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Wonka, a Crítica | Timothée Chalamet é um afável jovem Willy Wonka

Paul King, mais conhecido pelo furor dos filmes “Paddington” (2014) e “Paddington 2” (2017), apresenta uma das grandes apostas para as salas de cinema nesta quadra natalícia: “Wonka”, prequela da acção de “Charlie e a Fábrica de Chocolate”. Timothée Chalamet assume o gesto arriscado de dar vida à personagem.

Surgido em 1964 no romance “Charlie and The Chocolate Factory”, do escritor britânico Roald Dahl (“Matilda”, “James and the Giant Peach”), Willy Wonka é uma personagem do reino infantil que há muitas décadas tem vindo a encantar gerações. Tais personagens, como é usual, tendem a ser adaptadas uma e outra vez ao grande ecrã, como dita a tradição e as regras da indústria.

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Ora, depois do sucesso estrondoso de “Paddington” e, em particular, de “Paddington 2” (que em breve terá nova sequela), Paul King surge precisamente como um nome apropriado para trazer de volta Wonka às bocas do mundo, tendo em conta o seu dom particular de apresentar narrativas infantis com um cunho social e, acima de tudo, com uma emotividade capaz de derreter o mais cético dos corações.

De Paddington a Fabrica de Chocolate
©Cinemundo

A sua versão da história de Willy Wonka não é, como a interpretação de 1971 ou a de 2005, baseada inteiramente no livro original de Dahl. Antes, King associa-se ao ator Simon Farnaby (com quem co-escreveu o lucrativo e encantador “Paddington 2”) e traz-nos uma prequela das aventuras de Willy Wonka.

Tal como o seu encantador Paddington, o Willy Wonka desta versão é um órfão ingénuo com muito para aprender e muita bondade e resiliência para partilhar. É um Wonka mais jovem, aqui protagonizado pela grande estrela inevitável da atual indústria de Hollywood – Timothée Chalamet (“Call Me By Your Name”, “Dune”). Com uma enorme sombra a pesar sobre si, a história que aqui se narra beneficia do facto de não ser uma adaptação literal do livro em que se baseia. Não obstante, não deixa por isso de ser submetido a comparações.




“Wonka” situa-se antes da Fábrica de Chocolates, antes de Charlie e antes do chocolateiro mais famoso do mundo assumir tal título. Com Gene Wilder em “Willy Wonka & The Chocolate Factory” (1971) e Johnny Depp em “Charlie and the Chocolate Factory” (2005) como pontos de comparação, Chalamet faz um trabalho aceitável no que diz respeito à demarcação face às interpretações prévias.

Willy Wonka Paul King
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Não é que o seu Wonka não seja excêntrico, certamente que o é. Todavia, a personagem que constrói baseada no argumento original de King e Farnaby é menos bizarra e fora do comum que os seus antecessores. É mais afável, mais próxima, o que comporta consigo vantagens e desvantagens. Quanto ao carácter musical que lhe é inerente, e que sempre esteve muito presente nas interpretações da obra literária, embora o cancioneiro desta longa-metragem não se destaque por aí além, os números musicais são belos, grandiosos e Chalamet tem finalmente a oportunidade de nos mostrar em pleno as suas origens: as de um miúdo do teatro, que passou pela Off Broadway e se formou no Liceu Fiorello H. LaGuardia., mais  comumente conhecido como “Escola do Fame”.

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Com charme para dar e vender, esta é a história de um jovem chocolateiro decidido a mudar o mundo: com parcos fundos e o sonho de abrir uma loja de chocolates na cidade mais conhecida por esta arte, o inocente Wonka deparara-se com um ‘cartel’ de chocolate que tem na palma da mão as instâncias de poder da cidade, abafando a concorrência e distribuindo subúrbios não em ouro…mas em chocolate.

Pitoresca e fantasiosa, esta nova versão destaca-se através dos seus cenários, que nos apresentam uma cidade europeia que tem tanto de charmosa como de decadente. Aqui, como em qualquer filme infantil satisfatório, o humor e as músicas infantis mascaram alguns temas mais adultos, como trabalho forçado, ganância empresarial ou criminalidade organizada. Por outro lado, e como filme de Natal que este é, os valores positivos da amizade, companheirismo e honestidade salvam o dia uma e outra vez.




A companheira de aventuras de Wonka, Noodle (Calah Lane), uma órfã altamente letrada, funciona não só como a bússola moral do filme, mas também como a sua força de racionalidade, aquela que contrapõe a insanidade domada do protagonista. Esta dinâmica funciona bastante bem, embora não seja particularmente original. Funcionam também bem os números com maior número de figurantes, aqueles que enfatizam a arte do espectáculo e o carácter ‘Broadway’ e, por fim, os instantes em que vemos vislumbres daquela que virá a ser a Fábrica de Chocolate.

Sally Hawkins em Wonka 2023
©Cinemundo

Destaque muito positivo também para a prestação de Rowan Atkinson (o eterno Mr. Bean) que protagoniza uma das sequências mais fora da caixa e hilariante de toda a obra, sem dúvida um ponto alto para qualquer espectador – numa cena repleta de significado e de onde tanto pequenos como graúdos poderão retirar satisfação e risos. Já Sally Hawkins regressa à obra de Paul King depois de “Paddington”, para uma pequena participação que, não fosse Hawkins estupenda, se mune de imensa humanidade apesar de partir de um certo lugar-comum para se construir.

Entrando por aí, a ausência da fábrica faz-se sentir, pois parte do carácter mágico e fantasioso vem também da representação de toda a máquina excessiva e maravilhosa que é a Fábrica de Chocolate. Por outro lado, certas personagens secundárias, como os maléficos chocolateiros corruptos ou a Mrs. Scrubbit de Olivia Colman acabam por sofrer de alguma falta de subtileza. Preto no branco, são simplesmente vilões sem grandes qualidades redentoras.




Já a figura do chefe da polícia, interpretada pelo mítico comediante Keegan-Michael Key (“Key & Peele”, “Schmigadoon!”), começa muito bem o filme mas a certa altura vemos este papel a evoluir para um humor  ligeiramente desajustado e fácil para os gostos dos dias de hoje. Por fim, temos de falar de Hugh Grant na pele do primeiro Oompa-Loompa que Wonka conhece. Depois de ter falado cobras e lagartos da preparação para esta papel, e de todo o processo técnico necessário para o ‘encolher’, a verdade é que sentimos um Grant pouco entregue à sua performance, incapaz de perpetuar o charme e graça que habitualmente confere a qualquer papel. Aliás, os Oompa-Loompas mal parecem ter lugar neste filme e neste universo pré-fábrica. Sempre que Grant surge em cena, um certo desconforto instala-se.

wonka
“Wonka” | ©Warner Bros. Pictures

Sem nos arrebatar, “Wonka” é uma narrativa familiar que encaixa na perfeição na agenda cinematográfica deste inverno e deste Natal. Os sentidos serão estimulados, a nostalgia estará em altas e a vontade de consumir chocolates em quantidades avultadas não deixará de se manifestar.

Nas salas de cinema portuguesas desde dia 7 de dezembro, com versão dobrada e legendada e distribuição Cinemundo, “Wonka” promete um Natal repleto de gula por doçaria. Que mais podemos esperar? 

WONKA | TRAILER OFICIAL (WARNERBROSPORTUGAL)

Wonka, a Crítica
Wonka 2023 Paul King

Movie title: Wonka

Movie description: Com Timothée Chalamet como protagonista, este espetáculo irresistivelmente vívido e inventivo do grande ecrã apresentará ao público um jovem Willy Wonka, cheio de ideias e determinado a mudar o mundo com uma deliciosa dentada de cada vez - provando que as melhores coisas da vida começam com um sonho e, se tivermos a sorte de conhecer Willy Wonka, tudo é possível.

Date published: 11 de December de 2023

Country: EUA, RU

Duration: 116'

Author: Paul King

Director(s): Paul King

Actor(s): Timothée Chalamet, Calah Lane, Keegan–Michael Key, Olivia Colman, Hugh Grant

Genre: Comédia, Fantasia, Musical

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  • Maggie Silva - 75
75

CONCLUSÃO

O tom de “Wonka” nem sempre é o mais equilibrado, com alguma comédia um pouco datada a ser incorporada na narrativa, e até com alguma falta de imaginação injetada na resolução dos muitos conflitos que se colocam perante o caminho sonhador do protagonista. Não obstante, este musical para toda a família tem vários momentos de magia, calor humano, cor e deslumbramento que justificam a passagem pelas salas.

Pros

  • A pitoresca representação de uma cidade do chocolate;
  • As engenhosas e delirantes invenções de Willy Wonka, que nunca deixam de deslumbrar;
  • Timothée Chalamet capaz de demostrar confiança num papel onde nunca conseguiria não viver na sombra do seu primeiro intérprete;
  • Tudo o que tenha a ver com os cenários e as coreografias de maior escala.

Cons

  • A evolução da personagem de Keegan-Michael Key;
  • A linearidade das figuras antagónicas;
  • A previsibilidade de algumas das reviravoltas, principalmente uma das finais.
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