De No Mesmo Tom a La La Land, 10 musicais para ver antes de Partir um Dia
“Partir, Um Dia”, filme de encerramento da Festa do Cinema Francês em 2025, chegou às salas de cinema nacionais pela mão da RisiFilm no dia 16 de outubro de 2025.
Narra a história de Cecile, uma jovem chefe de sucesso que vê a sua vida virada do avesso devido à doença do pai e a uma gravidez não desejada. Felizmente, uma visita a casa e o contacto com antigos amores e amigos é a chave perfeita para conseguir enfrentar os desafios com novos olhos e determinação. Esta jornada de heroína digna e dinâmica é protagonizada por Juliette Armanet, num filme que teve a honra de abrir o Festival de Cannes em 2025.
Quanto à nossa música favorita deste romance musical, destaque para a canção que dá nome ao filme – “Partir Un Jour”, um tema belo e que sintetiza na perfeição toda a viagem de amadurecimento pela qual a nossa heroína passa em pouco mais de hora e meia.
A propósito deste romance musical oriundo de França, recordamos alguns dos nossos títulos favoritos – sejam eles musicais ou simplesmente obras repletas de muita música!
1 – No Mesmo Tom (2007)
“Once” é um dos mais belíssimos e francos musicais do século XXI. Um pedaço de vida vindo diretamente da Irlanda, “No Mesmo Tom”, no seu título português, é a obra responsável pela criação de uma das mais notáveis canções do músico Glen Hansard – “Falling Slowly”.
Narra a história de dois cantores de rua que se conhecem e apaixonam – são eles um músico de rua local e uma imigrante checa que ganha a sua vida a vender flores, mas que aspira a escrever poderosos temas musicais. Eis que o grupo decide trabalhar em conjunto e, à medida que a sua capacidade para compor cresce, o mesmo pode ser dito do seu amor.
2 – Theater Camp: Um Verão Alucinante (2023)
Sim, bem o sabemos. “Theater Camp” não é verdadeiramente um musical, não no sentido mais restrito da palavra. Mas é uma obra inteiramente dominada pelo mundo do espectáculo e da música. A jornada melódica domina cada minuto desta comédia auto-reflexiva, à medida que acompanhamos a vida de um campo de férias dedicado ao teatro musical e o qual tem uma dificuldade crescente no que diz respeito a manter as portas abertas.
Ao longo de todo o filme, os jovens que integram o campo, um local perfeito para misfits e miúdos que não encaixam na norma, preparam-se para a grande prestação do final do verão e os seus mentores escrevem um musical original que será apresentado perante pais e possíveis investidores.
Será esta música suficientemente boa para salvar o campo? Podemos crer que sim, sem dúvida! “Joan, Still” é um musical original longo e hilariante, que ajuda a elevar “Theater Camp” como uma verdadeira experiência musical. Vale também pelas prestações de nomes como Molly Gordon, Ayo Edebiri ou a grande estrela da Broadway Ben Platt.
O irreverente, absurdo e jovial “Theater Camp” pode ser alugado na Prime Video portuguesa e encontra-se também incluído na Disney+ nacional.
3 – La La Land – A Melodia do Amor (2016)
A obra prima de Damien Chazelle pode ter visto o seu Óscar de Melhor Filme roubado em plena cerimónia dos Óscares, já em cima do palco, como todos sabemos que aconteceu. Mas eis que “La La Land” venceu todos os prémios possíveis no nosso coração, como uma das melhores homenagens a Hollywood do novo milénio.
Enquanto “Partir, Um Dia” é um musical de pequena escala e focado nos momentos privados e particulares de uma vida, “La La Land” é um musical muito distinto neste contexto. É um musical sobre grandes sonhos, individuais e colectivos, e sobre os sacrifícios que se fazem pelo caminho. Mas é também uma homenagem sentida ao mundo do cinema, com muito romantismo à mistura.
Todavia, há também uma escala mais pequena, a dos sentimentos e particularidades da nossa protagonista Mia, a oscarizada Emma Stone num dos papéis mais marcantes da sua carreira. “Audition” ou o Epílogo final mostram-nos o interior da alma dos nossos protagonistas.
4 – Ao Ritmo de Washington Heights (2021)
“In the Heights”, realizado por Jon M. Chu (dos fenómenos de “Wicked” e “Crazy Rich Asians”), nasce a partir do musical do mesmo nome criado por Lin-Manuel Miranda e vencedor do Tony (4 categorias, incluindo o maior prémio da noite) no seu ano de lançamento na Broadway, 2008.
Uma história deslumbrante e honesta sobre os habitantes do bairro maioritariamente latino de Washington Heights, em Nova Iorque, “Ao Ritmo de Washigton Heights” é pura “latinidade” e como acontece em “Partir um Dia” é um filme que sabe explorar a componente musical para nos apresentar a vida das personagens, os seus sonhos, esperanças e eventos de vida formativos.
Destacamos, entre uma excelente e distinta banda sonora, a canção “96.000”, que nos mostra como um “pequeno valor” poderia mudar completamente a vida aos membros desta comunidade, cada vez mais devorados pela gentrificação e empurrados para fora do “barrio” que lhes é tão querido.
5 – Num Outro Tom (2013)
“Num Outro Tom” ou “Begin Again” é, como o título sugere em jeito de trocadilho, a nova interpretação norte-americana do enredo do emocionante e honesto filme irlandês “Once”. A música não é tão boa e o enredo não é tão cru e realista, mas “Num Outro Tom” não deixa de ser uma comédia romântica musical apelativa com interpretações centrais capazes da parte de Mark Ruffalo e Keira Knightley. A segunda, prova, inclusive, que é bem capaz de cantar e encher uma sala com uma voz não muito expansiva mas particularmente harmónica.
Aliás, Keira Knighley teve aulas de guitarra e canto para este papel e o resultado está mais que à vista, com uma performance muito cativante por parte da atriz britânica. Aqui, em vez de dois artistas de rua, temos uma cantora prestes a chegar ao estrelato (Gretta) que é abandonada pelo seu namorado músico e que acaba por se associar a um produtor caído em desgraça (o Greg de Mark Ruffalo).
O principal tema de “Begin Again” é “Lost Stars”, uma canção que tem direito a duas versões: a fílmica, mais acústica, cantada por Knightley, e uma segunda, mais pop, grandiosa e “cheia”, interpretada por Adam Levine. Deliciosamente, o vocalista dos Maroon 5 é o vilão desta narrativa na pele do ex-namorado da protagonista.
6 – Annette (2021)
Leos Carax e os seus mundos surrealistas contam com uma entrada imperdível em 2021, com o musical Annette, interpretado por Adam Driver, Marion Cottilard e com direito a canções originais por parte dos grandes irmãos Sparks, que já na terceira idade continuam a ser uma fonte vibrante de energia e musicalidade.
Com “So We May Start” entramos neste sonho endiabrado, com uma receção impar. Quanto a “Annette”, esta é a história arrepiante de um comediante que perde a sua esposa, uma estrondosa cantora de ópera interpretada por Marion Cotillard e que terá agora de criar sozinho a sua filha Anette, uma pequena menina com dons especiais, neste que é um pesadelo surrealista muito bem musicado e com prestações essenciais.
7 – Moulin Rouge! (2001)
“Moulin Rouge!” é talvez o mais rico e belo “jukebox musical” da história do cinema, e muito possivelmente a melhor criação da carreira de Baz Luhrmann (“Elvis”, “Romeu + Julieta”). Conhecido pelos seus filmes exuberantes, habitualmente musicais e repletos de cor e guarda-roupas dramáticos, é na clássica Moulin Rouge e com as vozes de Ewan McGregor e Nicole Kidman que Luhrmann nos hipnotiza para sempre – algures entre a vida, a morte e o amor ardente.
A “Elephant Love Medley”, o grande dueto do filme, é um dos momentos mais inesquecíveis do mundo dos musicais, em 2001, hoje, ou desde os primórdios dos talkies. A música combina diversos temas e cria um novo, mais elevado, memorável, belíssimo e de uma profundidade emocional rara. Este é também um dos mais bonitos e trágicos romances recentes do cinema no século XXI.
8 – Tick, Tick…BOOM! (2021)
Fãs de teatro musicais? Pois bem, com “Tick, Tick…BOOM!” é com entusiasmo que recebemos a primeira incursão na realização por parte de Lin-Manuel Miranda. Colaborador frequente na criação de bandas sonoras para grandes musicais Disney, como “Moana” ou “Encanto”, Miranda inclusive já deu uma ajudinha na tradução do seu “In the Heights” para o cinema.
Mas, desta vez, senta-se na cadeira da realização para contar uma história que lhe é próxima e querida. A história de Jonathan Larson que, à beira da casa dos 30, escreveu a sua grande obra-prima. Como outro herói retratado por Lin-Manuel Miranda, também Larson escrevia “como se estivesse a ficar sem tempo”. E estava, de facto. O criador de “Rent”, vencedor póstumo do Tony e do Pulitzer, deixou-nos cedo de mais: aos 35 anos de idade.
Andrew Garfield representa Larson na perfeição neste projeto repleto de temas musicais apelativos, com destaque para “30/90” ou “Sunday”, este segundo um monumento de homenagem ao teatro musical e aos seus agentes.
9 – Across the Universe (2007)
Muitos mundos convergem em “Across the Universe”. Por um lado este é um romance belo e idílico, por outro lado é uma exploração do clima anti-guerra dos caóticos anos 60, uma excelente história de amor com prestações memoráveis por parte de Evan Rachel Wood e Jim Sturgess e, por último, uma notável homenagem à música dos Beatles.
“Across the Universe” faz com qualidade e com os temas dos Beatles, o que “Mamma Mia!” fez atabalhoadamente com a música de ABBA. Este é um filme que se insere no género “Jukebox Musical”, como “Jersey Boys” ou “Motown” – propondo uma viagem ambiciosa pelo vasto catálogo musical do grupo britânico que reinventou a pop.
Além disso, a obra distingue-se também através do seu design de produção arrojado, das cores vibrantes e cenários evocativos de sonhos e remoção da realidade, como um bom musical pode (e deve) conseguir. O filme honra, sem dúvida, o seu título e transporta-nos através do universo.
10 – Os Chapéus de Chuva de Cherburgo (1964)
Alguma vez te interrogaste de onde veio grande parte da inspiração de Damien Chazelle para o seu icónico “La La Land – A Melodia do Amor“? Ora, “Os Chapéus de Chuva de Cherburgo”, um belíssimo musical romântico com final infeliz é grande parte da resposta para esta questão.
Visualmente e do ponto de vista narrativo, há inúmeros pontos de comparação passíveis de se estabelecerem entre estas duas obras que, com perto de meio século entre elas, acabam por transmitir emoções e cenários visuais bastante próximos. Jacques Demy, contemporâneo da Nouvelle Vague, criou uma nova Hollywood em França e fez alguns dos melhores musicais da história do cinema, bebendo inspiração do continente americano mas acrescentando um toque muito próprio.
E de que forma mais apropriada deveríamos acabar esta lista, senão com uma obra francesa?