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Portugal 2023 | 2x TOP TEN das Melhores Estreias e Reposições

Estas são as Melhores Estreias e Reposições que marcaram as salas de cinema nacional no decorrer do ano de 2023.

Duas ou três coisas sobre as melhores estreias e reposições em sala de 2023…!

Todas as listas que implicam escolhas pessoais, não importa as matérias sobre as quais nos debruçamos, são na prática e por definição subjectivas, e quem disser o contrário, lamento, está a mentir. Mas há formas de objectivar as nossas escolhas ou, pelo menos, de concentrar a nossa atenção sem a diluir num mero exercício do gosto, legítimo mas deliberadamente redutor. Por isso mesmo, para além da análise estrutural de cada projecto que fundamenta e suporta o corpo principal das críticas publicadas, sempre defendi que na listagem dos melhores filmes de cada ano deviam figurar as produções que foram estreadas no circuito comercial e em sala no ano em análise, considerando as que foram produzidas no ano em causa e no ano imediatamente anterior. E porquê? Basicamente, porque o calendário das estreias nos diferentes circuitos comerciais não coincide necessariamente com o calendário de produção das respectivas obras. Por exemplo, nas listas que vêm sendo publicadas, e a aqui não constitui excepção, foram contempladas longas e curtas de 2022 e 2023.

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Todavia, se fossem meras listas de filmes produzidos num determinado ano, e só nesse, na lista das estreias portuguesas de filmes com data de lançamento oficial em 2023 deveria, na minha opinião, figurar sem qualquer dúvida o “Kuolleet Lehdet” (Folhas Caídas), realizado pelo finlandês Aki Kaurismaki. Mas não figura e, mais uma vez, porquê? Porque esta película, entre outras em situação similar, só vai estrear no nosso país a 14 de Janeiro, mas de…2024. Na melhor das hipóteses, se as suas qualidades não forem superadas pelas de outros que entretanto se encontram na calha para estrear, seguramente fará parte da shortlist onde serão recrutados os candidatos para a lista final do próximo ano.

Folhas Caídas
©Midas Filmes

Por outro lado, a cada vez maior importância que se dá aos clássicos do cinema no nosso mercado e no circuito comercial das salas levou-me a considerar a formulação de uma lista suplementar que reunisse as estreias de filmes produzidos noutras eras, a saber, desde os meados do século passado, numa multiplicidade de contextos de produção que vão desde a sólida indústria japonesa ao vibrante panorama internacional do cinema de autor, sobretudo na actividade cinematográfica de países como a França, a Itália e o Irão. Nessa lista, depois de uma atenta reflexão, decidi considerar não só as estreias absolutas em Portugal mas também algumas das melhores reposições, ou seja, a revalorização de filmes já estreados mas agora restaurados quase sempre em magníficas cópias digitais, património essencial da História do Cinema que vale a pena recordar, descobrir ou redescobrir uma, outra e outra vez.




Entretanto, na lista das estreias dos filmes com produção de 2022-2023, inseri alguns que, não obstante serem oriundos de financiamentos assumidos maioritariamente por plataformas de streaming, não foram estreados directamente no correspondente mercado, onde ficariam limitados ao formato reduzido por maior que seja o ecrã doméstico. De facto, muitos filmes, como “Killers of the Flower Moon” (Assassinos da Lua das Flores), de Martin Scorsese, passaram antes pela estreia em sala, o local onde se pode e deve continuar a usufruir da dimensão e da escala dos seus máximos valores de produção. Bem vistas as coisas, não admira que assim aconteça. Para as plataformas de streaming, a verdadeira concorrência não se encontra no negócio das salas. Na prática, o que elas quiseram fazer desde que surgiram foi superar, e dentro do possível anular, a oferta de entretenimento no campo do home-video. E até certo ponto conseguiram secar esse mercado que já foi florescente. Basta ver as prateleiras pindéricas hoje reservadas ao DVD e Blu-Ray, com algumas excepções, nomeadamente quando as edições que ainda subsistem se dedicam a uma oferta especial voltada para a cinefilia pura e dura, aquela a que as plataformas não se dedicam muito e desgraçadamente os canais generalistas ou especializados, incluindo os de serviço público, não querem ou não sabem capitalizar.

Assassinos da Lua das Flores 4 Leonardo DiCaprio streaming apple tv estreia martin scorsese
© 2023 Paramount Pictures

Por último, resta-me desejar que 2024 seja um ano de consolidação de algumas iniciativas, como as que permitiram a organização de ciclos e sessões especiais de inegável interesse, e que a Cinemateca Portuguesa dê o salto decisivo para estabelecer uma rede de parcerias, a partir de Lisboa mas com incidência no resto do país, de modo a justificar o papel nacional que está subjacente ao seu nome.

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PORTUGAL 2023

Fairytale
©Leopardo Filmes

CINEMA – MELHORES ESTREIAS EM SALA:

  1. SKAZKA (FAIRYTALE – SOMBRAS DO VELHO MUNDO) – Alexander Sokurov, 2022 (Rússia-Bélgica)
  1. EO (EO) – Jerzy Skolimowski, 2022 (Polónia-Itália)
  1. OPPENHEIMER (OPPENHEIMER) – Christopher Nolan, 2023 (EUA-Reino Unido)
  1. KILLERS OF THE FLOWER MOON (ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES) – Martin Scorsese, 2023 (EUA)
  1. VANSKABTE LAND (TERRA DE DEUS) – Hlynur Pálmason, 2022 (Islândia-Dinamarca-França-Suécia)
  1. JANG-E JAHANI SEVOM (III GUERRA MUNDIAL) – Houman Seyyedi, 2022 (Irão) 
  1. KHERS NIST (URSOS NÃO HÁ) – Jafar Panahi, 2022 (Irão)
  1. TRENQUE LAUQUEN (TRENQUE LAUQUEN) – Laura Citarella, 2022 (Argentina-Alemanha)
  1. THE OLD OAK (O PUB THE OLD OAK) – Ken Loach, 2023 (Bélgica-França-Reino Unido)
  1. LE OTTO MONTAGNE (AS OITO MONTANHAS) – Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersch, 2022 (Itália-Bélgica-França)



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PORTUGAL 2023

A Lua Ascendeu
©The Stone and the Plot

CLÁSSICOS DO CINEMA – MELHORES ESTREIAS E REPOSIÇÕES EM SALA:

  1. TOKYO BOSHOKU (CREPÚSCULO EM TÓQUIO) – Yasujirō Ozu, 1957 (Japão)
  1. KIRI NO OTO (O SOM DO NEVOEIRO) – Hiroshi Shimizu, 1956 (Japão)
  1. TSUKI WA NORINU (A LUA ASCENDEU) – Kinuyo Tanaka, 1955 (Japão)
  1. L’ENFANCE NUE (A INFÂNCIA NUA) – Maurice Pialat, 1968 (França)
  1. NAGAYA SHINSHIROKU (HISTÓRIA DE UM PROPRIETÁRIO RURAL) – Yasujirō Ozu, 1947 (Japão)
  1. KHANE-YE DOUST KODJAST? (ONDE FICA A CASA DO MEU AMIGO?) – Abbas Kiarostami, 1987 (Irão)
  1. SALVATORE GIULIANO (SALVATORE GIULIANO, O BANDIDO DA SICÍLIA) – Francesco Rosi, 1962 (Itália)
  1. VAN GOGH (VAN GOGH) – Maurice Pialat, 1991 (França)
  1. CHIBUSA YO EIEN NARE (PARA SEMPRE MULHER) – Kinuyo Tanaka, 1955 (Japão)
  1. À NOS AMOURS (AOS NOSSOS AMORES) – Maurice Pialat, 1983 (França)

João Garção Borges
Cineasta e Crítico de Cinema

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