Óscares 2024 | Estará Assassinos da Lua das Flores à altura de destronar Oppenheimer?
Martin Scorsese já conquistou a crítica com “Assassinos da Lua das Flores”, mas será o suficiente para triunfar nos Óscares?
Em mais de seis décadas de carreira e responsável por inúmeros clássicos, é incompreensível que Martin Scorsese apenas tenha conquistado um único Óscar e foi por realizar “The Departed – Entre Inimigos”.
Claramente, um Óscar de “mea culpa”, mas ainda assim uma vitória mais do que justa para um dos thrillers mais cativantes dos anos 2000.
Este ano, porém, a Academia tem o poder de seguir o exemplo de Spike Lee e fazer a coisa certa ao premiar Scorsese pela sua mais recente obra-prima, “Killers of the Flower Moon”.
Há três caminhos para que tal seja possível: a categoria de Melhor Realizador; Melhor Argumento Adaptado; que Scorsese assina em conjunto com Eric Roth; e ainda, a categoria de Melhor Filme, já que o cineasta desempenha funções também como produtor.
Neste momento, o GoldDerby indica que “Oppenheimer” mantém um favoritismo em todas estas categorias, exceto em Argumento onde o filme protagonizado por Leonardo DiCaprio leva a vantagem.
Vale lembrar que nos últimos anos, todos os vencedores de Melhor Filme apresentavam-se relevantes tematicamente para o contexto cultural “Oppenheimer” encaixa nessa tendência, mas ainda soa um pouco mais tradicional que o tipo de filmes que a Academia tem abraçado. No entanto, não dá para desmerecer o poder que um filme sobre a bomba atómica pode ter numa altura em que o medo de uma guerra nuclear está muito presente.
Já “Assassinos da Lua das Flores” é um épico que traz ao de cima a esquecida história de um massacre de um povo provocado pela ganância e o sentido de direito de homens brancos a uma riqueza que não lhes pertence. É o tipo de mensagem importante e que pode ajudar o filme a provar a sua pertinência na corrida.
Olhando para a categoria de realização, a tendência tem passado por premiar uma visão artística forte, independente do reconhecimento junto da Academia que o cineasta possa ou não ter. Que o digam Chloé Zhao (“Nomadland- Sobreviver na América”) ou Daniel Kwan & Daniel Scheinert (“Tudo em Todo o Lado ao mesmo tempo”) que triunfaram nas suas primeiras nomeações graças à paixão avassaladora pelos seus filmes.
Também se tem verificado o caso de veteranos com uma carreira considerável como Guillermo Del Toro (“A Forma da Água”) ou Jane Campion (“O Poder do Cão”) a levar o ouro.
Nolan encaixa nesta ideia de consagração de um realizador, principalmente com todo o sucesso comercial do seu filme e a forma como conseguiu o apoio de nomes influentes do meio como Denis Villeneuve ou Paul Thomas Anderson, que o encaram como uma luz ao fundo do túnel.
Já Scorsese, mesmo com apenas um Óscar conquistado, não tem uma narrativa de necessidade, mas tem do seu lado um dos filmes mais aclamados do ano e que irá gerar muita discussão. Para conseguir cimentar o seu nome como um favorito à estatueta, acredito que “Assassinos da Lua das Flores”” precisa de roubar as atenções de “Oppenheimer” e reclamar o estatuto de frontrunner na corrida de Melhor Filme.
Além de Christopher Nolan, Yorgos Lanthimos pode seguir o caminho de Del Toro e transformar o seu Leão de Ouro em Veneza por “Pobres Criaturas” numa estatueta do Óscar. Descrito como bizarro e provocador, o filme protagonizado por Emma Stone promete não deixar ninguém indiferente e já conquistou muitos fãs.
Para aqueles que estão a pensar “a Academia não vai premiar um filme tão sexual ou esquisito”, façam o favor de se lembrar que o campeão do ano passado continha inúmeras piadas escatológicas, incluindo uma luta de dildos. Se um filme conseguir conquistar uma parte considerável dos votantes com a sua abordagem criativa e os seus temas identificáveis, no caso de Yorgos uma mensagem feminista, nada mais importa.
Das categorias que podem valer um Óscar diretamente a Scorsese, Melhor Argumento Adaptado surge como a possibilidade mais forte.
Um dos principais ângulos da campanha e da promoção do filme é como o guião foi reescrito para dar mais espaço à comunidade Osage. Na versão original, DiCaprio seria Tom White, um agente do FBI, e o filme seria um policial convencional, podendo ser até visto como uma história que encaixa no tropo de “white saviour”, literalmente.
Na versão que foi para os cinemas, o filme passa a ter a trágica e complexa relação de Ernest (DiCaprio) e Mollie (Lily Gladstone) como ponto fulcral, com vários atores nativo-americanos a desempenhar papéis secundários.
Existe uma discussão saudável sobre as escolhas feitas por Scorsese e sobre quem tem direito ou não a contar estas histórias, que o próprio filme convida a que aconteça. Esta forte narrativa na mudança de perspectiva será um bom argumento para justificar a estatueta.
Todavia, nos últimos anos, a tendência é que o filme que triunfa na categoria principal, triunfe também na categoria de argumento. Em Adaptado, estão os três grandes nomes da temporada e “Killers of the Flower Moon” terá de derrotar “Opppenheimer” e “Poor Things”.
O caso de “Oppenheimer” é bastante interessante, porque o que mais me deixa relutante em prever uma vitória do filme é justamente o quão injustificável e improvável parece ser um triunfo nesta categoria, quando esta é a sua concorrência.
Pela natureza criativa e estranha de “Poor Things” que tem sido bastante elogiado também pelo seu argumento, parece-me que esse será o caminho que a categoria seguirá, o que se torna um forte indício de que podemos estar a desvalorizar o filme de Lanthimos enquanto concorrente de primeira linha à estatueta dourada.
Se uma vitória diretamente para Scorsese parece pouco provável, não me parece que o filme sairá de mãos a abanar, como aconteceu com “O Irlandês”, sendo que Lily Gladstone em Melhor Atriz posiciona-se como a melhor oportunidade para premiar a mais recente obra-prima do mestre.
Mesmo num filme com DiCaprio e Robert De Niro, Gladstone tem sido o grande destaque. Desconhecida pela maioria do público, é difícil imaginar uma situação em que o seu impactante e expressivo rosto deixa alguém indiferente.
Emma Stone em “Poor Things” conquistou as melhores críticas da sua carreira a interpretar Bella Baxter, uma mulher com um cérebro de bebé que está a aprender a viver em sociedade, e tem se afirmado como a grande favorita.
No entanto, tratando-se de um segundo Óscar, não parece haver grande urgência em premiar a atriz e Gladstone surge como uma daquelas entusiasmantes e históricas oportunidades que a Academia não tem ignorado nos últimos anos, como foi o caso de Michelle Yeoh.
Ainda nas categorias de representação, De Niro surge titânico e é difícil imaginar um grupo de Melhor Ator Secundário que não o inclua, mas a vitória parece improvável frente a nomes como Ryan Gosling (“Barbie”), Robert Downey Jr. (“Oppenheimer”), ou até mesmo, Willem Dafoe por “Poor Things”.
Já DiCaprio acaba por ser a prestação menos aclamada deste trio e dado à natureza altamente competitiva da categoria pode haver um cenário em que fica de fora para dar lugar a nomes como Paul Giamatti (“Os Excluídos”), Jeffrey Wright (“American Fiction”) ou Colman Domingo (“Rustin”).
De momento, o seu estatuto na indústria e o facto de que é o protagonista de um dos grandes candidatos do ano parecem deixá-lo com uma posição assegurada.
Como o grande épico que é, “Assassinos da Lua das Flores” poderá ainda marcar presença em várias categorias técnicas, podendo conseguir até, quem sabe, 12 nomeações.
Pela recriação da época e do cuidado em representar a cultura do povo nativo-americano é possível imaginar nomeações na área de Design de Produção e Guarda-Roupa. A direção de fotografia de Rodrigo Prieto que capta o oeste americano sob uma lente escura e visualmente impactante também não deverá falhar, Prieto que deslumbrou também com “Barbie” e pode conseguir uma dupla nomeação.
Mesmo com as várias críticas à duração do filme, é também difícil imaginar que Thelma Schoonmaker, grande favorita da Academia, não será lembrada pelo exímio trabalho em estabelecer um ritmo constante para a obra.
Vale ainda destacar Melhor Banda Sonora para o recém-falecido Robbie Robertson que com os seus acordes secos traz um pulsar para o filme e um clima de assombração constante e ainda Melhor Som, já que é um filme que cria uma certa envolvência com o espaço e inclui várias cenas com tiros e violência.
OS ÓSCARES EM RESUMO
Posto tudo isto, estas são as categorias em que “Assassinos da Lua das Flores” pode ser nomeado, por ordem de probabilidade:
- Melhor Filme
- Melhor Atriz – Lily Gladstone
- Melhor Realizador – Martin Scorsese
- Melhor Argumento Adaptado – Eric Roth e Martin Scorsese
- Melhor Ator Secundário – Robert De Niro
- Melhor Ator – Leonardo DiCaprio
- Melhor Banda Sonora – Robbie Robertson
- Melhor Montagem – Thelma Schoonmaker
- Melhor Fotografia – Rodrigo Prieto
- Melhor Som
- Melhor Design de Produção – Jack Fisk
- Melhor Guarda-Roupa – Jacqueline West
E tu, acreditas na vitória de “Assassinos da Lua das Flores”? Quantas nomeações vês a nova obra-prima de Scorsese a conseguir?