Will Ferrell e Rachel McAdams no filme "Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga" © Netflix

Óscares 2021 | Ouve as nomeadas ao Óscar de Melhor Canção Original

Na MHD queremos que oiças as músicas nomeadas ao Óscar de Melhor Canção Original 2021 e conheças a nossa previsão na categoria. 

Já começaste a fazer as tuas previsões para os Óscares 2021? Algumas categorias têm vencedores praticamente assegurados, mas este ano não é isso que acontece em relação ao Óscar de Melhor Canção Original 2021.

Temos nomes de peso na corrida, nomeadamente Diane Warren que concorre ao seu 12º Óscar (é a mulher mais nomeada de sempre aos prémios da Academia sem uma única vitória), mas na verdade são quase todos principiantes nestas andanças e não existe nenhum candidato favorito, como em edições de outros anos. Ainda bem que é assim, pois estas incertezas na temporada de prémios tornam os Óscares mais interessantes e autenticam a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

Sophia Loren
Sophia Loren e Edoardo Ponti na rodagem de “Uma Vida à Sua Frente” © Netflix

Abaixo relembramos-te os nomes de todos os artistas, compositores e letristas, ao Óscar de Melhor Canção Original na 93ª edição dos prémios da Academia:

Desta lista, como referimos é mesmo a canção de Diane Warren “Io Sì (Seen)” que tem vindo a ganhar maior destaque, por ter vencido o Globo de Ouro de Melhor Canção Original, na passada edição dos prémios da HFPA a 28 de fevereiro. Interpretado com alma e coração por Laura Pausini, icónica deusa do universo musical italiano com renome nos Estados Unidos e na América Latina e vencedora do Grammy Award, apresenta-nos em “Io Sì (Seen)” um hino à amizade e à entrega ao outro.

Apesar de não ouvirmos muito a sua voz nas rádios portuguesas, Laura Pausini enquadra-se na linha dos últimos honrados com o Óscar de Melhor Canção Original, todos celebridades internacionais. Nos Óscares 2020, Elton John e Bernie Taupin receberam merecidamente o galardão por “(I’m Gonna) Love Me Again” pelo filme “Rocketman“. Quanto aos Óscares 2019, Lady Gaga subiu ao palco para receber o galardão por “Shallow”, composta juntamente com Andrew Wyatt, Anthony Rossomando, Mark Ronson para o filme “Assim Nasce Uma Estrela“.

Além disso, “Io Sì (Seen)” pertence à longa-metragem responsável por trazermos Sophia Loren de regresso ao ecrã. Recordemos que a atriz italiana tem dois Óscares, um de Melhor Atriz e um Óscar Honorário para a sua carreira. Poderá ser uma maneira justa da Academia honrar este filme de Edoardo Ponti, que apesar de pouco celebrado ao longo da temporada de prémios 2020/2021, parece-nos um marco cinematográfico de 2020, por vincar ainda mais as histórias de diversidade que a Netflix quer contar. Se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas estiver interessada em fazer justiça este ano, Diane Warren ganhará finalmente o Óscar. Esta é a música mais comovente do ano e está disponível nas plataformas digitais num EP original de Laura Pausini, cantado em italiano, inglês, espanhol, francês e português.

Não é preciso falar italiano para entender a revigorante letra de Laura Pausini que reenvia imediatamente à universalidade das questões da obra de Ponti. Por último, antes de ouvirmos a canção, não podemos deixar de fazer uma associação às batalhas da vida real de Sophia Loren e aquilo que é dito na canção. Inspirada na maior estrela intemporal do cinema italiano, “Io Sì (Seen)” falamos-nos de uma mulher que conseguiu superar as adversidades e conseguiu estar constantemente ao lado das pessoas que amava, apoiando-as nas suas batalhas quotidianas. Não são muitas as vezes em que uma música não inglesa pode vencer o Óscar.

“Io sì (Seen)”, favorita ao Óscar de Melhor Canção Original 2021

Se “Io sì (Seen)” vencer este Óscar, será o primeiro filme da Netflix a triunfar na respetiva categoria. Mas não é a única oportunidade da plataforma de streaming. Além disso, apesar de 4 das cinco nomeadas na categoria de Melhor Canção Original serem canções reproduzidas nos créditos finais dos seus filmes, apenas uma se encaixa na narrativa, sendo inerente à demanda das suas personagens. Falamos curiosamente de “Húsavík”, o ponto alto de “Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga“, a adaptação musical do maior festival de música do mundo, responsável por unir através da música países de vários cantos da Europa, Ásia e Oceania e que teve produção e distribuição da Netflix.

Protagonizada por Will Ferrell e Rachel McAdams, esta é uma comédia musical bastante tola, mas que felizmente nos apresenta uma das melhores canções na corrida ao Óscar de Melhor Canção Original em 2021, talvez das melhores da última década. “Húsavík” é uma música que serve de redenção às atitudes de Lars, personagem interpretada por Will Ferrell, perante a sua melhor amiga Sigrit (Rachel McAdams), num momento em que esta expressa o seu encanto pela cidade natal de ambos. Através da canção, Sigrit é capaz de abrir os olhos dos seus conterrâneos perante o cepticismo em torno da sua participação no palco eurovisivo, e ao mesmo tempo, ajudar Lars, mostrando o quanto os sentimentos, o amor e a aceitação são mais importantes do que um prémio ou qualquer festival.

Rachel McAdams interpreta a canção com uma convicção total, mesmo que não seja ela a cantar. A voz pertence à artista sueca Molly Sandén, ela mesma uma representante da Suécia no Junior Eurovision Song Contest em 2006 e que participou por três vezes no Melodifestivalen (o festival que decide o representante sueco à Eurovisão) em 2009, 2012, e 2016. “Húsavík” torna-se rapidamente o hino eurovisivo no cinema, representando os valores e dogmas do certame. Outras músicas galardoadas no festival como “1944” de Jamala, representante da Ucrânia em 2016; “Amar Pelos Dois” de Salvador Sobral, representante de Portugal em 2017; ou “Arcade” de Duncan Lawrence, representante dos Países Baixos em 2019; têm a mesma musicalidade de “Húsavík” e convoca-nos a sermos mais humanos. A não pensar na competição, mas no carinho que tantas vezes é esquecido.

A letra de “Húsavík” leva-nos às lágrimas, ao preenchimento do vazio nostálgico dos nossos espíritos e faz-nos sentir mais fortes. Aproxima-nos das nossas casas, a casa. Sentimo-nos praticamente islandeses, porque a letra apela não só à respetiva cidade, mas ao nosso planeta.  A homenagem a Húsavík , a povoação mais antiga da Islândia, pertencente ao distrito de Þingeyjarsýslae e conhecida pelas atividades observação de baleias na Baía de Skjálfandi é algo de arrebatador. Ouve “Húsavík” e percebe o porquê de adorarmos esta canção que é uma excelente alternativa a “Io Sì (Seen)”, maioritariamente cantada em inglês e com refrão em islandês.

“Húsavík”, o lema eurovisivo nos Óscares 2021

Para conheceres as restantes nomeadas ao Óscar de Melhor Canção Original 2021, segue com as setas.




Uma Noite em Miami
Aldis Hodge e Leslie Odom Jr. em “Uma Noite em Miami…” © Prime Video

As próximas nomeadas ao Óscar de Melhor Canção Original 2021 remetem todas à mesma temática: o racismo e a liberdade. Recordemos que o ano passado não foi só dominado por notícias relativas à pandemia COVID-19, mas também às manifestações mundiais do movimento “Black Lives Matter“. Nesse sentido, “Speak Now“, de “Uma Noite em Miami”, “Hear My Voice” de “Os 7 de Chicago” e “Fight for You” para “Judas and the Black Messiah” aproveitam-se de episódios reais do passado norte-americano para falar-nos da impactante energia de protesto do presente. São músicas sociais importantes, algo que domina regularmente nesta categoria, onde a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas gosta de aproveitar para consciencializar o público a alguma questão. Aconteceu, por exemplo, com a música “Glory”, de Common e John Legend na edição dos Óscares 2014. Vejamos então os concorrentes deste ano.

Speak Now“, escrita por Leslie Odom, Jr. e Sam Ashworth a é a mais apelativa do trio. Já vencedora do Critics Choice Award para Melhor Canção Original, quer fazermos tomar uma ação. É uma música que pede para plantarmos as sementes nas novas gerações e para eliminar o maior mal deste mundo: o ódio perante a cor do outro. Numa referência direta a Sam Cooke, a personagem real de Leslie Odom Jr. no filme de estreia de Regina King, temos uma canção sobre o facto da vida ser curta e o quanto deveremos aproveitar cada minuto para fazer a diferença, para sermos únicos e expressarmos os nossos pensamentos de bondade, comunhão e paz. A música intensifica cada palavra como se tratasse de uma oração. Vê a performance arrepiante de Leslie Odom Jr. no videoclip oficial abaixo.

“Speak Now”, Leslie Odom Jr. diz-nos que é preciso falar

Com o mesmo significado encontramos “Hear My Voice“, do filme “Os 7 de Chicago”. O ‘fogo das palavras’ que nos fala a artista britânica Celeste Epiphany Waite é uma mensagem de empoderamento e transporta-nos para o julgamento dos manifestantes contra a Guerra do Vietname, acusados ​​de conspiração e incitar um motim em 1968, durante a Convenção Nacional Democrática em Chicago, após o que deveria ser um protesto pacífico. A composição de Celeste Waite foi feita em parceria com o compositor Daniel Pemberton e assume que todos nós merecemos ser ouvidos, independentemente da nossa raça, classe social ou sexo. Ironicamente, apesar de ser uma música sobre sair à rua, foi criada no primeiro confinamento mundial de 2020, quando Daniel Pemberton convidou Celeste a juntar-se ao projeto.

Hear My Voice” serve também de mensagem esperança para o futuro. A possibilidade de libertação perante as mentes mais conservadoras, que estão a destruir o american dream. A canção poderá ser uma mais valia para “Os 7 de Chicago“, o candidato nesta categoria que tem mais chances de surpreender na categoria principal, o Óscar de Melhor Filme. Num ano tão tenso para os Estados Unidos, a Academia pode dar oportunidade ao filme de Aaron Sorkin, também distribuído pela Netflix, de brilhar e apelar às massas e talvez por isso conquiste o Óscar de Melhor Canção Original. Ouve esta canção que integra também a versão Deluxe do novo álbum de Celeste Waite, “Not Your Muse,” lançada a 29 de janeiro deste ano e que conquistou a liderança no top do Reino Unido, país de onde a artista é originária.

“Hear My Voice”, a luta contra a América injusta

Terminamos com “Fight For You“, do filme “Judas and the Black Messiah“, longa-metragem na corrida ao Óscar de Melhor Canção Original e a outros 5 categorias, incluindo Melhor Filme. A trama segue o líder do Partido dos Panteras Negras Fred Hampton (Daniel Kaluuya) e o delator do FBI William O’Neal (LaKeith Stanfield), que contribuiu para o seu assassinato. Daniel Kaluuya e LaKeith Stanfield estão os dois na corrida ao Óscar de Melhor Ator Secundário, embora sejam ambos protagonistas deste filme. Apesar do lapso não-inédito da Academia, só esse acontecimento pode ser a prova que os votantes adoraram este filme.

A vencedora de quatro Grammys, Gabriella Wilson – com nome artístico H.E.R. – dá voz a mais uma canção sobre a liberdade. Com estilo e inspirações funky-soul dos anos 70, a canção é ligeiramente mais agradável que a narrativa do filme. Temos uma música com ritmo e com boa aceleração. De facto, “Judas and the Black Messiah” é um filme de emoções fortes, no entanto passa muito tempo sobre como o FBI planeou o assassinato de Fred Hampton e, por essa razão, acaba por sucumbir aos interesses dos jogos políticos. “Fight For You” consegue fazer justiça à figura emblemática de Fred Hampton, mais até do que o filme em si, embora só a oiçamos nos créditos finais. A canção eleva e carrega os discernimentos de um homem, mas não do filme na sua totalidade.

Com isto não queremos dizer que trata-se da pior nomeada ao Óscar de Melhor Canção Original 2021, longe disso. H.E.R. é uma das jovens artistas que sabe conquistar tudo e todos com o seu talento. Graças à boa composição da música sabe aproximar os anos 70 dos eventos de 2020, relativamente ao movimento “Black Lives Matter”. Nada melhor do que uma jovem cantora de 23 anos para conseguir transmitir estas mensagens de emancipação aos espectadores de “Judas and the Black Messiah”. Alguém que tem as ferramentas certas e sabe como utilizá-las como armas.

“Fight For You”, o ativismo de H.E.R. em homenagem a Fred Hampton

Qual a tua favorita? Qual a música que merece vencer o Óscar de Melhor Canção Original na 93ª edição dos Óscares da Academia. Para nós “Io sì (Seen)”, com música e letra de Diane Warren e Laura Pausini para o filme “Uma Vida à Sua Frente” é o candidato a abater este ano. Se não vencer, “Húsavík”, parece-nos ser a sua melhor concorrente.

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