"Raiva" (2017) de Sérgio Tréfaut é um deslumbrante retrato a preto e branco de um Portugal dos anos 50 |©Faux

10 Realizadores portugueses a conhecer

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Celebramos o  dia 10 de junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas – com uma breve lista que pretende colocar em destaque algum do nosso talento nacional. Aqui ficam 10 realizadores (e realizadoras) portugueses a conhecer! 

Em Portugal tem sido visto mais cinema. Não tendo em consideração o recente percalço originado pela crise da Pandemia do COVID-19, a verdade é que o cinema em Portugal bateu recordes de espectadores em 2019. Contudo, ir mais ao cinema não significa necessariamente ver mais obras criadas por realizadores portugueses. Existe em Portugal um nível de rejeição interiorizado face às obras nacionais, que desejamos que se venha cada vez mais a esbater. Neste feriado procuramos apresentar alguns dos realizadores e realizadoras nacionais que, através de sensibilidades artísticas distintas, procuram elevar a produção cinematográfica nacional.

Sem ordem ou qualquer espécie de hierarquização – senão a organização alfabética –  aqui ficam 10 talentos nacionais que operam em registos fílmicos distintos e que, de momento, elevam a qualidade do cinema nacional e colocam a nossa 7ª arte nas bocas do mundo. Descubram connosco a sua obra e quiçá alguns novos títulos para ver neste feriado de 10 de junho  – Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas.

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GABRIEL ABRANTES (1984)

Diamantino estreias 2018
Carloto Cotta em “Diamantino” de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt |©NOS Audiovisuais

Damos início a esta galeria sobre os atuais talentos da realização nacional com Gabriel Abrantes. O realizador português de 36 anos de idade nasceu na Carolina do Norte, nos Estados Unidos da América, e por lá estudou na nova iorquina “The Cooper Union”. Contudo, é na Europa e através de diversas co-produções internacionais que tem vindo a desenvolver o seu trabalho. Conta com mais de 20 créditos de realização, entre múltiplas curtas-metragens que tocam temas como a inteligência artificial, a identidade do género e os temas queer ou a ambiguidade dos sonhos. Abrantes tem vindo a construir um universo bastante próprio, repleto de criações misteriosas e sui generis, onde o Freudiano se casa com um humor próprio e irreverente.

Destaque para o amor por contar a História através de outras histórias, para a paixão por drones e pela exploração do conceito de “self”. Recordamos curtas-metragens como a misteriosa “Palácios de Pena” (2011 – criada a meias com Daniel Schmidt), a invulgar e excêntrica “Ennui ennui ” (2013)  ou “Freud und Friends”, a divertida paródia criada para o projeto coletivo “Aqui, em Lisboa – Episódios da vida da cidade”,  nomeada ao Urso de Ouro de Melhor Curta no Festival de Berlim. 

Todos os símbolos e temas recorrentes na obra de  Gabriel Abrantes podem ser encontrados em “Diamantino” (2018), a sua primeira longa-metragem, a qual foi filmada em Portugal e criada a meias com o norte-americano Daniel Schmidt, seu colaborador de longa data. Este filme foi “vendido” como uma paródia a Cristiano Ronaldo mas é muito, muito mais. Uma absurda paródia ao ídolos e ao patriotismo exacerbado, “Diamantino” tem um ponto de vista concreto e inegável mas nunca se atreve a doutrinar. Esta comédia arrojada, ancorada por um sensacional e memorável Carloto Cotta, não passou despercebida na edição de 2018 do Festival de Cannes, tendo vencido o Grande Prémio da Crítica, a Palma Canina do Prémio do Júri e tendo sido ainda nomeada à Palma Queer pela sua arrojada representação das fronteiras entre masculinidade e feminidade.

Se não conhecem a obra de Gabriel Abrantes e as inúmeras convenções que esta adora transgredir, está então na hora!

Onde conhecer a obra: “Diamantino” está disponível para venda na FNAC.




JOÃO PEDRO RODRIGUES (1966) 

realizadores portugueses João Pedro Rodrigues
“Morrer Como Um Homem” (2009) de João Pedro Rodrigues © Rosa Filmes

João Pedro Rodrigues é um nome essencial no panorama do cinema nacional,  que merece ser mencionado quando celebramos em junho o “Pride Month”  – igualmente urgente num ano  atípico que não conta com as habituais marchas e arraiais por todo o mundo. O realizador lisboeta tem vindo a desenvolver um importante trabalho no campo da memória individual e coletiva ou em torno de questões de género e sexualidade. Procura há muito quebrar taboos e tem vindo a criar dramas musicais poderosos que ressoam a nível internacional, tais como “A Última Vez Que Vi Macau” (2012) ou “Morrer Como um Homem” (2009). Entre uma filmografia rica e variada destaca-se a vitória, em 2016, do prémio de Melhor Realizador no Festival de Locarno, por “O Ornitólogo”, uma aventura plena de erotismo sobre uma figura que se perde algures em Trás-os-Montes.

A obra que lhe é mais associada é, provavelmente, “Morrer Como um Homem”, que chegou afinal a ser escolhida para representar Portugal na corrida ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e foi também selecionada como a sétima melhor obra do ano no top de 2010 compilado pela influente revista francesa “Cahiers Du Cinéma”. “Morrer Como um Homem” abriu na secção “Un Certain Regard” do Festival de Cannes e inspira-se vagamente na história verídica de Ruth Bryden, famosa artista transformista da noite lisboeta, e na sua sua relação com o seu companheiro Paulo Oliveira. Este filme presta homenagem à sua trágica história de amor, com Fernando Santos a interpretar magistralmente Tónia no seu último inverno de vida  – travesti perdido entre viver como uma mulher ou morrer como um homem… Um belo estudo sobre envelhecimento, desejo e um estudo importante sobre a identidade de género criado numa década onde a temática reunia (ainda) menos aceitação.

Onde conhecer a obra: Duas das curtas-metragens de João Pedro Rodrigues estão disponíveis na Filmin e diversas das suas longas-metragens podem ser encontradas para compra na FNAC, entre elas o recente sucesso situado no reino das sensações “O Ornitólogo“. Já “Morrer Como um Homem” pode ser encontrado nos videoclubes das operadoras de televisão por cabo.




 JOÃO SALAVIZA (1984) 

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“Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” (2018) é a segunda longa-metragem de Salaviza |©DocLisboa

Entre os realizadores portugueses João Salaviza é dos nomes que mais tem ecoado nos últimos anos. Não sendo um nome reconhecível do grande público, é um que conquistou um nível de pedigree invejável nos festivais internacionais. De acordo com Salaviza, “realismo social” é um rótulo que pouco lhe interessa. Compreende-se, é um termo que parece encapsular tudo e nada e nivelar centenas, se não milhares de obras, sobre um mesmo padrão comum.

Contudo, é inegável o peso que a representação das classes sociais e e de retratos da vida bairrista tem tido na obra do realizador. Em maio de 2009, aos 25 anos, venceu a Palma de Ouro para Melhor Curta-Metragem no Festival de Cannes com o seu “Arena”, protagonizado por Carloto Cotta, presença robusta numa lista que recorde algumas das melhores obras portuguesas dos últimos anos. “Arena” é um filme muito simples e despido de pretensão, mas um marco importantíssimo para o cinema português. Ao fim de contas, nenhuma curta nacional tinha antes vencido uma Palma. É também uma obra capaz de sintetizar de forma clara as suas intenções, e funcionar como um símbolo, uma reflexão sobre a natureza da liberdade humana.

Em 2012, Salaviza voltou a conquistar louvores internacionais quando o seu filme “Rafa” venceu o Urso de Ouro para curta-metragem no Festival de Berlim. Tal como “Arena”, “Rafa” é uma curta que retrata um momento concreto no tempo, uma noite urgente, onde pouco é dito e muito é sentido, tal como se lê na sinopse: “Às seis da manhã Rafa descobre que a mãe está detida pela Polícia. Na mota de um amigo, cruza a ponte e vai a uma esquadra no centro de Lisboa para visitá-la e esperar pela sua libertação. As horas passam. E Rafa não quer voltar para casa sozinho.”. “Rafa”, quiçá ainda mais que “Arena”, autonomiza-se como pedaço de vida que pertence em pleno ao seu próprio aqui e agora.

João Salaviza aventurou-se já por duas vezes no campo da longa-metragem, a solo com “Montanha” (2015), mais uma narrativa sobre perda, crescimento e relações familiares e a meias com Renée Nader Messora lançou em 2018 “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, uma obra distinta no seu currículo, situada num âmbito mais documental, a dançar entre o realismo e a ficção,  e que toca em importantes temáticas relacionadas com a cultura indígena brasileira. A obra venceu o Prémio especial do júri da secção «Un Certain Regard» do Festival de Cannes e  o prémio de melhor obra de ficção do Festival de Cinema de Lima, no Peru.

Onde conhecer a obra: 9 títulos de João Salaviza podem ser vistos na Filmin Portugal, inclusive as suas curtas-metragens de referência – disponíveis para visualização por menos de 1€.




  MARCO MARTINS (1972)

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“São Jorge” (2016) solidificou a carreira prolífica de Marco Martins e viu Nuno Lopes premiado em Veneza |©TVcine

Marco Martins é um nome cada vez mais reconhecível do grande público. Em 2018, estreou na RTP2 a aclamada série de televisão “Sara”, criada por Bruno Nogueira e produzida pela Ministério dos Filmes. A comédia dramática protagonizada por Beatriz Batarda contribuiu para elevar o género televisivo em Portugal, foi estreada no IndieLisoa e venceu o “Melhor Série” nos portugueses Prémios Sophia. Os  8 episódios não só foram co-escritos como foram realizados por Marco Martins, que conseguiu deixar uma forte marca na sua primeira criação para a televisão.

Antes de “Sara” existiu uma longa carreira, que continua a mostrar-se prolífica, e que contou com obras como “Alice” (2005), um belíssimo drama familiar sobre o desaparecimento de um filho que se destacou em Cannes e foi escolhido para representar Portugal nos Óscares, ou “Como Desenhar um Círculo Perfeito” (2009), uma arrojada obra sobre o taboo do incesto entre irmãos que escreveu em conjunto com o afamado autor Gonçalo M.Tavares.

Já em 2016 chegou “São Jorge”, uma longa-metragem que chegou às salas nacionais em março de 2017 e que conseguiu chegar a um número mais significativo de espectadores, tornando-se o 38º filme português no período entre 2004 e 2020. Parece pouco, mas é muito para um cinema que se vê frequentemente preso a uma lógica de nicho. O filme, sobre um ex-boxer  desempregado que começa a trabalhar para uma empresa de cobranças e é inadvertidamente arrastado, fruto da crise, para um mundo impiedoso e violento, teve estreia mundial no Festival de Veneza, onde competiu e onde Nuno Lopes venceu o Prémio de Melhor Ator pelo seu notável trabalho enquanto protagonista de uma obra realizada com um enorme cuidado e atenção ao detalhe.

Onde conhecer a obra: “São Jorge” encontra-se disponível para alugar na plataforma “Filmin”. Já “Como Desenhar um Círculo Perfeito” pode ser encontrado nas plataformas de VOD e também a custo reduzido para compra na FNAC.




  MIGUEL GOMES (1972)

“AS MIL E UMA NOITES” de Miguel Gomes |© Leopardo Filmes

Miguel Gomes é uma das mais fortes exportações do cinema nacional, não tivesse o seu belíssimo drama romântico histórico “Tabu” (2012) viajado pelo mundo – tendo-se quiçá feito mais conhecido fora do que dentro de Portugal. Esta narrativa histórica parcelada em capítulos e fotografada a preto e branco é um documento de elevada nostalgia, premiada no Festival de Veneza, e portadora de uma poética muito própria e de um rigor académico notável  – académico mas não aborrecido, diga-se de passagem, há quem tome uma coisa pelo sinónimo da outra.

Uma produção da “Som e Fúria”, “Tabu” atingiu notável reconhecimento internacional – sendo o único filme português a figurar na lista dos críticos da BBC Culture que procurava definir “Os 100 Melhores Filmes do Século”. “Tabu” acumulou $1,108,473 nas bilheteiras a nível mundial, de acordo com o Box Office Mojo, não obstante o facto de não constar da lista do ICA de filmes mais vistos em Portugal entre 2004 e 2020. Apesar do seu carácter como obra reconhecida lá fora, uma “exportação” da cultura portuguesa, “Tabu” não deixa de ser uma obra profundamente nacional, sobre as memórias de uma idosa lisboeta temperamental que recorda uma história de amor e crime num passado colonial em África.

“Tabu” é um entre diversos registos cinematográficos notáveis que pertencem à filmografia de Miguel Gomes. Recordamos também “Aquele Querido Mês de Agosto” (2008), filme exibido em mais de 40 filmes, inclusive na Quinzena dos Realizadores de Cannes e que vence pela sua capacidade de imortalizar um momento no tempo através de uma clara perspetiva autoral.

Em 2015 Miguel Gomes chegou a novos patamares com a sua inovadora trilogia “As Mil e Uma Noites”, dividida em três ousados volumes. Uma interpretação livre de um documento fundamental da cultura árabe, Miguel Gomes cria aqui um épico surrealista que toca as temáticas mais inerentes à cultura portuguesa percorrendo caminhos verdadeiramente novos e insólitos. Os fantasmas da crise, da troika, as vidas dos heróis do quotidiano, tudo lá está contido, numa homenagem sublime a um povo que nada esquece e que em tudo quebra com o que é esperado ou “normal”. Tantos géneros fílmicos cabem em “As Mil e Uma Noites”, um triunfo que deu que falar em Cannes e que merecia ser visto pela generalidade do nosso povo. Porque não começar neste Dia de Portugal?

Onde conhecer a obra: Os três volumes que compõem “As Mil e Uma Noites”, Aquele Querido Mês de Agosto” ou “Tabu” são algumas das obras de Miguel Gomes que podemos encontrar na plataforma Filmin.




PEDRO COSTA (1959) 

vitalina varela critica
“Vitalina Varela” é a obra mais recente do influente Pedro Costa| © Midas Filmes

O realizador lisboeta Pedro Costa é uma das mais claras influências do cinema nacional. As suas longas-metragens mais recentes, “Cavalo Dinheiro” (2014) e “Vitalina Varela” (2019), valeram-lhe especial projeção internacional, especialmente no âmbito do importante Festival de Locarno, onde o realizador se tornou já figura de referência. “Cavalo Dinheiro” venceu por lá o prémio de Melhor Realização e “Vitalina Varela” levou em 2019 o prémio de Melhor Filme e Melhor Atriz pelo seu fortíssimo trabalho sob a temática da imigração.

Não é de espantar, “Cavalo Dinheiro” e “Vitalina Varela” refletem uma urgência temática e uma apurada estética próprias cada vez mais vincadas. Costa é um realizador em constante crescendo, capaz de conter toda a história de Portugal nas suas obras. Quem melhor para celebrar neste 10 de junho?Na sua filmografia distingue-se ainda a trilogia das Fontaínhas: Ossos, No Quarto da Vanda e Juventude em Marcha.

Na imagem de destaque que assinala a presença de Pedro Costa nesta galeria podemos ver “Vitalina Varela”, a sua obra mais recente. Um retrato existencialista que não só triunfou em Locarno como deu nas vistas no afamado TIFF – Toronto International Film Festival – e venceu ainda um prémio no Chicago International Film Festival. Esta obra foi co-escrita pelo realizador e pela sua protagonista, Vitalina Varela, que representa neste filme uma versão feita ficção da sua própria vida, continuando a tradição de Pedro Costa no sentido de trabalhar com não-atores – aqueles que por vezes entregam prestações mais intensas e subtis. O ponto de partida de “Vitalina Varela” é auspicioso: “Vitalina Varela, 55 anos, cabo-verdiana, chega a Portugal três dias depois do funeral do marido. Há mais de 25 anos que Vitalina esperava o seu bilhete de avião.”

Onde conhecer a obra: A sua filmografia, incluindo os recentes “Cavalo Dinheiro” e “Vitalina Varela” , pode ser conhecida através da plataforma Filmin.




REGINA PESSOA (1969) 

Monstra em Casa Regina Pessoa Tio Tomás a Contabilidade dos Dias
“Tio Tomás, a Contabilidade dos Dias” venceu a Competição de Curtas Nacionais de 2020 da MONSTRA| ©Monstra

Nesta lista de realizadores portugueses a conhecer marcam presença alguns dos poucos autores do cinema português que integram a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pela organização anual dos Óscares. Um deles é Pedro Costa, recomendado no slide anterior, que entrou em 2017 e outra é a talentosa Regina Pessoa, que se juntou à Academia em 2018.

Regina Pessoa acabou de vencer a Competição de Curtas da 20ª edição da MONSTRA – Festival de Animação de Lisboa, que decorreu entre 25 e 31 de maio excepcionalmente por meio do online. A sua curta “Tio Tomás, A Contabilidade dos Dias” deslumbra pela perfeição técnica da sua animação e pela profunda humanidade contida na história contada. Regina Pessoa esteve na shortlist para os nomeados dos Óscares de Melhor Curta de Animação tanto com “Tio Tomás, a Contabilidade dos Dias” como em 2012 com o seu belo conto gótico “Kali O Pequeno Vampiro”, que na versão inglesa conta até com a narração do famoso ator norte-americano  Christopher Plummer. Integrou também essa mesma pré-lista em 2007 com “História Trágica Com Final Feliz”.

Todas as suas curtas de animação se munem de uma identidade estética própria e de uma capacidade afetiva notável – são instantaneamente reconhecíveis. É uma veterana dos prémios Annie, os mais importantes no campo da animação e do Festival Annecy, referência no campo da animação. Desde 1999 realizou apenas 5 curtas-metragens, todas elas trabalhos demorados e focados no casamento perfeito entre técnica e narrativa. Esperemos que um dia lance uma longa-metragem neste seu estilo de animação tão próprio. Contudo, não descartem o conhecimento das belas curtas que realizou até então.

Onde conhecer a obra: Três curtas fundamentais da filmografia de Regina Pessoa – a sua primeira “A Noite”, a altamente premiada “História Trágica com Final Feliz” e “Kali, O Pequeno Vampiro”  – podem ser vistas por 0,95€ cada na Filmin e estão incluídas na mensalidade da plataforma.




 SÉRGIO TRÉFAUT (1965) 

realizadores portugueses Sérgio Tréfaut
“Treblinka” (2016) |© Faux

Incluímos também o género documental em pleno nesta enumeração de realizadores portugueses a descobrir. Sérgio Tréfaut é, na realidade, um documentarista brasileiro oriundo de São Paulo. Contudo, a sua obra tem vindo a ser desenvolvida em Portugal desde os anos 90 e tem vindo a explorar aspetos distintos não só da cultura nacional, como europeia, como valores mais universais numa variada filmografia.

É rica a obra de Tréfaut. Entre os seus filmes encontram-se títulos como “Treblinka” (2016), longa-metragem penosa mas notável, protagonizada pela grande atriz portuguesa Isabel Ruth, que recupera o horror dos campos de extermínio do Holocausto – numa narrativa fantasmagórica e espectral capaz de permanecer com o espectador. Destaca-se pelo seu tratamento das temáticas das migrações e viagens, tendo saltado do documentário para a ficção pela primeira vez com “Viagem a Portugal”, obra lançada em 2011 e protagonizada por Maria de Medeiros e Isabel Ruth, belo romance biográfico que pensa uma vez mais a temática da imigração.

Em 2014 Sérgio Tréfaut apresentou, uma vez mais através da sua produtora própria Faux – Edições e Audiovisuais, “Alentejo, Alentejo” – filme vencedor de dois dos principais prémios do Festival IndieLisboa nesse ano, que coloca em primeiro plano o património imaterial do canto alentejano – aqui imortalizado. Em 2018 voltou à ficção – e também à região do Alentejo – com o belo drama histórico “Raiva”, obra situada num Portugal dos anos 1950 dominado por miséria e exploração. “Raiva” destacou-se nas premiações nacionais, quer nos Globos de Ouro portugueses como nos prémios da Academia Portuguesa – os Sophia – onde saiu vencedor nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator Secundário, Melhor Fotografia e Melhor Argumento Adaptado em conjunto com Fátima Ribeiro.

Onde conhecer a obra: 4 Títulos de Tréfaut estão prontos a ser descobertos através de uma subscrição básica da Filmin – onde podem também ser alugados individualmente. Contam-se entre estes “A Cidade dos Mortos” (2011) ou o seu essencial “Outro País” (2000).




SUSANA DE SOUSA DIAS (1962)

realizadores portugueses Susana de Sousa Dias
“Luz Obscura”(2017) é um precioso documento histórico |©Kintop

Susana de Sousa Dias, com obras como “48” ou “Luz Obscura” presta-se a um importante gesto metódico de elevada relevância histórica. Cada português deveria ver os seus filmes e conhecer as histórias anónimas que traz para primeiro plano com beleza e simplicidade. Susana explora os registos esquecidos da história nacional, os documentos secundarizados da ditadura salazarista e filma fotografias. Depois de filmar essas fotos dá-lhes vida através da narração das pessoas que protagonizaram as histórias, os presos políticos. O seu objetivo é claro, Susana, realizadora e professora universitária docente de Arte Multimédia na Faculdade de Belas Artes, pretende que nunca esqueçamos e procura também desmistificar a ideia comum de que a ditadura portuguesa foi mais branda que as suas restantes contemporâneas.

O trabalho desta autora foca-se então no poder do arquivo e da memória, tema este que conduziu precisamente a sua tese de doutoramento em Belas-Artes. O seu trajeto internacional começou com o documentário “Natureza Morta”, em 2005, obra premiada com o “Merit Award” no Taiwan Documentary Filme Festival e com o “Atlanta Films Award” no Doclisboa. Este filme recupera imagens de arquivo da ditadura portuguesa sem qualquer áudio. Em 2000 tinha já abordado este tema recorrente e transversal à sua obra com Enfermeiras no Estado Novo (2000). 

O seu documentário mais afamado é “48”, de 2010, uma obra onde o arquivo fotográfico encontra testemunhos ricos acerca das torturas perpetuadas pelo regime, cobrindo o período do fascismo vigente entre 1926 e 1974.  Já “Luz Obscura” foca-se nas crianças que nasceram, cresceram ou conviveram com as prisões do regime do Estado Novo, enfatizando a vertente mais “familiar” da tortura. Todos os seus filmes são essenciais documentos, pedaços de memória viva, que imploram para ser vistos neste “Dia de Portugal” ou em qualquer outro.

Onde conhecer a obra: “Luz Obscura” está disponível na Filmin e “48” pode ser encomendado na FNAC.




TERESA VILLAVERDE (1966)

realizadores portugueses teresa villaverde
Tomás Gomes e Alice Albergaria Borges em “Colo” (2017)|©Alce Filmes

Teresa Morais Villaverde Cabral é uma produtora, argumentista e realizadora portuguesa essencial, um dos nomes mais importantes da geração de realizadores portugueses que começaram a operar na década de 1990. Recentemente brilhou, em 2017, com o seu “Colo”, que se viu integrado na Competição Oficial da Berlinale – o influente Festival de Cinema de Berlim.

“Colo” é uma obra dramática notável que observa precisamente o ruir da instituição familiar que coloca em destaque. Encontramos-nos neste filme num Portugal em crise – crise económica e crise afetiva – à medida que um pai, uma mãe e uma filha vêem o seu dia-a-dia contaminado pelas ramificações da crise financeira.

A obra de Teresa Villaverde compreende outras obras fundamentais tais como “Os Mutantes”, de 1998, um drama pesado sobre três adolescentes sem-abrigo que passam por momentos de incrível sofrimento e indefinição. Encontramos também na sua filmografia “Três Irmãos”, um outro seu filme a três, lançado em 1994, sobre três irmãos que vivem juntos e que procuram apoiar-se mutuamente não obstante a melancólica realidade da sua vida. “Três Irmãos” é ancorado na prestação de Maria de Medeiros, que aliás venceu o Prémio de Melhor Atriz em Veneza com esta interpretação, numa obra que foi também ela indicada ao Leão de Ouro.

Recordamos ainda a sua obra “Transe”, de 2006, protagonizada por Ana Moreira e centrada numa narrativa dramática acerca de uma jovem originária do leste europeu, explorando temáticas fortes como imigração ilegal e tráfico humano. Esta longa-metragem extremamente humana foi exibida na Quinzena dos Realizadores de Cannes e também no Festival de Cinema de Toronto e em muito contribuiu para a internacionalização da obra da realizadora.

Onde conhecer a obra: O Centro Pompidou disponibiliza gratuitamente uma curta-metragem da autoria de Teresa Villaverde.

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Conhecem a filmografia dos realizadores portugueses que sugerimos no âmbito deste Dia de Portugal? 

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