via 79º Festival de Veneza/'Não Te Preocupes Querida'.

79º Festival de Veneza (6)| ‘Não Te Preocupes Querida’

Novamente as intrincadas dinâmicas familiares, as relações pai-filho ou as simples amizades atravessaram os ecrãs deste dia de Veneza 79, com ‘Não Te Preocupes Querida’ (Fora de Competição), de Olivia Wilde, ‘The Banshees of Inisherin’, de Martin McDonagh ou ‘Love Life’, do japonês Kôji Fukada.

A mulher ideal de hoje, foi a actriz e realizadora Olivia Wilde com Don’t Worry Darling ou melhor ‘Não Te Preocupes Querida’ (Fora de Competição), o seu segundo filme que é um thriller psicológico sobre uma imagem de uma idealizada de vida, entrelaçada com mistérios e segredos nos anos Guerra Fria, nos EUA. No elenco está o cantor Harry Styles (o ex-One Direction na sua segunda experiência cinematográfica após ‘Dunkirk’, de Christopher Nolan, em 2017), Florence Pugh, Chris Pine e a própria Wilde. Chega aos cinemas, incluindo a Portugal a 22 de setembro próximo, precisamente como título ‘Não Te Preocupes Querida’. Na competição de Veneza 79 assistimos ao regresso de Martin McDonagh, cinco anos após o premiado ‘Três Cartazes à Beira da Estrada’ com contemplativo ‘The Banshees of Inisherin’, uma crónica rural, sobre uma velha amizade entre dois ‘lobos solitários’, interpretado por Colin Farrell e Brendan Gleeson. É o caso de ‘Love Life’, do japonês Kôji Fukada, que observa por um lado os sentimentos de perda e por outro, os efeitos do reaparecimento de um pai ausente, pobre e deficiente, à porta da mulher que lhe dera um filho.

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via 79º Festival de Veneza/’Não Te Preocupes Querida’

O ambiente à volta da passadeira vermelha, em frente ao Palazzo del Cinema, voltou a estar muito mas muito agitado, com as muitas fãs, sobretudo ‘teenagers’, mas não só a gritarem por Harry Styles, na estreia mundial de ‘Don’t Worry, Darling’ ou ‘Não Te Preocupes Querida’, no qual é o protagonista ou melhor a chave da história, que fica em suspenso a pedir continuação. Um filme cuja expectativa tem sido bastante alimentada por eventos inesperados e gossip ocorridos nas últimas semanas, desde o processo pela guarda dos filhos da realizadora Olivia Wilde, até a longa entrevista concedida por Styles à Rolling Stone, na qual fala sobre sua posição em relação à sexualidade, que ele resume basicamente ao conceito de ‘fluidez’. Este segundo filme realizado por Wilde (depois de ‘Booksmart-Inteligentes e Rebeldes’, 2019), também tem chamado muito a atenção por causa dos detalhes que têm sido publicados a propósito das cenas quentes de sexo entre Florence Pugh e o superstar Harry Styles. E neste aspecto confirmam-se as ousadas expectativas! Porém, o filme é um thriller psicológico que tem por base uma simples questão: ‘Está pronto para viver a vida que merece?’, algo que é colocado aos protagonistas. No entanto, há muito mais por detrás da fachada exclusivista e aparentemente segura da moderna e bem urbanizada comunidade de Victory.

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VÊ TRAILER DE ‘NÃO TE PREOCUPES QUERIDA’

É num ambiente protegido e perfeito, mas ao mesmo tempo muito perturbador, que se passa esta história ambientada na década de 1950, construída em torno de um projeto experimental ultra-secreto, que envolve todos os protagonistas: jovens e elegantes casais, maridos com espírito inovador e carregados de ambição e mulheres que tomam conta de tudo em casa, enquanto eles trabalham. Alice Chambers (Pugh), está entre essas esposas que desconhecem o que se passa no mundo paralelo em que vivem, no meio do deserto californiano, que é liderado pelo misterioso Frank (Pine). Porém, a mulher de Jack Chambers (Styles) parece ser a única que suspeita do luxo e conforto que os cerca. É também a única entre muitas ‘donas-de-casa perfeitas’, a desafiar regras, para descobrir a verdade que está por trás desse projeto Victory: uma forma de vida claustrofóbica e angustiante, que se esconde atrás do ideal do sonho americano e no qual a privacidade e liberdade são opcionais e o controlo é opressivo. No fundo, ‘Não Te Preocupes Querida’, é uma intrigante alegoria sobre o capitalismo, as ditaduras ou sobre sonho liberal e as novas tecnologias, que tem aparentemente pano para mangas, já que fica em suspenso, provavelmente para avançar para outros projectos audiovisuais, seja no cinema ou na televisão. Veremos?

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Via 79º Festival de Veneza/‘The Banshees of Inisherin’

Martin McDonagh é um realizador que se gosta, mesmo antes de ver os seus filmes já que todos os seus anteriores são muito bons. E isso fica ainda mais claro nesta seu novo, ‘The Banshees of Inisherin’, no qual reúne a dupla de actores que protagonizou a sua excelente estreia como realizador no delicioso ‘Em Bruges’ (2008). Colin Farrell e Brendan Gleeson juntam-se desta vez como Padraic (Farrell) e Colm (Gleeson), dois velhos amigos que vivem numa remota e agreste ilha na costa oeste da Irlanda. Tudo parece fluir tranquilamente, até que um dia Colm, surpreendentemente decide acabar a sua amizade com Padraic. Este não entende o porquê e fica devastado. Padraic procura a ajuda na sua irmã Siobhan (Kerry Condon), com quem partilha a casa, mas que também está lutando com questões que a preocupam pessoalmente e que envolvem outros membros da pequena comunidade da ilha.

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VÊ TRAILER DE ‘THE BANSHEES OF INISHERIN’

Enquanto isso, a situação entre Padraic e Colm corre o risco de precipitar com terríveis e dramáticas consequências. Efectivamente este ‘The Banshees of Inisherin’ é um filme de actores e feito para aqueles dois. McDonagh aliás trabalha muito bem e sabe tira partido dos seus elencos sempre carregados de estrelas escolhidas a dedo e a quem cabem na perfeição os papéis. É o caso novamente deste seu novo filme, onde  Farrell e Gleeson, junta-se como secundário, o jovem e talentoso Barry Keoghan, que interpreta o papel do perdido e instável filho do policia de Inisherin: ele próprio procura na falta de perspectivas, resolver algumas coisas na sua vida, mas nem sempre da melhor maneira. Keoghan, é natural de Dublin, já tinha trabalhado com Colin Farrell em ‘O Sacrifício do Cervo Sagrado’ de Yorgos Lanthimos e vamos vê-lo em breve como Coringa, no próximo filme da saga Batman, novamente realizado por Matt Reeves.

VÊ TRAILER DE ‘LOVE LIFE’

O japonês Kôji Fukada apresentou também hoje na competição de Veneza 79, o delicado e musical (mesmo nos seus silêncios) ‘Love Life’, um filme inspirado precisamente num tema do álbum com o mesmo título, lançado em 1991, pelo músico Akiko Yano, que já trabalhou  entre outras coisas, nas animações de Hayao Miyazaki. Kôji Fukada não é dos mais conhecidos cineastas japoneses, mas já recebeu no Festival de Cannes 2016, o Prémio do Júri da secção Un Certain Regard, graças ao extraordinário ‘Harmonium’, uma tragédia familiar e minimalista, sobre alguém que regressa do passado, para atormentar o presente.

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via 79º Festival de Veneza/’Love Life’

Neste seu novo filme ‘Love Life’, volta sensivelmente à mesma questão colocando no centro da história Taeko, (Fumino Kimura), que está felizmente casada e que vive com seu filho Keita e com o seu novo marido Jiro (Kento Nagayama). Até ao dia em que depois de uma tragédia, o pai da criança, Park (Atom Sunada), que é surdo, doente e pobre, reaparece de surpresa. É então Taeko decide ajudá-lo, pondo em causa o seu casamento. ‘Love Life’ é um tocante e profundo retrato feminino, sobre a perda e a bondade, que passou com uma certa leveza, mas deixou algumas marcas, nesta competição de Veneza 79.

JVM

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