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Matilha | A entrevista aos atores da primeira série portuguesa do ano da RTP

Os protagonistas de “Matilha” estiveram à conversa com a Magazine.HD e falaram sobre a primeira série portuguesa do ano a estrear na RTP.

A RTP tem fortemente apostado na produção de séries portuguesas, trazendo ao pequeno ecrã uma panóplia de temas diversificados, apelativos a diferentes públicos e gostos. Depois de em 2023 ter obtido sucesso com o lançamento de projetos como “Abandonados“, “O Crime do Padre Amaro” e “CODEX 632“, o canal público prepara-se agora para trazer à televisão nacional a primeira série portuguesa deste ano. Chama-se “Matilha” e conta com um total de sete episódios, sendo que o primeiro estreia já a 15 de janeiro, ficando posteriormente disponíveis na RTP Play.

Matilha
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A nova série “Matilha” é um spin-off de “Sul“, uma produção de 2019 que acompanha a investigação de um conjunto de crimes ocorridos no Rio Tejo. Duas das personagens secundárias, Matilha e Mafalda, tornaram-se um casal adorado pelo público em geral e os criadores da série decidiram avançar com um conjunto de episódios centrado nos dois. “Matilha” ocorre, então, cinco anos após a estreia de “Sul” e assume um ritmo mais frenético repleto de humor negro, capaz de prender a atenção do espectador.

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Durante a antestreia de “Matilha”, a Magazine.HD esteve à conversa com os protagonistas da nova série nacional. Afonso Pimentel, Margarida Vila-Nova e Ricardo Pereira falaram sobre as dificuldades de recuperar uma personagem feita há cinco anos, bem como as transformações físicas que sofreram para interpretar os seus papéis.




AFONSO PIMENTEL – MATILHA

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Em que ponto é que podemos encontrar esta personagem na sequela “Matilha”? 

Afonso Pimentel: Em que ponto? O Matilha tem uma coisa engraçada, o Matilha é um malandro de bairro, mas é um malandro de bairro esguio. Ou seja, na altura, no “Sul” ficou bem marcado que é um gajo esguio, não é nada para fora e é apaixonadíssimo por ela [a Mafalda]. Grande parte das características que eu construí com base no guião tem muito a ver com esta relação que eu tenho com a personagem da Margarida Vila-Nova. Ele é um gajo apaixonado por ela, mas é um puto, não cresceu. E mesmo anos depois, continua a ser um garoto, só que um garoto com responsabilidades, e vai fazendo porcaria atrás de porcaria, só que agora com consequências bastante mais graves do que na primeira série. Ou seja, na primeira série, o “Sul” conta um bocadinho o desenvolvimento destas personagens, mas ainda naquela fase de, embora casal, mas muito miúdos. Esta série começa com uma tontice dele que dá azo a consequências mais graves e a resolução dessas consequências é mais adulto nesse sentido – a série, não o Matilha, o Matilha continua puto [risos]. 

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Como é que te foste preparando para esta personagem? 

Afonso Pimentel: Nós tivemos para fazer isto várias vezes, porque passaram cinco anos desde o “Sul” até agora, teve vários reveses, na altura, por guiões, depois financiamento e, depois, quando estávamos prontos para arrancar, eu parto o braço. E sendo uma personagem tão física, decidimos, em conjunto com o Edgar [Medina], abrandar e dar tempo para recuperação, o que foi bom porque o facto de ter partido o braço e termos atrasado esta série fez com que surgisse o “Rabo de Peixe” na altura, portanto, acabou por acontecer. Foi maravilhoso, mas em conjugação com o Edgar, decidimos atrasar por causa do braço. Seria impensável estar a subir e trepar coisas com o braço como estava [risos]. Perdi muito peso também na altura por causa disso.

Matilha
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Portanto, a preparação foi essencialmente comer bem, relembrar o que é que eu tinha feito no outro e depois de me relembrar, despedi-lo, mandá-lo embora. Para quê? Para não estar a copiar aquilo que tinha feito, mas só para relembrar. Essa foi a grande dificuldade do spin-off, para mim foi essa. Foi pegar numa personagem, que foi difícil para mim criar no início do “Sul”, redescobri-la e depois mandá-la embora, porque senão ia dar por mim a copiar o que tinha feito antes e o que interessava é que nós tivéssemos a contar a história deles agora e não a história deles há um tempo. 

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Deu-te gozo fazer esta personagem de novo?

Afonso Pimentel: Assustou-me um bocado! Ou seja, assustou-me um bocado porque é a mesma pessoa, tu tens que ir buscar aquilo que fizeste, tudo bem que passado uns anos, há uma evolução, mas o perigo depois de tu estares a ir buscar os gatilhos ou os esquemas e os truques que utilizaste para a primeira é grande e acho que podia-se tornar desinteressante. Aqui deixei-me levar mais pelas situações que são situações mais densas do que a outra, pelo menos as que a minha personagem vive, a minha e a da Mafalda. E depois curtir, mas o início foi complicado. No início foi estranho até, porque já é uma personagem que tu queres agarrar de há cinco anos atrás, mas foi muito fixe e estou super curioso, porque eu, como vocês também não vi nada. 

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Mas você já gravaram há mais de um ano? 

Afonso Pimentel: Olha há um ano e meio, provavelmente, sim. Há uma história engraçada com isto que é eu faço o “Sul”, a seguir apanho outro bom malandro para fazer, que era uma personagem da “Nazaré“, que era o Tony e tenho uma guerra gigantesca para conseguir fugir daquilo que tinha feito no “Sul”. Para fazer dois malandros, mas malandros diferentes. É isso que faz com que eu faça o Tony tão para fora, foi porque eu queria fugir àquilo que tinha feito no “Sul”. Terminado o Tony, vou buscar novamente o “Matilha”. Se quiserem, de alguma forma, isto fecha aqui um ciclo, ou seja, tenho um Matilha, depois tenho que inventar um malandro de bairro também, que era o Tony, e depois tenho que redescobrir este gajo e matar o Tony e ir buscar o Matilha do “Sul” sem copiar.




MARGARIDA VILA-NOVA – MAFALDA

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Como é que foi voltar a dar vida à Mafalda? 

Margarida Vila-Nova: Foi desafiante. Eu achei que era mais fácil regressar a uma personagem que já tinha sido feito. Mas é engraçado, porque as personagens são pautadas também pela nossa maturidade, pela nossa fase de vida, pela forma como nós abordamos um texto, a forma como encaramos a realidade. Então, passados estes anos, regressar à Mafalda, claro que houve todo um trabalho de voltar a rever todos os episódios, cena por cena e de recuperar uma energia que eu já não me lembrava como ela era. Então foi bastante mais desafiante e difícil do que eu esperava, mas, por outro lado, também foi muito prazeroso regressar a uma personagem com uma outra história, num outro contexto, noutra dinâmica, portanto, nunca senti que tivesse a fazer uma repetição de alguma coisa que eu tinha feito para trás. Um bocadinho, à semelhança de “O Clube” em que me aconteceu também resgatar uma personagem que já tinha feito no passado.

É sempre um prazer trabalhar entre entre amigos, não só uma equipa de luxo, e não só um texto escrito pelo Edgar Medina, com quem eu tenho vindo a trabalhar nos projetos mais recentes, como “Causa Própria” e “Sul”, em que temos sempre um texto e uma personagem de grande desafio, mas ao lado do Afonso Pimentel, do Ricardo Pereira, da Maria João Bastos, que são os amigos da minha vida, que me estreei com praticamente todos eles assim na televisão, em grandes trabalhos. Então, foi um projeto muito prazeroso. Duro, difícil com muitas noites, muitas madrugadas.

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Para além de teres de recuperar uma personagem que outros desafios foste encontrando? 

Margarida Vila-Nova: Eu acho que esse foi o maior, foi resgatar a personagem, encontrar uma energia. Fisicamente era exigente, não só porque estávamos em pleno Inverno, com um frio doloroso, porque houve muitas noites e é muito duro trabalhar durante as noites e durante as madrugadas. Mas pronto, não tive que aprender a falar russo, não tive que fazer a esparregada [risos], não houve assim uma parte do trabalho que fosse mais desafiante nesses termos.

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Isto é um spin-off, o que é raro em Portugal acontecer. É entusiasmante para um ator participar num projeto destes? Há alguma diferença no ritmo do argumento em relação ao “Sul”?

Margarida Vila-Nova: Eu acho que este argumento é mais dinâmico, as personagens são mais proativas e até tem mais adrenalina, mais suspense, mais ação, mais ritmo. Tudo se passa em muito pouco tempo, numa urgência muito grande. Eu acho que essa urgência e emergência em que as personagens vivem ditam também o ritmo da série. Em relação a ser um spin-off, como traz toda uma outra história, um outro contexto, num outro espaço, num outro lugar, traz uma nova frescura, portanto, não sentimos que estamos a repetir uma história que fizemos no passado.

E em termos de spin-off e de mercado, para mim, torna-se muito interessante começarmos a resgatar, porque muitas vezes nós fazemos as séries e depois elas terminam ao fim de 6/7 episódios e às vezes não há espaço para uma segunda ou uma terceira temporada. À semelhança de “A Espia”, por exemplo, acho que os bons projetos merecem segundas edições ou temporadas. No caso do “Sul”, esta relação entre Matilha e Mafalda foi tão querida na altura, tanto pelos espectadores, como pela parte da escrita, foi um bom casamento [risos], que haja criatividade, e que não falta, felizmente, à Arquipélago Filmes e ao Edgar Medina, pela mão dele e pela mão da RTP, sermos capazes de dar continuidade a alguns projetos que às vezes fica assim um gosto e uma vontade de seguir com eles.

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Há aqui um antes e um depois da Mafalda? 

Margarida Vila-Nova: Há sim, passaram-se cinco anos, é muito ano. Eu sei que é uma frase feita, mas a vida, de facto, passa a voar. A vida é um sopro e no espaço de cinco anos, muita coisa muda, muita coisa se transforma. Portanto, a forma como nós abordamos as personagens e a forma como nós encaramos os projetos tem outra dinâmica, tem outro ritmo, tem outra maturidade e eu acho que isso depois se reflete no resultado final.




RICARDO PEREIRA – FUÇAS

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Magazine.HD: Tu já fizeste mil e uma coisas em Portugal, e fora de Portugal, mas esta é uma personagem completamente diferente. Quais é que foram os desafios que “Matilha” te trouxe? 

Ricardo Pereira: Olha, eu eu quando li a história pela primeira vez interessou-me logo muito. E tem-me interessado muito os projetos que eu tenho lido de nos últimos anos. Há coisas que me fazem sair totalmente da curva do que eu fiz. Eu tenho, ao longo de 25 anos, passado por vários géneros – a televisão, nomeadamente através de séries e novelas, o teatro e o cinema, mas sem dúvida que nos últimos anos tenho tentado fazer um percurso muito criterioso, a ver e escolher as personagens ao detalhe. Porque quero, sem dúvida, personagens que sejam desafiantes, porque estou num momento da minha vida que permite sentir que estás com vontade e queres ter vontade de fazer outro tipo de coisas.

O papel do Fuças aqui em “Matilha” é exatamente isso. É um homem super marcado, super violento, um assassino profissional que tem um objetivo e que ninguém se pode atravessar à frente dele. Ele está completamente determinado a alcançar o seu objetivo, ser pragmático, objetivo, duro, seco. Não sabes nada da vida dele até que, no meio desta enredo todo, e não desvendando muito da história, ele tem que recuperar uma carga e vai receber a visita de um irmão. E o irmão vem porque alguma coisa não está a correr bem, e com o irmão vem a sua vida e vimos a descobrir um bocadinho mais dele. E muitas pessoas hoje em dia refletem determinadas coisa como esta personagem reflete. A natureza, a frieza… toda a explicação tem que aparecer e a explicação vem com o aparecimento do irmão. Nós vamos traçando aqui este perfil deste Fuças, que na verdade, é um reflexo de tanta e tanta coisa, e é tão mais sensível e tão mais sofrido do que a maiorias das pessoas pensava.

Portanto, o que eu quero dizer com isto é que esta personagens em que tu tens um arco dramático completamente definido, porque tu tens os episódios todos na tua mão, há camadas e subcamadas onde tu podes dar cor a eles de forma diferente. Eu fiz várias séries este ano e o meu trabalho vai ser muito focado em séries, porque quero exatamente procurar neste tipo de trabalhos papéis desafiantes e que me façam sair de alguns registos que as pessoas eventualmente estejam mais habituadas a ver. 

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Magazine.HD: Tiveste de fazer alguma preparação especial para este Fuças? 

Ricardo Pereira: Várias, várias! Fiz a criação da personagem com o Edgar [Medina], com o Rui [Cardoso Martins], com o próprio João Maia… O João é um realizador que sabe exatamente o que quer dos atores, e foi intenso. Há um universo que eu gosto de juntar para as personagens, desde música, referências visuais, filmes. E eu gosto de quando apontamos numa direção nos ensaios, eu vou para casa e vou fazer o meu trabalho que é encher-me visualmente e mentalmente deste universo. Para mim, é importante ver as pessoas duras, os brincos, como é que se agarram uma arma… É agarrar e trazer coisas, detalhes, para parecem perfeitamente normais ou orgânicos nesta personagem, mas que na verdade são retalhos de várias coisas que tu vais vendo. Isso é fundamental!

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Depois, esta personagem tinha que ser muito seca. Tinhas que ter a cara muito vincada, então houve ali uma dieta fundamental, muito exercício físico para estarmos mais secos, mais afinados, porque são pessoas que não dormem muito, drogam-se, bebem, fumam… os vícios são outros. A comida é sempre o último ponto. Esta personagem, por acaso, é engraçada, tem uma cena que não come muito e eu queria comer [risos], e depois é marcante, por exemplo, o irmão dele come muito, mas ele não come muito. Ele também não se droga muito já, mas tu vês que já teve um passado a drogar-se, então tu tens lá as marcas. São pequeninas coisas que são importantes, que tu vais deixando plantadas. É isto que te dá um conforto quando vês estas personagens e dá-te uma credibilidade a eles. Isso é fundamental!

É isto que me interessa quando eu construo uma personagem. São pequeninos detalhes, pequeninas coisas que se vão compondo, e as pessoas olham e esquecem que é uma personagem, não estão a ver o Ricardo, e isso é tudo o que queremos. As tatuagens foram definidas com o Miguel Molena, e tirámos umas, pusemos outras, ‘não esta não, esta sim, esta não, esbate aqui um bocadinho, tira um bocadinho de cor a esta porque aqui levas muita sol’. São coisas que nós fomos criando juntos. O figurino também fomos criando juntos. E eu acho que o prazer também destes últimos trabalhos, e neste caso, de “Matilha”, é que houve um trabalho de grupo muito intenso. Toda a gente opinou, toda a gente construiu, toda a gente somou e a série é espetacular.

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Magazine.HD: Sendo “Matilha” um spin-off, tu chegaste a ver “Sul”?

Ricardo Pereira: Eu vi o “Sul”, conheço “Sul”. Aliás, a série foi realizada pelo Ivo, com quem eu já trabalhei muito, nomeadamente, em “Cartas de Guerra“, produzido também pelo Edgar [Medina]. Tinham-me convidado também para para entrar em “Sul”, e eu não pude, estava no Brasil a fazer um trabalho. Mas é claro que sim, eu gosto de imbuir um bocadinho da história. Primeiro, porque vejo de tudo… passo horas e horas em casa a ver conteúdo. Vejo tudo o que nós fazemos em Portugal, e tento ver tudo o que fazemos a nível de cinema, a nível de séries, de todo o tipo de canais, todo o tipo de plataformas, e depois um bocadinho no mundo, não só porque tenho muitas vezes que votar para a Academia Portuguesa de Cinema, da qual sou fundador, mas também muitas vezes para outros prémios.

E então, eu gosto de estar um bocadinho a par de tudo, gosto dos realizadores, gosto de perceber o jeito e o estilo de cada um, tenho gosto de ver os meus colegas atores a trabalharem, gosto de ser surpreendido por trabalhos interessantes e ficar fascinado com o trabalho deles! Sou muito amante da nossa área, sabes? Então, para isso, eu gosto muito de ver um bocadinho do que é que cada um anda a fazer, portanto, serviu para mim. Isto é um spin-off. A história começa a partir daqui para mim, obviamente, para eles não. E tu vês isso com a cumplicidade da primeira cena deles que vem do passado. Isso é giro e esta ideia é maravilhosa. 

TRAILER | MATILHA É A MAIS RECENTE SÉRIE DA RTP

Ficaste curioso(a) com a série “Matilha”? Tinhas assistido a “Sul”?


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One thought on “Matilha | A entrevista aos atores da primeira série portuguesa do ano da RTP

  • Sim, eu gosto da série Matilha. Eu gosto desta série.

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