivo de orgulho ter-me sido confiada e no meio do tumulto de todos os acontecimentos que estamos vivendo agora no mundo, a extraordinária e pesada tarefa de presidir o Júri do 75º Festival Internacional de Cinema de Cannes’, comentou Vincent Lindon em nota enviada à imprensa internacional. 

Com os meus colegas de Júri, esforçar-nos-emos de cuidar da melhor forma possível, os filmes do futuro, que carreguem a mesma esperança secreta, de coragem, lealdade e liberdade, e a missão de comover o maior número de mulheres e homens falando-lhes das suas feridas e alegrias comuns. A cultura ajuda a alma humana a erguer-se e a ter esperança no amanhã’, conclui o grande actor francês numa expressa manifestação de esperança.

titane critica
© Alambique Filmes

Após a Palma de Ouro de 2021, para ‘Titane’ que Vincent Lindon, protagonizou com Agathe Rousselle, o actor regressa à Croisette, desta vez fora do grande ecrã do Théâtre Lumière do Palais des Festivals ou dos outros da Croisette, para uma missão não menos vibrante e difícil. Terá a tarefa de escolher com os seus colegas e entregar o prémio supremo ao cineasta sucessor de Julia Ducournau, a segunda realizadora mulher a ganhar a Palma de Ouro depois de Jane Campion em 1993.

Protagonista masculino desse filme sobre identidades esfarrapadas e alegada monstruosidade, Vincent Lindon mexeu com os corpos, corações e mentes dos espectadores e da crítica, totalmente imbuído do seu papel de bombeiro ferido pelas mágoas do passado, tal como cada uma das suas composições anteriores: seja a de empresário (‘Ma Petite Entreprise’), um instrutor de natação de Calais (‘Welcome’), um pedreiro (‘Mademoiselle Chambon’), um primeiro-ministro (‘Pate), um humanista (‘Les Chevaliers Blancs’), um desempregado de longa duração (A Lei do Mercado), um escultor (‘Rodin’), um repórter estrela (‘L’Apparition’) ou um delegado sindical (Em Guerra). Ator físico, herdeiro digno de um Jean Gabin, Lino Ventura ou Patrick Dewaere, Lindon, partilha com estes actores de outra geração já falecidos, uma presença magnética e áspera, onde emerge uma rara e penetrante sensibilidade. Instintivo e apaixonado, Vincent Lindon é uma fonte de tensão e emoção, no ecrã e fora dele, nas entrevistas e contactos com os jornalistas. Livre dos grilhões e  das estáticas da modernidade, comprometido e às vezes também com uma imagem de rebelde, Vincent Lindon não conhece fronteiras nem limites, nas suas interpretações, vestindo brilhantemente a pele dos seus personagens lutadores e as suas histórias universais. A sua busca de autenticidade, leva-a assumir com um grande naturalidade, as mazelas políticas e sociais de nosso tempo: injustiça social, xenofobia, empobrecimento — para nos ajudar a melhor compreendê-las; e também a refletir, sublinhando sem julgamentos, as contradições de uma humanidade derrotada e figuras algo falhadas,  que se esforçam por permanecer sempre dignas, nas suas próprias certezas.

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Presença assídua de longa data do Festival, com 9 longas-metragens apresentados em Cannes desde 1987, culminando no Prémio de Melhor Ator — recebido das mãos dos Irmãos Coen em 2015 — pela sua extraordinária interpretação em ‘A Lei do Mercado’. É também um indefectível e leal colaborador de determinados realizadores franceses e da sua filmografia em mais de 70 filmes: Claire Denis e Claude Lelouch em três vezes, Benoît Jacquot, Pierre Jolivet e, claro, Stéphane Brizé, que o dirigiu em cerca de cinco filmes, marcados todos por essa temática social e laboral.

78º Festival de Veneza
‘Un Autre Monde’/©78º Festival de Veneza

‘Titane’ permitiu talvez, que Vincent Lindon, sai-se um ‘pouquinho da casca’ da sua imagem social e por isso recebesse várias nomeações e reconhecimentos nos EUA, incluindo o Prémio de Melhor Ator da Associação de Críticos de Los Angeles. Desde o Festival de Cannes de 2021, que Vincent Lindon, apresentou-se como protagonista em filmes nos outros três grandes festivais de cinema da Europa: Veneza (Un Autre Monde, de Stéphane Brizé), San Sebastian (‘Enquête sur un escândalo d’État’, de Thierry de Peretti) e Berlim (Avec amour et acharnement’, de Claire Denis). Incrível! 

JVM

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