Marina Satti, representante da Grécia na Eurovisão © ERT / Kurunis

Eurovisão 2024 | “Já cantei fado e gosto muito de Portugal”, Marina Satti da Grécia em entrevista

Estivemos à conversa com Marina Satti, representante da Grécia e uma das favoritas à vitória na Eurovisão 2024. 

Sumário:

  • Marina Satti é a representante da Grécia na Eurovisão 2024, marcando o 50º aniversário da primeira vez que o país participou no concurso;
  • A artista combina diversas tradições como a música grega, árabe e balcânica, revelando que “O meu maior sonho era mostrar a Grécia como é agora, sem termos de cantar em inglês ou fazer coisas que não refletem a nossa identidade.”;
  • Diz que já cantou fado e que gosta muito de música portuguesa.

Nos últimos dias, Marina Satti (em grego Μαρίνα Σάττι)  tem sido o centro das atenções entre os fãs eurovisivos, já que representa a Grécia no 68.º Festival Eurovisão, sediado em Malmö, Suécia. Este ano é especialmente significativo, pois marca o 50º aniversário da primeira vez que a Grécia participou no concurso. Surpreendentemente, a Grécia voltou a optar por uma canção em grego, algo que não acontecia desde a participação de Yianna Terzi em Lisboa, com “Oniro Mou (Όνειρό μου’)“.

Lê Também:   Festival Eurovisão da Canção 2024 vai ser transmitido em direto na nossa TV

Ao longo de sua carreira, Marina Satti desenvolveu um estilo musical único, que combina diversas tradições nas quais ela cresceu, como a música grega, árabe e balcânica. Para isso bastaram as influências do pai, natural do Sudão, e da sua mãe, natural de Creta, onde a artista cresceu. Essa diversidade ficou bem evidente em toda a sua trajetória profissional: Marina já fez parte da Orquestra de Jazz da Euroradio da EBU, atuou no Centro John F. Kennedy em Washington com o Berklee World Jazz Nonet e fez parte do grupo vocal a cappella The Singing Tribe, ao lado de Bobby McFerrin. Marina desafia rótulos e podemos mesmo dizer que é uma artista por completo.

ZARI | Vê o videoclip de Marina Satti (Unplugged)

Em 2022, ela lançou seu primeiro álbum completo, “YENNA“, que teve a oportunidade de apresentar ao público português num concerto intimista realizado em fevereiro de 2023 no Teatro da Trindade. Esse álbum foi crucial para entender e solidificar a sua identidade musical, que se situa no meio caminho entre os elementos gregos, árabes e balcânicos, inseridos num contexto urbano e moderno. A sua versatilidade tem resultado em sucesso atrás de sucesso, com milhões de reproduções dos seus vídeos e das suas músicas nas plataformas digitais, sem esquecer a veneração da maioria dos gregos que a adoram.

Lê Também:   Eurovisão 2024 | "Surreal e divertido", Nemo prepara-se para representar a Suíça (Entrevista)

Paralelamente, Marina continua a promover os cantos polifónicos do mundo com o seu grupo fonés, que fundou e lidera. Também teve a oportunidade de realizar o documentário “FLABOURO” e lançou a música “TUCUTUM“, que foi um sucesso no verão e abordou o trap balcânico.

FLABOURO, o documentário com Marina Satti

Apesar de todo o entusiasmo, Marina também refletiu sobre a pressão que acompanha a representação da Grécia na Eurovisão 2024. Nos últimos dias tem vindo a referir que já havia sido convidada para participar antes no concurso. No entanto, sempre acreditou que isso só aconteceria no momento em que se sentisse verdadeiramente preparada para lidar. A musicista compara a experiência do Eurovisão com as suas viagens que tem feito para festivais mundiais. Mal podemos esperar para saber o que virá depois da Eurovisão. A Marina é uma artista que não ficará por aqui. A seguir, poderás ler a entrevista a Marina Satti que começou em português e terminou em grego.




Marina Satti, em entrevista

MHD: Olá Marina, como estás?

Marina: Olá! É um prazer falar contigo! Gosto muito de Portugal. Já cantei em português. O vosso fado é lindíssimo. Gosto muito da música brasileira e da música de Portugal. Esqueci-me as palavras que aprendi, mas guardo bonitas recordações de quando passei no ano passado pelo Teatro da Trindade, cuja arquitetura se transportou para um elegante palácio italiano. Adorei a atuação em Lisboa.

MHD: Este ano celebram-se os 50 anos desde a primeira participação da Grécia no concurso. Como é que te sentes ao cantar de novo em grego, depois de várias canções em inglês?

Marina: Uma das razões pelas quais me fez dizer sim ao projeto da Eurovisão este ano foi precisamente a possibilidade de cantar em grego. Eu queria cantar no meu idioma nativo, porque faz parte da minha cultura, de onde vim e do meu país. O meu maior sonho era mostrar a Grécia como é agora, sem termos de cantar em inglês ou fazer coisas que não refletem a nossa identidade. Diferentes do que somos.

Queria cantar em grego e mostrar a Grécia de hoje. As pessoas que somos ao viver numa cidade como a Atenas nos dias atuais. Num ambiente urbano. Temos uma cultura bastante vasta e um passado que não poderemos negar, que carregamos nos ombros desde que nascemos. A música ZARI é uma combinação da música grega e balcânica, queria levar estas texturas à Eurovisão e, pelo que espero, emoções para a minha performance.

Eurovisão 2024
Marina Satti © Peggy Theodorogianni
Lê Também:   "Algo impressionante!", os Electric Fields da Austrália estão prontos para a Eurovisão 2024 (Entrevista)

MHD: E curiosamente tu ages como uma guia turística no videoclip.

Marina: Sim. Isso surgiu de uma ideia divertida que tivemos. Como estava a viajar eu vi que informações é que as pessoas tinham sobre a Grécia, que estavam relacionadas com as estátuas gregas, com as ruínas, como a comida. Eu sei que poderia ser a guia turístico, mostrar a Grécia ao mundo. Porque não ser uma blog de viagens no meu próprio país e mostrar aquilo que tem de melhor?

MHD: E achas que existe alguma característica grega que a Europa está menos familiarizada?

Marina: Pelo que reparei a maioria das coisas que as pessoas sabem estão relacionadas com a Antiguidade. Pouco se sabe sobre o presente ou sobre a cultura folk. Notei isto especialmente quando estou em viagem em festivais e concertos. Há pessoas que ouvem música grega pela primeira vez e surpreendem-se. Não tinham ideia de como são as coisas! De como são as músicas e dizem-me ‘vocês têm clarinete, estão cheios de instrumentos e diferentes sons’. Idealmente, acho que seria fantástico se as pessoas pudessem conhecer mais sobre a Grécia, sobre a nossa cultura.

Sugiro também às pessoas a visitarem o nosso país mais rural e as estórias que se revelam em cada pessoa, em cada aldeia. Recentemente fiz um documentário “FLABOURO”, para acompanhar o lançamento do meu primeiro álbum. Neste vídeo em percurso a vila de Flabouro, conheço pessoas, comemos juntos e ouvimos música. Acho que os turistas precisam de descobrir este tesouro.

Eurovisão
Marina Satti no segundo ensaio para a Eurovisão © Sarah Louise Bennett / EBU
Lê Também:   Eurovisão 2024 | Factos que provavelmente não sabias sobre FAHREE e Ilkin Dovlatovm, do Azerbaijão

MHD: Por essas viagens que tens feito, sinto que a tua música não é apenas um género. Não se pode encaixar num estilo. Como é que navegas na tão eclética identidade musical?

Marina: Temos mesmo que começar pelo início. O meu percurso na música começou quando eu tinha 5 anos. Comecei com música clássica, coro, harmónica, piano clássico. Formei-me em canto clássico e queria seguir uma carreira em ópera. Mas depois consegui uma bolsa de estudos nos Estados Unidos, portanto fui para lá. Comecei a estudar música contemporânea e música jazz.

Enquanto lá estive perguntavam-me como era a música do meu país. Percebi que num contexto multicultural como é a América eu tinha de voltar às raízes e procurar mais sobre a minha identidade, também como uma forma de encontrar o meu lugar nos EUA. Eu estava a perceber que ninguém estava à espera que eu, uma jovem grega, fosse para lá cantar jazz. Todos estavam ansiosos por trazer algo da minha cultura. Tínhamos reuniões a-Cappela, em que ensinava mais sobre as canções gregas. Pouco a pouco, aprofundei-me nisso. Cantei pela primeira vez em grego ao vivo num restaurante onde trabalhava. No início, eu não era muito boa! Estava um pouco envergonhada. Mas acho que foi esse o caminho, jazz tornou-se World jazz e de World jazz comecei a fazer folk tradicional. Ainda estou num processo de amadurecimento, mas quando o tempo chegou quis combinar com as atmosferas sonoras que me definem: uma mulher moderna que vive na cidade. Foi assim que nasceu o “YENNA”.

Eurovisão 2024
Marina Satti no segundo ensaio para a Eurovisão © Alma Bengtsson / EBU

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lê Também:   "Algo impressionante!", os Electric Fields da Austrália estão prontos para a Eurovisão 2024 (Entrevista)

MHD: És fã de planos-sequências, não é assim. Basta ver por exemplo o videoclip de “ΜΑΝΤΙΣΣΑ”, onde percorres as ruas gregas. Irás recuperar o formato na tua atuação na Eurovisão? 

Marina: Esta foi uma ideia que o nosso diretor artístico Fokas Evangelinos [em grego Φωκάς Ευαγγελινός] teve para a apresentação de “ZARI” no palco da Eurovisão. A ideia era ter o ato completo em apenas um take e, que eu saiba, nunca foi feito na Eurovisão. Eu gosto desta ideia de mostrar à audiência que tudo está a acontecer e que o espectador tem acesso a cada pormenor. Não existem cortes, não existem grandes-planos. Não temos nada a esconder. Acho que os planos-sequência acrescentam transparência e que tantas vezes é feito no cinema. É uma maneira de ser real e de ver tudo em frente dos teus olhos! Todo o ato de “ZARI” no palco da Eurovisão é uma viagem, portanto adapta-se ao que queremos transmitir. É uma viagem pelos momentos da canção e quero que as pessoas sintam isso do início ao fim. Há continuidade.

MHD: Com quais artistas gregos gostarias de colaborar no futuro?

Marina: Existem tantos artistas gregos que gostaria de colaborar! Mas acho que vou só dizer um nome de uma pessoa que é muito muito nova. Sinto que as pessoas fora da Europa vão conhecê-lo em breve. Falo de um miúdo de 11 anos, cujo nome é Jack Lamar. Ele é um rapper, que eu já tive o privilégio de conhecer. Ele é tão meigo. Sinto que se houvesse possibilidade de colaboração ou de dar a oportunidade a novas gerações começaria com ele. Este miúdo é tão talentoso e está a tentar fazer o caminho pelo mundo da música. Gostaria que as pessoas o conhecessem.

MHD: Estás a abrir caminho para os mais novos… 

Marina: Isso seria o melhor para todos nós, na verdade.

MHD: Obrigado Marina pelo teu tempo! Boa sorte para a Eurovisão. 

Uma artista querida entre gregos

Não queríamos deixar de partilhar que Marina Satti emerge como uma artista completa, cuja trajetória é marcada pela superação. Além de representar a Grécia na Eurovisão num ano significativo para o país, Marina também alcançou marcos notáveis na sua carreira. Recentemente, deu voz ao cover da canção “Stis Naousas to Kastro“, incorporando os seus elementos tradicionais.

Marina foi também a primeira atriz grega a se apresentar no COLORS Show na Alemanha. Com a sua participação na Eurovisão Marina prepara-se para um novo desafio artístico, solidificando o seu lugar como uma das vozes mais notáveis do universo musical europeu.

Entrevistas Eurovisão 2024

O que achas da performance da cantora na Eurovisão? 

Sobre o Autor



Também do teu Interesse:



Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *