Noomi Rapace como Lisbeth Salander em "Millennium 2 - A Rapariga que Sonhava com Uma Lata de Gasolina e Um Fósforo" (2009) |©Zodiak Rights

Grandes Papéis Femininos | Heroínas no Cinema

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No âmbito da nova visão de “Os Anjos de Charlie” (2019), realizada por Elizabeth Banks, estreada nos cinemas nacionais  na passada semana, recordamos grandes papéis femininos que nos fazem acreditar em “heroínas” dispares, pertençam elas a épicos fantasiosos ou ao reino do dia-a-dia. 

As heroínas surgem onde menos esperamos, e durante muitos anos, o cinema teve pouco espaço para grandes papéis femininos.  Esta lista cronológica pretende compreender diversos tipos de heroínas. Heroínas de grandes filmes de acção, outras que nos tocam através de actos de bravura, através de palavras influentes ou até pequenos actos do dia-a-dia.

Recuperamos estas heroínas ao longo da História do Cinema, com um acentuado destaque a partir dos anos 90, coincidindo com uma altura em que as mulheres começaram a carregar mais narrativas às costas. Todas elas são bastante diferentes, mas certos valores transversais são comuns a todas estas personagens.

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JOANA D’ARC EM “A PAIXÃO DE JOANA D’ARC” (1928) 

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© 1928 – Gaumont

A história de Joana D’Arc (em português) foi adaptada inúmeras vezes ao cinema, não fosse esta uma das mais recordadas figuras femininas da história da Humanidade. Por um lado, relembrada como uma guerreira, por outro lado, e infelizmente, como uma mártir. É uma inegável referência numa lista de heroínas, e por isso tem direito a inaugurá-la.

“A Paixão de Joana d’Arc” é um dos muitos filmes realizados sobre esta figura histórica. A obra do lendário  Carl Theodor Dreyer , ainda situada no período do mudo, é muito possivelmente a versão tida em melhor consideração pela comunidade cinéfila, de direito,  e por isso aqui fica como a escolhida.

Joana D’Arc é uma personagem feminina canonizada, na vida real, pela Igreja Católica, uma heroína francesa que se elevou ao estatuto atual de santa devido aos seus actos no decurso da Guerra dos Cem Anos. Não obstante as acusações de blasfémia, Joana D’Arc não teme, mesmo depois de condenada a arder na fogueira. O filme recupera o julgamento real desta personagem histórica, esta mulher guerreira que se tornou uma mártir, morrendo na defesa da sua crença, uma de auto-determinação dos territórios franceses numa altura marcada por invasões.




DOROTHY GALE EM “O FEITICEIRO DE OZ”  (1939) 

Wizard of Oz
Judy Garland em “O Feiticeiro de Oz” (1939) |©Warner Home Video.

Judy Garland e a sua Dorothy são eternas, e numa lista que, por razões óbvias, terá uma incidência superior em títulos do século XXI, é importante encontrar algumas das heroínas do período clássico do cinema . E por muito que Judy Garland tenha sido atormentada pelo sistema de estúdios, como a biopic “Judy” (2019) procura fundamentar, a sua Dorothy é uma corajosa figura intemporal, que permanece um ícone para cinéfilos e bem enraizada na cultura popular e na cultura LGBTI, um dos pilares metafóricos de “O Feiticeiro de Oz”.

“The Wizard of Oz”, realizado por Victor Fleming (“E Tudo o Vento Levou”), bem como por outras mãos bem famosas não creditadas como King Vidor ou George Cukor, é uma aventura fantástica familiar que narra a história da jovem adolescente Dorothy, que vive em Kansas, numa quinta, e que depois de um tornado é magicamente transportada para a terra mitológica de Oz. Lá, embarca numa aventura com um conjunto de novos amigos bem singulares. Em conjunto, vão à procura do místico “Feiticeiro”, que a poderá ajudar a regressar a casa e também ajudar os seus novos amigos.

Os elementos visuais de “O Feiticeiro de Oz” como a estrada dos tijolos amarelos, ou os sapatos vermelhos, continuam no imaginário colectivo e a bravura e espírito aberto de Dorothy nunca foram esquecidos, tornando-a uma verdadeira lenda e possivelmente uma das personagens femininas com mais impacto na História do Cinema.




SCARLETT O’HARA EM “E TUDO O VENTO LEVOU” (1939) 

Gone with the wind heroínas
Vivien Leigh em “E Tudo o Vento Levou” (1939) |© Warner Home Video. All rights reserved.

Scarlett O’Hara surgiu no cinema numa altura em que poucas personagens femininas tinham a sua resiliência. Sim, existiam muitas outras mulheres a liderar filmes no decurso de toda a era de ouro dos Estúdios de Hollywood, mas poucas tinham a tenacidade e a não conformidade de Scarlett. Vinda da literatura, ela é a heroína de um épico de mais de 1000 páginas, e a sua acção heróica em nada depende de força física. Aquilo que vemos testado ao longo desta ambiciosa narrativa é a sua força mental para sobreviver, para tratar da sua propriedade e daqueles que tem ao seu cuidado, enquanto a Guerra Civil Norte-Americana lhe leva a estabilidade e ocasionalmente traz soldados prontos a roubar-lhe o pouco que tem.

“Gone With the Wind” continua a ser um dos clássicos mais inegáveis de Hollywood, tendo sido um dos primeiros filmes a fazer uso extensivo do Technicolor. O filme realizado por Victor Fleming é consensual junto do público e dos estudiosos de cinema, e Vivien Leigh, a sua estrela, será para sempre associada a este papel.

O filme venceu 8 Óscares, inclusive Melhor Filme, Melhor Atriz para Leigh e mais importante, Melhor Atriz Secundária para Hattie McDaniel, que interpretou a fiel escrava da família, que para quem leu o romance de Margaret Mitchell, publicado em 1936, era na verdade como que um membro essencial do clã. McDaniel foi a primeira afro-americana a ser nomeada e a vencer um Óscar.

“E Tudo o Vento Levou” é um épico de guerra que se passa nos bastidores do conflito, é um romance tórrido, e uma narrativa sobre resistência e uma das maiores produções que Hollywood tinha visto até então, com 4 estonteantes horas de duração. Scarlett é retratada como uma mulher capaz de lidar com a guerra, com a perda de muito do que ama, com ladrões, com falta de bens materiais. A narrativa começa no início da Guerra Civil, e seguimos esta personagem, a sua família, e a sua paixão Rhett Butler (Clark Gable) até ao final do conflito e à subsequente reconstrução.




TESS HARDING EM “A PRIMEIRA DAMA” (1942) 

Heroínas Katharine Hepburn
Katharine Hepburn e Spencer Tracy em “A Primeira Dama “(1942) |©Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)

Katharine Hepburn é uma das estrelas mais brilhantes que o firmamento de Hollywood alguma vez teve a oportunidade de conhecer. O “American Film Institute” já a indicou como a maior estrela feminina de todos os tempos, e quiçá talvez seja verdade. Nomeada 12 vezes ao Óscar, Hepburn venceu 4 estatuetas douradas, e o seu recorde continua selado desde 1982.

Uma atriz versátil, Hepburn protagonizou tanto comédias como dramas, e foi sempre tida como uma mulher forte e auto-determinada no mundo em que se moveu. Neste “Woman of the Year”, pelo qual foi nomeada ao Óscar, deu vida a Tess Harding, uma jornalista política com ideais feministas. No filme, desenvolve uma relação de “guerra dos sexos” com um colega pelo qual acaba por se apaixonar, interpretado por Spencer Tracy, com quem a atriz fez mais 8 filmes e com quem esteve romanticamente durante 26 anos.

Esta comédia romântica coloca a personagem feminina num ambiente distinto do esperado na primeira metade do século XX. Ela é uma mulher de carreira, uma feminista dedicada e ativa, uma das mais conhecidas do país e acabou de ser nomeada “A Mulher do Ano”, como o título em inglês deixa adivinhar. Está sempre ocupada, e o seu marido começa a sentir-se negligenciado. Embora esta obra desenhe, muito notoriamente, a visão masculina de uma mulher de carreira, é ainda assim libertador ver esta perspectiva de uma mulher independente e “moderna” em 1942.




HOLLY GOLIGHTLY EM “BONECA DE LUXO” (1961) 

Breakfast at tiffany's 1961
Audrey Hepburn em “Boneca de Luxo” (1961) |© Paramount Pictures

“Breakfast at Tiffany’s” é um dos filmes cujas imagens mais ecoam na cultura pop. Baseada no romance de Truman Capote, esta comédia romântica melodramática conta-nos a fascinante narrativa de uma personagem bastante contraditória. Holly Golightly é uma jovem com muitos segredos. Embora pareça à primeira vista uma mulher emancipada, ao longo do filme descobrimos que o seu passado passa por uma pequena localidade, um casamento forçado enquanto era ainda muito jovem e um nome provinciano, Lula Mae.

No livro, Holly tem apenas 19 anos quando conhece, já em Nova Iorque, o interesse romântico Paul. Na realidade, Hepburn tinha já 31 anos quando deu vida à icónica personagem. Na cidade, a Miss Golightly passa a vida em grandes festas, muitas delas situadas no seu pequeno apartamento. A sua ocupação situa-se algures no universo das acompanhantes de luxo, embora nunca nada seja dito de forma inequívoca, mas temos quase a certeza de que Holly, tal como Paul (interpretado por George Peppard), se trata de uma prostituta de luxo.

Esta narrativa é bastante incomum para os anos 60, e embora o final do filme seja mais positivo e “cor-de-rosa” do que o final do livro, algo é inegável. Holly procura ser uma representação de uma personagem feminina mais “moderna”. Uma e outra vez, Holly recusa que a impeçam de seguir o seu caminho. Não pretende ver-se presa a nada ou a ninguém, por isso mesmo tem um gato a quem chama apenas “gato”, como prova de afastamento emocional.

Holly é curiosa, vibrante, quer ver o mundo, como indica a galardoada música “Moon River” – “Two drifters, off to see the world, There’s such a lot of world to see” . A protagonista de “Breakfast at Tiffany’s” está longe de ser perfeita, mas traz consigo um inegável encanto e esperança num futuro melhor.




MARY POPPINS EM “MARY POPPINS” (1964) 

heroínas cinema
©Walt Disney Productions

A comédia fantástica musical “Mary Poppins” pode parecer uma narrativa simples, situada num ambiente doméstico, mas a verdade é que a personagem interpretada por Julie Andrews é poderosa e significante. Esta ama muito especial é mágica, transporta uma mensagem de esperança e de deslumbramento, e muda a vida dos miúdos por quem zela.

Faz tudo isto através do poder da sugestão e dos sonhos. Marry Poppins é uma espécie de mulher perfeita: ela é graciosa, comporta-se com uma certa leveza, é aventureira, divertida, mas também consegue ser bastante firme quando necessário. É encantadora, e a sua presença é forte e inegável. Um hino à imaginação, com uma porta-voz que ficará para sempre na História do Cinema.




ELLEN RIPLEY EM “ALIEN” (1979) 

Ripley em Alien - Heroínas
Sigourney Weaver em “Alien” (1979) |©Twentieth Century Fox

Na altura em que “Alien”, de Ridley Scott, foi realizado ainda era pouco comum ter grandes personagens femininas a liderar filmes. Ripley tornou-se uma das mais afamadas, e a imagem em que abre o seu próprio ventre com uma faca continua a ser fortíssima.

O filme original “Alien” é hoje, ainda, o mais notável da saga, e as interpretes posteriores não conseguiram chegar aos calcanhares da Ripley de Sigourney Weaver, uma figura imprescindível no género da ficção científica. Isto sem qualquer detrimento para o trabalho de Noomi Rapace e Katherine Waterston, ambas boas atrizes, mas incapazes de reproduzir a energia desta personagem.O grande peso de Ripley é ser uma figura que não se afirma pelo género, mas pela bravura. Apesar de enfrentar certos desafios na sua nave que reproduzem uma mentalidade patriarcal, nomeadamente a forma como os seus colegas a desacreditam como figura feminina que é. Eleva-se acima de todos eles.




CLARICE STARLING EM “O SILÊNCIO DOS INOCENTES” (1991) 

Heroínas
© 1991 – MGM

“The Silence of the Lambs” é possivelmente o melhor filme alguma vez realizado acerca de um assassino em série. O seu exímio terror psicológico foi trazido até ao grande ecrã pelo génio do falecido Jonathan Demme (“Philadelphia“, “O Casamento de Rachel”). Anthony Hopkins entrega uma das melhores prestações da sua carreira como Hannibal Lector, personagem que interpretou em diversos filmes, mas nunca com a mesma ferocidade apresentada nesta obra de 1991.

Por fim, Jodie Foster é aqui uma das mais icónicas e memoráveis detectives femininas da História do Cinema como Clarice Starling. “Silence of the Lambs” é um dos melhores dramas criminais a roçar o terror alguma vez criado no cinema norte-americano, tendo vencido nos Óscares Melhor Filme, Realizador, Atriz, Ator e Argumento. A determinação de Clarice é a única coisa que impede crimes horrendos de serem perpetuados, e esta é a única com sangue frio suficiente para jogar um perigoso jogo do gato e do rato com este infame criminoso.

Um objecto de clássico absoluto, “O Silêncio dos Inocentes” muito deve à prestação de Foster e à vida que esta confere à sua Clarice.




THELMA E LOUISE EM “THELMA & LOUISE” (1991) 

Thelma & Louise (1991)
“Thelma & Louise” (1991) |©Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)

Susan Sarandon e Geena Davis dão vida à irreverente parelha de melhores amigas e literais parceiras no crime. Talvez duas criminosas não tenham lugar numa lista dedicada a heróis, tendo em conta a sua conduta moral reprovável. Contudo, há que ter em conta o que estas duas criminosas simbolizam – o movimento de libertação feminino. Afinal, não são apenas os homens que cometem loucuras, não são eles os únicos que não se submetem às regras societárias impostas, seja o comportamento certo ou errado, justo ou injusto.

Com “Thelma & Louise” temos a parelha de criminosas mais famosa do grande ecrã, num filme que valeu a ambas as atrizes nomeações aos Óscares, e que levou ainda a estatueta de Melhor Argumento. O mais importante desta obra é que se trata de um “buddy film“, um filme sobre compinchas, sobre companheiros de aventura, no feminino, algo bastante pontual no cinema antes da viragem do milénio.

Thelma e Louise são duas criminosas com as quais não conseguimos deixar de simpatizar, inclusive com motivos com os quais não conseguimos não alinhar. Uma narrativa deliciosa e divertida que parece significar algo na cultura cinematográfica em que se insere.




JO MARSH EM “AS MULHERZINHAS” (1994) 

©Columbia Pictures

“Little Women”, um importante clássico literário norte-americano, foi adaptado ao cinema e à televisão inúmeras vezes. A primeira adaptação aconteceu nos anos 30, a seguinte logo nos anos 40, e desde aí continuou a ser adaptado. Situada no rescaldo da Guerra Civil Norte-Americana, esta é a história das irmãs Marsh, quatro jovens que crescem com a sua mãe, enquanto o pai se encontra ausente devido ao conflito armado.

Jo Marsh, a mais independente e auto-determinada das irmãs, é uma personagem apetitosa e que já foi interpretada por diversas atrizes de peso. Na década de 30, foi a grande Katharine Hepburn que lhe deu vida, nos anos 40 fora June Allyson, e nos anos 90, na acarinhada versão da realizadora Gillian Armstrong,  foi Winona Ryder quem vestiu a pele de Jo. Winona era neste momento uma enorme estrela em ascensão e deu vida a esta jovem que pretende escapar a todas as expectativas societárias. Ela não quer casar, quer viver da escrita, quer ser artista, quer ser dona do seu destino. 

Louisa May Alcott, autora do livro e das suas personagens, era uma feminista e defensora de causas sociais, abolicionista oposta à escravatura. Nunca casou, e as suas obras literárias foram bem-sucedidas enquanto era ainda viva. “Little Women” é parcialmente um relato auto-biográfico da infância com as suas três irmãs. Jo regressa ao grande ecrã nos Estados Unidos já a 25 de dezembro, interpretada por Saoirse Ronan, e promete ser ainda mais irreverente.




CHER HOROWITZ EM “AS MENINAS DE BEVERLY HILLS” (1995)

Clueless
Alicia Silverstone em “As Meninas de Beverly Hills” (1995) |©Paramount

Que género de lista de heroínas é esta na qual consta uma miúda rica e mimada? Escrito e realizado por  Amy Heckerling, “Clueless” é um fenómeno não muito frequente de um filme adolescente, dos anos 90, não só protagonizado por uma personagem feminina, mas também narrado de um ponto de vista predominantemente feminino. O que significa isto? “Clueless” é uma explosão de confetti e espalha-facto pouco frequente neste tipo de narrativa, pelo menos no que diz respeito a este momento no tempo.

O filme adolescente é também uma adaptação livre de “Emma”, de Jane Austen, narrando a vida de uma jovem mimada que passa o tempo a brincar ao cupido. Qual é o grande valor de Cher Horowitz, o qual a coloca nesta lista? Cher é uma protagonista adolescente que não é maliciosa, que não é competitiva de forma feia, e que passa todo o seu tempo a criar formas de tornar os outros mais felizes, mesmo que seja por motivos egoístas.

Nos anos mais recentes, com filmes como “Lady Bird” ou “Booksmart”, temos visto cada vez mais protagonistas femininas que não são “mean girls”. Nos anos 90, as Cher’s deste mundo eram muito menos relevantes na cultura cinematográfica. Por alguma razão, 25 anos depois, “Clueless” continua a ser uma referência dentro do seu género e Cher continua a ser uma das protagonistas adolescentes mais referenciadas da cultura popular. Uma miúda popular, afável, carinhosa, rica sem ser arrogante, fabulosa sem pisar calcanhares, o tipo de heroína que precisamos de ver na nossa adolescência.




MARGE GUNDERSON EM “FARGO” (1996) 

Heroínas Marge
Frances McDormand em “Fargo ” (1996) |©Twentieth Century Fox

A muito grávida detetive Marge Gunderson é uma das mais fortes e memoráveis figuras femininas no universo do cinema criminal, apesar de a sua personagem demonstrar uma elevada sensibilidade e até quietude.

A Marge atribuímos as famosas sentidas linhas de diálogo : “And for what? For a little bit of money. There’s more to life than a little money, you know. And here we are, and it’s a beautiful day…I just don’t understand”.  (E para quê? Para receber algum dinheiro. Há mais na vida do que um pouco de dinheiro, sabes? E aqui estamos nós…e é um dia tão bonito. Não consigo compreender) Estas linhas fecham o hilariante e agridoce “Fargo”, obra de referência dos irmãos Coen.

Marge é uma forte personagem , a qual não precisa de atributos “másculos” para fazer valer a sua força. A detetive principal neste caso de homicídio é resiliente, perspicaz e capaz de solucionar este crime sem perder o sangue frio, mas ao mesmo tempo a sua natureza repleta de bom-senso e compaixão não consegue compreender a motivação destes sujeitos, nem a vil maldade que envolve todos os incidentes de “Fargo”. Marge não é, de forma alguma, a única personagem memorável deste imenso filme, mas é uma bem distinta do que esperaríamos, na altura, do detective principal deste crime tão atribulado.




ESMERALDA EM “O CORCUNDA DE NOTRE DAME” (1996) 

Heroínas no grande ecrã
Esmeralda e Quasimodo em “O Corcunda de Notre Dame” (1996) |©Walt Disney Pictures

Ao longo do século XX, as personagens femininas da Disney foram, acima de tudo, bastante uniformes, salvo raras excepções. Não haveria heroínas auto-suficientes como Moana, como Anna e Elsa, como tantas outras corajosas personagens que surgiram entretanto. As poucas que, de facto, foram aparecendo, como Pocahontas ou Mulan, pertencem ao final dos anos 90, e procuram marcar um período de mudança.

Esmeralda é um dos interesses românticos mais distintos do universo Disney, quer falemos do universo de 1996 ou no nosso presente. “O Corcunda de Notre Dame” é uma história que foi por diversas vezes adaptada ao cinema, mais do que uma vez em imagem real, e bastante antes da Disney ter explorado esta história. Isto porque a narrativa de Quasimodo provém de um romance de Victor Hugo.

Quasimodo, como todos sabemos, é o deformado jovem com uma enorme Corcunda, que está encarregue de tocar os sinos de Notre Dame, e que vive isolado na Torre da famosa catedral gótica. Em bebé, foi visto como uma aberração e teve de ser salvo e escondido do mundo. Um dia, decide tomar parte numa festividade, e é aí que conhece a maravilhosa cigana Esmeralda e o belo soldado Phoebus. Os três unem-se contra os malfeitores que colocam, de momento, em causa a habitação dos ciganos. Assim, cabe a Quasimodo defender Esmeralda e a Catedral de ameaças.

Esmeralda é uma personagem secundária, com a narrativa a ser contada do ponto de vista de Quasimodo. Não obstante, ela merece o lugar nesta lista, por ser uma irreverente co-protagonista feminina, e acima de tudo uma mulher corajosa, proveniente de uma etnia colocada às margens da sociedade. Tanto ela como Quasimodo são “foras-da-lei” e encontram na sua aliança uma importante ferramenta de resistência. “O Corcunda de Notre Dame” é uma das narrativas mais adultas e fortes que a Disney alguma vez lançou, e Esmeralda, a encantadora cigana, é um dos seus maiores trunfos.




SAN EM “A PRINCESA MONONOKE” (1997) 

Mononoke-Hime
“A Princesa Mononoke “(1997) |© Studio Ghibli

O épico de Hayao Miyazaki retrata uma guerra inevitável entre a Humanidade e a Natureza, na viragem do milénio, mas com uma acção situada séculos antes, centrada no período de modernização da sociedade japonesa. Uma altura em que as transações comerciais começaram a abundar , e o deus que passou a falar mais alto foi o “deus do dinheiro”. Neste filme, a nossa protagonista, San, é uma jovem humana adolescente que foi adoptada por lobos. Uma figura quase mítica, virginal, uma espécie de deusa da floresta, uma semi-deusa terrestre. Não estivesse ela a ser criada por uma loba gigante, um dos muitos deuses incontáveis da floresta japonesa.

San é corajosa, destemida, animalesca, implacável, apesar de ter um coração gigante e lutar por tudo e por todos os que ama. Mesmo que a sua luta pareça uma condenada desde o início. San é a “Princesa Mononoke“, a princesa dos malditos, abandonada pelos seus pais humanos e criada como uma criança da floresta. Mesmo mediante uma crescente insanidade, San consegue impedir que o seu ódio a tolde, e aprender a conciliar os desejos dos deuses da natureza com as necessidades da comunidade humana.

Esta “princesa” não se conforma a códigos sociais, de género ou quaisquer outros, e embora pouco convencional, é sem dúvida uma heroína com mérito significante.




FA MULAN EM “MULAN” (1998) 

Disney
“Mulan” (1998) |©Walt Disney Studios

Por mera coincidência, continuamos no reino da animação, com Mulan, a heroína que estará de volta em 2020 com uma versão da sua história narrada em imagem real.

Mulan é uma corajosa jovem, que decide intervir em segredo quando o seu pai, doente e idoso, é recrutado para a guerra contra invasores perigosos, tudo isto na China Imperial. Assim, veste-se de rapaz e parte para se juntar ao esforço de guerra, correndo risco de vida. “Mulan” é uma aventura musical divertida, que conta com um enredo algo subversivo e que confere vida a uma antiga lenda milenar, a lenda de Hua Mulan, inicialmente registada num poema. Foi a primeira “princesa” Disney oriental.

A grande guerreira chinesa transporta uma mensagem universal e intemporal, e por isso, apesar dos 22 anos volvidos deste o lançamento, é uma história que merece ainda hoje ser recontada, e a nova versão em imagem real, mais fiel à lenda e mais sóbria, poderá ser a forma perfeita para que a Disney se redima de conteúdos menores que tem vindo a produzir, nomeadamente a nova versão de “O Rei Leão”, considerado como o pior filme do ano pela Rolling Stone.




ERIN BROCKOVICH EM “ERIN BROCKOVICH” (2000) 

Heroínas grande ecrã
Julia Roberts em “Erin Brockovich” (2000) |©Universal Studios

Erin Brockovich em “Erin Brockovich” é uma verdadeira super-mulher. O drama biográfico do mesmo nome narra a história verídica de Erin Brockovich-Ellis, uma mãe solteira desempregada que acaba por conseguir transformar profundamente a sua vida, bem como a da sua comunidade. Este drama trouxe bastante reconhecimento, e aclamação crítica à carreira de Julia Roberts, que continuou pelos caminhos da comédia romântica depois disto, mas com um novo “pedigree “reforçado.

“Erin Brockovich” retrata o desespero e e a determinação de uma figura maternal, de alguém colocado às margens da sociedade. Não considerada por muitos, Erin acaba por iniciar uma investigação gigantesca, e desencadear um dos maiores processos jurídicos contra uma grande corporação. É uma narrativa clara de “self made woman“, alguém que vem de baixo, e que vence na vida através da sua audácia e perspicácia. Hoje em dia, Erin é uma técnica jurídica conceituada e ativista dos direitos ambientais e do consumidor. Sem ter tido qualquer formação superior, foi instrumental neste referido processo contra a Pacific Gas and Electric Company, em 1993. Esta heroína da vida real foi imortalizada no cinema, e tornou-se parte da história do mesmo.




BRIDGET JONES EM “O DIÁRIO DE BRIDGET JONES” (2001 – 2016) 

Bridget Jones
Renée Zellweger na sequela de 2004 |© Universal Studios and Studio Canal and Miramax Film Corp.

A Lizzie Bennet que merecemos na Inglaterra do início do século XXI, “O Diário de Bridget Jones” é uma adaptação bastante livre do clássico de Jane Austen “Orgulho e Preconceito”. Aqui, Colin Firth volta a dar vida a um Mr.Darcy, depois da adaptação de “Pride and Prejudice” em formato de mini-série, para a BBC, a qual co-protagonizou.

Bridget não é nenhuma heroína, não no sentido convencional, mas ao mesmo tempo é uma deliciosa personificação da mulher moderna. Ela pragueja, é demasiado dada a comer e a beber álcool, é desastrada, não tem papas na língua, fuma demasiado, e está constantemente a comportar-se de forma ligeiramente reprovável. É também encantadora e divertida, repleta de vida, maior do que o ecrã que ocupa. Atira-se para novas relações e novos desafios de cabeça, e embora a personagem tenha sido um pouco deturpada à medida que o filme entrou no seu segundo e terceiro capítulo, há que reforçar, há algo muito especial, e muito único nesta mulher politicamente incorrecta, que ocupou um papel tão importante na cultura cinematográfica, e no género da comédia romântica.

Quiçá o papel da carreira de Zellweger, Bridget Jones não pede desculpa por nada, e faz-nos crer que poderá haver uma nova irreverência no comportamento feminino, uma irreverência que o olhar do público não reprove e que seja capaz de abraçar.




ELLE WOODS EM “LEGALMENTE LOIRA” (2001) 

Legally Blonde
Reese Witherspoon e Moonie em “Legalmente Loira” (2001) |©MGM

Elle pode ser encontrada nesta lista por razões muito semelhantes às quais habilitaram Cher a ser incluída. Estamos perante mais uma miúda loira, fixada por roupa, com um aspecto bastante oco, que na realidade é inteligente e atenciosa. Apesar de Elle não ser uma personagem escrita de forma tão inteligente como Cher, ela tem também um enorme peso na cultura do entretenimento, e embora não seja o primeiro tipo de personagem feminina que descreveríamos como heroína, os seus méritos são inegáveis. Ela é corajosa, estudiosa, ativa na quebra de estereótipos e é aqui que reside o seu poder.

Elle Woods é quem pretende ser. Veste-se de cor-de-rosa e estuda direito, e mostra-nos, através de um humor apatetado e pouco sério, que não há nada de errado com esta improvável combinação. Claro, “Legally Blonde” não é profundo, filosófico, nem sequer particularmente incisivo, mas é um divertido filme que nos diz que nem sempre a conformidade e uniformidade são a melhor aposta.




HERMIONE GRANGER EM “SAGA HARRY POTTER” (2001 – 2011) 

©NOS Audiovisuais

Hermione Granger é uma das maiores heroínas da nova geração. Ela é dedicada, afetuosa, inteligente, estudiosa, altruísta, organizada e aventureira. É a personagem mais regrada dos três protagonistas da saga Harry Potter, e bate sem dúvida Harry e Ron no que diz respeito a bom senso e sentido prático. Recuperando bem os filmes, Harry pode ser o protagonista, mas é Hermione que salva o grupo de muitas situações indesejáveis, quer falemos dos desafios para chegar à Pedra Filosofal, como abrir a Câmara dos Segredos ou como planear ataques contra ameaças bastante reais.

Emma Watson estará para sempre associada a este forte papel feminino, a esta sabichona irresistível, amada pelos milhões de fãs de uma saga que já se tornou especial para diversas gerações, e que promete não desaparecer tão cedo.




CHIHIRO EM “A VIAGEM DE CHIHIRO” (2001) 

Sen to Chihiro no kamikakushi (2001)
“A Viagem de Chihiro” (2001) |©Studio Ghibli

Uma heroína de palmo e meio, Chihiro é uma das mais jovens protagonistas de Miyazaki. Número 28 no top de filmes mais populares na gigante plataforma de cinema “IMDB”, “A Viagem de Chihiro” venceu o Óscar de Melhor Filme de Animação, um feito muito raro para um filme de língua não inglesa, mas possibilitado pela enorme popularidade internacional da obra.

Porque é que Miyazaki escolheu aqui uma menina de 10 anos como protagonista? Fê-lo depois de ter conhecido uma menina mimada, indiferente ao mundo que a rodeava, e depois de ter concluído que as crianças, na actualidade, tinham perdido o contacto com a natureza e com a espiritualidade. Por isso, colocou Chihiro, uma miúda mimada e indiferente, no centro da sua narrativa, e levou-a para um mundo mágico paralelo,  povoado por divindades, onde Chihiro se sente pequena e onde tem de se esforçar grandemente para subsistir, e para salvar os seus pais, transformados em porcos devido ao peso dos seus actos avarentos.

Chihiro abandona a sua indiferença e falta de resistência, e transforma-se inteiramente ao embarcar numa épica aventura, a qual lhe permite descobrir muito sobre si mesma, sobre os outros e sobre o quão pouco sabia sobre as maravilhas e encantos do mundo terrestre e espiritual.




FRIDA KAHLO EM “FRIDA” (2002) 

Frida- Heroínas no cinema
Salma Hayek em “Frida “(2002) |©Miramax

Esta lista de heroínas cinematográficas está, como seria de esperar, inundada de figuras e mitos que chegam até nós através do mundo real. Outra pessoa verdadeira que merece menção é a pintora mexicana Frida Kahlo.

A adaptação de Julie Taymor (“Across the Universe”, “Titus”) apresentou-nos Salma Hayek num dos grandes papéis da sua carreira, pelo qual foi indicada ao Óscar. Frida foi uma complexa artista que se tornou um verdadeiro símbolo apenas após a sua morte. A sua arte inspirava-se na cultura popular da sua terra natal. Esta cultura tradicional era empregue na sua arte para explorar questões complexas como identidade, pós-colonialismo, género, classe ou raça.

Foi nos anos 90 que se tornou um símbolo para o Movimento LGBTI, e para o movimento feminista. A biografia filmada em 2002 pode não ser perfeita, mas contribuiu para a notoriedade desta figura, retratada como libertadora. Uma mulher revolucionária, bissexual, com uma arrojada abordagem que se reflectia na sua vida artística, pessoal, e no seu alinhamento político.




A NOIVA EM “KILL BILL – A VINGANÇA – VOLUMES 1 E 2” (2003 – 2004)

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“Kill Bill – A Vingança (vol. 1)” | © Miramax

Beatrix “The Bride” Kiddo, nome de código “Black Mamba” ou simplesmente “A Noiva” é uma das mais marcantes personagens femininas da História do Cinema, quer falemos de acção ou não. A sua jornada rumo à vingança acabou por se tornar numa inesperada recuperação da sua vida familiar roubada, ao poder reencontrar-se com a filha levada por Bill.

“A Noiva”, uma antiga assassina profissional,  é torturada, toda a sua boda é assassinada, está meses em coma, perde o seu bebé e jura vingança a todos os que a atraiçoaram, e apesar desta sua violenta premissa, não é de todo uma personagem desprovida de sentimentos, calor ou humanidade, como vamos constatando ao longo destes dois capítulos. É uma heroína moderna, forte, irreverente. Sim, é uma das mais inegáveis heroínas de acção, mas a sua presença transcende géneros.




LIZZIE BENNET EM “ORGULHO E PRECONCEITO” (2005) 

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Keira Knightley e Matthew Macfadyen em “Orgulho e Preconceito” (2005) |©Focus Features

“Pride and Prejudice”, na versão de Joe Wright, é uma das mais clássicas e ao mesmo tempo modernas interpretações deste clássico absoluto, e Keira Knightley é quiçá a mais memorável Elizabeth Bennet. A obra cinematográfica baseada na narrativa mais célebre de Jane Austen foi já interpretada de mil e uma formas. Já deu uma versão mal comportada do século XXI, a já mencionada Bridget Jones, já originou “Orgulho, Preconceito e Zombies”, uma versão alternativa situada no apocalipse zombie que também já foi adaptada ao grande ecrã, e já originou  inúmeras séries e filmes ao longo da história do cinema e do audiovisual.

Elizabeth Bennet, ou como é tratada casualmente, Lizzie Bennet, é uma personagem que é tão tradicional quanto irreverente no contexto do seu tempo. Uma mulher sem papas na língua, numa altura em que as mulheres não tinham ordem para falar, e especialmente para contestar a palavra de um homem. “Orgulho e Preconceito” é uma crónica de costumes que funciona como testemunho do universo que Jane Austen melhor conhecia. As irmãs Bennet vêm de uma  família de baixa burguesia, e numa família só com filhas, é ao seu primo que vai ser deixado todo o seu património. Como mulheres do século XIX, as irmãs Bennet não têm outra hipótese senão casar bem.

Lizzie, contudo, recusa casar com quem nada lhe diz. É opinativa, inteligente, perspicaz, a clara preferida do seu pai. Não hesita em estabelecer juízos de valor sobre cavalheiros com uma melhor situação sócio-económica, como é o caso do Mr. Darcy. Sim, ela acaba prometida a alguém com fundos superiores aos seus, mas Lizzie é, dentro da sua situação limitada de cultura patriarcal, uma verdadeira rebelde, mesmo que só a consigamos analisar mediante os nossos padrões societários bem distintos.




JUNO MACGUFF EM “JUNO” (2007) 

Juno
Michael Cera e Ellen Page em “Juno” (2007) |©Fox Searchlight Pictures

“Juno” foi o filme que celebrizou a maravilhosa Ellen Page. Narra a história de uma adolescente bastante comum, a quem acontece um percalço infelizmente frequente, o de ficar grávida antes de ter a maturidade necessária. Juno e o seu melhor amigo Bleeker não tinham nada melhor para fazer, não havia nada a dar na televisão e, logo por azar, esta sua pequena experiência de descoberta sexual resultou numa gravidez.

Esta história banal é narrada da forma mais especial possível, e Juno recusa alguma vez fazer-se de vítima ao longo de todo este processo. Uma miúda corajosa e fora da norma, decide levar a gravidez avante, e entregar o seu bebé a um casal que não consiga ter filhos. Fá-lo sem nunca duvidar desta sua decisão, sem melodrama exagerado desnecessário.

E apesar de tudo isto, comporta-se com inesperada maturidade perante os desafios constantes que são colocados no seu caminho no decurso desta complicada gravidez: novos sentimentos, a impossibilidade de ir ao baile de finalistas, a reacção dos adultos em seu torno ou a nova dinâmica de relação com o pai do bebé. Ellen Page é genial neste papel, bem como todo o elenco secundário, que inclui nomes como Michael Cera, Jason Bateman, Jennifer Garner, J.K Simmons e Allison Janney.




LISBETH SALENDER NA “SAGA MILLENIUM” (2009) 

Heroínas cinema
Noomi Rapace como Lisbeth Salander (2009) |©Zodiak Rights

Lisbeth Salander é uma verdadeira heroína dos tempos modernos. Talvez seja antes uma anti-heroína, quiçá… O seu comportamento fora da norma torna-a difícil de compreender, e parte do seu charme vem daí mesmo. Lisbeth é uma das mais fortes personagens literárias a dar o salto para o grande ecrã, e é, sem dúvida, o tipo de figura de referência que esperamos no mundo tecnológico.

Salander é uma hacker sempre ligeiramente à margem da lei, mas que usa os seus talentos para o bem, mesmo que o bem passe por vinganças sangrentas contra aqueles que lhe fizeram mal no passado. Lisbeth não é uma figura doce. A sua infância foi para lá de complicada, e tem muitos inimigos contra os quais mantém ressentimentos. Ela está sempre zangada, a maior parte do tempo em fuga, mas os seus meios são sem dúvida justificados pelos seus fins.

No primeiro capítulo literário e fílmico, “Millennium I: Os Homens que Odeiam as Mulheres”, vêmo-la no seu melhor, a cravar “sou um porco sádico” na barriga de um violador repetente. Lisbeth Salander é uma heroína feminista violenta e zangada, mas com um enorme coração. Apesar de ter sido escrita originalmente e  ainda realizada para o cinema por um homem, sentimos que o escritor Stieg Larson foi capaz de lhe dar vida por inteiro. Talvez por esta saga ter sido inspirada por um trauma na vida do já falecido escritor, que em temos viu uma mulher ser violada por um grupo de homens. Dar vida à vingadora Lisbeth é assim a sua redenção. e que redenção!

Millennium é uma saga literária sueca, e a primeira trilogia de filmes chegou até aos espectadores de todo o mundo na forma de três filmes suecos para a televisão. Em termos técnicos, são muito fracos, mas Noomi Rapace é uma força da natureza como Lisbeth. Em 2001, Rooney Mara recuperou a personagem na primeira versão americana, realizada por David Fincher. A obra valeu a Mara a nomeação ao Óscar, mas a verdade é que a sua Lisbeth é mais doce, menos implacável e mais domada do que a muito superior interpretação de Rapace, a qual até valeu à atriz um salto dos filmes suecos para Hollywood.




REE DOLLY EM “DESPOJOS DE INVERNO” (2010) 

Jennifer Lawrence
Jennifer Lawrence em “Despojos de Inverno” (2010) |©NOS Audiovisuais

Ree Dolly valeu a Jennifer Lawrence a sua primeira nomeação ao Óscar, e continua a ser, muito possivelmente, um dos três melhores papéis da sua carreira, senão mesmo o seu melhor papel. Este filme de mistério dramático apresenta um clima tenso do início ao fim, e é importante referir que esta obra escrita e realizada pela realizadora Debra Granik vale também muito pelo seu argumento, e pela construção notável da sua personagem central.

Ree é uma adolescente com enorme responsabilidade na sua vida. O seu pai desapareceu inesperadamente, a sua mãe sofre de depressão e nada faz para cuidar da família. Quando estão em risco de perder a sua casa, Ree terá de ser a responsável por preservar a sua habitação, em prole da sua mãe e irmãos mais novos. Esta jovem, que habita nas majestosas Montanhas Ozark, parte em busca do seu pai, numa corrida contra o tempo.

Um filme sobre sobrevivência, sobre resistência e onde a nossa heroína não é mais do que uma miúda assustada a tentar sobreviver a todo o custo. Ree é uma lutadora, e merece o seu lugar nesta lista e Jennifer Lawrence merece também que este seu magnífico primeiro grande passo cinematográfico seja recordado.




JANE EYRE EM “JANE EYRE” (2011) 

jane eyre heroínas
Mia Wasikowska em “Jane Eyre” (2011) |©Focus Features

Aqui se verifica mais uma entrada na forma de uma personagem clássica que já vimos uma e outra vez no cinema. Baseado no romance de  Charlotte Brontë, “Jane Eyre” é um tempestuoso romance, uma narrativa ligeiramente gótica com “fantasmas” no sótão e uma história que, na sua globalidade, não fica muito bem vista se examinada com as lentes da nossa idade contemporânea.

Apesar de tudo isto, “Jane Eyre” tem algo bastante poderoso, a sua personagem titular. Como fã destes romances clássicos da literatura britânica, nenhuma Jane Eyre parece ser boa o suficiente. Contudo, esta versão de 2011, protagonizada por Mia Wasikowska e Michael Fassbender tem um certo charme, especialmente em termos visuais, ausente em diversas das outras adaptações.

“Jane Eyre” narra a história de uma jovem pobre que sabe qual é o seu lugar na sociedade, e que sabe como é difícil escapar ao mesmo. Apesar de ter recursos limitados, a preceptora Jane Eyre é audaz, inteligente, e depressa consegue ser muito mais do que uma empregada para a família de nobres que está a servir, conquistando o coração de Mr. Rochester, o Senhor da casa, que esconde um segredo deveras sombrio.  Jane é uma personagem apaixonante, com uma forte bússola moral, uma órfã repleta de coragem, que lutou arduamente por tudo o que alguma vez conseguiu, o que por si já a habilita a um lugar nesta lista.




KATNISS EVERDEEN EM “OS JOGOS DA FOME” (2012 – 2015) 

The Hunger Games
The Hunger Games | © PRIS Audiovisuais

Regressamos a mais um papel interpretado por Jennifer Lawrence, ao longo de quatro filmes, os quais levaram a distopia infanto-juvenil de Suzanne Collins ao grande ecrã. Um marco importante nos blockbusters desta década, “Hunger Games” é uma saga que não só entretém como ensina alguma coisa, um cheirinho sobre a perversão dos regimes totalitários.

Katniss Everdeen é uma das mais incontestáveis heroínas aqui apresentadas, e não tanto devido às suas qualidades evidentes enquanto guerreira e sobrevivente, audaz e profissional no que diz respeito ao arco e flecha. Não, Katniss destaca-se acima de tudo pelo seu espírito, pela sua capacidade de se sacrificar em nome de terceiros, pelo seu amor à família. Em muitos aspectos, esta sua personagem não é assim tão diferente da sua Ree em “Despojos de Inverno”. Quando Katniss decide sacrificar-se em nome da irmã mais nova tomando o seu lugar nos próximos “Jogos da Fome”, a sua personalidade tornou-se desde logo evidente. Acima de tudo, Katniss é um bom exemplo para o público adolescente e jovem adulto que o franchise focava em primeiro plano.




PRINCESAS ANNA E ELSA EM “FROZEN: O REINO DO GELO” (2013-2019) 

Elsa e Anna
Elsa e Anna | © Disney

Num franchise que certamente ainda terá mais capítulos pela frente, destacam-se Anna e Elsa, duas princesas que alteraram profundamente aquilo que poderíamos esperar de protagonistas Disney. Anna (Kristen Bell) é destemida, aventureira, apaixonada e doce, conseguindo medir em doses equilibradas todas estas suas facetas. Ela procura o amor romântico, mas não depende dele para conseguir definir a sua identidade, e claro, acaba por virar as costas a príncipes e apaixona-se por alguém bem abaixo do seu estrato social, algo também raro nas narrativas do Estúdio.

Quando a Elsa, tem um turbilhão de emoções a fervilhar dentro de si, poderes que não compreende e precisa de aprender a controlar. É uma presença imponente, e não tem sequer tempo para pensar em relações românticas. Está numa jornada interior, rumo ao amor-próprio e auto-confiança. É uma força da natureza, e tornou-se um símbolo importante, nomeadamente para o público LGBTI, de forma inadvertida, com o seu hino “Let it Go”.

Duas Princesas singulares, bastante distintas, num conto no qual o amor de irmãs é o mais importante.




IMPERATOR FURIOSA EM “MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA” (2015)

heroína no grande ecrã
Charlize Theron é Furiosa |©NOS Audiovisuais

“Mad Max: Fury Road” (2015) é uma das maiores obras cinematográficas desta década, um festim visual inacreditável, numa nova versão melhorada de uma narrativa que já conta com largos anos. Furiosa, a personagem central deste novo capítulo, é uma implacável guerreira, que se revolta contra aquele a quem deve suposta fidelidade -Immortan Joe.

Estamos num futuro apocalíptico, perante uma crise de recursos, com a humanidade a definhar e perante uma avassaladora paisagem dominada por deserto. Furiosa, uma mulher decidida, atravessa esta imensidão e areal sem fim rumo à terra onde cresceu. Com ela, leva o tesouro mais precioso de Immortan Joe, as quatro “esposas” do antagonista. Todas elas anseiam por liberdade, não sendo mais do que escravas parideiras. Imperiosa anseia por algo melhor, para ela e para aqueles que protege. Não é apenas uma guerreira, é uma sonhadora.




MA (JOY)  EM “QUARTO” (2015)

Heroínas grande ecrã
Brie Larson e Jacob Tremblay em “Quarto” (2015) |©A24

Brie Larson venceu o Óscar de Melhor Atriz pela sua imensa interpretação em “Room”, o filme que apresentou também ao mundo o pequeno prodígio Jacob Tremblay, quase tão espantoso como Larson no papel do seu filho. Embora “Room” não seja uma narrativa verídica, acaba por o ser de forma parcial. Retrata um tipo de incidente que inspira horror, e que infelizmente já apareceu diversas vezes em noticiários. Jovens raparigas aprisionadas numa cave à prova de som por um sujeito do sexo masculino. Um pai, um tio, por vezes um estranho como acontece na narrativa de “Quarto”.

O filme começa com o assinalar do aniversário do pequeno Jack, que completa 5 anos de idade. Joy é a sua mãe dedicada, que como qualquer outra boa mãe, tudo faz para manter o seu filho seguro e feliz, tratando-o com todo o amor e carinho, contando-lhe histórias e jogando jogos. A sua vida poderia não ser diferente da de qualquer outra mãe e filho, não tivesse Joy sido raptada por um estranho, e a partir de aí, violada repetidamente e mantida durante anos numa cave. “Ma” criou todo um mundo na cave para o seu filho.

Quando Joy consegue finalmente um plano eficiente para escapar da cave, acabam por se ver confrontados com outro desafio inesperado, o mundo real, que Jack nunca conheceu e do qual Joy foi há muito removida. Agora, lutam para não ser vistos como diferentes ou como vítimas. Um belo filme, onde mãe e filho são dois sobreviventes heróicos numa triste e devastadora situação limite. Uma narrativa poderosa que muito diz sobre a natureza humana, e onde Larson brilhou no papel de uma mãe dedicada, que se recusa a perder a esperança.




DIANA EM “MULHER-MARAVILHA” (2017) 

filmes mais populares
Mulher Maravilha |© Warner Bros.

O que é que distingue Diana de muitas das super-heroínas que falharam na sua busca por auto-determinação? Diana, na versão de 2017, é uma “Wonder Woman” realizada por uma mulher, e portanto colocada em frente à câmara e filmada de um ponto de vista feminino, o que lhe conferiu um encanto especial. Foi também a primeira vez que esta heroína teve direito a um franchise verdadeiramente seu, e arriscar nesta figura valeu bem a pena.A narrativa filmada por  Patty Jenkins,  não deixa de nos apresentar uma mulher-maravilha bonita e sensual, mas fá-lo com uma nova subtileza.

A história de “Mulher-Maravilha” é fraquinha. Acaba por ser composta por um role de clichés do género de super-heróis, apesar da qualidade das sequências de acção e guarda-roupas. Contudo, há algum encanto na relação entre as personagens, e é delicioso ver Diana, uma personagem cheia de vida, a descobrir o mundo pela primeira vez. Ela é curiosa e inocente, e esta inocência sente-se genuína, e não apenas como um chamariz para homens. Em 2020, a Princesa Diana está de volta, esperemos que com um arco narrativo sólido e interessante, que sem dúvida merece.




BILLIE JEAN KING EM “A GUERRA DOS SEXOS” (2017) 

Guerra dos sexos
Steve Carell e Emma Stone em “Guerra dos Sexos” (2017) |©Big Picture Films

Aqui regresso, uma vez mais, aos filmes baseados em personagens reais. Billy Jean King, antiga tenista campeã, é uma figura inspiradora e que sem dúvida merece o seu lugar na história do feminismo. Defensora dos direitos das mulheres e dos direitos LGBTI, “A Guerra dos Sexos” recorda um momento bastante específico da sua vida.

Estamos em 1973, como pano histórico temos o movimento hippie, a revolução sexual e o movimento dos direitos das mulheres. Eis que o antigo campeão de Ténis Bobby Riggs (aqui interpretado por Steve Carell) decide confrontar no campo de ténis a presente campeã do mundo das mulheres, Billie Jean King. Este evento tornou-se um dos momentos desportivos mais vistos através da televisão, com 90 milhões de espectadores em todo o mundo. King lutava pela igualdade de géneros pela qual tanto esperava, Bobby queria provar que era ainda relevante e que uma mulher não o conseguiria derrubar.

Aqui, Emma Stone deu vida a Billie Jean, com um papel que lhe valeu a nomeação ao Globo de Ouro. Não é uma obra de ficção louvável, mas cumpre um propósito claro e honroso  – homenagear e recordar que vale a pena lutar por certos valores e direitos.




MARINA VIDAL  EM “UMA MULHER FANTÁSTICA” (2017) 

uma mulher fantastica critica analise
“Uma Mulher Fantástica” |©Alambique

A atriz transexual Daniela Vega é uma verdadeira revelação como Marina, num filme que venceu o Óscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira pelo Chile. Foi também a primeira mulher trans a apresentar nos Óscares, mas existiu um enorme coro de vozes que gostaria de a ter visto nomeada.

Estamos em Santiago, no Chile, e Marina é uma cantora trans que mantém uma relação com um homem mais velho. Este homem, Orlando, falece subitamente, e agora Marina terá de lidar com muito preconceito por parte da polícia, e da família de Orlando, que a olham como uma criminosa e duvidam da natureza da sua relação amorosa, a qual não conseguem compreender. Assim, impedem-na de fazer o seu luto em paz, mas o amor é um sentimento universal, e Marina é uma mulher fantástica, como o título indica, e que merece respeito.

A estrela deste filme, Daniela Vega, não tinha qualquer experiência como atriz, mas saiu-se maravilhosamente no papel desta corajosa figura.




MILDRED HAYES EM “TRÊS CARTAZES À BEIRA DA ESTRADA” (2017) 

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“Três Cartazes à Beira da Estrada” (2017) |©Fox Searchlight Pictures

Mildred Hayes é o grande ponto forte desta narrativa, na qual a sua interprete, Frances McDormand, uma repetente nesta lista, brilha de forma intensa. Ela representa neste filme uma mãe desesperada. A sua filha foi violada e assassinada, e a polícia local pouco faz para resolver o seu caso.

Esta mãe decide então colocar mãos à obra, e arranjar uma forma de provocar a polícia de forma a que esta seja impelida a agir. Como é que o faz? Colocando à saída da sua pequena povoação três cartazes gigantescos que chamam a atenção para a inércia policial. Este foi um filme bastante bem recebido, que na minha opinião pessoal fracassa devido a alguns laivos de exagero e melodrama, especialmente no que diz respeito aos diálogos exacerbados.

Apesar de certos estereótipos e situações clássicas deste tipo de narrativas serem perpetuadas pelo filme, a personagem de de Frances McDormand não pode ser ignorada. Ela é uma mulher forte, testada ao máximo numa situação limite e que faz tudo para tentar mitigar a terrível injustiça de que foi vítima. A sua figura desesperada a queimar os cartazes certamente ficará gravada na mente de todos os que viram o filme…

No seu discurso de agradecimento nos Óscares, Frances McDormand destacou que já tinha vencido, e que estava na altura de entregar estes prémios a jovens talentos. Não deixou de merecer esta distinção, embora Sally Hawkins, com a sua heroína silenciosa em “A Forma da Água” também merecesse ser recompensada pelo seu subtil trabalho.




MARLO EM “TULLY” (2018) 

Tully
Tully © TULLY PRODUCTIONS, LLC.

“Tully” é um belo retrato franco sobre o que é a maternidade, especialmente durante os primeiros tempos de vida de um bebé. Grande parte das narrativas de Hollywood coloca um véu sobre todas as partes feias que fazem parte de ser uma nova mãe. Em “Tully”, Marlo, interpretada por Charlize Theron, está sempre cansada. Vemo-la a fazer um conjunto de tarefas nada gloriosas e mundanas, como mudar fraldas, ou utilizar uma bomba de leite.

Esta obra foi realizada pelo fenomenal Jason Reitman, cujo filme “Juno” encontrámos também nesta lista. O argumento ficou a cargo de Diablo Cody, uma colaboradora frequente de Reitman, e que foi também responsável pelo argumento de “Juno”. Esta parelha é assim especialista em retratar heroínas do dia-a-dia, heroínas falíveis, que procuram conseguir chegar ao fim do dia com um sentido de missão cumprida.

Nesta obra, vemos em Marlo uma cansada mãe de três filhos pequenos, que com um bebé recém-nascido acabado de chegar, encontra-se no seu limiar do cansaço físico e mental, até estabelecer amizade com a jovem ama Tully, que a faz lembrar de si mesma antes de ter filhos. Um filme simples que diz que até as maiores heroínas, as mães, precisam por vezes de alguma ajuda extra, e de saber pedi-la sem vergonha ou receio. Porque às vezes ser “apenas” uma pessoa comum pode ser um desafio honroso.




 RUTH BADER GINSBURG EM “UMA LUTA DESIGUAL” (2018) 

Uma Luta Desigual
Uma Luta Desigual |©Pris Audiovisuais

“On the Basis of Sex” (2018), enquanto filme biográfico, não deixa grande marca, mas Felicity Jones não deixa de se apresentar como uma capaz e convincente interprete ao dar vida à icónica juíza Ruth Bader Ginsburg, um verdadeiro símbolo vivo.

Este filme narra a história verídica de Ginsburg, desde os tempos da sua juventude, retratando as suas diversas batalhas pela igualdade de género, e focando-se especialmente nos casos iniciais da sua carreira, aqueles que acabaram por conduzir à sua nomeação para Juíza do Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América, um cargo que continua a desempenhar aos 86 anos.

Talvez esta não tenha sido a narrativa cinematográfica que merece, mas Jones consegue transmitir um sentimento de confiança, e especialmente deixar-nos mais conscientes para a importância de figuras fortes, capazes de instaurar um discurso contra-corrente.




OS ANJOS E A SUA BOSLEY EM “OS ANJOS DE CHARLIE” (2019)

Charlie's Angels
©Big Picture Films

Elizabeth Banks tem vindo a desenvolver o seu trabalho na cadeira de realização, e em 2019 escreve, realiza e co-protagoniza a nova versão de “Os Anjos de Charlie”. Aqui, é a primeira Bosley mulher, uma agente com raking superior, a primeira a ascender a partir do estatuto de “Anjo”. Estes novos “Anjos de Charlie” não usam trajes tão reduzidos, parecem estar acima de tudo sob o comando de uma mulher e não de um homem, e parecem mais seguras e auto-determinadas enquanto mulheres.Apesar de apresentar um enredo gasto e previsível, há certos trunfos e momentos redentores a serem encontrados nesta nova actualização de uma ideia que surgiu originalmente nos anos 70.

Quanto ao futuro, em 2020 muito poderemos esperar: a nova versão de “Mulherzinhas”, realizada por Greta Gerwig, chega em breve aos cinemas, a “mulher-maravilha” de Gal Gadot regressa também muito em breve, e “Birds of Prey” traz-nos em breve um conjunto de anti-heroínas emancipadas, depois da irreverente Harley Quinn se livrar finalmente do Joker. Margot Robbie, Charlize Theron e Nicole Kidman  serão ainda defensoras dos direitos das mulheres no ambiente de trabalho em “Bombshell – O Escândalo”, que retrata um escândalo sexual real que aconteceu no canal FOX News.

Cada vez mais se multiplicam as personagem femininas no universo dos filmes e séries, e muitas outras heroínas, do dia a dia ou de universos extraordinários, poderiam ter sido incluídas nesta lista.

Que outras grandes personagens femininas gostarias de ver nesta galeria? 

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