Os 10 filmes de super-heróis mais desapontantes desta década (Até agora)
Num universo paralelo, existe uma versão desta década onde os filmes de super-heróis não se transformaram numa marcha interminável de desastres cinematográficos. Infelizmente, não é nesse universo que vivemos.
Se alguém tivesse profetizado em 2019 que estaríamos prestes a testemunhar a maior sequência de desastres cinematográficos desde “Plan 9 from Outer Space“, teríamos rido. Afinal, acabávamos de sair de “Joker” (2019), “Spider-man: Into the Spiderverse” (2018), “Logan” (2017), “Capitão America: Guerra Civil” (2016), pináculos do género que não paravam de impressionar ano após ano.
Era uma altura em que os filmes de super-heróis eram a galinha dos ovos de ouro de Hollywood. Hoje, são mais parecidos com um pavão deslumbrado com as próprias penas, a tropeçar repetidamente nos próprios pés enquanto tenta impressionar um público cada vez mais desinteressado. Como chegámos aqui? Vamos analisar os 10 piores exemplos desta queda livre rumo ao abismo da mediocridade.
Os 10 filmes de super-herois mais desapontantes deste década
10. Venom: The Last Dance
Parece que nem Tom Hardy consegue salvar tudo. “Venom: Last Dance” (Prime Video) é o equivalente de tentar dançar depois de beber demasiado – os movimentos estão lá, mas nada faz sentido e no final todos se sentem envergonhados. O verdadeiro crime aqui é o que fizeram ao Venom. O nosso “protetor letal” aparentemente esqueceu-se da parte do “protetor”, permitindo alegremente que um avião cheio de pessoas caia como se fosse apenas mais um dia no escritório. A relação entre Eddie e Venom, antes uma dança complexa entre hospedeiro e simbionte, transformou-se numa confusão inconsistente. Eddie quer separar-se sem qualquer razão aparente, como um namorado que inventa desculpas para terminar uma relação perfeitamente funcional.
O ritmo deste filme de super-heróis é como uma pessoa a aprender a conduzir com travões e acelerador – ora arranca, ora pára, sem qualquer fluidez. Venom, antes um predador apex capaz de derrotar exércitos, agora parece ter dificuldade em abrir um frasco de pickles. E o final? Bem, é como chegar ao fim de um livro e descobrir que as últimas dez páginas foram substituídas por receitas de bolacha de maria; não faz sentido nenhum. Para adicionar insulto, o filme ainda tenta reescrever cenas de “No Way Home“, num exercício de retcon tão desnecessário como pôr ketchup num gelado de baunilha.
9. Kraven The Hunter
Imagina uma adaptação do Kraven onde o lendário caçador de super-heróis da Marvel é transformado num defensor da natureza, mas não de uma forma intrigante ou relevante, e sim com o entusiasmo de um documentário barato sobre reciclagem. “Kraven the Hunter” não é apenas uma perda de potencial; é um estudo sobre como não fazer um filme. Se a estrutura narrativa fosse uma arma, este filme estaria a disparar em todas as direções e a acertar apenas em alvos imaginários. “Kraven the Hunter” parece uma coleção de cenas desconexas, remendadas por uma edição apressada que faz as sequências de ação parecerem mais aleatórias do que emocionantes. Não há uma história clara com começo, meio e fim – apenas uma sucessão de eventos que deixam o espectador a perguntar: “Porquê?”
Aaron Taylor-Johnson pode ser um ator talentoso, mas está completamente deslocado como Kraven. Ele passa o filme inteiro com a expressão de alguém que se perdeu no guião e desistiu de tentar encontrar o sentido. Já Russell Crowe, um nome de peso, é reduzido a um papel quase decorativo, uma presença que não acrescenta nada e que podia muito bem ter sido cortada sem impacto no resultado final. Mais uma tentativa desesperada da Sony de criar um mini-universo cinematográfico. “Kraven the Hunter” não muda nada. Nenhuma personagem cresce, nenhum arco narrativo se completa, e o público sai do cinema com a sensação de que o filme não disse ou fez absolutamente nada.
8. Joker: Folie à Deux
Na vasta galeria de desastres cinematográficos que têm assolado o género dos super-heróis nesta década, “Joker: Folie à Deux” (Prime Video) destaca-se como um caso particularmente fascinante de autossabotagem. Como é que um filme consegue trair não apenas o seu antecessor, mas também a própria natureza do seu protagonista? Lady Gaga e Joaquin Phoenix dançam e cantam numa Gotham que mais parece um episódio febril de “Glee“. É como se alguém tivesse misturado “La La Land” com “O Silêncio dos Inocentes” e esquecido de adicionar a parte que faz sentido.
Recordam-se daquele momento arrepiante no final do primeiro filme, onde testemunhámos o nascimento do Joker? Aquele momento de clareza sombria e autorrealização? Bem, podem esquecê-lo. O segundo filme apresenta-nos um Arthur diminuído, quase irreconhecível e despido da sua terrível autenticidade. A incoerência narrativa atinge níveis quase cómicos quando o filme sugere que o “Joker” é uma entidade separada de Arthur – uma “sombra” que o possui. Esta decisão criativa não só contradiz tudo o que o primeiro filme estabeleceu (onde o Joker era a expressão mais pura e honesta de Arthur), como também insulta a inteligência do espectador. É como se Shakespeare decidisse que Hamlet tinha um amigo imaginário que o incentivava a vingar o pai.
A confusão temática é palpável. O primeiro filme era uma exploração brutal e honesta de saúde mental, desigualdade social e o colapso da sociedade. Este segundo capítulo parece mais preocupado em criar momentos “instagramáveis” do que em dizer algo significativo. O mais frustrante é a forma como o filme tenta re-contextualizar eventos do primeiro filme, como se estivesse envergonhado do seu próprio legado.
7. Ant-Man and the Wasp: Quantumania
Paul Rudd merecia melhor. O público merecia melhor. Até as formigas mereciam melhor. Este filme de super-heróis consegue a proeza de fazer o Reino Quântico parecer simultaneamente grandioso e completamente vazio de significado. A premissa do filme é, em papel, intrigante: o Reino Quântico, um universo inteiro à espera de ser explorado. Na prática, é um amontoado de inconsistências e atalhos narrativos. Scott Lang, o adorável pateta altruísta dos filmes anteriores, transforma-se aqui numa caricatura de si mesmo. O homem que outrora arriscou tudo pela filha agora apresenta uma faceta narcisista e superficial.
Se há uma constante em “Quantumania” (Disney+), é a habilidade de arruinar qualquer momento emocional ou dramático com uma piada mal colocada. Os diálogos alternam entre o redundante e o absurdo, com falas tão memoráveis quanto um anuncio de medicação para a prisão de ventre. As tentativas de humor atingem um novo nível de constrangimento com MODOK, que, em vez de ser o génio maquiavélico da banda desenhada, é reduzido a um alívio cômico que só alivia o espectador da vontade de continuar a viver.
Jonathan Majors é, sem dúvida, um talento incrível, mas nem mesmo a sua presença consegue salvar Kang de ser um vilão genérico e subaproveitado. A sua motivação é vaga, a sua ameaça carece de peso, e o confronto final é tão anti climático que parece ter sido escrito no intervalo para almoço antes de começarem as filmagens. Como o principal antagonista de uma saga inteira do MCU, Kang merecia mais — muito mais.
6. Morbius
Ah, “Morbius” (Prime Video). O filme que se tornou uma piada antes mesmo de estrear e depois provou que as piadas estavam certas. Jared Leto transformou um vampiro científico numa ode ao overacting. A história segue a fórmula mais genérica possível para um filme de origem. Em vez de explorar profundamente temas como a dualidade moral ou a tragédia do vampirismo, o filme prefere correr de uma cena para outra como se estivesse a tentar apanhar o último comboio no Rossio. Momentos cruciais, como a amizade de infância entre Morbius e Milo ou a invenção do sangue artificial, são tratados como notas de rodapé, mencionados de passagem em diálogos expositivos dignos de uma novela portuguesa.
A relação entre Morbius e Milo, supostamente o coração emocional da história, não é bem desenvolvida. As duas personagens interagem como se estivessem a ler diretamente de um guião — e provavelmente estavam. A luta final entre Morbius e Milo é tão genérica que se pode facilmente confundir com uma sequência descartada de qualquer outro filme medíocre de ação. O CGI, por sua vez, flutua entre “passável para 2010” e “feito às pressas numa tarde de sexta-feira”. E, claro, há o legado cultural do filme, imortalizado por memes como “It’s Morbin’ Time”. Embora seja difícil dizer se alguém realmente gosta de “Morbius”, o filme conseguiu alcançar a imortalidade na forma de um fenómeno de interesse irónico. Infelizmente, transformar-se numa piada não é o mesmo que ser bom.
5. Thor: Love and Thunder
Taika Waititi provou que é possível ter demasiado de algo bom. Depois de uma boa entrada com “Ragnarok“, “Love and Thunder” (Disney+) é como aquele amigo que conta a mesma piada vezes sem conta, cada vez mais alto, na esperança que eventualmente alguém se ria. O que aconteceu ao Thor que conhecíamos? O guerreiro super-herói que carregava o peso de Asgard nos ombros, que lutou com a própria identidade e responsabilidade, foi reduzido a um eterno adolescente que não consegue ter uma conversa séria sem fazer uma piada digna de um espetáculo de comédia de segunda categoria. É como se todo o desenvolvimento da personagem ao longo de uma década tivesse sido apagado com um estalar de dedos – e nem precisámos do Thanos para isso.
Mas o verdadeiro crime aqui é o que fizeram com Gorr, o Carniceiro dos Deuses. Christian Bale, um ator do calibre, entrega uma performance extraordinária com material medíocre. A transformação de Gorr de devoto fervoroso a assassino de deuses acontece mais rápido que uma mudança de roupa do Super Homem. Um encontro de cinco minutos com um deus arrogante e pronto – temos um vilão.
E as cabras. Ah, as cabras. Alguém em algum momento achou que ter cabras gigantes a gritar seria o auge da comédia. Não é. É apenas mais um exemplo de como este filme confunde barulho com humor. Há rumores de que existe um corte de quatro horas do filme. Considerando o que vimos, eu preferia passar essas duas horas extra a lavar os cantos dos azulejos da casa de banho da minha avó com uma escova de dentes. Porque, honestamente, pelo menos isso tem um propósito. E se calhar, quem sabe, há mais profundidade no bolor acumulado do que no guião de “Love and Thunder”.
4. Madame Web
Dakota Johnson parece tão confusa com o enredo como o público, e com razão. Este é um filme que consegue a proeza de fazer viagens no tempo parecerem aborrecidas. A única visão do futuro que realmente interessa é imaginar um onde este filme nunca foi feito. O maior poder de “Madame Web” (Prime Video) parece ser a capacidade de fazer duas horas parecerem quatro.
Há filmes que, mesmo falhando, conseguem encontrar alguma redenção em pequenos detalhes. Madame Web não é um deles. A premissa de Madame Web prometia visões intrigantes e reviravoltas emocionantes, mas o que recebemos foi uma repetição exaustiva das mesmas cenas. Imagina assistir a protagonista prever o futuro… apenas para que tudo aconteça exatamente como esperado, sem qualquer tensão ou surpresa. Não bastasse a previsibilidade, o guião ainda entrega diálogos que oscilam entre o artificial e o constrangedor. Algumas falas são tão mal construídas que parecem escritas por um algoritmo de inteligência artificial ainda em fase beta. E, sejamos francos, os atores não ajudam. Dakota Johnson, normalmente uma intérprete razoável, parece dividida entre apatia e autoironia, a gozar das falas em entrevistas com uma expressão que grita: “Não fui eu que escrevi isto.”
O marketing insistiu que as “Spider-Women” seriam um grande destaque, mas na realidade elas têm menos relevância do que figurantes. Não há desenvolvimento de poderes, fatos ou personalidades, e o filme parece mais preocupado em esconder os seus pontos fracos do que em explorar o potencial das personagens. A realizadora admitiu evitar explorar as histórias das outras personagens porque seria “muito ganancioso”. O resultado? Uma narrativa rasa, onde até os momentos involuntariamente cômicos não conseguem mascarar a mediocridade.
3. Wonder Woman 1984
Como é que se pega numa das melhores heroínas da DC e se transforma a sua história num episódio febril de telenovela dos anos 80? “Wonder Woman 1984” (Max) tem a resposta. Num ano já marcado por catástrofes, a DC decidiu contribuir com mais uma: uma sequela que não só ignora a lógica básica da narrativa, mas também parece determinada a destruir tudo o que tornou o primeiro filme especial.
Vamos falar da Pedra dos Desejos, as suas regras são tão consistentes como as promessas de um político em campanha: às vezes é preciso tocar nela, outras vezes basta olhar para ela, e em alguns momentos, aparentemente, basta ouvir o Max Lord falar sobre ela através da televisão. Mas o verdadeiro prodígio é a forma como a pedra traz Steve Trevor de volta. Em vez de simplesmente ressuscitá-lo, decide possuir o corpo de um pobre homem aleatório, sem nenhuma razão narrativa aparente. É um momento que levanta tantas questões éticas que até o Joker ficaria desconfortável. Diana, a nossa heroína supostamente compassiva, não parece muito preocupada com o facto de estar essencialmente a roubar a vida de um inocente para satisfazer os seus desejos românticos e… mais que românticos.
E não nos esqueçamos do momento em que Diana revela casualmente que pode tornar coisas invisíveis. Sim, assim, do nada, como se fosse uma habilidade tão comum quanto atar os sapatos. É o equivalente cinematográfico de um estudante a inventar uma desculpa de última hora para não entregar o trabalho de casa. Diana Prince merece melhor. Os fãs merecem melhor. Até a Pedra dos Desejos merecia uma história mais sólida. O verdadeiro super-herói aqui não é a Mulher-Maravilha, mas qualquer espectador que conseguiu chegar ao fim sem desejar que a própria pedra lhes apagasse a memória do filme.
2. Doctor Strange in the Multiverse of Madness
Um filme de super-heróis que promete loucura multiversal mas entrega apenas confusão narrativa. Quando “Multiverse of Madness” (Disney+) foi anunciado, a promessa era simples: Sam Raimi, horror cósmico e as infinitas possibilidades do multiverso. O que recebemos foi um filme que consegue a proeza notável de fazer com que infinitas realidades pareçam aborrecidas.
Imaginem passar seis horas a ver “WandaVision“, a acompanhar um programa que tenta ter um desenvolvimento com nuance de uma personagem a lidar com trauma e perda, para depois ver todo esse desenvolvimento ser atirado pela janela mais próxima como se fosse um guardanapo usado. A transformação de Wanda em vilã é tão subtil quanto um elefante numa loja de porcelana – vestido de palhaço. Benedict Cumberbatch, um ator de enorme talento, passa o filme a fazer duas expressões: confuso e ainda mais confuso. O seu Doutor Estranho, anteriormente estabelecido como um mestre da estratégia, passa o tempo a tomar decisões tão questionáveis que fariam a Ancient One revirar-se no túmulo multidimensional.
Para um filme sobre infinitas realidades, é impressionante como consegue ser tão limitado na sua imaginação. Um universo onde os semáforos têm as cores trocadas? Uau. Verdadeiramente, o multiverso da loucura.
1. The Flash
O ápice, o zénite, a obra-prima do desastre cinematográfico dos filmes de super-heróis. “The Flash” (Prime Video) é um filme tão mau que faz os outros nesta lista parecerem obras-primas de Kubrick em comparação. Ezra Miller corre através do tempo e do espaço apenas para provar que algumas linhas temporais deviam permanecer intocadas.
Barry Allen, o homem mais rápido do mundo, nunca pareceu tão lento. O filme apresenta-nos um protagonista que parece ter esquecido como usar os próprios poderes. Num momento, ele é capaz de mover-se tão rapidamente que o tempo pára; no seguinte, não consegue evitar tropeçar nos próprios pés numa cena de comédia física digna dos três estarolas. Michael Keaton regressa como Batman, um momento que devia ser histórico mas acaba por ser histórico pelas razões erradas. A Supergirl é introduzida e desperdiçada com uma eficiência impressionante, como se o filme estivesse a tentar estabelecer um recorde mundial de “Como Desperdiçar Personagens Icónicos em Tempo Recorde”.
Mas o verdadeiro crime deste filme – aquele que o coloca firmemente no topo da nossa lista de desastres – é o seu tratamento desrespeitoso do legado da DC. O uso de CGI para ressuscitar atores falecidos não é apenas um erro técnico (embora os efeitos visuais pareçam ter sido feitos num Commodore 64), é um erro moral. É uma decisão que transforma momentos que deveriam ser emocionantes em exercícios de desconforto visual e ético.
Conclusão
E assim chegamos ao fim da nossa viagem pelos escombros daquilo que já foi o género mais lucrativo de Hollywood. Qual destes filmes vos fez questionar mais profundamente as vossas escolhas de vida? Foi o momento em que a Mulher-Maravilha literalmente desejou o seu namorado de volta à vida no corpo de outro homem, ou quando o Flash destruiu não só o multiverso mas também a nossa fé no cinema?
Partilhem nos comentários o momento exato em que perceberam que o género tinha atingido o fundo do poço – e começado a escavar.