"Love, Antosha" é um documentário de 2019 imprescindível para quem apreciava o talento imenso de Anton Yelchin |©Sundance Institute

Anton Yelchin | Memórias de uma estrela caída

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Anton Yelchin, ator naturalizado norte-americano, nascido na então União Soviética a 11 de março de 1989, morreu tragicamente aos 27 anos num acidente bizarro. A  19 de junho de 2020, assinalaram-se quatro anos desde a morte do promissor intérprete que teria completado recentemente 31 anos de idade. Recordamos a sua curta e promissora carreira. 

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Deste lado sentimos de facto eterna saudade de Anton Yelchin, um jovem ator cuja carreira estava a ser catapultada na altura em que faleceu. Prova disso são os diversos créditos na sua filmografia que apenas foram lançados post mortem. Anton Viktorovich Yelchin, conhecido principalmente devido ao seu papel na nova versão de “Star Trek”,  morreu a 19 de junho de 2016 na sua casa em San Fernando Valley, Califórnia. O ator foi encontrado esmagado entre o seu carro e o seu portão, e mais tarde a investigação comprovou não ter existido qualquer intento violento neste acidente. Anton Yelchin foi vítima de uma asfixia traumática quando o seu Jeep descaiu devido a uma falha no mecanismo de segurança que se descobriu ser inerente ao próprio modelo.

Contudo, hoje festejamos antes a vida e não a morte insólita,  precoce  e devastadora de Anton Yelchin. Aproveitamos para recordar também os fãs do ator de que em 2019 foi lançado o documentário “Love, Antosha”, realizado por Garret Price e narrado em parte por Nicolas Cage. A obra estreada no Festival de Sundance procura recordar o ator através do olhar daqueles que o conheciam e eleva o foco do debate muito além do seu mero obituário invulgar. Esta elogiada e premiada biografia pode ser encontrada para aluguer ou compra na Apple Tv. Vale tremendamente a pena pois pinta um retrato colorido e carinhoso de uma criança dinâmica e imaginativa que nasceu para representar e que amava cinema acima de tudo. Anton poderia ter vindo a ser um dos grandes astros de Hollywood, podia ter sido realizador, podia ter sido encenador, músico e fotógrafo – de certa forma foi todas estas coisas. O céu era o limite para este talento nato cuja vocação se mostrou desde cedo. É uma longa-metragem agridoce mas que merece ser vista. Como é dito no filme, Anton merece ser recordado.

Anton Yelchin era conhecido do grande público pela sua prestação na nova versão de “Star Trek”. Não obstante, foi o cinema indie que o fez vingar nos círculos de críticos. Estamos certos que um dia poderia ter sido um nome conhecido de todos, tal é o talento que demonstrou na televisão e cinema entre o início da sua carreira no final dos anos 90 e a sua morte em 2016. Durante este período contou, afinal, com mais de 69 créditos e trabalhou com grandes nomes, deixando uma marca positiva naqueles que com ele privaram. Recordamos agora parte da sua jornada, que inclusive passou pelo filme “Porto” (2016), com a cidade portuguesa como pano de fundo para um romance internacional.

ALPHA DOG (2006) 

Anton Yelchin Alpha Dog
Justin Timberlake e Anton Yelchin em “Alpha Dog” (2006) |©Universal Pictures

Anton Yelchin começou a sua carreira essencialmente a partir do início do novo milénio. Como muitos artistas, antes de chegar aos papéis de protagonista em filmes independentes e à pertença a um grande blockbuster, Yelchin começou na televisão. Uma das suas primeiras grandes oportunidades foi “Taken” ou “Eles Vieram em Paz”, de 2002, uma série produzida por Steven Spielberg e protagonizada por Dakota Fanning, onde Yelchin teve um arco de 3 episódios aos 13 anos. Teve também uma participação intensa num episódio de “ER”, improvisou com Larry David e desempenhou pequenos papéis em filmes onde contracenou com grandes nomes como Robin Williams, Robert De Niro, Morgan Freeman e brilhou particularmente quando partilhou o ecrã com Anthony Hopkins em “Corações na Atlântida” de 2001. Os seus primeiros anos de carreira mostraram-se desde logo auspiciosos.

Em 2006 participou em “Alpha Dog”, do ator e realizador Nick Cassavetes. Neste drama criminal biográfico teve oportunidade de contracenar com múltiplas estrelas emergentes como Justin Timberlake, Emile Hirsch ou Amanda Seyfried, sendo o elenco também preenchido por nomes de peso como Bruce Willis ou Sharon Stone.

Aqui interpretou Zack Mazursky, uma personagem que bebe inspiração da pessoa real Nicholas Markowitz. Markowitz, de 15 anos, foi assassinado devido a uma disputa relacionada com dinheiro de droga originada pelo irmão toxico-dependente e Yelchin prestou aqui homenagem à sua história. Não é de longe o filme mais elogiado da sua filmografia mas é ainda assim um marco no seu percurso.

Onde ver: DVD disponível no Marketplace da FNAC.




CHARLIE BARTLETT – PSICANÁLISE PARA TODOS (2007)

Anton Yelchin
Anton Yelchin e Kat Dennings |©Twentieth Century Fox

Um ano depois do seu papel de elenco em “Alpha Dog”, Anton Yelchin protagonizou a sua primeira comédia romântica indie – enquanto leading man –  onde deu vida à personagem titular Charlie Bartlett. A obra estreada no Tribeca Film Festival é uma criação pouco usual e escrita com mestria. Yelchin contracena aqui com Robert Downey Jr. (“Homem de Ferro”, “Sherlock Holmes”) e com a talentosa Kat Dennings (“2 Broke Girls”, “Nick and Norah Playlist Infinita”), exibindo clara química com ambos os intérpretes, à medida que interpretou um carismático adolescente excêntrico com a naturalidade que lhe era característica. A sua personagem central, Charlie Bartlett, é a de um jovem que começa a traficar ilegalmente medicamentos, o que o torna bastante popular na sua escola enquanto psicoterapeuta invulgar e desprovido de credenciais.

“Charlie Bartlett” é o tipo de comédia adolescente independente que nunca sai de moda – invulgar, criativa, repleta de coração e graça –  e Yelchin veste aqui a pele deste adolescente rebelde e perspicaz com evidente naturalidade. Este papel sem dúvida foi capaz de abrir o leque para o tipo de produções a que se viria a associar.

Onde ver: Disponível DVD importado de Espanha a partir da FNAC.




STAR TREK (2009, 2013 E 2016) 

Star Trek 2009
©Paramount Pictures

J.J Abrams, aliás uma das presenças no documentário “Love, Antosha”, assumiu em 2009 as rédeas de um projeto de grande envergadura  – regressar à saga “Star Trek” no cinema e fazê-lo com um novo elenco e com uma nova revitalização do franchise. Assim voltaram personagens como Sulu, Kirk, Spock ou Picard. Regressou também a personagem russa Pavel Chekov, que Anton Yelchin aqui interpreta. Num desafio curioso para a sua condição de russo e norte-americano bilingue, Yelchin teve aqui que se comprometer com um sotaque russo acentuado, digamos que algo oposto à naturalidade com que se movia de uma para a outra língua. Talvez tenha sido o seu maior desafio ao interpretar uma personagem ligeiramente mais leve e “fácil” ao lado de nomes como Chris Pine, Zachary Quinto ou Simon Pegg.

Interpretou este papel, de um adolescente inteligente e divertido, pela primeira vez em 2009 e pela terceira em 2016 – num filme lançado já depois da sua morte. Não foi o papel que lhe trouxe mais reconhecimento mas foi sem dúvida o que lhe conferiu mais fama e onde estabeleceu também importantes relações profissionais e de amizade. A nova saga “Star Trek” continua, mas J.J Abrams afirmou desde logo que Yelchin seria insubstituível.

Onde ver: O capítulo de 2009 pode ser encontrado tanto no streaming da HBO Portugal como da Amazon Prime Video.




LOUCAMENTE APAIXONADOS (2011) 

Anton Yelchin Like Crazy Loucamente Apaixonados
Anton Yelchin e Felicity Jones formam aqui uma intensa dupla apaixonante |©Paramount Pictures

“Like Crazy” é um belíssimo drama romântico que contou em grande parte com a improvisação de diálogos por parte das suas três estrelas: Anton Yelchin, Felicity Jones e Jennifer Lawrence – uma tríade poderosa que dá vida credível ao triângulo amoroso que se situa no centro da trama. Esta é uma história melancólica que encantou no panorama internacional de festivais e que infelizmente não vimos estrear em sala em Portugal. É também um dos papéis pelos quais Yelchin é mais reconhecido, em grande parte devido ao naturalismo absoluto que entregou nesta sua interpretação. Uma naturalidade que lhe era sempre inerente e que aqui é mais que notória e intoxicante.

A sua sensibilidade artística foi aqui capaz de encantar audiências e a crítica, numa obra que lhe valeu a ele e a Felicity Jones diversas indicações para estrelas-revelação. “Like Crazy” é uma narrativa intensa e subtil sobre o amor entre um norte-americano e uma britânica que são forçados a manter uma dolorosa relação à distância.

Onde ver: Apesar de “Like Crazy” não ter estreado nas nossas salas nacionais encontra-se disponível no catálogo da Netflix com o título nacional “Loucamente Apaixonados”.




NOITE DE MEDO (2011) 

Noite de Medo Fright Night
Toni Collete e Anton Yelchin em “Noite de Medo” |©Film Frame – © DreamWorks II Distribution Co., LLC.

Ainda em 2011, um ano para si repleto de papéis dispares e no qual começou também a participar em dobragens de filmes de animação, Anton Yelchin acrescentou um novo género cinematográfico ao seu currículo – o terror. “Fright Night” é uma divertida comédia de terror onde partilha o ecrã com Colin Farrell e David Tennant.

Esta narrativa é um remake relativamente bem-recebido do clássico de 1985. Acompanha a narrativa do adolescente Charley Brewster (Yelchin), que é capaz de compreender que o seu novo vizinho Jerry Dandrige (Farrell) é um vampiro responsável por diversos homicídios cometidos recentemente. Quando ninguém acredita na sua tese recruta Peter Vincent (Tennant), um “caçador de vampiros” e mágico para o ajudar a pôr fim ao reino de terror de Jerry.

“Fright Night” é uma longa-metragem caricata que permitiu a Anton mostrar uma outra faceta, numa criação da autoria de Craig Gillespie, responsável por pérolas indie como “Lars e o Verdadeiro Amor” e “Eu, Tonya”.

Onde ver: Disponível para aluguer no Google Play e Youtube.




O CASTOR (2011) 

the beaver o castor
© Summit Entertainment

Mais um drama indie que acrescentou variedade à carreira curta mas repleta de um Anton Yelchin que queria viver muito e de forma intensa. “O Castor” é uma narrativa sobre uma familia e os seus problemas, onde Mel Gibson dá vida a um pai e marido em crise que adota uma marioneta de um castor como forma de comunicação. Como a sua mulher temos Jodie Foster, que é também a realizadora deste drama familiar.

Anton Yelchin dá aqui vida a Porter Black, o filho do casal, e reencontra também neste elenco Jennifer Lawrence com quem tinha já contracenado nesse mesmo ano em “Like Crazy”. Lawrence é aliás uma das presenças mais emotivas no documentário “Love, Antosha”, no qual recorda a bela e alegre vida familiar deste jovem ator. “

The Beaver” é um filme triste, ancorado essencialmente na performance de Gibson com Yelchin num papel de apoio.

Onde ver: Esta  longa-metragem de Jodie Foster pode ser encontrada no videoclube da MEO.




SÓ OS AMANTES SOBREVIVEM (2013) 

Só os Amantes Sobrevivem
Anton Yelchin e Mia Wasikowska em “Só os Amantes Sobrevivem” |©Sony Pictures Classics

Anton Yelchin não tem um papel muito dominante nesta narrativa liderada por Tilda Swinton e Tom Hiddleston, mas ainda assim não seria possível não enquadrar este “Only Lovers Left Alive” de Jim Jarmusch (“Os Mortos Não Morrer”, “Patterson”) nesta galeria comemorativa do trabalho do ator russo naturalizado norte-americano. Isto porque Jarmusch era precisamente o tipo de realizador com quem Yelchin gostava de trabalhar.

“Only Lovers Left Alive” é um filme muito assente na transgressão e é uma narrativa que retira muita da sua força a partir da sua musicalidade e natureza saltimbanca. É uma longa-metragem que não só se vê, ela vive-se. O filme sobre um casal apaixonado de vampiros, Adam e Eve, percorreu o mundo, passando por múltiplos festivais. No seu elenco de apoio recebeu Mia Wasikowska como a impaciente e imprevisível Ava e, claro, Anton Yelchin como um humano que se vê preso na teia destes assassinos sedentos de sangue.

Onde ver: Para aluguer na MEO.




DAS 5 ÀS 7 (2014)

Das 5 às 7 5 to 7
Anton Yelchin e Bérénice Marlohe em “Das 5 às 7” (2014)|©Walter Thompson/GEM Entertainment

“5 to 7” foi, de acordo com o ator Anton Yelchin, um dos seus projetos favoritos. A comédia romântica dramática é uma narrativa tão moderna quanto clássica – é o típico “boy meets girl”, mas este “Meet Cute” – encontro romântico espontâneo e idílico – tem contornos bastante contemporâneos que lhe acrescentam um charme extra.

Yelchin é aqui Brian,  um jovem nova-iorquino aspirante a escritor, e Bérénice Marlohe é Arielle – uma mulher de família francesa, casada com um diplomata com quem mantém uma relação aberta. A atração é mútua e vai-se intensificando ao longo de diversos encontros entre as 5 e 7 da tarde. É a típica narrativa sobre um jovem que se apaixona por uma mulher mais velha, contada com classe e “inteligência emocional”, signifique isso o que simplificar. Destaca-se a química e conexão que os intérpretes conseguem transmitir e a capacidade de cristalizar um pequeno momento no tempo.

“Das 5 às 7” é povoado por múltiplos clichés de género mas é perfeito para quem gosta de ver os mesmos lugares comuns explorados com novo brilho através da força do argumento.

Onde ver: Encontra-se no videoclube da MEO e também em formato físico na Marketplace da FNAC.




GREEN ROOM (2015)

Green Room
Anton Yelchin em “Green Room” (2015) |©A24

Ainda em linha com a paixão de Anton pelo cinema independente e de qualidade chega-nos um thriller imperdível e inesquecível, distribuído nos Estados Unidos pela grande casa que é a A24. “Green Room” é um thriller de terror musical intenso no qual uma banda de punk testemunha um crime violento por parte de uma organização neonazi. Agora, o grupo musical precisa de escapar do local do espectáculo o mais depressa possível.

Este é um filme verdadeiramente intenso e que Anton lidera com uma facilidade inata. Quiçá talvez seja até um dos melhores exemplos do seu talento. A obra de Jeremy Saulnier estreou em Cannes e passou até pelo MotelX em Lisboa. Uma obra inteligente que Yelchin tornou mais memorável com a sua presença, não obstante uma certa lógica decadente à medida que o argumento se vai desenrolando – o que não retira à obra mérito estético e no campo das interpretações. 

Onde ver: “Green Room” tem cópia Blu-ray disponível na FNAC e pode também ser alugado no videoclube da MEO.




PORTO (2016)

Porto 2016
©Cinéart

Anton Yelchin esteve em terras lusas para filmar esta homenagem bela à cidade do Porto, de título simples “Porto” e com subtítulo provisório inicial “Porto, Mon Amour”. Este filme foi já lançado após o seu falecimento e chegou envolto em bastante antecipação, especialmente em território português. “Porto” apresenta-nos a linha narrativa sonhadora do casal internacional que se apaixona em solo desconhecido. A ideia de um encontro quase desenhado nas estrelas, fatídico até, melancólico. É um dos fortes testemunhos evidentes ao talento natural de Anton Yelchin e é com orgulho que recebemos um dos seus últimos gestos artísticos aqui mesmo, na nossa Invicta e numa produção que contou com a produção executiva de Jim Jarmusch com quem tinha já trabalhado.

Esta é uma obra sobre o passar do tempo, sobre a sua escassez, sobre a intensidade que pode ser conferida a encontros românticos fugazes. É uma história sobre o que fica de uma relação, o bom e o mau e tudo o que se localize entre estes espaços cinzentos e impossíveis de fixar. “Porto” segue a clara inspiração de romances como a magnífica trilogia dos filmes “Before” de Linklater, sem contudo conseguir atingir o mesmo nível de fluidez nos discursos. Aliás, o realizador Gabe Klinger tinha já realizado um documentário sobre Richard Linklater. Não, este efémero casal, Mati e Jake não se equipara aos eternos Jesse e Celine – esses são quase de carne e ossos, quase ao ponto de nos interrogarmos sobre o que estarão a fazer de momento. Não obstante a falta de naturalismo de “Porto”, não deixa de ser um bonito romance melancólico que mostra uma cidade e um protagonista em estado de graça.

Onde ver: DVD disponível para compra na FNAC.




THOROUGHBREDS (2017) 

Anton Yelchin in Thoroughbreds (2017)
©Focus Features

Chegamos ao fim desta nossa breve viagem com “Thoroughbreds”, uma narrativa fora-da-caixa que estreou já no ano seguinte à morte de Anton Yelchin. Neste thriller criminal contracena com os jovens talentos Olivia Cooke e Anya Taylor-Joy, numa aventura sobre duas adolescentes de classe alta que traçam um plano com consequências improváveis. Esta foi a longa de estreia de Cory Finley, realizador e argumentista que lançou recentemente “Bad Education”, um sucesso na HBO.

“Thoroughbreds” não estreou em sala em Portugal mas foi elogiado devido à sua estrutura irreverente e satírica. Aqui Yelchin desempenha um papel de apoio, mas porque não ver o fechar da cortina para este artista completo que ainda tinha tanto para mostrar? A tristeza involuntária causada pelas circunstâncias da sua morte não são atenuáveis, mas sugerimos ainda assim, 4 anos depois, que o trabalho de Anton Yelchin seja recordado – visto e revisto. Apenas podemos pensar o que o seu futuro lhe podia reservar.

Onde ver: Disponível para compra em 4k na AppleTv.

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