O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder © Amazon Prime Video

O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder, em análise

A Terra Média voltou a ser cenário de uma grande produção, desta vez pela Amazon Prime Video, com “O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder”. Com um orçamento multimilionário e um imaginário enraizado, as exigências eram muitas. Mas será que as expectativas foram alcançadas?

Depois de duas décadas da trilogia de “O Senhor dos Anéis”, e uma década depois da trilogia do “Hobbit”, ambas realizadas por Peter Jackson, o universo de J.R.R. Tolkien regressou uma vez mais. Criada por J.D. Payne e Patrick McKay, “O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder” acompanha os momentos fucrais da Segunda Era, desde do reaparecimento do Mal, com a ascensão de Sauron, até a criação dos anéis do poder. No entanto, assim que o primeiro episódio ficou disponível, o público ficou dividido desde cedo. Mas antes de prosseguirmos para a análise da série, devemos ter dois pontos críticos em consideração, antes de julgar a partir de ideias pré-concebidas.

A primeira trilogia de Peter Jackson foi um marco na história do cinema, com dezenas de prémios, incluíndo um empate entre “Titanic” (1997) e “Ben-hur” (1959), nos filmes com o maior número de Óscares numa edição. Além disso, também foram um sucesso de bilheteira, sendo que foi dos primeiros filmes da história a ultrapassar os mil milhões de dólares de bilheteira. Mas para ser o sucesso que foi, o mundo criado foi executado de forma exímia, com cenários deslumbrantes, e com as performances dos atores que ficariam imortalizados naquelas personagens. Neste dois pontos, o nosso julgamento pode ficar condicionado. São duas décadas de um imaginário enraizado, de personagens que só conseguimos imaginar em certos atores, como é o caso de Cate Blanchett como Galadriel ou Hugo Weaving como Elrond. Apesar dos atores serem diferentes, a história provêm do mesmo universo, e a performance de Morfydd Clark e Robert Aramayo consegue ser igualmente incrível. Igualmente, a figuração e caracterização entre os filmes e a série é fortemente comparada. Num intervalo de duas décadas é natural as escolhas artísticas serem diferentes, assim como não devemos esperar pela obrigatoriedade da série inspirar-se fortemente nos filmes.

O outro ponto que poderá gerar julgamentos sem justa interpretação deve-se ao facto da própria produtora da série, a Amazon Prime Video. Em todo o mundo, e quem acompanha os noticiários com frequência sabe do lado negro da Amazon. Contudo, é necessário desvincular a série da sua produtora. Como os criadores da série afirmaram na conferência de imprensa internacional, eles tratam da série e da sua componente artística, enquanto que a Amazon trata da área comercial.

Voltando ao produto artístico, “O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder” transportou-nos de novo para a Terra Média, para uma era que ainda não tinha sido explorada, com novas personagens e locais. Desde do primeiro momento, para quem tiver mais atento, irá aperceber-se dos significados e pistas ocultas. Por exemplo, na introdução dos episódios, os padrões feitos com, ao que parece, areia, não são meramente aleatórios, cada um tem um significado sobre a longa história de Arda. Podemos ter uma ideia dos tempos das Árvores de Valinor, assim como a chegada de Morgoth, momentos da Primeira Era ou anterior. Mas não é só na introdução que temos estas pistas. Em alguns diálogos entre as personagens, podemos descobrir mais sobre o passado, como é o caso da história de Elrond.

Assim sendo, no que diz respeito às personagens, encontramos um trabalho bem executado por parte dos criadores e  argumentistas, com personagens complexas e evolutivas, em que apenas numa temporada são notáveis as diferenças entre o primeiro e último episódio. Aos poucos fomos-nos familiarizando com as mesmas. Galadriel (Morfydd Clark) surge em grande destaque ao longo da temporada, e a performance da atriz é uma das melhores da série. Um dos pontos onde isso é claro na raiva contida devido ao passado da jovem elfa, com a morte do irmão e por tudo que perdeu pelas mãos de Morgoth. Aqui, em cada olhar, e até mesmo em cada gesto da atriz, conseguimos subentender as suas emoções. Do lado oposto, temos Elrond (Robert Aramayo), calmo e sereno, mas sempre atento ao que o rodeia. Igualmente, a sua performance é excepcional, sobretudo quando está na presença de Principe Dúrin (Owain Arthur). A relação entre ambos é uma pequena amostra do longo conflito entre elfos e anões, que no entanto, depois das primeiras impressões hostis, travam uma amizade única (podemos ver uma amizade semelhante entre Legolas e Gimli nos filmes). A química entre ambos é quase natural, mas é superada pela dupla de Harfoots, Nori Brandyfoot (Markella Kavenagh) e Poppy Proudfellow (Megan Richards). Aqui, as atrizes executam o seu trabalho na perfeição, no entanto, o foco dado pelos argumentistas devia ter sido outro. Ou seja, Nori é claramente a protagonista das duas, mas a personagem de Megan Richards pode e têm muito mais para oferecer.

Existe outra dupla que poderá igualar a dinâmica das duas anteriormente mencionadas, com Arondir (Ismael Cruz Cordova) e Bronwyn (Nazanin Boniadi). Seria de esperar uma relação proibida entre um elfo e uma humana, mas poderia ser melhor. A maneira como os atores relacionam-se chega a ser, em certos momentos, constrangedor. No entanto, com o passar dos episódios, a dinâmica tornou-se mais natural. Resta esperar pela próxima temporada para perceber como vai evoluir a relação de ambos.

Se o trabalho dos criadores e argumentistas em relação às personagens é notável, a forma como ocultaram a verdadeira identidade de algumas é excepcional. Em primeiro lugar, temos Ada, que inicialmente apontávamos como Sauron. Desde a caracterização da personagem, até a performance do ator, tudo encaixa na perfeição. Vemos um ser corrompido, que outrora poderia ter sido belo, da mesma forma que como Morgoth raptou alguns elfos e desformou-os, quebrando-os ao seu poder. Também na linha do Mal, temos o inevitável Halbrand, que ao que tudo indica, é o verdadeiro Sauron. Mais do que a performance do ator, é a forma como os criadores esconderam-nos, debaixo dos nossos narizes, as suas verdadeiras identidades. Só no final da temporada, através da conversa com Celebrimbor, e depois no confronto com Galadriel, é que descobrimos que o Homem que seria o Rei das Terras do Sul, não era quem dizia ser. No mesmo sentido está o Estranho, um dos maiores pontos de discussão de toda a série. Para uma série tornar-se interessante, e viver depois da cada episódio, é preciso criar temas de discussão, e na verdadeira identidade do Estranho encontramos isso. Com várias passagens entre o Bem e o Mal, ficamos sempre na corda bamba sobre de que lado estaria, mas no final as nossas suspeitas foram (quase) respondidas. Não existe garantia, mas parece indicar que o Estranho é o feiticeiro mais acarinhado dos Hobbits.

Se as restantes personagens não foram mencionadas, é porque ainda têm muito para dar (ou não). Ou seja, num dos pontos que poderá ser um dos mais fracos da série, é a falta de foco em certas personagens, como é o caso de Gil-Galad (Benjamin Walker), Elendil (Lloyd Owen), Isildur (Maxim Baldry), Al-Pharazôn (Trystan Gravelle), entre outros. Qualquer uma destas personagens merecia mais destaque, mas dado ao tempo de cada episódio, é compreensível, que na primeira temporada, estas personagens não mostraram todo o seu potencial. Esperemos que nas próximas temporadas possam dar a volta este ponto.

Para falar nas personagens, também devemos mencionar a sua caracterização. No geral, o trabalho foi bem executado, sobretudo nos Harfoots, mas há espaço para melhorar. Tantos os elfos como os homens, têm indumentárias demasiado simples para os seus povos. Por exemplo, no caso de Celebrimbor, um dos elfos mais importantes da Segunda Era, é completamente posto de lado, assim como a sua caracterização. Não basta um manto e um colar, é preciso muito mais para mostrar a sua importância.

Intrinsecamente ligado às personagens está a história da série, e a narrativa de cada episódio. Para quem leu os livros de J.R.R. Tolkien, já estava inteirado do que iria passar-se, ou pelo menos teria uma ideia concreta. Contudo, quem apenas conhece a história pelos filmes, iria entrar num mundo diferente do que estava habituado. E coube aos criadores e restante equipa tornar a narrativa de fácil compreensão, mas sem a tornar aborrecida. Nos primeiros episódios. existem poucos momentos de ação, o que é natural. Para a re-introdução deste mundo, são precisos os diálogos para entrarmos na história. Com evoluir dos episódios, os momentos de ação começaram a surgir com mais frequência, assim como momentos de suspense, clímax e alguns plot-twists. Ou seja, apenas na primeira temporada, tivemos de tudo do que seria de esperar.

E sobre o que podíamos esperar, a banda sonora ficou bastante aquém das expectativas. Um mundo épico como este, pedia uma banda sonora épica a condizer, e isso não aconteceu. Muito por culpa de Howard Shore, que compôs um banda sonora excepcional para os filmes, enquanto que Bear McCready ficou muito abaixo das expectativas. Apesar de chegar com uma reputação sólida, com trabalhos em “God of War” (2018) e “Godzilla II” (2019), esperávamos mais do compositor. Nos oitos episódios que compõem a primeira temporada de “O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder”, em quase nenhum sentimos o impacto da banda sonora. Os temas foram disponibilizados de antemão, e rapidamente percebemos que eram apenas razoáveis. Mas dentro da série foram abafados, também talvez por culpa das decisões de montagem e edição. Também sobre edição, seria de esperar mais do CGI, numa série com este orçamento. No geral cumpre as expectativas, mas quando apareceram os Wargs nos primeiros episódios, vimos as suas falhas.

No final de contas, Patrick McKay e J.D. Payne criaram uma série importante para o imaginário da Terra Média, num espaço temporal da história que ainda não tinha sido abordada. Apesar das críticas desenfreadas por parte de milhares de espectadores, os números falam por si, e a qualidade da produção é inquestionável.

TRAILER | ENTRA NO NOVO MUNDO DE O SENHOR DOS ANÉIS: OS ANÉIS DO PODER

O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder, em análise

O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder

Depois da derrota de Morgoth, a Terra Média vivia uma nova era em (suposta) paz. Uma jovem guerreira elfa, Galadriel, nunca acreditou na paz absoluta, e procurou por todos os recantos pela presença do mal. Nas sombras, os servos do mal começaram a ganhar força.

Pros

  • Re-introdução excepcional ao universo de J.R.R. Tolkien;
  • Performances imersivas;
  • Casting exemplar;
  • Narrativa coerente;

Cons

  • Banda sonora abaixo das expectativas;
  • Relações entre personagens pouco exploradas;
  • CGI podia ser melhor;
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