DocLisboa final vencedores novidades

DocLisboa ’18 | Vencedores, Novidades e Balanço Final

Já terminou mais uma edição muito política do DocLisboa, onde a dança perigosa entre os erros do passado e o terror do presente foi transversal a toda a programação.

Foi em tempo de grande crispação política no panorama internacional que a mais recente edição do DocLisboa chegou ao fim. A cerimónia de encerramento e entrega de prémios, que decorreu no sábado dia 27 de outubro, foi marcada por mostras de solidariedade para com o Brasil em tempo de eleições cujo resultado poderá pôr em risco a existência de democracia na nação. No domingo, ao mesmo tempo que começavam as últimas sessões do festival, Jair Bolsonaro era anunciado como o novo Presidente da República do Brasil.

Foram dois dias de tensão e desespero para muitos, mas seria erróneo pensar que antes deles, esta edição do DocLisboa tinha sido menos política. De facto, mesmo em comparação com os últimos anos tumultuosos, o 16º DocLisboa teve uma das programações mais urgentes e ativamente políticas de sempre, sendo que a comunhão entre os erros do passado e o advento de novos ciclos históricos foi uma dinâmica transversal a muitos dos filmes em exibição.

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GREETINGS FROM FREE FORESTS foi o grande vencedor da Competição Internacional.

Os filmes de abertura e encerramento são dois excelentes exemplos disso mesmo. “The Waldheim Waltz” olhou para trás, para as eleições de 1986 na Áustria, para examinar o ressurgimento de extremismos de direita, mesmo em nações que já passaram pelo flagelo desses mesmos regimes. “Infinite Football”, por outro lado, perscrutou as excentricidades de um burocrata romeno e nelas encontrou as cicatrizes pulsantes da ditadura do passado e o modo como ela ainda molda os ideais e utopias da Roménia atual.

A dança eterna entre os crimes do passado e os cataclismas do presente permeia até os filmes vencedores dos prémios do festival. “Greetings From Free Forests” de Ian Soroka foi o filme escolhido pelo júri para ganhar o Grande Prémio Cidade de Lisboa e trata-se de uma exploração de uma floresta eslovena, cuja terra ainda contém vestígios de resistências populares do passado. O mesmo júri ainda entregou o Prémio Sociedade Portuguesa de Autores à curta-metragem “The Guest” de Sebastian Weber.

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No panorama dos prémios transversais a todas as secções do festival, “The Guest” também ganhou o Prémio Ageas Seguros para melhor curta-metragem. Outro filme que teve direito a duas menções foi “Vacas e Rainhas”, uma curta-metragem de Laura Marques que abordou temas feministas e as dinâmicas de poder entre humano e animal através de um documentário sobre vacas da raça Herens. A curta ganhou o Prémio Prática, Tradição e Património da Fundação INATEL e uma Menção Honrosa do Júri da Competição Portuguesa.

Ainda dentro da Competição Portuguesa, “Terra” de Hiroatsu Suzuki e Rossana Torres ganhou o Prémio DocLisboa, enquanto “Pele de Luz” de André Guiomar foi a obra escolhida como merecedora do Prémio Kino Sound Studio. Pela sua parte, o Júri Escolas deu o Prémio ETIC para melhor filme da Competição Portuguesa a “Terra Franca”, a primeira longa-metragem de Leonor Teles que fez questão de agradecer à família Lobo, o clã vila-franquense retratado no seu belíssimo documentário.

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VADIO foi o filme português preferido do público.

Por falar em primeiras longas-metragens, o Prémio Canais TVCine para melhor primeira longa foi dado a Ricardo Moreira por “Cidade Marconi”. “Amanecer” de Carmen Torres e “Paul is Dead” de Antoni Collot foram destacados com Menções Honrosas para esse mesmo prémio. No que diz respeito às escolhas do público, o Prémio Jornal Público para filme português preferido das audiências foi ganho por “Vadio”. Curiosamente, o cineasta responsável por esse documentário sobre fado vadio não é português, mas sim o austríaco Stefan Lechner.

Em relação aos filmes da secção Verdes Anos, o Prémio Kask/Brussels Airlines para melhor filme foi atribuído a Ahsan Mahmood Yunus por “After the Fire”. Também dessa secção, “Aos Meus Pais” de Melanie Pereira ganhou o Prémio Especial Walla Collective e “Song of the Bell” de Hosein Jalilvand arrecadou o Prémio Doc’s Kingdom na forma de uma bolsa de participação no seminário Doc’s Kingdom.

O DocLisboa é um festival com muitos prémios, disso não há dúvida, mas as categorias mais peculiares são aquelas da secção Arché que condecoram projetos ainda por completar. O Prémio RTP para melhor projeto em fase de pós-produção foi entregue a “Fantasmas: Caminho Longo Para Casa” de Tiago Siopa. O Prémio FCSH para melhor projeto das oficinas Arché foi ganho por “Viagem aos Makonde de Moçambique” de Catarina Alves Costa. O Prémio Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas para melhor projeto em fase de escrita foi dado a Iván Mora Manzano por “La Playa de los Encharquidos”. Por fim, “Amor e Medos Estranhos” de Deborah Viegas ganhou o Prémio Bienal Arte Jovem.

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CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS estreia em março de 2019.

Para além da entrega dos muitos prémios dos vários júris do DocLisboa, a cerimónia de encerramento foi ainda marcada pela divulgação de algumas das atividades, eventos e iniciativas promovidas pela organização do festival durante o próximo ano. Entre as várias informações dadas, a que merece maior destaque será a distribuição comercial de “Chuva É Cantoria Na Aldeia Dos Mortos” de João Salaviza e Renée Nader Messora. O filme ganhou o Prémio do Júri da secção Un Certain Regard em Cannes e será a primeira obra para a qual o DocLisboa irá agir enquanto distribuidora. Mal podemos esperar, para ver este documentário que estreará em março de 2019.

Antes de acabarmos estas considerações finais sobre o DocLisboa de 2018, ficam aqui links para as críticas que viemos a publicar ao longo da nossa cobertura do festival:

Não percas nenhuma das nossas coberturas de festivais de cinema em Portugal. A seguir será o LEFFEST, já este novembro.

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