"Os Amantes Crucificados"©Leopardo Filmes

Wes Anderson sugere 11 filmes para ver em quarentena

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Wes Anderson continua a partilhar as suas sugestões cinematográficas e a alegrar o período de isolamento social. Desta vez revelou 11 filmes que marcaram recentemente o seu período de quarentena. Entre estes destacam-se obras do repertório de realizadores como Spike Lee, Marco Ferreri ou David Lean. 

O Festival de Cinema de Cannes deveria ter começado a 12 de maio de 2020 e prolongar-se-ia até dia 23. Depois do seu inicial adiamento, o evento acabou por ser cancelado não obstante a resistência por parte do seu diretor Thierry Frémaux. Sem Cannes, um vazio gigante fica por preencher na indústria cinematográfica. Wes Anderson é um dos realizadores que deveria estrear, potencialmente em competição, a sua obra mais recente – “The French Dispatch”. Espera-se, aliás, que o filme venha a integrar a Selecção Oficial  de 2020, que será anunciada em junho apesar do cancelamento do evento físico.

Para assinalar simbolicamente o início do certame o New York Times entrevistou 23 cineastas que estiveram presentes no evento no passado, tais como: Clint Eastwood, Alejandro González Iñárritu, Benny e Josh Safdie, Jean-Pierre e Luc Dardenne, entre outros. Wes Anderson encontra-se entre estes nomes e foi no âmbito desta breve conversa, a propósito da sua passagem por Cannes em 2012, com “Moonrise Kingdom”, que o realizador revelou que todos os dias vê um filme diferente à noite e passou a enumerar 11 dos melhores vistos recentemente.  Apresentamos agora esses títulos e identificamos onde podem ser vistos:

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“SONHOS DOURADOS” DE GEORGE STEVENS (1935)

Wes Anderson Filmes Quarentena
Katharine Hepburn em “Sonhos Dourados” |© RKO Radio Pictures

“Sonhos Dourados” ou, no original, “Alice Adams”, é uma comédia romântica dramática protagonizada pela eterna diva do cinema americano Katharine Hepburn. O filme foi realizado por George Stevens, também criador do aclamado drama western “O Gigante” (1956) e  de “O Diário de Anne Frank” (1959). Esta foi a primeira grande obra de sucesso de um cineasta que se viria a demonstrar bastante prolífico.

Este “Sonhos Dourados” foi, em 1936, nomeado aos Óscares na categoria de Melhor Filme  e valeu a Hepburn a sua segunda de 12 nomeações ao Óscar na categoria principal de Melhor Atriz. A narrativa recria o dia-a-dia de uma pequena cidade norte-americana. Katharine Hepburn dá vida à titular Alice Adams, uma personagem de origens modestas e que procura subir na vida através de um casamento por interesse mas que não obstante acaba apaixonada por alguém de origens mais humildes. A obra algo esquecida não só se destaca pela prestação de Hepburn como pela presença de Hattie McDaniel, imortalizada com o seu papel como Mammy em “E Tudo o Vento Levou” (1939). 

Onde ver: “Alice Adams” não é o filme mais fácil de localizar mas para quem queira muito ver, encontra-se disponível na Amazon do Reino Unido. Se a ideia for ver ou rever títulos da filmografia de Stevens, destaque para a edição especial em DVD de “O Gigante” que se disponível nas lojas e online através da FNAC. 




“O TESOURO DE ÁFRICA” DE JOHN HUSTON (1953) 

Wes Anderson filmes quarentena
©Romulus Films

Depois de nos apresentar um drama romântico, a versátil lista de visualização de Wes Anderson sugere uma aventura de acção realizada por John Huston (“Moulin Rouge”). “Beat the Devil” é protagonizado por dois astros da época: Humphrey Bogart (“Casablanca”)  e Gina Lollobrigida (“Nossa Senhora de Paris”), a segunda a estrear-se no cinema de Hollywood com este papel.  Uma co-produção entre o Reino Unido, Itália e os Estados Unidos da América que o próprio realizador caracterizou como “levemente absurdo”. Esta obra demarca-se pelo seu carácter humorístico e pelos robustos diálogos escritos pelo seu argumentista: Truman Capote – o romancista que entregou ao mundo os clássicos “Boneca de Luxo” (1958) ou “A Sangue Frio” (1965).

Esta longa-metragem, co-produzida pelo seu protagonista Humphrey Bogart, marcou a sexta e última colaboração entre o Huston e o ator. Em “O Tesouro de África” procurava-se acima de tudo a desconstrução e paródia de estruturas narrativas clássicas. Nesta comédia de aventura um quarteto de vigaristas profissionais parte para África em busca de urânio. O que se segue é uma rica paródia dos filmes de aventura que eram tão populares naquela altura.

Diz-se que Bogart não gostava deste filme, especialmente porque a sua natureza arrojada ditou que este não fosse um sucesso de bilheteira e devido ao facto de o ator ter investido pessoalmente na obra. Não obstante, podemos encontrá-lo entre as recomendações de Wes Anderson.

Onde ver: o filme encontra-se em domínio público, disponível no Youtube.



“NADA É SAGRADO” DE WILLIAM A.WELLMAN (1937) 

Nothing Sacred
Carole Lombard em “Nada é Sagrado” |©Selznick International Pictures

Nesta comédia fantástica encontramo-nos na Nova Iorque dos Anos 30 e acompanhamos uma excêntrica personagem central  – Hazel Flagg – interpretada por Carole Lombard, atriz maravilha da década de 30 que acabaria por falecer aos 33 anos num acidente de aviação. Colorido e espalhafatoso, “Nada é Sagrado” é engraçado independentemente do ano ou década em que o vemos. Foi, inclusive, nomeado, já no século XXI, para a lista de 100 filmes americanos mais engraçados do conceituado American Film Institute.

“Nothing Sacred”, um espetáculo em technicolor, é uma história de enganos e desenganos na qual um repórter descobre (Fredric March) a sua próxima grande história. A jovem Hazel Flagg esteve exposta a radiações e apenas tem seis semanas de vida. Hazel é uma rapariga de uma pequena povoação, que a pedido do repórter Wally Cook se desloca a Nova Iorque para falar sobre este seu tráfico diagnóstico. O que o jornalista não sabe é que existiu um erro de diagnóstico…

Onde ver: O filme encontra-se de momento disponível para visualização na plataforma MUBI. Basta aderir ao período gratuito experimental de 7 dias.




“NÃO DÊS BRONCA” DE SPIKE LEE (1989) 

spike lee do the right thing
©Universal Pictures

A entrada mais “recente” na lista deveras clássica e diversificada de Wes Anderson é uma das maiores obras de referência da filmografia de Spike Lee. A propósito da entrevista que motivou esta sugestão de filmes, Lee é um nome relevante no que diz respeito à cerimónia cancelada de Cannes de 2020. Aquando desta 73ª edição do certame, Spike Lee foi o primeiro negro a ser convidado a presidir o júri do Festival. Um facto algo alarmante, mas ainda assim causa para celebração, se considerarmos a importância seminal do tratamento das temáticas raciais nas obras do realizador. Relembra-se que o autor foi premiado em 2018 com o Grande Prémio do Júri por “BlacKkKlasman: O Infiltrado”.

“Não dês Bronca”, ou “Do The Right Thing”, no original, é uma comédia dramática que relata um verão em Brooklyn onde as tensões raciais acompanham a tendência das altas temperaturas. Um pequeno incidente resulta numa manifestação de violência policial e a partir daí desenvolve-se uma sucessão de eventos exacerbados. Os conflitos de classe são colocados a nu, com o habitual estilo corrosivo e não demagógico de Lee.

Onde ver: O filme encontra-se disponível para aluguer e compra na Apple Tv.




“TORMENTA A BORDO” DE JOHN FORD (1940) 

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John Wayne, Ward Bond, John Qualen e Joe Sawyer |©United Artists

John Ford é a referência máxima do cinema Western e uma das referências máximas do cinema norte-americano, género à parte. Qualquer cinéfilo o saberá, qualquer historiador de cinema o repetirá “ad aeternum” e qualquer realizador respeitável o verá como ditador de lições sobre a 7ª arte. Wes Anderson não é exceção. Entre a prolífica carreira de Ford – o realizador conta quase 150 créditos no IMDB, entre não só Westerns mas também dramas, filmes biográficos, curtas e documentários – destaca-se nesta galeria o filme “The Long Voyage Home”.

Este filme não é, à semelhança de referências do realizador como “A Grande Esperança” (1939) ou  “Vinhas da Ira” (1940), um western, mas antes um drama de guerra. Contudo, não deixa de marcar uma  das 12 colaborações entre o realizador e o ator John Ford – perpetuamente associado como seu protagonista.Tormenta a Bordo trata-se de uma adaptação de quatro peças narradas num acto – da autoria de Eugene O”Neill. Acompanhamos a vida de um grupo de marinheiros numa viagem de transporte de munições para Londres, o qual é alvo de um ataque aéreo. Na sucessão do ataque há quem, entre a tripulação, procure deixar o mar e regressar a casa e há quem seja acusado de espionagem.Os dramas, tribulações e lutas destes homens em alto mar tornam estas uma das obras mais complexas de Ford, uma que foi inclusive indicada a seis Óscares.

Onde ver: Na FNAC encontramos o DVD e o Blu-Ray se encomendados a partir de Espanha.  A obra que inspirou o filme encontra-se também no Marketplace da FNAC, bem como na Wook.




“OS AMANTES CRUCIFICADOS” DE KENJI MIZOGUCHI (1954)

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“Os Amantes Crucificados” (1954) |©Leopardo Filmes

Do cinema de referência norte-americano partimos para obras de referência asiáticas com “A Story From Chikamatsu” de Kenji Mizoguch – o mesmo do fantasioso e épico drama “Contos da Lua Vaga” (1953) e do belo “Rua da Vergonha” (1956).

Este belo drama histórico transporta-nos para um Japão ancestral, onde nos é narrada uma história de amor (e de adultério). Aqui, os temas comuns de Mizoguchi são uma vez mais tratados com mestria, tocando-se na repressão que a tradicional sociedade japonesa impõe aos seus cidadãos – ainda mais nesta narrativa situada numa Quioto do século XVII. Mais um trágico pedaço de vida que este autor nos oferece. A obra de Kenji Mizoguch exige visualização, sendo composta por uma identidade autoral própria e inconfundível. Mizoguch é um dos realizadores japoneses que mais notoriedade alcançou no Ocidente e os seus dramas retêm hoje plena pertinência, reforçando o merecido reconhecimento.

Onde ver:Os Amantes Crucificados” encontra-se disponível no catálogo da Filmin, bem como outro 8 títulos do realizador.




“A GRANDE FARRA” DE MARCO FERRERI (1973) 

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Michel Piccoli em “A Grande Farra” |©Fida Cinematografica

Revisitamos agora a excêntrica comédia “A Grande Farra”, da autoria do italiano Marco Ferreri. O peões desta história são quatro amigos na casa dos 40. A sua única pretensão de momento é comer até morrer. Ao fim da primeira noite, um dos fanfarrões decide que se deveriam juntar mulheres ao grupo. Três prostitutas aguentam apenas um dia ou dois, e é uma professora local que consegue aguentar até ao fim da alarvidade.

“A Grande Farra”, uma co-produção entre França e Itália, originalmente apelidada “La Grande Bouffe”, é uma criação singular que tece uma feroz crítica social ao hedonismo. A decadência é contagiante. Por este seu clássico da irreverência, Marco Ferreri recebeu o Prémio da Crítica Internacional no Festival de Cannes. Um dos seus protagonistas é Michel Piccoli, grande estrela do cinema francês que faleceu no passado dia 12 de maio de 2020 aos 94 anos.

Onde ver: “A Grande Farra”, a devassa narrativa única situada numa Villa numa região rural em França, encontra-se no catálogo da Filmin.




“MAIS FORTE QUE O AMOR” DE DAVID LEAN (1949)

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Excerto do poster de “Mais Forte que o Amor” (1949)| ©Universal Pictures

“The Passionate Friends”, no original, é um drama baseado num romance de H.G. Wells  – autor de “A Guerra dos Mundos” (1898). Esta dramatização poética ilustra o conflito entre amor verdadeiro e estabilidade emocional, colocando como figura central a vida monótona de uma mulher que reencontra um amor perdido da juventude. A protagonista Mary Justin (Ann Todd), casada com um homem mais velho e rico, procura favorecer a segurança financeira à entrega a um amor impossível, o que acaba por provocar um melodramático desenvolvimento dos eventos, numa narrativa focada num complexo triângulo amoroso feito de encontros, desencontros e traições. Um drama capaz de envolver o espectador, numa história clássica que explora a vivência de uma figura feminina em crise.

O realizador David Lean apresentou este filme, com sucesso, no Festival de Cannes. As suas obras de maior sucesso estariam, contudo, por chegar. É especialmente conhecido por ter realizado outras grandes referências como “Lawrence da Arábia” em 1962 ou “Doutor Jivago” em 1965.

Onde ver: Este belo romance é difícil de encontrar. Porque não ler o livro que lhe serviu de inspiração? A cópia digital custa apenas 0,93€.




“SAHARA, POSTO 6” DE SETH HOLT (1963) 

SAHARA, POSTO 6
©Allied Artists

O Palestiniano Seth Holt realizou em 1963 “Sahara, Posto 6”, drama protagonizado por Carroll Baker na pele de Catherine Star. Esta co-produção entre o Reino Unido e a Alemanha Ocidental conta a história de uma bela jovem que se junta a um pequeno grupo de homens que opera uma estação petrolífera no deserto do Sahara. Por lá, desperta emoções fortes naqueles que entram na sua órbita. Mas será que o pesadelo remoto do deserto poderá melhorar? O trunfo de “Sahara” é precisamente a criação desta atmosfera distinta, onde o isolamento reina.

“Sahara, Posto 6” é uma das obras esquecidas da filmografia de Holt, quiçá mais conhecido como produtor do apreciado “O Quinteto Era de Cordas” (1955). Wes Anderson convida-nos a conhecê-la!

Onde ver: Como pérola esquecida “Sahara” é particularmente difícil de encontrar. Para quem queira mesmo seguir as recomendações de Wes Anderson, porque não encomendar o DVD ou Blu-Ray a preços acessíveis na Amazon do Reino Unido?




“WHAT PRICE HOLLYWOOD” DE GEORGE CUKOR (1932) 

What Price Hollywood?
“What Price Hollywood?” © RKO

A década de 30 volta a constar desta lista com mais um absoluto pioneiro do cinema norte-americano. George Cukor, que realizou este “What Price Hollywood?”, foi também responsável por “Casamento Escandaloso” (1940), pela popular versão de “Assim Nasce uma Estrela” de 1954 ou por “Minha Linda Lady” (1964). Wes Anderson escolheu ver, durante as suas sessões de quarentena, uma obra pertencente a uma fase mais inicial da carreira do realizador, uma que não viu inclusive estreia comercial nas salas portuguesas.

Como é sabido, a indústria do período clássico de “ouro” do cinema norte-americano foi bem povoado com histórias sobre a própria indústria cinematográfica. Esta é uma dessas histórias. O filme, nomeado em 1932 ao Óscar de Melhor Argumento Original, é visto por muitos como o precursor de “A Star is Born”, tratando temas semelhantes . Uma jovem empregada de mesa consegue lançar-se em Hollywood quando conhece um realizador amável mas com problemas de alcoolismo. Uma história sobre o preço da fama, tal como o seu título deixa bem explícito. Familiar?

Onde ver: O DVD deste clássico influente pode ser adquirido na FNAC.




PELA MIRA DA ESPINGARDA” DE WILLIAM RICHERT (1979) 

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Jeff Bridges e Belinda Bauer | ©Winter Gold Productions – 1979

Comédia dramática lançada no final dos anos 70 mas situada nos Estados Unidos dos anos 60, “Pela Mira da Espingarda” fecha esta lista de sugestões cinematográficas do sempre fascinante e aprazível Wes Anderson.

A obra encabeçada por Jeff Bridges e John Huston espelha dinâmicas de poder e política inerentes a este país. Fá-lo recorrendo a um registo satírico do género thriller e com toques de neo noir. 19 anos depois do presidente Timothy Keegan ter sido assassinado, o seu irmão Nick depara-se com um homem moribundo que afirma ter perpetuado o crime. À medida que procura evitar que o seu pai rico e dominante controle os seus atos, Nick segue as pistas sobre o homicídio que lhe foram facultadas. Ao longo da sua investigação torna-se cada vez mais difícil distinguir as pistas reais dos becos sem saída, e torna-se também mais perigoso procurar a verdade à medida que entidades desconhecidas o tentam impedir.

Onde ver: Mais uma pérola esquecida destacada por Anderson, também ela difícil de encontrar. Porque não encomendar uma cópia física através da inglesa Power House Films?

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Quantos destes títulos sugeridos por Wes Anderson já viram? 

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