Richard Gere e Uma Thurman em Cannes com “Oh Canada”, a crítica
Após um eclipse de décadas, a carreira excêntrica e errática do veterano argumentista/realizador norte-americano Paul Schrader (“O Mestre Jardineiro”), volta às grandes competições internacionais, incluindo aqui ao Festival de Cannes 2024, com “Oh Canada”.
Em “Oh, Canada”, este novo filme de Paul Schrader, é à primeira vista logo marcado pelas participações (ou melhor excelentes interpretações) de Richard Gere (o protagonista de Schrader em “American Gigolo” no longínquo ano de 1980), Uma Thurman, Jacob Elordi e Michael Imperioli, estrelas que devem dar a este drama pesado, algum impacto comercial após sua estreia aqui na Competição de Cannes 2024.
Oh Canada, inspirado no romance de Russell Banks, estreia no Festival de Cannes
O filme é adaptado de um romance vagamente autobiográfico do recém-falecido escritor Russell Banks, cujo trabalho também inspirou o excelente “Affliction”, (1998), de Paul Schrader. Inspiradamente literário e auto-reflexivamente cinematográfico, “Oh, Canada” é uma espécie de prólogo da morte de Leonard Fife (Gere), um conceituado documentarista nascido nos EUA.
Às portas da morte Fife decidiu dar uma entrevista filmada — uma espécie de confissão final — que na verdade é a estrutura do filme. Fife e a sua esposa Emma (Uma Thurman), que foi também a produtora da sua obra, são visitados na sua bela casa em Montreal por Malcolm e Diana (Michael Imperioli, Victoria Hill), uma dupla de documentaristas vencedores do Oscar.
Tanto eles como Emma, são ex-alunos de Leonard. Como documentarista político com tradição do ‘cinema verité’, Leonard parece dar grande importância à verdade. Mas enquanto insiste em contar a (sua) verdade nua e crua sobre a sua vida — para desconforto crescente da mulher Emma — prova afinal não ser tão totalmente honesto consigo mesmo nem ter o controle da sua própria história.
Essa história começa na década de 1960, como uma saga de idealismo, ambição e anseio juvenil, com Jacob Elordi a fazer de Leonard, desde o final da adolescência até aos vinte e tal anos como aspirante a romancista, aventureiro e mulherengo. Como jovem marido da herdeira sulista Alicia (Kristine Froseth), resiste ao convite para assumir um cargo de CEO, nos negócios da família dela, mas pelo contrário acaba fugindo aliás algo que será como vamos ver, recorrente em toda a sua vida.
Com a narração do próprio Leonard velho e debilitado, capturada tanto à frente da câmera, quanto no visor dos documentaristas — à Errol Morris — a sua vida é contada como um quebra-cabeça que alternadamente se junta e desmorona. Este efeito é ainda mais desorientador à medida que o próprio Gere às vezes substitui o jovem Elordi na história quando mais jovem.
O uso de diferentes estilos, preto e branco e diferentes formatos de filmes aumenta o efeito e a confusão. Esta estrutura fragmentada provoca uma certa falta de clareza e de catarse no acto final de uma figura que apesar de ser um prestigiado documentarista não parece ser muito interessante, nem ter uma vida por aí além. Schrader parece ter juntando certos pastiches do documentário, como o já referido visor e ter-se baseando num grande filme da história do cinema: “Citizen Kane” (“O Mundo a Seus Pés”). Mas não lhe chega nem aos calcanhares, mesmo que fosse de tobogã!
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“Oh Canada” é mais um dos filmes apresentados no Festival de Cannes.
Oh Canada, em análise
Movie title: Oh Canada
Country: EUA
Director(s): Paul Schrader
Actor(s): Richard Gere, Uma Thurman, Jacob Elordi
Genre: Drama
-
José Vieira Mendes - 20
Prós e Contras
A favor: As participações de Richard Gere, Uma Thurman, Jacob Elordi e Michael Imperioli, são sem dúvida um bom engodo para levar os espectadores a ver este drama pesado em jeito de confissão de fim de vida.
Contra: A estrutura fragmentada provoca uma certa confusão, além de que o personagem principal, apesar de ser um prestigiado documentarista, não parece ser uma figura muito interessante nem ter uma vida por aí além, que mereça ser contada num filme.