Dunkirk © Warner Bros.

Segunda Guerra Mundial | Os melhores filmes sobre o conflito

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O Dia Contra o Fascismo e Anti-Semitismo é celebrado na MHD com os melhores filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. 

A Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) continua a ser dos maiores acontecimentos históricos transpostos para o grande ecrã. Os diferentes estúdios norte-americanos de Hollywood, assim como alguns autores dos cinemas europeu e asiático, têm procurando entreter os diferentes públicos, ao mesmo tempo, que lhes tentam oferecer uma lição de História fidedigna. Através do cinema narram-se distintas visões da guerra, singulares e coletivas, tanto do ponto de vista estratégico, militar e/ou político, como do ponto de vista civil e sócio-cultural, sempre com o objetivo de reforçar a memória sobre os diferentes eventos a ela circundantes.

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Um dos maiores conflitos bélicos de todos os tempos teve, como bem sabemos, resultados catastróficos. Resultante dos conflitos mal resolvidos da Grande Guerra, na Segunda Guerra Mundial morreram entre 66 a 85 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que uma fração delas (aproximadamente seis milhões de judeus) foi vítima do genocídio nazista: o Holocausto. De facto, pela sua dimensão à qual ninguém consegue passar despercebida, falar da II Grande Guerra pode traduzir-se num eventual descuido face ao conflito armado que provocou imensos transtornos psicológicos e traumas físicos a muitos dos seus sobreviventes. Essa desatenção pode vir tanto do público em geral, como até de alguns historiadores que preferem, a trespassar a informação do genocídio alemão. O cinema, como ferramenta importante não se limitou a esse estudo, como também procurou filmar o outro lado: o da II Guerra Mundial representada na frente de combate.

Midway
“Midway” (2019), um filme sobre a Segunda Guerra Mundial já nos cinemas © NOS Audiovisuais

Pela vantagem de utilização das tecnologias visuais mais avançadas para representar os combates, este subgénero do cinema tem cada vez ganho mais adeptos, confirmando que existe um desejo generalizado de ver e controlar a imagem da vulnerabilidade dos corpos caídos da Segunda  Grande Guerra. Um dos casos mais recentes é o drama de acção “Midway”, que apesar de realizado pelo sempre apocalíptico Roland Emmerich (“2012”) procura contar a história da batalha, com o mesmo nome, que decorreu entre americanos e japoneses no Oceano Pacífico em 1942. Outros filmes contemporâneos como  “Invencível” (2014), de Angelina Jolie, “O Herói de Hacksaw Ridge” (2016), de Mel Gibson ou “Dunkirk” (2017), de Christopher Nolan saciam a sede dos espectadores por conhecerem mais sobre o conflito armado.

Pois bem, aproveitado que hoje, 9 de novembro, celebra-se o Dia Internacional Contra o Fascismo e o Anti-Semitismo (além de se celebrarem 30 anos da Queda do Muro de Berlim) a Magazine.HD procurou reunir os melhores filmes sobre a II Guerra Mundial. A data alude há 81 anos atrás, quando na noite do dia 9 de novembro de 1938 arderam imensas sinagogas, destruíram-se cemitérios  e 30 a 35 mil judeus foram deportados como resultado do assassinato de Ermest Von Rath, secretário da Embaixada Alemã em Paris, pelo jovem judeu Herschel Gryszpan. A famosa “Noite dos Cristais” (Kristallnacht ou Reichkristallnacht), pelos vidros que se foram espalhados nas ruas em resultado da destruição das vitrines, marcou o início da propagação da doutrina fascista e anti-semitista que ainda hoje tem, lamentavelmente, os seus adeptos.

A Magazine.HD procurou analisar as obras mais importantes que tivessem apenas foco sobre a vertente bélica. Queremos, com as longas-metragens abordadas nesta página, trazer à memória um acontecimento tão violento no passado, alertando o público para que o evite no futuro. Poderemos ainda dizer que o renascimento de temas da Segunda Guerra Mundial na cultura cinematográfica recente é uma ferramenta inteligente para que o público assimile os problemas da falta de valores sociais da sociedade atual com os problemas do passado.

Como só vamos falar de 15 filmes, procuramos trazer filmes bastante diversos, apontando às mais distintas cinematografias: da americana, à russa, à alemã passando até pela britânica e pela japonesa. São estes os melhores filmes da Segunda Guerra Mundial.

Segue as setas para explorares e descobrires alguns dos melhores filmes sobre a temática da 2ª Guerra Mundial. 




“A Legião Branca” (1943) de Mark Sandrich

A Legião Branca
A Legião Branca © Universal City Studios Inc.

“So Proudly We Hail” (1943), no título original, é a primeira obra nesta lista de melhores filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. Surpreendentemente, este filme é o único da lista feito durante a própria guerra, quando os Estados Unidos já haviam entrado no conflito, como resultado do ataque surpresa dos japoneses à base de Pearl Harbor, no Havai – a sede da frota no Pacífico.

Talvez para os espectadores de hoje “A Legião Branca”, produzido pela Paramount Pictures, seja visto como um filme típico de Hollywood, a fingir ser realista, e que permitiu às suas atrizes Claudette Colbert, Paulette Goddard e Veronica Lake vestirem a pele de mulheres comuns, em vez de burguesas, como haviam feito em várias comédias screwball. No entanto, este filme deve ser visto mais por ser uma rara visão sobre as mulheres que ajudaram na frente e que poucas vezes tiveram tempo de chances para brilhar no cinema. Aliás, um dos problemas dos argumentistas e realizadores do subgénero do cinema da 2ª Guerra Mundial é o esquecimento em abordar a perspetiva feminina.

O realizador Mark Sandrich, conhecido por comédias musicais que reuniam Fred Astaire e Ginger Rogers, mostra bem a tortura vivida da Batalha de Bataan, além de enfatizar o o cansaço e o drama daqueles que sobreviveram ao conflito, sobretudo as mulheres que serviram neste momento da guerra pelas Filipinas. Outros dos filmes com foco sobre mulheres na Segunda Guerra Mundial lançado na mesma época foi “Mrs. Miniver” (William Wyler, 1942), filme vencedor de seis Óscares incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz Greer Garson, ou o verdadeiramente realista, “Roma, Cidade Aberta” (Roberto Rossellini, 1945), que coloca Pina (Anna Magnani) e Marina (Maria Michi) a representarem os dramas das mulheres na vida familiar italiana.




Quando Passam as Cegonhas (1957)”, de Mikhail Kalatozov

Segunda Guerra Mundial
Quando Passam as Cegonhas © Mosfilm

Falar de cinema sobre a Segunda Guerra Mundial é falar da sua profunda conexão com a propaganda política. Os efeitos das campanhas de ditadores, como por exemplo, Adolf Hitler foram tremendos na arte cinematográfica que começou a ficar emaranhada nos ideais políticos (a ver  a título de sugestão “Hitler’s Hollywood”).

Apesar do documentário ser o género preferido dos artistas vinculados ao regime, muitos obras de drama também trespassaram a ideologia nacionalista dos seus governos. “Quando Passam As Cegonhas” (1957), de Mikhail Kalatozov é um desses raros casos e dos mais belos filmes que há, ao misturar perfeitamente a propaganda patriótica imposta pelo governo de Estaline com a memória daqueles que sofreram pelo conflito. Por um lado, temos a figura masculina Boris, um estereótipo e personagem meramente representativa da propaganda, por outro lado, temos a personagem feminina, interpretada pela conceituada atriz russa Tatyana Samoylova, que surge como espécie de liberalização de um povo face aos seus ideais patrióticos.

Tal acontece porque a figura da mulher,  assume o sofrimento de um povo e das pessoas que tiveram que aceitar que os seus amados combatessem na guerra, sem nunca haver regressado. Veronika, a protagonista tem que viver um conflito interno, de desistir de esperar pelo seu amado e seguir em frente com a vida. Daí talvez o impacto incrível de “Quando Voam as Cegonhas” sobre a sociedade russa, e o seu sucesso no Festival de Cannes, onde sairia vencedor da Palma de Ouro em 1958, um ano depois do seu lançamento.




“A Ponte do Rio Kwai” (1957), de David Lean

A Ponte do Rio Kwai (1957)
Alec Guinness em A Ponte do Rio Kwai (1987) © Columbia Pictures

Não poderia faltar a visão do épico cineasta David Lean na nossa análise aos filmes da Segunda Guerra Mundial mais emblemáticos de sempre. “A Ponte do Rio Kwai” é um filme sobre prisioneiros de guerra (POW, “prisoners of war”), uma espécie de subgénero do cinema de guerra. A obra remete-nos para a antiga Birmânia, onde prisioneiros ingleses são obrigados pelos japoneses a construir uma via ferroviária que ligaria Siam (na atual  Tailândia) e Burma (na atual República da União de Myanmar), vital para os esforços de guerra. A personagem principal é Nicholson (Alec Guinness), um coronel britânico que supervisiona a construção da ponte, e que convoca as regras da Convenção de Genebra que impedem os oficiais de fazerem trabalhos manuais. Vemo-lo desmoronar-se psicologicamente quando começa a ficar obcecado com a construção da ponte, e pelo sentido de dever bem cumprido.

“A Ponte do Rio Kwai” é a visão inglesa sobre aqueles que se mantiveram firmes em relação à tortura nipónica. O filme pode parecer jogar com a potencial carga nacionalista, quando na verdade é contado com uma carga irónica sobre o imperialismo britânico. É dele que resulta a quase loucura do protagonista, convencido que os seus códigos de honra e de dever farão elevar o seu país (e o próprio mundo ocidental).

Espetacular experiência cinematográfica, “A Ponte do Rio Kwai” acabaria por vencer 7 Óscares da Academia, incluindo Melhor Ator Alec Guinness e Melhor Filme. O filme não foi o único sobre o POW a conseguir tal honra. Em 1978, já na sequência da Guerra do Vietname (1955 – 1975) o drama “O Caçador” (1978) venceria a principal estatueta dourada. Curiosamente “A Ponte do Rio Kwai” apropriou-se de uma melodia cantada nos tempos da Segunda Guerra Mundial, intitulada “A Marcha do Coronel Bogey”. A canção foi composta em 1914 pelo inglês F. J. Ricketts, sob o pseudónimo de Kenneth Alford.




“A Ponte” (1959), de Bernhard Wicki

A Ponte (1959)
“A Ponte” (1959) © Fono Film

No cinema sobre a Segunda Guerra Mundial também encontramos obras sobre miúdos tornados soldados, como é o caso de “A Ponte” (1959). Além disso, este é um dos primeiros filmes alemães sobre a guerra, um marco bastante importante a assinalar nesta lista.

Em “A Ponte” uma bomba cai perto de uma ponte que dá acesso a uma pequena cidade alemã e um grupo de miúdos inexperientes fica responsável por protegê-la, porém uma série de erros faz com que a missão que lhes foi não seja das mais seguras. A trama do filme vai construindo alguma tensão com os seus espectadores, preparado-nos calmamente para os seus últimos 45 minutos. Aí, temos uma sequência única de batalha sem efeitos visuais, bastante intensa e bem coordenada, que ajudaria o realizador Bernhard Wicki a ser contratado para realizar as sequências alemães do filme “O Dia Mais Longo” (1962), sobre o desembarque dos americanos na Normandia no famoso Dia D.

“Die Brucke”, no original, foi baseado no romance autobiográfico de Manfred Gregor com o mesmo nome, publicado em 1958, e remete para o serviço jovem no Volkssturm (o exército do povo) durante o final da Segunda Guerra Mundial. Como reconhecimento da sua autenticidade, “A Ponte” seria ainda escolhido para passar nas escolas alemães, como parte das aulas de História. Este é, afinal, um relato único sobre a guerra naquele país, visto pelos olhos do cinema comercial alemão.




“A Condição Humana” (1959) e (1961), de Masaki Kobayashi

A Condição Humana 1ª Parte
“A Condição Humana 1ª Parte” © Shôchiku Eiga

“The Human Condition” (1959-1961), um filme épico lançado no cinema em três partes que mostra uma perspetiva pessoal do conflito, além de enfatizar, como poucos filmes o fizeram, as crueldades do Império Japonês na China. Realizado precisamente há 60 anos por Masaki Kobayashi, um ex-combatente do Exército do Japão, esta obra-prima prova que o cinema daquele país asiático não se limita a Akira Kurosawa ou mesmo a Kenji Mizoguchi.

O drama d’“A Condição Humana” desenrola-se no território de Manchúria, na China, quando ocupado por tropas japonesas, mostrando bem os crimes aí cometidos. O filme segue Kaji, um administrador civil pacifista, nomeado supervisor de um campo de prisioneiros na Manchúria durante a 2ª Grande Guerra. Os problemas começam quando o tratamento mais humanista e solidário para com os trabalhadores das minas e prisioneiros de guerra, começa a enfurecer os seus superiores.

Kobayashi mostrava finalmente os efeitos dolorosos de alguém que tinha estado na guerra. A visão de Kobayashi é sombria, catártica e trágica, mas honesta, afinal falamos de um pacifista, alguém que procurou no cinema uma forma de fazer justiça e de transmitir os seus ideais anti-militaristas. “A Condição Humana” é talvez o maior e mais grandioso manifesto anti-guerra de sempre com uma duração impressionante de nove horas e meia divididas em três partes. 




“A Grande Evasão” (1963) de John Sturges

Melhores Filmes na Segunda Guerra Mundial
“A Grande Evasão” © Metro-Goldwyn-Mayer Studios

“A Grande Evasão” (1963) foi um dos primeiros exemplos da guerra tornada entretenimento e, consequente, blockbuster. Aqui estamos diante um filme de ação sobre os prisioneiros de guerra na frente europeia, onde somos levados até ao campo de prisioneiros alemão Stalag Luft III em 1944, em plena 2ª Guerra Mundial, onde um grupo de oficiais dos Aliados está decidido a fugir. O plano é colocado em prática até ao mínimo dos detalhes e alguns prisioneiros conseguem fugir, sem saber do plano de captura levado a cabo pelas forças alemães. A partir daí, o filme consegue combinar perfeitamente os dramas da guerra com o sentido de entretenimento de Hollywood.

Realizado por John Sturges (não confundir com o também conhecido Preston Sturges), “A Grande Evasão” foi para para muitos a primeira introdução ao cinema de guerra, contado por pessoas que lá estiveram. Numa das suas melhores cenas (além de Steve McQueen a imortalizar a condução de moto obviamente), Bartlett (Richard Attenborough) e Hendley (James Garner) discutem a razão da fuga. Por um lado, há a ideia patriótica de que “é dever de todos os oficiais tentarem escapar” e, por outro lado, existe o desejo de voltar a casa, para junto da família. É este conflito que se filma de forma tão realista e que faz de “A Grande Evasão” um dos filmes mais importantes sobre a Segunda Guerra Mundial.

O filme foi encabeçado por um elenco de luxo, além de Steve McQueen (na imagem), James Garner e  Richard Attenborough, contam-se as participações de Hannes Messemer e Charles Bronson. A história foi baseada em acontecimentos verídicos, e parte do romance de Paul Brickhill, também ele prisioneiro no Stalag Luft III na Alemanha, onde ajudou à evasão contada no filme. O sucesso deste blockbuster, permitiu ainda ao seu argumentista James Clavell (prisioneiro de guerra no Japão) dirigir o seu próprio filme sobre prisioneiros de guerra: “King Rat” (1965). Outras semelhanças poderão ser encontradas em obras como “Papillon” (1973), também, com Steve McQueen como prisioneiro de guerra, e “Os Fugitivos de Alcatraz” (1979), com Clint Eastwood.




“Ascensão” (1977) de Larisa Sheptiko

Segunda Guerra Mundial
“Ascensão” (1977) © Mosfilm

“Ascensão” (1977) aposta na temática semelhante aos outros filmes sobre prisioneiros de guerra, mas de uma perspetiva soviética. Além disso, é também um raro filme do tema realizado por uma mulher, vencedor do Urso de Berlim no ano da sua estreia. Lamentavelmente este foi também o último filme da cineasta que acabaria por falecer num acidente de automóvel na Rússia dois anos depois, com apenas 41 anos.

O filme de uma direcção de fotografia atroz, a fazer relembrar “A Paixão de Joana d’Arc” (Carl Theodor Dreyer, 1928) segue dois combatentes soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial. Famintos e incapazes de adquirir alimentos, os soldados chegam a uma aldeia próxima, onde são surpreendidos por alemães. Esta é a narrativa que permite Larisa Sheptiko colocar-nos frente a frente com a sua estética angustiante: a neve que ocupa todo o campo, contra-campo e fora de campo exemplifica bem a como os soldados não conseguem escapar, além disso privilegiam-se as imagens claustrofóbicas, graças aos close-ups extremos com os rostos estáticos.

Há, inclusive, uma impressionante contraposição neste filme: o nacionalismo soviético (ateu na sua essência) é colocado diante das metáforas religiosas contidas em cada plano. Ao colocar o espectador do lado da perspetiva soviética, o drama consegue prestar homenagem aos civis mortos durante a Segunda Guerra Mundial. Curiosamente, mais civis russos foram mortos no conflito do que as mortes contabilizadas pelo Reino Unido, França e Estados Unidos da América. Enfim, recomendam-se também outros projetos russos sobre as feridas deixada pela Segunda Guerra Mundial como “A Infância de Ivan” (Andrei Tarkovsky, 1962) ou “Vem e Vê” (Elem Klimov, 1985), mas nenhum deles tão impactuante como este “Ascensão”.




“O Sargento da Força 1” (1980), de Samuel Fuller

Mark Hamill, Robert Carradine, Bobby Di Cicco, e Kelly Ward in “O Sargento da Força 1” (1980) | © Lorimar Productions

“O Sargento da Força 1” (1980) é um filme de guerra filmado por alguém que esteve lá. O seu realizador, Samuel Fuller, serviu na Primeira Divisão de Infantaria no Exército dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, e teve direito a condecoração pelo seu serviço. Este seu filme é um marco importante do cinema não só pelo realismo do engenho bélico, mas também pela interpretação surpreendente de um dos seus atores: Lee Marvin, também ele combatente no Pacífico onde chegou a ser ferido.

Lee Marvin interpreta um sargento que lidera uma companhia de recrutas com pouca experiência, através dos desertos do Norte de África, até ao desembarque da Normandia pela Europa. O filme acaba por ser uma jornada de combate do grupo de jovens e mostra a guerra em toda a a sua plenitude, onde pesa mais a busca pela sobrevivência. Como disse o seu realizador, “Em guerra, a maior glória é sobreviver”.

Curiosamente esta raridade realista em Hollywood deu-se como perdida durante muito tempo, no entanto, após uma análise cuidada das suas bobinas, surgiria uma versão restaurada com quase 40 minutos de sequências nunca antes vistas. O filme não chegou a ser nomeado a nenhum Óscar, e o seu reconhecimento acabou por acontecer sobretudo na Europa, com a nomeação à Palma de Ouro do Festival Internacional de Cannes, em 1980.




“A Odisseia do Submarino 96” (1981), de Wolfgang Petersen

A Odisseia do Submarino
“A Odisseia do Submarino 96” © Bavaria Film

“Das Boot” ou “A Odisseia do Submarino 96” (1981) é um filme contado pela perspetiva alemã nazista e um raro exemplo de guerra debaixo de água, baseado na obra literária do correspondente de guerra Lothar-Günther Buchheim. O filme recorda o ano de 1941, na França ocupada, quando o submarino alemão da Segunda Guerra Mundial U-Boot U-96 estava prestes a submergir no Oceano, para afundar imensos submarinos dos Aliados. A trama mostra os horrores suportados pelos tripulantes daquele submarino, sob pressão, segundo a segundo, à medida que eram confrontados com o possível surgimento do inimigo .

Nesta obra, conta-se a história de jovens soldados, atraídos pela propaganda nazi, e entusiasmados pela missão, sem sequer imaginarem a atmosfera claustrofóbica que os esperava debaixo de água, e que os faria perder a sua estabilidade mental e física. O realizador alemão Wolfang Petersen procura tornar o filme perfeito do ponto de vista técnico, dando ao espectador o mesmo desespero e suspense sentido pela tripulação, ainda mais porque decidiu filmar dentro de um verdadeiro submarino. Sem sucumbir ao nacionalismo exagerado, Petersen consegue homenagear os combatentes do seu país, que muitas vezes acabam por ser reduzidos a vilões e personagens vazias em obras cinematográficas de menor importância.

Estão apresentados os elementos que fizeram deste filme o primeiro grande sucesso internacional na História dos Óscares, com 6 nomeações, incluindo a Melhor Realizador e a Melhor Argumento Adaptado.




“Stalingrado” (1993), de Joseph Vilsmaier

Stalingrado © Bavaria Film

Mais um filme alemão sobre a Segunda Guerra Mundial, “Stalingrado” (1993) conta a história da batalha na cidade russa de Stalingrado (a atual Volgogrado), que foi também uma das mais destrutíveis de sempre e que mostra o início da derrota do nazismo. O principal foco da trama está em quatro soldados alemães da Wehrmacht (o exército da Alemanha Nazista), à medida que entram pela cidade adentro. Aí, somos confrontados com os atrocidades e o desconforto provocados pelo conflito, tudo em nome de regimes autoritários.

Tal como vimos em “Ascensão” (1977), a neve é elemento importante desta história, que se opõe ao vermelho do sangue daqueles que vão sendo mortos. Além disso, como a maioria dos filmes vistos nesta lista, a obra procura despertar o público para a natureza da guerra, de que não existem bons no combate e que, face ao caos, não há ideal político que prevaleça. Foram precisos quase 50 anos para a Alemanha rodar um filme que serviu de manifesto, justamente porque o país carregava a culpa do continente europeu na Segunda Guerra Mundial e aqui quer mostrar como os seus soldados também saíram traumatizados.

Com um orçamento de 20 milhões de marcos (mais de 10 000 euros), “Stalingrado” foi o filme mais caro do cinema alemão até à sua estreia, e nele foram utilizados mais de 9 000 uniformes originais, 100.000 tiros reais, três toneladas de explosivos, entre outros elementos. O realizador alemão Joseph Vilsmaier realizava assim uma superprodução de duas horas e meia, sem heróis e sem sobreviventes.




“O Resgate do Soldado Ryan” (1998) de Steven Spielberg

O Resgate do Soldado Ryan
Matt Damon em “O Resgate do Soldado Ryan” (1998) © Paramount Pictures

“O Resgate do Soldado Ryan” (1998), tinha de estar cá. Pode parecer exagerado para muitos, mas teremos que admitir que, dentro da lógica dos estúdios de Hollywood, Steven Spielberg conseguiu ser o cineasta mais fidedigno na representação da presença norte-americana na Segunda Guerra Mundial, mesmo com toda a pieguice e patriotismo que envolvem os seus filmes. Dele são ainda os dramas “1941 – Um Ano Louco em Hollywood” (1979), “Império do Sol” (1987) e o essencial “A Lista de Schindler” (1993). Os filmes sobre a Segunda Guerra Mundial de Spielberg reavivam-nos, de alguma maneira, para a sua própria história pessoal, uma vez que o seu pai participou no conflito.

Quanto a “O Resgate do Soldado Ryan”, expoente máximo do cinema bélico contemporâneo pelas suas imagens cruas, retrata de forma impressionante as cenas de batalha que decorreram do desembarque dos Aliados na Normandia, no famoso “Dia D” (6 de junho de 1944), acompanhando um conjunto de tropas norte-americanas. Ao grupo de militares, liderado pelo Capitão John Miller (um extraordinário Tom Hanks) é depois entregue a missão aparentemente impossível: encontrar o soldado James Ryan que, em virtude do falecimento de todos os seus irmãos em combate, recebeu ordem estatal para regressar a casa. Salvar o único filho da Sra. Ryan poderá ser um símbolo maior de que os Estados Unidos da América não abandonam os seus filhos.

O filme é um conflito constante entre os diferentes indivíduos que fazem parte do grupo e que, de alguma maneira, sentem já os efeitos do transtorno do stress pós-traumático, com os ideais da massa. Quer isto dizer que Spielberg procura com que o público sinta alguma empatia com aqueles indivíduos  que terão dificuldade de se reintegrar na sociedade americana, sem esquecer as imagens hiper-realistas de corpos de homens mortos e caídos, daqueles que nunca saberemos quem foram.




“A Barreira Invisível” (1998), de Terrence Malick

A Barreira Invisível
“A Barreira Invisível” (1998) © Fox 2000 Pictures

“A Barreira Invisível” (1998) é a perspetiva filosófica e cristã sobre o horror da guerra tão diverso e importante de discutir nesta lista dos melhores filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. A realização está a cargo de um cineasta cujo lirismo não passa despercebido a nenhum espectador: Terrence Malick, que regressou à realização após 20 anos sem lançar um filme.

Nesta obra de guerra baseada no romance de James Jones, somos levados até Guadalcanal, uma ilha do Pacífico, onde decorrem uma série de batalhas e choques navais e terrestres entre os norte-americanos e o Japão, durante a II Guerra Mundial. Ao contrário de “O Resgate do Soldado Ryan”, anteriormente comentado, Malick propõe um filme que poderemos colocar do lado oposto ao de Spielberg. Aqui, há a anulação das imagens gráficas a favor do patriotismo americano, e os tiros e as explosões ouvidas pelos espectadores só aponta a uma coisa: o vazio que as diferentes personagens masculinas sentem pela sua participação no campo de batalha.

A desintegração individual e o questionamento metafísico permitem Malick estabelecer ainda um paralelo entre a natureza e o lado mais primitivo do ser humano, como habitualmente faz nas suas obras. “A Barreira Invisível” venceu o Urso de Ouro de 1999 no Festival de Berlim.




“Cartas de Iwo Jima” (2006) + “As Bandeiras dos Nossos Pais” (2006), de Clint Eastwood

Cartas para Iwo Jima
Cartas de Iwo Jima © Warner Bros.

“Flags of Our Fathers – As Bandeiras dos Nossos Pais” e “Cartas de Iwo Jima” e (2006) devem ser vistos como um só projeto, que se complementam perfeitamente. Apesar de serem narrativas completamente distintas, a experiência bifurcada de Eastwood trata da mesma temática: a Guerra no Pacífico, mais especificamente na ilha de Iwo Jima, durante a Segunda Guerra Mundial.

O primeiro foca-se na versão norte-americana sobre uma das batalhas mais sangrentas do conflito, que acabaria por ser recordada na mais icónica fotografia norte-americana da Segunda Guerra Mundial, em que cinco marines erguem a bandeira dos EUA no monte Suribachi. Já o segundo foca-se na perspetiva japonesa, dos homens que desde muito jovens eram preparados para lutarem pelo seu país. As obras recordam os homens que combateram de ambos os lados, mas também evoca a importância estratégica da ilha para as potências mundiais. A invasão da ilha colocou 100 000 americanos e 22 000 japoneses a decidirem o futuro das suas nações.

As personagens, neste projeto díptico de Clint Eastwood, são mostradas na sua visão mais humana, sem cair em nacionalismos. As sequências mostram os combatentes, cidadãos comuns que querem apenas voltar para casa, sãos e salvos. Em “Cartas de Iwo Jima” as diferenças são igualmente mostradas do ponto de vista hierárquico entre o General Kuribayashi (interpretado por Ken Watanabe) e o soldado Saigo (Kazunari Ninomiya), cujas histórias se assimilam simplesmente pelos temas que os envolvem: a honra, o medo da morte e o desejo quase cismático de regressar para família são problemas globais no conflito. Uma grandiosa história que consegue fugir dos maniqueísmos que funcionam tão bem no já gasto cinema bélico comercial.




“Sacanas Sem Lei” (2009), de Quentin Tarantino

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“Sacanas Sem Lei” | © Universal Pictures

“Sacanas Sem Lei” (2009) é comédia revisionista de Quentin Tarantino, que faz história (e até mesmo justiça) pelas suas próprias mãos como também acabou por acontecer no seu mais recente filme “Era Uma Vez em… Hollywood”. Curiosamente, “Inglorious Basterds”, no título original, é muito mais do que um filme de guerra e torna-se uma verdadeira crónica satírica sobre o ambiente explosivo que poderia ser vivenciado na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.

Numa França ocupada pelos alemães, a história dos judeus em busca de vingança liderados por Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent), pelo Tenente Aldo Raine (Brad Pitt) e pelos seus “Sacanas”, confronta-se com a história de Hans Landa, um coronel nazi perspicaz, cruel e sanguinário. Tarantino reescreve a história com a violência que tanto o caracteriza, ao mesmo tempo, que o faz com uma sensibilidade subtil, homenageando aqueles que morreram nas mãos dos nazistas.

Aproveitando a Segunda Guerra Mundial, o filme ainda consegue ser uma homenagem, à sua maneira cruel, embora poética, ao cinema. Isto porque a Queda do Terceiro Reich é planeada num cinema onde será exibido o último filme de propaganda Nazi. A personagem interpretada por Mélanie Laurent, revelação neste filme, usa as bobinas de 350 películas de nitrato (extremamente inflamáveis) para queimar uma sala de cinema, onde estão os líderes alemães, como Joseph Goebbels e Adolf Hitler. Com o fim do Nazi morre também o cinema de propaganda, permitindo abrir portas ao cinema como mero sentido artístico.

Mais do preservação do passado, a sétima arte pode ser uma re-imaginação das matrizes do próprio tempo.




“Dunkirk” (2017), de Christopher Nolan

dunkirk canais fox
“Dunkirk” | ©Fox Entertainment Group

Chegámos, finalmente, ao último filme desta lista: “Dunkirk” (2017). A inclusão do filme de guerra de Christopher Nolan nesta lista não só nos pareceu óbvia, como também importante, nem que seja por ser um único a focar-se exclusivamente na perspetiva britânica sobre a Segunda Guerra Mundial. “Dunkirk” é uma verdadeira proeza artística quer do ponto de vista do seu argumento, como também na sua estetização técnica.

Ao contrário de “Sacanas Sem Lei”, visto antes, “Dunkirk” é relevante lição de História, que relembra a Operação Dínamo que decorreu entre 26 de maio e 4 de junho de 1940 e que havia sido decidida por Winston Churchill, que acabava de se tornar o primeiro-ministro do Reino Unido. O filme de forma bastante inteligente, não coloca diretamente heróis – britânicos – e vilões – alemães – frente a frente e prefere enfatizar o lado mais estratégico da operação. Aliás, estamos a falar de uma evacuação em que foram resgatados mais de 340 mil combatentes aliados do Império Britânico encurralados em França.

Entre a terra (onde os soldados britânicos aguardam ansiosos por voltar a casa), o mar (onde voluntários britânicos procuraram cruzar o Canal da Mancha para salvar os seus filhos, irmãos e amigos na desocupação) e o ar (onde os pilotos da Força Aérea Britânica tentavam salvar os navios de eventuais bombas), Nolan une as forças da natureza para contar uma história de corrida contra o tempo, mas também de orgulho patriótico inglês. Na mesma linha existem outros filmes como “Expiação” (Joe Wright, 2007) ou até mesmo “Heróis da Nação” (Lone Scherfig, 2016).

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