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Festival de Veneza | Poor Things ganha o Leão de Ouro 2023

‘Poor Things’, do realizador grego Yorgos Lanthimos (‘A Favorita’) ganhou sem surpresa o Leão de Ouro do 80º Festival de Cinema Veneza, que se realizou de 30 de agosto a 9 de setembro. ‘Evil Does Not Exist’, de Ryusuke Hamaguchi, ‘Io Capitano’ do italiano Matteo Garrone e ‘Green Border’ da polaca Agnieszka Holland, foram  filmes justamente premiados com os galardões de maior prestígio. João Pedro Rodrigues (‘Fogo Fátuo’), foi o presidente do júri da Giornate degli Autori.

Foi como já tínhamos perspectivado, sem surpresa e das pouca vezes, que um júri, neste caso presidido pelo realizador norte-americano Damien Chazelle (‘La La Land’) — composto por Saleh Bakri, Jane Campion, Mia Hansen-Løve, Gabriele Mainetti, Martin McDonagh, Santiago Mitre, Laura Poitras e Shu Qi — esteve em perfeita sintonia com a crítica e com o público que acompanhou durante 10 dias a edição redonda da 80 edição do Festival de Cinema de Veneza, o mais antigo do mundo. Este ano um pouco afectado pela fraca presença de estrelas na passadeira vermelha do Palácio do Casino do Lido de Veneza, devido à greve dos actores e argumentistas em Hollywood. O Leão de Ouro 2023, foi para o extraordinário ‘Poor Things’, do realizador grego Yorgos Lanthimos, que regressou a este Festival, depois de ter ganho o Grande Prémio do Júri por ‘A Favorita’, em 2018 e um Prémio de Melhor Argumentos por ‘Alpes’, em 2011. Se o Leão de Ouro procurou premiar a inovação artística, o direito à diferença, a fantasia e uma luta contra os preconceitos, os outros principais prémios, tiveram claramente em conta outros valores e abordagens ao momento histórico que vivemos. O comprometimento social, político e ético, marcam os três excelentes filmes que ganharam os prémios mais prestigiados, a seguir ao Leão de Ouro: ‘Evil Does Not Exist’, de Ryusuke Hamaguchi (Ecologia), ‘Io Capitano’ e ‘Green Border’ (a crise dos refugiados).

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VÊ TRAILER DE ‘POOR THINGS’

Foi parece com grande orgulho, que o realizador grego Yorghos Lanthimos recebeu o Leão de Ouro de Veneza 80, das mãos de Roberto Cicutto, o presidente da Bienal de Veneza, o Leão de Ouro de Veneza 80, por ‘Poor Things’.  Neste filme deslumbrante, o realizador volta a trabalhar com Ema Stone (‘A Favorita’), mas desta vez numa fantasia científica e surrealista, que curiosamente passa e descobre uma Lisboa feita de papel, o prazer dos pastéis de nata e que se encanta com um fado da Carminho. Lanthimos, começou por explicar quando recebeu o prémio, como levou vários anos para prepara este filme, que é na verdade uma co-produção EUA, Reino Unido e Irlanda — o cinema é cada vez uma indústria mundial — e que só arrancou depois da pandemia: ‘Tivemos que a indústria estivesse pronta novamente.’ O filme ’Poor Things’, inspirou-se num ‘romance fabuloso’, do escritor escocês Alasdair Gray e sua equipa de rodagem, foi formada essencialmente por mulheres e apenas um homem. ‘A criatura maravilhosa protagonista do filme, não existiria sem Emma Stone, que é outra criatura maravilhosa. Este filme é dela, tanto na frente quanto atrás das câmeras’, disse o realizador valorizando o trabalho da sua actriz, que esteve sempre em destaque, também como uma das mais fortes candidatas, ao Prémio de Melhor Interpretação Feminina. Porém, a Taça Volpi de Melhor Intérprete Feminina foi para Cailee Spaeny (‘As Novas Feiticeiras’), de 25 anos, actriz que interpretou Priscilla Presley, na bela história de amadurecimento de uma jovem rapariga, num contexto bastante inusitado, de ‘Priscilla’, de Sofia Coppola. 




VÊ TRALER DE ‘PRISCILLA’

O Leão de Prata – Grande Prémio do Júri foi para o filme ‘Evil Does Not Exist’, uma poderosa mensagem ecológica e filosófica do realizador japonês Ryusuke Hamaguchi (‘Drive My Car’), que disse que nunca imaginou ‘receber este prémio quando começamos a fazer este filme’, bastante simples e tocante, que confronta o homem com a natureza e revela como como sob o pretexto do desenvolvimento urbano se torna especulação imobiliária. A realizadora neozelandesa Jane Campion entregou o Leão de Prata de Melhor Realizador, ao italiano Matteo Garrone (‘Pinóquio’) por ‘Io Capitano’, um galardão que segundo o cineasta ‘será uma grande ajuda para que o filme tenha um público mais amplo. Agarrei-me às suas histórias e às suas narrativas e filmei tentando dar a minha visão desta história, dando voz a quem não a tem.’ A terrível odisseia migrante de Dakar a Lampeduza, dos dois jovens senegaleses, é sobretudo marcada pelas extraordinárias interpretações dos dois actores não-profissionais, que conseguem proporcionar uma extraordinária humanidade, tri-dimensionalidade, espiritualidade e realismo, a um das grandes tragédias do nosso tempo: as migrações, a crise dos refugiados e o tráfico humano. O protagonista Seydou Sarr também recebeu o Prémio Marcello Mastroianni de  Melhor Actor Jovem Emergente. Garrone deu também a palavra ao próprio Kouassi Pli Adama Mamadou, que viveu esta aventura e foi a maior fonte de inspiração do filme: ‘Quero que este prémio seja dedicado a quem não conseguiu chegar. Quando há vontade e necessidade de partir, ninguém nos deveria poder impedir. Um visto de viagem para nós, africanos, seria o instrumento certo para acabar com o tráfico ilegal de seres humanos.’ De uma forma também muito oportuna, Matteo Garrone expressou ainda a sua solidariedade com Marrocos, atingido por estes dias pelo terremoto, país onde parte do filme foi rodado.

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VÊ TRAILER DE ‘IO CAPITANO’

Os refugiados do Médio Oriente e de África apanhados numa crise geopolítica são também o foco da veterana cineasta polaca Agnieszka Holland (‘Mr. Jones-A Verdade da Mentira’), em ‘Green Border’, que recebeu o Prémio Especial do Júri e a realizadora fez questão de se manifestar: ‘Não foi fácil rodar este filme pelas razões que se podem imaginar. Foi uma grande luta, mas tivemos que fazê-lo. É um dever. Desde 2014, quando eclodiu a crise dos refugiados, cerca de 560 mil pessoas morreram tentando chegar à Europa.’ Por isso, a realizadora dedicou este prémio aos ativistas e associações locais que têm ajudado refugiados, da Polónia a Lampedusa.




VÊ TRAILER DE ‘EL CONDE’

O Prémio de Melhor Argumento, foi para o alucinado filme de terror, com Pinochet transformado em vampiro, intitulado  ‘El Conde’, do realizador chileno de Pablo Larraín (Jackie), que concluiu no seu agradecimento com um ‘Não à impunidade’, obviamente referindo-se ao seu Chile e à sua então ditadura. Para terminar o prémios da Competição de Veneza 80, a Copa Volpi de Melhor Intérprete Masculino foi para Peter Sarsgaard (‘The Batman’), pelo seu trabalho  ao lado de Jessica Chastain, no comovente drama sobre o amor e o medo de perder a cabeça, intitulado ‘Memory’, do realizador mexicano Michel Franco (‘Crepúsculo’). O cinema português não esteve representado em termos de filmes nesta Veneza 80, mas o realizador João Pedro Rodrigues (‘Fogo Fátuo’), foi o presidente do júri da Giornate degli Autori,— uma das secções paralelas mais importantes do Festival — num elenco composto por jovens cinéfilos europeus do programa 27 Times Cinema, que escolheram o vencedor: uma comédia de terror, intitulada ‘Vampire humaniste cherche suicidaire consentant’, uma primeira longa-metragem da realizadora canadiana Ariane Louis-Seize.

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PRÉMIOS DE VENEZA 80 (COMPETIÇÃO)

Leão de Ouro – Poor Things, de Yorgos Lanthimos

Leão de Prata, Grande Prémio do Júri – Evil Does not Exist, de Ryusuke Hamaguchi

Prémio Especial do Júri Green Border, de Agnieska Holland

Leão de Prata, Melhor Realizador – Matteo Garrone, Io Capitano

Taça Volpi, Melhor Actor – Peter Sarsgaard, por Memory, de Michel Franco

Taça Volpi, Melhor Actriz – Calee Spaeney, por Priscilla, de Sofia Coppola

Osella de Ouro, Melhor Argumento – Pablo Larraín e Guillermo Calderón por El Conde, de Pablo Larraín

Prémio Marcelo Mastroianni para um actor ou actriz emergente – Seydou Sarr, por Io Capitano, de Matteo Garrone

JVM, em Veneza

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