Ranking ALIEN | 5. Resurrection é um estudo de contrastes
“Alien O Regresso,” conhecido como “Resurrection” no original, marcou a despedida de Sigourney Weaver do franchise que a tornou famosa.
Neste Artigo:
“AVP2: Aliens vs. Predador” ficou em último lugar.
Seguiu-se “Alien: Romulus” na oitava posição.
“Alien vs. Predator” ficou em sétimo lugar.
E “Alien: Covenant” está em sexto.
Na sua primeira conceção, o argumento para “Alien” não especificava o género das personagens e cada figura era identificada pelo apelido. Isso pode parecer um detalhe sem importância, mas foi fulcral para o desenvolvimento de uma saga que, até hoje, privilegia mulheres na posição de protagonista. Acontece que Ripley só se tornou Ellen Ripley durante o processo de casting, quando Sigourney Weaver conquistou o papel apesar de ser uma atriz relativamente desconhecida na década de 70. Não que o argumento tenha sido alterado de forma radical depois dessa escolha. Ripley manteve as mesmas características e tornou-se um ícone cinematográfico.
Foram essas particularidades que salvaram a heroína das constrições associadas à feminidade no terror e ficção-científica da época. Com “Aliens,” James Cameron trocou as voltas a estes preceitos, explorando Ripley enquanto figura materna, sem, no entanto, cair nos clichés do costume. E através de tudo isso, Sigourney Weaver foi aprofundando a sua caracterização, recebeu uma nomeação para os Óscares em 1987 e até ascendeu a cargos da produção. É impossível separar a sua influência daquilo em que o franchise se tornou e é justo dizer que a Ellen Ripley de Weaver é tão ou mais importante para a ‘quadrilogia’ original quanto os xenomorphs.
Sigourney Weaver em modo transcendente.
Claro que, tecnicamente, Ellen Ripley morre no terceiro filme. Em “Alien: Resurrection” ou “Alien O Regresso,” Weaver interpreta um clone hibridizado com ADN do monstro. Mais do que uma pessoa, esta nova configuração da scream queen é uma perigosa experiência pela parte de cientistas sem escrúpulos que querem investigar o organismo perfeito daquelas bestas assassinas que tanto atormentaram a primeira Ripley. Sendo assim, Weaver teve que redescobrir a personagem e repensá-la, transcendendo toda a narrativa e a própria natureza humana. Vê-la neste quarto capítulo é como testemunhar um artista na descoberta de algo além da Humanidade, mais animal, mais predatório.
Por isso mesmo, arriscamos dizer que esta será a prestação mais interessante da atriz em todo o franchise. O ponto alto de qualidade continua a ser o “Aliens” de 1986, mas a interpretação dela neste “Regresso” é do outro mundo, tão concetualmente arriscada que nem parece fruto da mesma mentalidade de filme de série B que domina o restante projeto. Somente a sua postura e movimento são suficiente para uma ovação de pé, mas ela não se fica por aí. Nas duas grandes cenas da fita, Weaver recupera compaixões e rende-se à emoção, ao horror perante uma irmandade deformada e um filho destinado a sofrimento sem fim.
Duas cenas salvam o filme!
Os momentos em questão acabam por salvar “Alien: Resurrection,” como que ofuscando as muitas fragilidades da obra. Primeiro, temos um laboratório feito em prisão, ou talvez um mostruário de horrores. É lá que estão as muitas tentativas falhadas de clonar Ripley, proporcionando uma visão de vidas tão sôfregas que a morte é o seu maior desejo. No rosto de Weaver reflete-se a angústia das suas irmãs assim como o suplício do espetador. Quando ela pega fogo a tudo, mais do que um triunfo de ação, trata-se da misericórdia mais profunda que o franchise alguma vez retratou. Fica dito que é um assombro.
Em segundo destaque, temos uma cena mais controversa. Passa-se no clímax sanguinário da fita, quando “O Regresso” perde o juízo e o bom gosto, sujeitando as personagens à génese de um xenomorph antropomorfizado. O Recém-Nascido representa o design mais grotesco da história, mas também é aquele que mais fascina. Nesse píncaro da magia cinematográfica, Weaver e os técnicos de efeitos especiais conseguem invocar empatia para com a criatura. Sabemos que a sua destruição é imperativa, mas não há prazer nisso. Ao invés, sente-se o coração apertado quando o bebé é traído pela mãe.
Jeunet e Whedon estragam tudo.
Com esta catrefa de elogios, pode-se estranhar por que razão “Alien: Resurrection” não está mais alto no ranking. Os culpados são Jean-Pierre Jeunet e Joss Whedon. No caso do realizador gálico, denota-se uma incompatibilidade entre o seu cunho pessoal e as demandas do terror extraterrestre. Sem a ajuda do seu antigo parceiro criativo, Marc Caro, o lado horripilante do seu cinema fica em segundo plano para com um júbilo carnavalesco e muito francês. Até as escolhas fotográficas – esses âmbares, verdes e amarelos cirrosos – demonstram como a mesma abordagem não funciona igualmente no universo “Alien” como viria a fazer em “Amélie.”
Mas o maior problema é tonal. Jeunet tem culpa no cartório, especialmente no modo como dirige o elenco secundário, edita a ação e usa grandes angulares para distorcer faces, mutando atores de carne e osso em caricaturas de si mesmos. No entanto, Joss Whedon é quem merece mais escárnio. Enquanto argumentista, todos os seus vícios estão aqui presentes, inclusive as piadas do costume e construções cómicas que em nada coerem com o mundo dos xenomorphs. A figura interpretada por Winona Ryder exemplifica isso bem, parecendo uma heroína de segunda categoria extraída diretamente de um dos outros trabalhos do escritor. Enfim, o génio de Weaver e daquelas duas cenas compensam muita mediocridade, mas não conseguem justificar todos os erros em seu redor.
No próximo artigo, vamos rebobinar um pouco na história de Ellen Ripley e explorar como a personagem original se sacrificou pelo bem da Humanidade.