©Cinemundo, Walt Disney Home Entertainment, 20th Century Studios

Óscares 2023 | 15 filmes esquecidos pela Academia

Ano após ano, a lista de nomeados aos Óscar é incapaz de agradar a gregos e a troianos. Por aqui, além de trazermos todas as novidades sobre a temporada de prémios de Hollywood, não deixamos também de recordar aqueles que são os filmes esquecidos pela Academia em 2023.

Quais deles mereciam mais amor? 

OS FILMES ESQUECIDOS PELA ACADEMIA | NOPE 

nope - os filmes esquecidos pela academia
© Cinemundo

Com a sua obra de terror sublime “Get Out”, Jordan Peele acumulou diversas nomeações aos Óscares em 2018 e até venceu pelo seu argumento original, mas desde então os seus filmes não têm conseguido deixar o mesmo impacto – pelo menos não em termos de unanimidade e nomeações a prémios.

“Nope” é uma narrativa de terror permeada por um tom cómico notável, trata-se de um relevante conto de advertência sobre o ‘showbiz‘ e também uma carta de amor aos grandes blockbusters de terror – nomeadamente os filmes mais populares de Spielberg. Destemido e elevado, este blockbuster de verão foi filmado com câmaras de IMAX e é precisamente esse o formato em que merece ser visto. Embora não seja um dos filmes absolutamente imperdíveis do ano, é sem dúvida bom o suficiente para merecer uma mão cheia de nomeações para os Óscares em 2023.

Lê aqui a nossa análise da obra.




O HOMEM DO NORTE 

O Homem do Norte em análise
Alexander Skarsgård como Príncipe Amleth, num dos grandes filmes esquecidos pela Academia © Cinemundo

Da mente de Robert Eggers (o autor notável de “A Bruxa” e “O Farol”) chegou-nos, em 2022, “O Homem do Norte”, a primeira aventura em grande escala realizada por este autor de cinema independente. Com os seus habituais reinos do terror ainda por perto, mas munido de uma nova propensão pela ação imposta a um drama histórico passado no período viking, “O Homem da Norte” eleva a obra de Eggers a novos voos em termos de orçamento e valor de produção.

Ancorado em gigantescas performances por parte de nomes como Alexander Skarsgård, Anya-Taylor Joy, Nicole Kidman, ou ainda Willem Dafoe, “The Northman” vive da sua mística apresentação do período Viking, tão dependente da sua mitologia nórdica. Para além de representar os deuses com graciosidade, a obra brilha na sua capacidade de manter a autenticidade – quando está a representar a natureza impiedosa dos soldados viking, ou a apresentar os seus artefactos e formas de viver.

As obras de Eggers são sempre extraordinárias do ponto de vista visual, e embora “O Homem do Norte” tivesse um problema ou dois na representação das suas constelações, as maravilhosas paisagens nórdicas, pelo menos essas, deveriam merecer uma nomeação pela sua Fotografia. Bem como o Design de Produção, preocupado com a representação absolutamente fidedigna das habituações deste período histórico.

Lê a nossa análise deste filme esquecido pelos Óscares aqui.




JUSTIÇA PARA EMMET TILL 

Till
Till © 2022 ORION RELEASING LLC. All Rights Reserved.

Como o nome da versão portuguesa deixa transparecer de forma gritante e óbvia (quiçá até demais), “Till” é a história de uma mãe que procura justiça depois de um acto de racismo extremo ter levado a que o seu filho de 14 anos, Emmett Louis Till, fosse brutalmente linchado. Depois deste linchamento, que ocorreu em 1955, Mamie Till-Mobley, interpretada por Danielle Deadwyler, procurou justiça a todo o custo.

Embora este drama não estivesse na calha para muitas nomeações, a campanha de Danielle Deadwyler na categoria de Melhor Atriz foi bastante visível. Todavia, a polémica nomeação surpresa de Andrea Riseborough tinha necessariamente de significar que alguém ficaria de fora. A história inspiradora de “Till” acabou por sair de mãos a abanar.




PEARL

Ti West Pearl os filmes esquecidos pela academia
Mia Goth em Pearl (2022) |©A24

Fãs absolutos de terror, perante a trilogia de Ti West, preparam-se para erguer vários monumentos a Mia Goth, pela sua prestação como duas personagens distintas em “X”, “Pearl” (ainda por estrear em Portugal) e  “MaXXXine” (ainda por estrear). Quem já viu “Pearl”, a prequela de “X”, o único destes filmes de terror já estreado nos cinemas nacionais, garante que Mia Goth merecia uma nomeação ao Óscar pela sua prestação como a personagem titular depois de entregar um longo monólogo memorável.

Há poucos dias, Goth, uma das “scream queens” do momento, manifestou-se contra a forma como a Academia de Hollywood tende a ignorar filmes de terror e prestações de terror nas suas nomeações. De Toni Collette em “Hereditário” a Lupita Nyong’o por “Nós”, o que não faltam são grandes prestações ignoradas, precisamente por se movimentarem num género tipicamente olhado de lado. Será que Goth tem razão?




A MULHER REI

A Mulher Rei filmes esquecidos pela academia
©Big Picture Films

Outra atriz que também falhou, por pouco, a nomeação na categoria de Melhor Atriz foi a já vencedora Viola Davis (a mulher Afro-Americana mais nomeada aos Óscares de sempre e que recentemente chegou ao EGOT), como protagonista de “The Woman King”, um épico de ação de época poderoso, no qual Davis dá vida à líder de uma destemida tribo de mulheres guerreiras no reino de Dahomey, em África (que existiu entre 1600 e 1904, quando se tornou o Benim), no ano de 1820.

“A Mulher Rei” narra a história de uma tribo real, e fá-lo seguindo a realização irrepreensível de Gina Prince-Bythewood.

Depois de uma aparente inversão de paradigmas, com as vitórias de Jane Campion e Chloé Zhao, duas mulheres a vencerem Óscares de Realização em anos consecutivos, 2021  e 2022, algo que aconteceu pela primeira vez, eis que em 2023 nenhuma mulher foi nomeada nessa categoria ou teve sequer um filme nomeado para Melhor Filme. Há muitas pessoas que consideram que uma forma de evitar tal retrocesso passaria pela indicação de Gina Prince-Bythewood.

Deixamos ainda a nossa análise a este épico meritório, para lá de ignorado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.




ELA DISSE

Carey Mulligan Zoe Kazan
Ela Disse (She Said) © 2022 Universal Studios. All Rights Reserved.

 

Outra oportunidade gorada, Maria Schrader adaptou para o grande ecrã, em 2022, a investigação revolucionário do New York Times, liderada pelas jornalistas Megan Twohey e Jodi Kantor, aqui interpretadas por Carey Mulligan e Zoe Kazan  – em duas prestações competentes e complementares. Esta grande investigação premiada foi a “primeira pedra” no caixão metafórico do grande produtor de cinema Harvey Weinstein e o arranque do importante e influente movimento #Metoo.

Alguns anos depois, o lançamento do filme faz-se já depois do pico deste movimento, mas tal não justifica o quanto esta obra foi ignorada pela temporada de prémios. Sim, tecnicamente podemos ver este “Ela Disse” como “oscar bait“, um filme formulaico de investigação jornalística sobre temáticas pertinentes para a indústria de Hollywood. Não obstante, “She Said” é um filme eficaz, quiçá tão eficaz como outro filme dentro do mesmo formato – “Spotlight” – que saiu vencedor do Óscar de Melhor Filme há não muitos anos.

Por tudo isto, é com algum espanto que encontramos “Ela Disse” nesta lista de filmes (totalmente) esquecidos pela Academia.




O ENFERMEIRO DA NOITE

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The Good Nurse | Cr. JoJo Whilden / Netflix

Ancorado por prestações fortíssimas por parte de Jessica Chastain e Eddie Redmayne, dois oscarizados com bastante pedigree em Hollywood, “The Good Nurse” pode não ter sido o filme mais consensual em termos de críticas, mas, não obstante, esta narrativa Netflix tinha muito potencial nas categorias de representação, em particular se falarmos de Redmayne no papel de uma figura real, um enfermeiro aparentemente exímio, que na realidade havia assassinado dezenas de pacientes.

Pela sua interpretação na pele de um assassino em série inspirado pela vida real, Redmayne foi nomeado, ao longo desta temporada, para diversos prémios, como por exemplo o BAFTA ou o Globo de Ouro. Com alguma surpresa, não chegou ao Óscar.




DECISÃO DE PARTIR

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“Decisão de Partir” | © Alambique Filmes

Da autoria do aclamadíssimo realizador coreano Park Chan-wook (“Oldboy“, “A Criada”) chegou-nos, em 2022, o inteligente e emotivo melodrama casado com thriller “Decision to Leave”. A obra representou a Coreia do Sul na edição de 2023 dos Óscares, e era esperado, quase certamente, que o filme integrasse os nomeados na categoria de Melhor Filme Internacional.

Quiçá, talvez até pudesse apresentar-se como uma daquelas surpresas deliciosas que todos adoramos – e pudesse entrar subitamente na corrida de Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Fotografia ou Melhor Argumento.

“Decisão de Partir” é um romance criminal complexo e que certamente merecia a distinção em inúmeras categorias. Para grande ultraje de muitos, nem à nomeação em Melhor Filme Internacional chegou. Esta é a história de um detetive que se aproxima perigosamente de uma suspeita, numa obra previamente aclamada e premiada, nomeadamente em Cannes. “Decision to Leave” saiu-se bem nas nomeações aos Gotham, BAFTAs ou National Board of Review (Filmes do Ano), mas ficou de fora nesta 95ª edição dos Óscares.




RUÍDO BRANCO

Ruído Branco filmes esquecidos pela academia
Cr. Wilson Webb/Netflix © 2022

“White Noise”, lançado pela Netflix no final de 2022 como parte do seu acordo de produção com o grande Noah Baumbach, é uma invulgar narrativa adaptada a partir do romance do mesmo nome, lançado por Don DeLillo em 1985. Esta é a história de um professor de estudos hitlerianos, interpretado por Adam Driver, que vive com a sua mulher ansiosa (Greta Gerwig num abençoado regresso ao cinema como intérprete), e com os seus filhos de vários casamentos e que terá de lidar com um potencial acontecimento apocalíptico que desperta ansiedades reprimidas.

Da sua sequência de dança e cantoria final num supermercado à deliciosa expressão “cabelo importante“, “Ruído Branco” é uma história fora da norma bastante cativante. A nomeação para Melhor Argumento Adaptado parecia uma hipótese real, apesar da crítica e receção algo dividida, mas “White Noise” acabou mesmo por se perder no ruído da temporada de prémios, salvo seja.

Aproveitamos para partilhar também a nossa análise à obra.




CORSAGE 

Corsage - Espírito Inquieto
©PRIS Audiovisuais

“Corsage”, de Marie Kreutzer, foi a entrada oficial da Áustria para a categoria de Melhor Filme Internacional na temporada de 2022/2023. Um dos favoritos à nomeação, o filme ficou pelo caminho.

A narrativa repensa o reino da Imperadora Elisabeth no Século XIX, com uma prestação central imperdível por parte de Vicky Krieps (“Linha Fantasma”). A atriz foi honrada pela sua prestação em Cannes, e o filme foi também indicado aos Gotham e BAFTA. Esta obra de época fora da norma conquistou, surpreendentemente, zero nomeações para a presente edição dos Óscares.




OSSOS E TUDO

ossos e tudo critica
© Cinemundo

Maren, uma jovem mulher que aprende a sobreviver à margem da sociedade, encontra o seu primeiro amor, Lee, um intenso marginal à deriva. Os dois juntam-se numa odisseia de mil quilómetros que os leva por estradas secundárias, caminhos secretos e alçapões da América de Ronald Reagan. Apesar dos seus melhores esforços, todos os caminhos os levam de volta a passados sombrios e à grande questão final que irá determinar se o amor sobrevive à sua diferença.

Com Timothée Chalamet, Taylor Russell e Mark Rylance nos papéis centrais, “Bones and All”, uma adaptação literária liderada por Luca Guadagnino, depende, em grande parte, das suas prestações hábeis e serve como a oportunidade perfeita para sedimentar a estrela ascendente de Taylor Russell. Aqui, esta e Chalamet dão vida a um casal de ‘outcasts’ numa América de excessos nos anos 80.

O enredo invulgar, sendo esta a história de dois canibais adolescentes, poderia, de certa forma, deixar este filme mais à margem, mesmo tendo em consideração as nomeações prévias conquistadas por Guadagnino e Chalamet. E assim foi. O filme, estreado em Veneza, fez algum barulho ao longo da sua temporada de festivais, mas não convenceu os votantes da Academia.




FILMES ESQUECIDOS PELA ACADEMIA EM 2023 – IMPÉRIO DA LUZ

Empire of Light
© Searchlight Pictures

Uma história sobre curar feridas através do amor pela sétima arte, realizada por Sam Mendes (“1917”, “Beleza Americana”) e com Olivia Colman no papel central? No papel, “Império da Luz” parecia um sério candidato aos Óscares em 2023. Este romance inter-racial, sempre atravessado por temáticas sociais mas também pela paixão pura pelo cinema, parecia ser uma promessa imperdível, mas nunca conseguiu convencer a crítica ou a sua audiência.




O MENU

O Menu filmes esquecidos pela academia
© 2022 20th Century Studios. All Rights Reserved.

Esta comédia negra que roça o reino do absurdo fez as delícias do público em 2022, suportada por prestações apaixonantes por parte de um trio de luxo: Ralph Fiennes, na pele de um Chefe à beira da loucura, Anya Taylor-Joy como uma jovem provocadora fora do seu elemento, e ainda Nicholas Hoult como um fã deliciosamente ilógico.

“The Menu”, de Mark Mylod, apresenta-nos a experiência de uma improvável noite, onde uma experiência culinária é levada a novos extremos. A narrativa bem poderia ter levado uma nomeação pelo seu argumento fora do normal, ou quanto muito, pelo seu Design de Produção exímio, que transforma um episódio de Masterchef num filme de terror. Em vez disso, parte para os Óscares sem quaisquer nomeações.




A VIDA DEPOIS DE YANG

After Yang
© Sundance Institute

Da autoria de Kogonada, uma produção da A24, “After Yang” é um drama existencial apaixonante sobre uma perda massiva para uma família, representada pela falha crítica do seu robô doméstico – um membro insubstituível da família.

Emotivo e envolvente, ancorado por um Colin Farrell em estado de graça, “Depois de Yang” é um dos grandes indies do ano, e com muita facilidade merecia ter competido na categoria de Argumento Adaptado (Kogonada criou este seu argumento a partir do conto sci-fi de Alexander Weinstein).




ARMAGEDDON TIME

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“Armageddon Time” | © Universal Pictures

Em “Armageddon Time”, o aclamado realizador James Gray recupera momentos da sua infância nos anos 80, com Jeremy Strong e Anne Hathaway a interpretar, de forma competente, os seus pais. As semi-biografias de realizadores estão em voga, não estivessem “Os Fabelmans” e “Bardo” entre os nomeados aos Óscares em 2023. O filme até apresenta, como cereja no too do bolo, Anthony Hopkins numa prestação capaz no papel do seu avô.

A obra foi nomeada aos Gotham e à Palma de Ouro em Cannes, mas não chegou aos Óscares.

Quantos deste filmes esquecidos pela Academia viste e achas merecedores de prémios? 

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