Ranking ALIEN | 4. A grande estreia de David Fincher
“Alien 3 – A Desforra” marcou a estreia de David Fincher no cinema e é um dos filmes mais contestados do franchise. O próprio realizador rejeita a obra.
Neste Artigo:
“AVP2: Aliens vs. Predador” ficou em último lugar.
Seguiu-se “Alien: Romulus” na oitava posição.
“Alien vs. Predator” ficou em sétimo lugar.
E “Alien: Covenant” está em sexto.
Em quinto, temos “Alien: Resurrection”
Tal como Roma não se fez num dia, também os génios cinematográficos não nascem ensinados. Não há melhor exemplo que David Fincher, cineasta consagrado cuja estreia no grande ecrã gerou muita controvérsia. Em 1992, “Alien” e “Aliens” eram os únicos elementos do franchise, duas obras-primas cuja qualidade levou as expetativas dos fãs a níveis astronómicos. Todos esperavam semelhante triunfo com o terceiro filme, mas o que encontraram nos cinemas deixou muito a desejar. Até o próprio Fincher se tem vindo a revelar como um dos muitos que detesta a fita. Mais facilmente o ouvirão falar dos videoclipes lendários que fez com Madonna do que desta malfadada sequela.
Mas a culpa do infortúnio não pertence só ao homem que viria a realizar filmes tão estimados como “Se7en,” “Clube de Combate,” “Gone Girl” e tantos outros. As constantes mudanças do argumento e uma pré-produção atribulada são muito responsáveis pelas falhas da fita. Afinal, ao longo dos anos, houve, pelo menos, quatro versões distintas do guião, assinadas por autores diferentes com prioridades distintas. E cada novo argumento continha peças dos anteriores, um palimpsesto que gerou incoerência e até alguma contradição. Por exemplo, houve grande disputa sobre a natureza do planeta onde a ação se passa. Deveria ser um mosteiro, uma prisão, ou uma fábrica?
É impossível agradar a Gregos e Troianos.
O que acaba por ficar na obra finalizada é uma conclusão ambivalente. “Alien 3 – A Desforra” depara-se com Ellen Ripley despenhada em Fiorina 161, um planeta fortificado para aprisionar condenados geneticamente predispostos a altos níveis de agressividade. Só que também é uma espécie de complexo industrial, com os habitantes sempre a trabalhar em metalurgia. Mas também é um mosteiro porque a maior parte dos homens pertence a uma ordem religiosa formada atrás das grades. De facto, os figurinos mantêm inspirações monásticas, enquanto a cenografia vai para o lado mais industrial da coisa. Enfim, uma incoerência generalizada que Fincher nunca resolve.
Ao invés de confiar numa das versões finais, o argumento com que acabamos é disforme e não agrada a ninguém. Dito isso, há escolhas arriscadas cuja ousadia tem que ser aplaudida. Consideremos o fado de Newt e Hicks, duas figuras importantíssimas para a narrativa de “Aliens.” Ao início desta “Desforra,” descobrimos que ambos morreram fora de cena, deixando Ripley novamente sozinha. Ainda para mais, sem saber, a protagonista da saga está ‘grávida’ com uma rainha xenomorph, cumprindo o seu maior medo. Trata-se de um pesadelo desesperante, tão hediondo que parece quase castigo para com as personagens e o público que as amava.
Sigourney Weaver torna-se produtora.
Enfim, admiramos a coragem dos cineastas ao mesmo tempo que choramos a catarse negada e o niilismo absoluto com que Fincher nos deixou. Sigourney Weaver certamente admira muitas destas escolhas doidas, tendo lutado por algumas delas. Acontece que, entre a estreia de “Aliens” em 1986 e a as filmagens de “Alien 3” em 1991, a atriz havia chegado a um estatuto grandioso em Hollywood. Esse poder permitiu-lhe tomar as rédeas do franchise enquanto coprodutora, moldando as desventuras de Ripley às suas ideias. É devido a ela que não há armas algumas em toda este planeta presidiário, estando a atriz contra o uso e promoção delas.
Podem revirar os olhos, mas essa singular decisão forçou o filme a ser mais criativo na encenação da luta entre humanos e xenomorphs. Ainda para mais, ajuda a diferenciar a “Desforra” do seu antecessor, onde a militarização do franchise chegou ao seu apogeu. Weaver também lutou pelo sacrifício final de Ripley, entendendo esta sequela como o fim da história dela, uma conclusão quase espiritual. De facto, a religiosidade subjacente a muitas das imagens dá a Ellen Ripley uma aparência quase messiânica. Ou, pelo menos, a qualidade de mártir, com seus cabelos rapados e poses em forma de cruz a torto e a direito.
Versão dos Cinemas vs. Assembly Cut.
É claro que não se pode discutir os méritos e deméritos de “Alien 3 – A Desforra” sem comparar as duas versões do filme que existem no mercado. Como aconteceu com os outros três títulos na ‘quadrilogia’ “Alien,” a Twentieth Century Fox requisitou uma montagem estendida da fita. Ridley Scott e James Cameron – sempre prontos a assinar os seus ‘Director’s Cuts’ – tiveram todo o gosto em fazê-lo, mas David Fincher recusou a oferta. Em 2003, ele já tinha conquistado o respeito da indústria e queria esquecer o pressuposto fracasso da primeira longa-metragem. Coube então à equipa de montagem e ao produtor Charles de Lauzirika fazerem o chamado ‘Assembly Cut.’
Com mais de 30 minutos adicionais e muito material alternativo, essa edição da fita resolve muitos dos maiores problemas rítmicos do original e torna as sequências de ação mais espacialmente entendíveis. A narrativa faz mais sentido e várias personagens são aprofundadas. Charles S. Dutton, em particular, acaba por desempenhar um dos grandes papéis do franchise, um líder religioso com um passado violento e consciência pesada. A sua prestação supera a própria Weaver neste filme, mas só alcança o máximo do seu potencial no ‘Assembly Cut.’ Se “Alien 3 – A Desforra” está relativamente alto neste ranking, é devido à sua versão alternativa e é essa que devem ver e priorizar.
Depois destes ares monásticos, é tempo de explorar o filme mais teológico da saga “Alien,” uma prequela na qual Ridley Scott deu asas à imaginação. Não percas!