Óscares 2024 | Será mesmo Cillian Murphy (Oppenheimer) o Melhor Ator do ano?
A cerimónia dos Óscares decorre já no dia de hoje e vale a pena olhar para os nomeados em Melhor Ator. Será Cillian Murphy mesmo o melhor?
Após muitos meses de antecipação, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas prepara-se para revelar os seus vencedores. No artigo de hoje, iremos debruçar-nos sobre a categoria de Melhor Ator . Este não é um artigo de previsões, mas sim uma análise pessoal sobre cada um dos atores nomeados.
O grupo deste ano traz a primeira nomeação na carreira para os nada novatos Cillian Murphy, Jeffrey Wright e Colman Domingo, sendo que Paul Giamatti recebe a sua primeira nomeação como Melhor Ator. O único protagonista repetente é Bradley Cooper, que conquista aqui a sua quinta nomeação como ator.
No que diz respeito às performances, só há uma em particular que se destoa um pouco do trabalho de elevada qualidade que é levado a cabo por estes talentosos intérpretes. Nem todos estão ao mesmo nível, mas não há grandes queixas a fazer quanto a esta categoria num modo geral.
Quanto às omissões mais flagrantes, Barry Keoghan (“Saltburn”) deu literalmente o corpo ao manifesto num desempenho que utiliza a sua screen presence e capta o seu inusitado carisma em função do mal.
A cerimónia dos Óscares decorre já no dia 10 de março, desta vez uma hora mais cedo, pelas 23h00 de Portugal e contará com a apresentação de Jimmy Kimmel pela 4ª vez.
MELHOR ATOR – RANKING
5. BRADLEY COOPER – MAESTRO
Bradley Cooper é o tipo de ator que nem sempre consegue captar verdade naquilo a que se propõem a fazer. E “Maestro” é a epítome desta sua maleita, onde qualquer instante genuíno é substituído por maneirismos exagerados destinados a procurar a imitação e não uma composição de personagem.
Na pele de Leonard Bernstein, Cooper é sempre muito afetado e pomposamente teatral, o que provavelmente faz sentido no contexto de uma pessoa ligada ao mundo das artes. Ainda assim, a sua prestação falha em incorporar esse sentimento mais exagerado como algo inerente à personagem, ao contrário do que Colman Domingo consegue em “Rustin”. Parece sempre que estamos a assistir a alguém a agir como Bernstein…
4. CILLIAN MURPHY – OPPENHEIMER
Para aqueles que vão apenas ver o posicionamento e concluir que eu não aprecio o trabalho de Cillian Murphy, não podiam estar mais distantes da realidade. O quarto lugar de Murphy nada diz sobre a qualidade elevada da sua performance, mas sim sobre o alto nível desta categoria.
Na pele de J. Robert Oppenheimer, Murphy tem a árdua tarefa de ser o centro de um épico muito barulhento, que curiosamente lhe exige que seja introspetivo e letalmente silencioso. É nesse contrabalanço que Murphy prospera, fazendo-nos mergulhar a pouco e pouco nos pensamentos deste homem atormentado e que tenta ser indecifrável ao longo do filme. O desempenho discreto mas essencial do ator irlandês é a cola necessária para “Oppenheimer” funcionar.
3. JEFFREY WRIGHT – AMERICAN FICTION
Há atores que são sempre um gosto vê-los no ecrã e Jeffrey Wright conquistou certamente este estatuto ao longo da sua prolífica carreira. É portanto com grande alegria que vejo Wright como protagonista de uma obra que lhe oferece um personagem com tantas contrariedades para explorar.
“American Fiction” é uma obra que falha em encontrar o seu tom, os momentos de sátira são ótimos e afiados ao passo que o drama familiar deixa muito a desejar. O que faz o filme nunca desmoronar é o desempenho de Wright, que tanto está à altura nos momentos que exigem mais da sua atitude provocadora e brincalhona como os que lhe pedem mais seriedade e mágoa. O ator tem ainda a chance de se mostrar como um ótimo par romântico graças à química com Erika Alexander.
2. COLMAN DOMINGO – RUSTIN
Aos 54 anos, Colman Domingo vive um dos melhores momentos da sua carreira e tudo indica que mesmo tardando em ganhar protagonismo, o ator veio para ficar. Em “Rustin”, o interprete que é abertamente homossexual tem a chance de interpretar Bayard Rustin, ativista queer dos direitos civis que viu os seus contributos esquecidos pela história.
Num filme dramaticamente inerte e com uma dose reduzida de energia, Domingo surge imparável desde o primeiro minuto, a um nível de magnetismo que torna impossível tirar os olhos do que está a fazer. Não se deixem enganar, esta é uma performance grande que pode alienar alguns espectadores no início, porém Domingo vai desconstruído essa grandeza e revelando que tudo aquilo é uma armadura que o personagem coloca. Eletrizante e comovente, este é um caso em que um ator brilhante consegue elevar o material a um nível de Óscar e encontrar profundidade quando esta não está em lado nenhum na página.
1. PAUL GIAMATTI – OS EXCLUÍDOS
Ao exemplo de Jeffrey Wright, Paul Giamatti é também um ator que é sempre bem-vindo em qualquer que seja o papel ou filme que apareça. Após alguns anos sem um papel deste relevo no grande ecrã, o veterano está de volta naquilo que melhor sabe fazer: comédia.
É refrescante ver que Giamatti não precisou de nenhuma transformação artificial ou de interpretar uma pessoa real para conseguir chegar a esta categoria nos Óscares. Em vez disso, o ator consegue este reconhecimento por um papel que lhe permite trabalhar aquilo que faz dele um dos melhores do mercado em serviço de um personagem carrancudo e frustrado, um arquétipo que lhe é bastante familiar. Porém, este é um desempenho muito diferente de tudo o que fez até hoje, imprimindo uma maturidade e uma tragédia que fazem do seu Paul, um personagem tão adorável quanto desprezível.
E tu, a quem darias o Óscar de Melhor Ator?