Parasitas, vencedor do Óscar de Melhor Filme em 2020 © CJ ENTERTAINMENT

História dos Óscares | Post-mortem da década 2010 – 2020

Fevereiro é normalmente um mês de Óscares. Lamentavelmente a pandemia COVID-19 deu as voltas à Academia, mas a MHD não te quer deixar sem conteúdos sobre as estatuetas douradas. Por isso mesmo, investimos num artigo profundo e exclusivo sobre o balanço da última década dos prémios, cujas cerimónias são sempre as mais assistidas do mundo do entretenimento. Iremos encerrar um capítulo e em simultâneo abrir as portas aos nossos artigos sobre as previsões para os Óscares 2021. 

A temporada de prémios 2020 / 2021 (conhece todas as datas aqui) parece ser uma das mais longas da história. Não só a 93ª cerimónia dos Óscares da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas foi adiada de fevereiro para 25 de abril de 2021, como as restantes academias, instituições e organismos decidiram adiar as suas respetivas entregas de prémios em praticamente dois meses. Foi o que aconteceu por exemplo com os Globos de Ouro, os BAFTA e os diferentes sindicatos norte-americanos (PGA, DGA, SAG, WGA, etc.).

Esta chegada tardia daqueles que são entendidos os melhores filmes de 2020 para a Academia deu-nos mais tempo para analisarmos a fio as cerimónias precedentes da história dos Óscares – fizemo-lo também num artigo especial para celebrar o 10º aniversário da nossa revista. Por isso, e antes de passarmos para uma nova década, que poderá finalmente ficar marcada pela diversidade e pela aceitação absoluta de todos os credos cinematográficos, revisitamos aquela que foi provavelmente a década mais controversa e turbulenta da história da Academia.

oscares 2020
© ABC/Adam Rose

Para os espectadores mais atentos foi a década de enormes controvérsias e outros movimentos: como o #OscarsSoWhite (sobre a falta de representação afro-americana na indústria de cinema), os movimentos #MeToo e Time’s Up (sobre os assédios, violações sexuais e até diferenças salariais entre géneros em Hollywood), o #WhiteWashedOUT (sobre a falta de representatividade asiática na indústria) e que afetaram diretamente as escolhas dos membros da Academia – só sentiremos o efeito do mais recente movimento #BlackLivesMatter, contra a violência direcionada às pessoas negras, na edição deste ano. Poderíamos realmente pensar os últimos dez anos de Óscares de acordo com a transição governamental norte-americana de Barack Obama para o conservadorismo e políticas polarizadas de Donald Trump.

Mesmo assim, e abrindo aqui um parêntesis, não poderemos esquecer que para a maioria dos espectadores, foi simplesmente uma década de cerimónias que celebraram os filmes por eles vistos em salas de cinema ou no conforto das suas casas, e com os quais conseguiram escapar um pouco da tão exigente rotina. Em 10 anos, os Óscares certamente ganharam seguidores e perderam outros tantos.

Seja como for, estes são os prémios mais populares do cinema (não estamos a falar da estranha e infeliz ideia de criar o Óscar de Melhor Filme Popular anunciada em 8 de agosto de 2018) e, para muitos cinéfilos a primeira ferramenta para descoberta de obras para análise ou com as quais querem simplesmente relaxar. Os vencedores dos Óscares de 2010 a 2020 representam inclusive uma estranha sinergia entre o conservadorismo dos membros mais velhos da Academia, com a revolução que querem fazer os rostos mais ecléticos e jovens de votantes provenientes de várias partes do mundo.

Ao longo deste artigo tão incisivo focar-nos-emos em momentos marcantes, desde a vitória do cinema feminino, passando pelo o fim da era Harvey Weinstein, até chegarmos à aclamação necessária e urgente a “Parasitas”. Muito poderá ficar de fora deste texto, mas esperamos que seja do vosso agrado e sobretudo que vos faça querer descobrir filmes que ainda não tiveram oportunidade de ver. Não há como negar que todos os filmes vencedores de Óscares (e a maioria dos nomeados) dos últimos 10 anos merecem ser vistos e discutidos.

Partilha a tua opinião sobre os vencedores dos Óscares entre 2010 e 2020 nos comentários abaixo. Segue as setas para descobrires os momentos mais marcantes deste período. 




Cinema no feminino: A aclamação de Kathryn Bigelow

Chloé Zhao (realizadora de “Nomadland – Sobreviver na América“), Regina King (realizadora de “One Night in Miami”), Emerald Fennell (de “Uma Miúda com Potencial”) e Kelly Reichardt (“First Cow”) ainda vão a tempo de se tornarem na segunda mulher vencedora do Óscar de Melhor Realizador, mas não poderemos esquecer aquela que foi a pioneira: Kathryn Bigelow.

A sua vitória aconteceu no início na década, a 7 de março de 2010, portanto, vale a pena revisitar a entrega desse Óscar pelas mãos da atriz, realizadora, cantora e ativista Barbra Streisand e o seu “o momento chegou!”.

A celebração de Kathryn Bigelow e, por conseguinte do seu filme “Estado de Guerra” (eleito o Melhor Filme do ano), abriu portas para aceitação das cinematografias do feminino na Academia. Passados quase 11 anos, a sua vitória continua a ser um marco histórico único e incontornável. Antes dela, apenas três mulheres tinham sido nomeadas ao Óscar de Melhor Realizador: Lina Wertmüller por “Pasqualino das Sete Beldades” (1975) Jane Campion por “O Piano” (1993) e Sofia Coppola por “Lost in Translation – O Amor é um lugar Estranho” (2003). O filme de Kathryn Bigelow como bem sabemos acabaria por vencer o Óscar de Melhor Filme, por sua vez o primeiro e único até ao momento com uma mulher como realizadora.

A opção da Academia de entregar os Óscares e Melhor Filme e Melhor Realizador a “Estado de Guerra” foi bastante curiosa, sobretudo concorrer contra James Cameron, o rei do mundo (digital, convém dizer) de “Avatar“, o maior sucesso de bilheteira da história do cinema com 2.789.700.000 dólares arrecadados em todo o mundo. Se embora mais nenhuma mulher se tenha sucedido a Bigelow, a Academia continuaria a entregar os Óscares a filmes de baixo orçamento e, por vezes, de baixa receita, em vez de projetos exuberantes e tecnologicamente impressionantes. “Estado de Guerra” teve um orçamento de 15 milhões e a receita não superou os 50 milhões de dólares.

Voltaria a acontecer com a vitória de “12 Anos Escravo” sobre o visionário filme sobre o espaço “Gravidade“; a vitória de “O Caso Spotlight” sobre “The Revenant – O Renascido” e “Mad Max: Estrada da Fúria“; a vitória de “Moonlight” sobre “La La Land: Melodia de Amor”, ou mesmo de “Parasitas” sobre “O Irlandês” (o primeiro teve orçamento de 11 milhões de dólares e o segundo uma diferença astronómica de 140 milhões de dólares). Não será exagerado comparar esta década passada, com o período de transição da Era Dourada para a Nova Hollywood, dos anos 60 e 70, em que filmes indies, de cineastas praticamente desconhecidos ganharam espaço de antena junto da Academia. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a vitória de “Kramer contra Kramer” e que analisámos antes.

Estado de Guerra vence o Óscar de Melhor Filme

A celebração de Kathryn Bigelow veio acompanhada com a decisão de alargar o cardápio de filmes nomeados à categoria de Melhor Filme, de 5 para 10. Já havia acontecido na Academia desde os Óscares 1932/33 aos Óscares de 1943, inclusive, e confirmou-se como uma medida bem sucedida. O anúncio foi feito em junho de 2009 pelo o então Presidente da Academia Sid Ganis, no entanto os membros mais conservadores temiam que a expansão prejudicaria a nomeação de nomes de prestígio, enquanto os pequenos produtores acabavam por vencer uma batalha antiga, da necessidade da Academia chamar mais a atenção para o cinema de autor.

No final, acabou por ser uma cerimónia que tanto celebrava blockbusters de ficção científica (“Avatar” e “Distrito 9”), uma comédia histórica de Quentin Tarantino (“Sacanas sem Lei”) dramas e comédias indies (“Nas Nuvens” e “Um Homem Sério“), o toque clássico britânico (“Uma Outra Educação), a história da uma adolescente afro-americana que sofre abusos domésticos (“Precious“), um drama comercial e lamechas sobre a aceitação da diferença (“Um Sonho Possível“) e até uma obra de animação (“Up – Altamente“). Não haverá certamente um grupo de nomeações tão diversificado quanto este.

“The Hurt Locker” | © Voltage Pictures

Até esse ano, nenhuma lista de nomeados a Melhor Filme tinha dois filmes realizados por mulheres – sendo “Uma Outra Educação” realizado por  Lone Scherfig -, algo que só voltaria a acontecer nos Óscares 2012 com “Os Miúdos Estão Bem”, de Lisa Cholodenko e “Despojos de Inverno”, de Debra Granik. Curiosamente com “Precious”, Lee Daniels foi o primeiro cineasta afro-americano a concorrer ao Óscar de Melhor Realizador cujo filme foi também nomeado à categoria principal. Foi um novo começar, porque dois filmes de cineastas negros conquistariam eventualmente o Óscar de Melhor Filme na última década: “12 Anos de Escravo” e “Moonlight”.

Com “Estado de Guerra”, obra na qual somos apresentados a uma elite do exército norte-americano responsável por desarmar bombas no Iraque, tivemos a contínua celebração da América. Bigelow filma tudo calmamente, de maneira a criar a tensão necessária para as circunstâncias enfrentadas pelas personagens. Voltaria a fazê-lo com “00:30 A Hora Negra” sobre a morte de Osama bin Laden, nomeado a 5 estatuetas, incluindo Melhor Filme, embora ausente da nomeação em Melhor Realizador.

Infelizmente, apenas uma mulher, Greta Gerwig, foi nomeada para Melhor Realizador desde a vitória de Bigelow (com “Lady Bird” em 2018), e portanto mais nenhuma levou o Óscar para casa. No ano passado, Gerwig foi injustamente esquecida pelo seu trabalho em “Mulherzinhas“, assim como Lulu Wang (por “A Despedida“, Lorene Scafaria (por “Ousadas e Golpistas“) ou até Céline Sciamma (por “Retrato da Rapariga em Chamas“). Chocante foi mesmo o filme de Wang ter ganho os Independent Spirit Awards 2020 e nem sequer ter sido nomeado aos Óscares. Estará a Academia a pensar incluir ou a ignorar as realizadoras este ano?

O que achas da celebração de Kathryn Bigelow nos Óscares? Conhece outras 100 realizadoras que vale a pena recordar. Depois poderás seguir as setas para descobrires os momentos mais importantes dos Óscares, entre 2010 e 2020. 




O fim de Harvey Weinstein junto da Academia

Entre 2010 e 2020, os Óscares da Academia ficaram também marcados pelo fim da era Weinstein. Tudo aconteceu na sequência de denúncias de abusos sexuais levados a cabo por Harvey Weinstein durante mais de 20 anos. No total, mais de 80 estrelas denunciariam a má conduta do empresário, entre as quais Ashley Judd, Rose McGowan, Uma Thurman, Cara Delevingne, Alice Evans, Dawn Denning, Angelina Jolie, Léa Seydoux e a própria Gwyneth Paltrow, vencedora do Óscar de Melhor Atriz por “A Paixão de Shakespeare” (1998).

Além de ter sido condenado a 23 anos de prisão, Harvey Weinstein acabou por ser expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e, como consequência direta, começou a ser notada uma ausência gradual dos filmes da The Weinstein Company nas nomeações para os Óscares.

Harvey Weinstein
David Shankbone, © Wikimedia Commons

Atualmente a Netflix e alguns produtores independentes como Dede Gardner (a primeira mulher a ganhar o Óscar de Melhor Filme duas vezes), e Jeremy Kleiner – atuais presidentes da Plan B Entertainment -, são os nomes que mais chamam a atenção na temporada de prémios. Porém, nada se compara com a força de Harvey Weinstein e do seu irmão Bob Weinstein junto da Academia, primeiro com a Miramax nos anos 90 e depois com a The Weinstein Company, surgida em 2005.

Através da The Weinstein Company foram produzidos e distribuídos alguns dos filmes mais aclamados da última década, como “O Discurso do Rei” e “O Artista”, vencedores consecutivos do Óscar de Melhor Filme em 2011 e 2012. Esta dupla de irmãos tão prestigiosa permitiu mudar o paradigma na distribuição cinematográfica e na forma como os filmes ganhavam impacto junto dos votantes da Academia, sobretudo junto dos seus membros mais velhos, homens norte-americanos brancos e extremamente conservadores, ainda vinculados às formas de “angariação de votos” arcaicas do passado.

De uma certa maneira, em tudo aquilo que Weinstein metia a mão havia uma sede excessiva por Óscares, que levou a uma espécie de aura em torno dos seus filmes.

Na verdade, não podemos esquecer que todos os anos surgem dezenas de campanhas “FYC (For Your Consideration)” que usam métodos bastante convincentes para que um filme seja nomeado às estatuetas douradas. Porém Harvey Weinstein acompanhou essas campanhas de marketing com eventos sumptuosos, festas e telefonemas com a velha guarda de Hollywood, para as obras da Miramax e da The Weinstein Company conseguissem mais prémios. O que Harvey Weinstein fazia era uma caça aos votantes da Academia, cujos esforços foram recompensados com 341 nomeações e 81 vitórias nos Óscares.

Voltemos aos Óscares 2011 e 2012 quando os desconhecidos Tom Hooper e Michel Hazanavicius foram catapultados para a fama apenas pelas fortes campanhas criadas por Weinstein. Hoje estes cineastas apenas são lembrados por terem ganho a estatueta dourada de Melhor Realizador quando concorriam com alguns dos nomes mais célebres da indústria cinematográfica: Hooper concorreu contra David Fincher (por “A Rede Social“) e Christopher Nolan (por “A Origem“); Hazanavicius contra Terence Malick (por “A Árvore da Vida”), Woody Allen (por “Meia-Noite em Paris”) e Martin Scorsese (por “A Invenção de Hugo”).

A Academia preferiu ir na lenga-lenga de Weinstein (coisa que já tinha acontecido com “A Paixão de Shakespeare” em 1998) em vez celebrar os nomes mais impactantes da história do cinema e os filmes que realmente fizeram sucesso junto das audiências. O magnetismo exorbitante de Weinstein parece ter-se infiltrado na própria crítica norte-americana, que aclamada os filmes de Weinstein…

O Discurso do Rei vence o Óscar de Melhor Filme

Antes sequer das nomeações d’”O Discurso do Rei” para os Óscares, Harvey Weinstein interferiu diretamente na montagem, de maneira a criar uma versão “PG-13” (para maiores de 12 anos na classificação portuguesa) que permitisse atrair o grande público e garantisse que o filme chamasse mais à atenção. O seu impacto acabou por ir além da crítica especializada e “O Discurso do Rei” passou a ser uma obra íntegra de muitas aulas de história, vinculada obviamente à humanização da figura do pai da Rainha Isabel II.

Depois das nomeações, Harvey Weinstein realizou uma festa juntamente com Ridley Scott, Jennifer Lopez e Mick Jagger, além de uma projeção exclusivamente direcionada à elite jornalística na qual marcaram presença Rupert Murdoch (o maior acionista da News Corporation e a 32ª pessoa mais poderosa do mundo) e Katie Couric (uma das jornalistas mais influentes dos Estados Unidos, fundadora da Katie Couric Media). Podem parecer situações banais mas pelo forte mediatismo e, certamente pelo poder de Weinstein, “O Discurso do Rei” lá conseguiu subir ao palco do Dolby Theatre para receber o principal Óscar da noite. O alinhamento fez-se ainda com a vitória inesperada do Óscar de Melhor Argumento Original, escrito pelo dramaturgo britânico David Seidler, que também havia ultrapassado problemas de gaguez na sua infância.

O Artista vence o Óscar de Melhor Filme

No caso de “O Artista“, Weinstein foi inteligente o suficiente para apresentar o filme junto dos membros da Academia num evento ao lado da família de Charlie Chaplin. Para muitos poderá parecer uma simples projeção, mas não esqueçamos o impacto da cinematografia de Chaplin (e do seu cinema mudo) em Hollywood. Harvey Weinstein aproveitou-se de um pequeno filme francês (sobre Hollywood) para conquistar novamente os membros mais velhos da Academia e estender assim a sua autoridade.

No mesmo ano, Weinstein focou-se em “A Dama de Ferro” para o Óscar de Melhor Atriz (Meryl Streep). Para a edição dos Óscares 2012, a The Weinstein Company retirou um excerto da crítica de Thelma Adams, do meio de comunicação “The Hollywood Reporter” para fazer campanha por Streep. O excerto (cujo original pode ser visto na imagem abaixo) fazia referência às outras estatuetas douradas ganhas por Meryl Streep. Na realidade, Harvey Weinstein foi contra as regras, que proibiu estritamente a referências a outros prémios ganhos.

A Dama de Ferro
Campanha do filme “A Dama de Ferro” para o Óscar de Melhor Atriz, pela distribuidora The Weinstein Company © The Weinstein Company

Já em 2013, Weinstein contratou o vice-gerente de campanha de Barack Obama para ajudar na divulgação de “Guia Para Um Final Feliz“. Um dia antes das nomeações, foi enviado um comunicado focado na humildade de Jennifer Lawrence e o facto da atriz ter assinado contrato para trabalhar novamente com David O. Russell no filme “The Ends of the Earth”. O filme em questão nunca foi feito. Ao ter vencido o Óscar de Melhor Atriz, Jennifer Lawrence tornou-se a mais jovem galardoada da categoria. Apesar do seu talento, não podemos deixar de referir que esta foi uma das piores vitória da história dos Óscares para a categoria, sobretudo quando concorria contra Emmanuelle Riva por “Amor”.

Com vinte e poucos anos, Lawrence não estava preparada nem tinha a aparência de ser uma viúva rancorosa que sofre de depressão. Aliás, o modo como o filme trata essa doença é um insulto a todos os que sofrem dela ou conhecem alguém afetado, pois trata-se de um dos retratos mais inapropriados que se possa imaginar. […] O pior de tudo, é que Lawrence não complica o que lhe é dado, não encontra nuance, não sombreia o que é gritado, simplesmente piora a situação com um estilo de atuação agressivo e bombástico que faz muito barulho, mas não diz ou transmite nada de interesse.

O pior aconteceria mesmo com “O Jogo da Imitação“, vencedor do Óscar de Melhor Argumento Adaptado em 2015. Nesse filme seguimos o criptoanalista, matemático e filósofo britânico Alan Mathison Turing (1912-1954), hoje considerado um dos precursores da computação moderna, enquanto desvenda o código Enigma, que abriu caminho para o fim da II Guerra Mundial. A The Weinstein Company tomou esse filme como uma forma de ganhar terreno junto da Academia, procurando homenagear Alan Turing a todo o custo e com enfoque único no tratamento jurídico do qual foi alvo no final da sua vida por ser homossexual.

Além de um projeção privada na mansão do co-fundador do Facebook Mark Zuckerberg em Silicon Valley, com mais de 100 notáveis convidados do mundo da tecnologia com conhecidos junto da Academia, “O Jogo da Imitação” deu origem a uma carta aberta ao governo britânico assinada por Morten Tydlum (o realizador do filme), Benedict Cumberbatch (o protagonista), Matthew Todd, entre outros e que exigia perdão a mais de 49 mil homens heróis de guerra condenados pela legislação anti-gay da época.

O Jogo da Imitação
Campanha do filme “O Jogo da Imitação” © The Weinstein Company

Verdade seja dita, as campanhas de Weinstein não recorreram a informações falsas, mas teciam paralelos entre as merecidas vitórias que o filme merecia nos Óscares, como uma forma de homenagear o legado de um herói da II Guerra Mundial. Oiça-se o discurso de Graham Moore, argumentista do filme, aquando da sua arrecadação da sua estatueta dourada, e que incorpora muitos dos objetivos de Harvey Weinstein, embora de uma maneira completamente honesta.

Graham Moore vence o Óscar por O Jogo da Imitação

A ganância e determinação de Harvey Weinstein acabaram por ser o seu próprio fim, pelas as denúncias de assédio e violação que falávamos ao início. Os movimentos #MeToo e Time’s Up acabaram por complicar a vida para tantos profissionais do cinema. Começariam as grandes questões: pode a arte ser separada da vida real e dos comportamentos dos produtores, atores, realizadores, etc.? Devem os filmes continuarem a ser nomeados aos Óscares, mesmo quando algum dos seus membros foi acusado de abuso? Seja qual for a tua leitura dos factos, não poderemos esquecer que a Academia deu um passo importante para dar voz às vítimas.

Abaixo poderás conhecer os vencedores de Óscares na última década cujos filmes tinham a mão da The Weinstein Company. Porque há sempre luz na escuridão, encerraremos o capítulo Weinstein com uma das vitórias mais tardias e merecidas da história: Ennio Morricone, falecido em julho de 2020.

Filmes da The Weinstein Company vencedores de Óscares (2010 – 2020)

  • 2010: “Sacanas Sem Lei” (Melhor Ator Secundário, Christoph Waltz)
  • 2011: “O Discurso do Rei” (Melhor Filme, Melhor Ator – Colin Firth -, Melhor Realizador – Tom Hooper -, Melhor Argumento Original – David Seidler); “The Fighter – O Último Round” (Melhor Ator Secundário -Christian Bale -, Melhor Atriz Secundária – Melissa Leo).
  • 2012: “O Artista” (Melhor Filme, Melhor Realizador – Michel Hazanavicius -, Melhor Ator – Jean Dujardin -, Melhor Guarda-Roupa – Mark Bridges -, Melhor Banda Sonora Original – Ludovic Bource); “A Dama de Ferro” (Melhor Atriz – Meryl Streep -, Melhor Maquilhagem e Cabelos – Mark Coulier e J. Roy Helland -); “Undefeated” (Melhor Documentário)
  • 2013: “Django Libertado” (Melhor Argumento Original – Quentin Tarantino -, Melhor Ator Secundário – Christoph Waltz), “Guia Para um Final Feliz” (Melhor Atriz – Jennifer Lawrence)
  • 2015: “O Jogo da Imitação” (Melhor Argumento Adaptado – Graham Moore), “CitizenFour” (Melhor Documentário)
  • 2016: “Os Oito Odiados” (Melhor Banda Sonora —Ennio Morricone)

Ennio Morricone venceu o Óscar graças a Harvey Weinstein

Se Harvey Weinstein desapareceu, a Netflix e o streaming conseguiram imperar. Segue as setas para descobrires tudo sobre os Óscares nos últimos 10 anos.




O caso Netflix com “Roma” e “O Irlandês”

Se Harvey Weinstein perdeu terreno na última década, a Netflix e outras plataformas de streaming têm ganho um crescente impacto nas nomeações para os Óscares. A história da Netflix nos Óscares consolida-se precisamente nesta década, dos quais encontramos grandes êxitos como “Roma” e “O Irlandês”.

Só nos Óscares 2020, a Netflix tornou-se a primeira plataforma de streaming a receber mais nomeações do que qualquer outro estúdio de Hollywood. Mas primeiro falemos de “Roma” e da edição anterior dos prémios da Academia, onde o filme mais pessoal e brilhante de Alfonso Cuarón, obteve 10 surpreendentes nomeações. Já discutimos esta obra no passado (no artigo Óscares 2019 | Pode Roma fazer História?), mas nunca é demais recordar a sua presença que abriu inúmeras portas.

Óscares 2019
Será Roma o primeiro filme Netflix a ganhar o Óscar de Melhor Filme?

Aproveitando-se do discurso, políticas e ameaças anti-mexicanas do 45º Presidente dos Estados Unidos da América Donald Trump, a Netflix adquiriu os direitos de distribuição de “Roma” em abril de 2018. Com estreia em agosto no Festival Internacional de Veneza, “Roma” revelou-se um sucesso extraordinário, e ao contrário da enxovalhada que a Netflix teve em Cannes, “Roma” acabou por vencer o Leão de Ouro. Seguiram-se outra ondas de aplausos no Festival Internacional de Toronto. A estreia de “Roma” na plataforma de streaming ocorreu, por sua vez, em dezembro de 2018, com algumas salas dos EUA a terem direito as projeções por tempo limitado. A partir daí, foi-se firmando o seu caminho para o sucesso nos Óscares. Pela primeira vez, o streaming poderia ser espaço do cinema de autor e não apenas uma ferramenta de entretenimento.

O sucesso junto dos críticos e das audiências, permitiu a “Roma” ser o primeiro filme da Netflix nomeado ao Óscar de Melhor Filme, além de ser por muitos considerado como o grande favorito à categoria, que o tornaria no primeiro filme de língua não inglesa a levar o respetivo galardão para casa. Não aconteceu, isto porque apesar do sucesso e de três vitórias – Melhor Filme de Língua Não Inglesa, Melhor Realizador e Melhor Fotografia, “Roma” não superou o favoritismo de “Green Book – Um Guia para a Vida“.

Green Book derrota Roma e vence o Óscar de Melhor Filme

Numa vitória tão chocante como a de “Colisão” nos Óscares 2006, “Green Book” marcou o regresso da Academia a obras estilisticamente mais tradicionais, que geram facilmente mais empatia com o público, contudo este é um filme de políticas racistas, por muito que Viggo Mortensen diga o contrário.

De qualquer forma, a produtora de “Roma” Gabriela Rodriguez foi a primeira mulher hispânica a ser nomeada ao Óscar de Melhor Filme. A obra-prima de Alfonso Cuarón permitiu um abraçar da diversidade da sétima arte, em termos de história, personagens e claro, das ferramentas mais modernas de distribuição. Através do discurso de Cuarón é fácil entender como a Netflix oferece total liberdade aos seus cineastas, sem intervenção nas decisões tomadas.

Alfonso Cuarón vence o Óscar de Melhor Realizador por “Roma”

Poderemos justificar a influência da Netflix nos Óscares, não só pelo histórico de vitórias de “Roma” em outros festivais, como também pela sua campanha de marketing na qual foram gastos entre 25 a 30 milhões de dólares – a mais cara desde “A Rede Social”, com 20 milhões de dólares gastos pela Columbia Pictures. A Netflix, com conhecimento minucioso das regras de elegibilidade da Academia, enviou livros e poster assinados por Alfonso Cuarón a vários membros, organizou cocktails para celebrar o filme, com Angelina Jolie como anfitriã e apostou em publicidade televisiva no Canal CBS. Alguns membros da Academia e jornalistas da Hollywood Foreign Press Association (que entregam os Golden Globes) foram ainda convidados para festa de Natal na mansão de Ted Sarandos, o chefe de conteúdos originais da Netflix. Pouco a pouco parecia haver espaço para este filme…

Quanto ao “O Irlandês“, nomeado a 10 Óscares da Academia, incluindo Melhor Filme e Melhor Realizador, foram feitas campanhas de marketing semelhantes. Além disso, o filme abriu um debate intenso sobre as formas de distribuição cinematográfica e a sua necessária flexibilização, afinal falamos daquela que é provavelmente a magnus opus de Martin Scorsese. Nela foram gastos mais de 159 milhões de dólares, relacionados com os efeitos digitais de rejuvenescimento dos atores. Curiosamente, o filme teve o seu teaser trailer divulgado a 24 de fevereiro de 2019, precisamente no intervalo da cerimónia dos Óscares ,em que “Roma” acabou por perder, permitindo uma onda de excitação em torno do filme, no qual Scorsese parecia regressar ao mundos dos gangsters de “The Departed – Entre Inimigos” (2005) e “Tudo Bons Rapazes” (1998).

Outro dos pontos altos da promoção de “O Irlandês” aconteceu bem mais próximo da data do seu lançamento (a 27 de novembro de 2019), tratando-se de uma campanha marketing experimental concebida pela Netflix nas ruas de Nova Iorque, e que a CNBC TV partilhou na seguinte reportagem.

Nos Óscares 2020, a Netflix obteve 24 nomeações, embora tivesse ganho apenas na categoria de Melhor Atriz Secundária para Laura Dern em “Marriage Story” e pela documentário “American Factory”.

Abaixo poderás conhecer todas as nomeações e consequentes vitórias da Netflix aos Óscares da Academia. A plataforma de streaming foi nomeada em 21 das 23 categorias existentes até 2020.

Nomeações da Netflix aos Óscares da Academia

MELHOR FILME 

  • 2019: “Roma” – Gabriela Rodríguez e Alfonso Cuarón
  • 2020: “O Irlandês” – Martin Scorsese, Robert De Niro, Jane Rosenthal e Emma Tillinger Koskoff
  • 2020: “Marriage Story” – Noah Baumbach e David Heyman

MELHOR REALIZADOR

  • 2019: Alfonso Cuarón – “Roma” (VENCEDOR)
  • 2020: Martin Scorsese – “O Irlandês”

MELHOR ATOR

  • 2020: Adam Driver – “Marriage Story”
  • 2020: Jonathan Pryce – “Os Dois Papas”

MELHOR ATRIZ 

  • 2019: Yalitza Aparicio – “Roma”
  • 2020: Scarlett Johansson – “Marriage Story”

MELHOR ATOR SECUNDÁRIO

  • 2020: Anthony Hopkins – “Os Dois Papas”
  • 2020: Al Pacino – “O Irlandês”
  • 2020: Joe Pesci – “O Irlandês”

MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA

  • 2018: Mary J. Blige – “Mudbound”
  • 2019: Marina de Tavira – “Roma”
  • 2020: Laura Dern – “Marriage Story” (VENCEDORA)

MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL

  • 2019: “Roma” – Alfonso Cuarón
  • 2020: “Marriage Story” – Noah Baumbach

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO

  • 2018: “Mudbound” – Virgil Williams e Dee Rees
  • 2019: “The Ballad of Buster Scruggs” – Joel Coen e Ethan Coen
  • 2020: “O Irlandês” – Steven Zaillian
  • 2020: “Os Dois Papas”– Anthony McCarten

MELHOR FILME INTERNACIONAL / LÍNGUA ESTRANGEIRA

  • 2018: “On Body and Soul” – Ildikó Enyedi
  • 2019: “Roma” – Alfonso Cuarón (VENCEDOR)

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

  • 2020: “I Lost My Body” – Jeremy Clapin e Marc du Pontavice
    2020: “Klaus” – Sergio Pablos, Jinko Gotoh e Marisa Román

MELHOR DOCUMENTÁRIO

  • 2014: “The Square” – Jehane Noujaim e Karim Amer
  • 2015: “Virunga” – Orlando von Einsiedel e Joanna Natasegara
  • 2016: “What Happened, Miss Simone?” – Liz Garbus, Amy Hobby e Justin Wilkes
  • 2016: “Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom” – Evgeny Afineevsky e Den Tolmor
  • 2017: “13th” – Ava DuVernay, Spencer Averick e Howard Barish
  • 2018: “Icarus” – Bryan Fogel e Dan Cogan (VENCEDOR)
  • 2018: “Strong Island” – Yance Ford e Joslyn Barnes
  • 2020: “American Factory” – Steven Bognar, Julia Reichert e Jeff Reichert (VENCEDOR)
  • 2020: “The Edge of Democracy” – Petra Costa, Joanna Natasegara, Shane Boris e Tiago Pavan

MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTAL

  • 2017: “Extremis” – Dan Krauss
  • 2017: “The White Helmets” – Orlando von Einsiedel e Joanna Natasegara (VENCEDOR)
  • 2018: “Heroin(e)” – Elaine McMillion Sheldon e Kerrin Sheldon
  • 2019: “End Game” – Rob Epstein e Jeffrey Friedman
  • 2019: “Period. End of Sentence.” – Rayka Zehtabchi e Melissa Berton (VENCEDOR)
  • 2020: “Life Overtakes Me” – John Haptas e Kristine Samuelson

MELHOR BANDA SONORA ORIGINAL

  • 2020: 2Marriage Story” – Randy Newman

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

  • 2018: “Mighty River”, de “Mudbound” – Mary J. Blige, Raphael Saadiq e Taura Stinson[15]
  • 2019: “When a Cowboy Trades His Spurs for Wings”, de “The Ballad of Buster Scruggs” – David Rawlings e Gillian Welch

MELHOR EDIÇÃO DE SOM 

  • 2019: “Roma” – Sergio Díaz e Skip Lievsay

MELHOR MISTURA DE SOM

  • 2019: “Roma” – Skip Lievsay, Craig Henighan e José Antonio García

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

  • 2019: “Roma” – Eugenio Caballero e Bárbara Enríquez
  • 2020: “O Irlandês” – Bob Shaw e Regina Graves

MELHOR FOTOGRAFIA

  • 2018: “Mudbound” – Rachel Morrison
  • 2019: “Roma” – Alfonso Cuarón (VENCEDOR)
  • 2020: “O Irlandês” – Rodrigo Prieto

MELHOR GUARDA-ROUPA

  • 2019: “The Ballad of Buster Scruggs” – Mary Zophres
  • 2020: “O Irlandês” – Sandy Powell e Christopher Peterson

MELHOR MONTAGEM

  • 2020: “O Irlandês” – Thelma Schoonmaker

MELHORES EFEITOS VISUAIS

  • 2020: “O Irlandês” – Pablo Helman, Leandro Estebecorena, Nelson Sepulveda-Fauser e Stephane Grabli

Será que nos próximos anos teremos a primeira longa-metragem de uma plataforma de streaming a vencer o principal Óscar da noite? Poderá acontecer já na edição dos Óscares 2021, para qual a Academia aceitou estreias exclusivas em streaming, decorrente do encerramento das salas provocado pela pandemia COVID-19. A Netflix está mesmo a fazer campanha por uma série de filmes, como “Da 5 Bloods – Irmãos de Armas, de Spike Lee, “Os 7 de Chicago“, de Aaron Sorkin, “Ma Rainey: A Mãe do Blues” de George C. Wolfe, “Mank”, de David Fincher, ou “Uma Vida à Sua Frente”, de Edoardo Ponti.

Independentemente do que irá acontecer, entre 2010 e 2020 a plataforma de streaming deixou a sua marca nas estatuetas douradas, permitindo inspirar diferentes gerações de cineastas, a tornar-se a sala de cinema de todos os dias, e de todas as horas à volta do mundo.

Lê o nosso post-mortem à 91ª edição dos Óscares da Academia, onde abordamos a derrota de “Roma” e a influência da Netflix. Segue depois com a leitura deste artigo tão especial. 




Óscares e o cinema LBGTQ+

Óscares da Academia
© NOS Audiovisuais

Afastemo-nos um pouco das técnicas de marketing e campanhas publicitárias em torno da Academia, para destacarmos a presença de inúmeras histórias LGBTQ+ junto da Academia, seja através de filmes de grandes estúdios e de filmes distribuídos por estúdios independentes.

Apesar de muitos afirmarem que a Academia menospreza as histórias de relacionamentos lésbicos e privilegia narrativas sobre homens gays, a década começou bem com “Os Miúdos Estão Bem“, filme realizado por Lisa Cholodenko, nomeado a 4 categorias nos Óscares 2011, incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz. Nessa comédia, os jovens Joni (Mia Wasikowska) e Laser (Josh Hutcherson) são filhos de mães lésbicas (interpretadas por Annette Bening e Julianne Moore) e ansiam conhecer o pai, numa obra com algumas nuances melodramáticas do classicismo de Hollywood. Passados 10 anos, consideramos um filme importante que permitiu à indústria e o público ver com outros olhos o casamento de pessoas do mesmo sexo. Nesse ano, Natalie Portman venceu o Óscar de Melhor Atriz por “Cisne Negro”, mas a sexualidade da sua personagem Nina parece estar imediatamente relacionada com a jornada obsessiva e maníaca de encontrar a perfeição, e a falta de contacto com a sociedade que a rodeia.

Por sua vez, nos Óscares 2012, não poderemos esquecer a importante vitória de Christopher Plummer em “Assim é o Amor“. Não só o ator popularmente conhecido por “Música no Coração”, então com 82 anos tornou-se no mais velho vencedor de um Óscar de interpretação, como a sua personagem parece-nos social e culturalmente relevante para a aceitação das narrativas LGBTQ+ junto da Academia.

Trata-se, na verdade, de uma obra semi-autobiográfico de Mike Mills, sobre um homem com mais de 70 anos que revela ser homossexual ao seu filho. Há, na verdade, um jogo de aceitação da sexualidade do pai pelo filho e não ao contrário como habitualmente vemos no cinema. A vitória de Christopher Plummer nos Óscares é ainda um reflexo de uma maior aceitação das histórias sobre homens e mulheres mais velhos que também vimos ao longo da década.

Christopher Plummer vence o Óscar de Melhor Ator Secundário

Sem esquecer as três vitórias alcançadas por “O Clube de Dallas” nos Óscares 2014 – Melhor Ator (Matthew McConaughey), Melhor Ator Secundário (Jared Leto) e Melhor Caracterização -, saltamos para os Óscares 2015, quando “O Jogo da Imitação” obteve 8 nomeações e uma vitória, como falamos antes, e para os Óscares 2016 quando “Carol” acabou nomeado a 6 importantes nomeações incluindo Melhor Atriz (para Cate Blanchett) e Melhor Atriz Secundária (para Rooney Mara), apesar de ausente da categoria de Melhor Filme.

Estes dois casos são histórias que, de uma maneira ou de outra, abordam a complexidade das relações entre pessoas do mesmo sexo nas épocas que evocam – anos 40 e anos 50, respetivamente. Enquanto “O Jogo da Imitação” crucificava a homossexualidade de uma personagem histórica, “Carol” mostrava o lado mais humilde de um poderoso amor nascido entre duas mulheres.

“Moonlight” vence o Óscar de Melhor Filme

A edição dos Óscares 2017 revelar-se-ia a mais crucial para a aceitação das histórias de amor entre pessoas do mesmo sexo, com a aclamação inesperada de “Moonlight”, de Barry Jenkins, com 3 Óscares: Melhor Filme (na maior confusão de envelopes da história), Melhor Argumento Adaptado e Melhor Ator Secundário. Neste filme assistimos à descoberta da sexualidade, do prazer e da subjetividade de Chiron, um jovem negro norte-americano criado num ambiente frágil. É uma história sobre caminho intimista de aceitação, como referido na crítica da MHD.

[…] Estamos perante um filme que não é tanto sobre enredo como é sobre o cuidado estudo de uma personagem e sua perspetiva pessoal. […] o valor de Moonlight encontra-se sobretudo na sua assombrosa representação da experiência individual de Chiron e sua evolução pessoal. Tal subjetividade ganha uma expressão quase operática quando filtrada pelo formalismo preciso que Barry Jenkins aplica à história, transmutando-a num verdadeiro épico da identidade. Veja-se o modo como a montagem torna os movimentos mais casuais em autênticos ballets sensoriais, como a sua reticência constrói uma tapeçaria de densos silêncios que dizem mais do que mil palavras conseguiriam, e como os seus ritmos peculiares germinam um lirismo inebriante no duro realismo da narrativa.

Um ano depois da celebração de “Moonlight” foi a vez da Academia celebrar “Chama-me Pelo Teu Nome“, com o Óscar de Melhor Argumento Adaptado para James Ivory, que aos 89 anos tornava-se assim o mais velho vencedor de uma estatueta dourada, superando o feito de Ennio Morricone, homenageado aos 87 anos.

James Ivory, o mais velho vencedor do Óscar

Chama-me Pelo Teu Nome” esteve também nomeado para Melhor Filme, Melhor Ator (Timothée Chalamet) e Melhor Canção Original, mas é precisamente no seu argumento que encontramos o ponto crucial para a questão da aceitação das narrativas LGBTQ+ junto da Academia. Nesta obra não há nenhum único momento em a sexualidade do seu protagonista Elio seja vista como algo fora do normal. Há mesmo uma preocupação da obra em representar os pais do protagonista como indivíduos progressivas e contemporâneos que não discutem com o filho pela sua orientação sexual ou por qualquer outra atitude da sua vida. Para Luca Guadagnino não é uma questão de sexualidade, apenas do mais puro encontro de almas gémeas e dos corpos que alguma vez assistimos no cinema.

Apesar da época em que se passa, a ameaça de opressão social sobre os dois amantes do mesmo sexo raramente se manifesta, sendo esta a impressão radiosa de um primeiro amor potencialmente tão efémero como o verão ou a vitalidade da juventude. Tal como o livro de Aciman, o filme, parcialmente escrito pelo cineasta americano James Ivory, foge a muitos dos maiores clichés e debilitantes fórmulas do cinema LGBT+, preferindo explorar a especificidade queer do seu romance sem o subjugar a estruturas preconcebidas de desenvolvimento narrativo.

Nos Óscares 2018, outros passos foram dados para celebrar as tramas LGBTQ+. A atriz chilena Daniela Vega tornou-se na primeira apresentadora transexual a pisar o palco da Academia e o seu filme “Uma Mulher Fantástica” foi eleito o Melhor Filme de Língua Estrangeira. A história de personagens transexuais é bastante débil na Academia, mas este foi um grande passo. “Uma Mulher Fantástica” é um retrato comovente e detalhado sobre uma mulher em luto pela perda do amor da sua vida. Também nesse ano Yance Ford, o realizador “Strong Island” tornou-se no primeiro realizador transsexual nomeado para um Óscar. O seu filme – com distribuição da sempre atenta Netflix – foi nomeado para o Óscar de Melhor Documentário, embora tivesse perdido para “Ícaro”.

Nessa edição, não poderemos esquecer o enorme progresso sentido com a vitória do Óscar de Melhor Filme por “A Forma da Água”, uma obra com ressonâncias da era #MeToo, que celebra as mais puras histórias de amor e aposta ainda na representação afro-americana, para além de ser realizado por um mexicano. Neste filme, encontramos Giles (o nomeado ao Óscar Richard Jenkins), um homossexual cuja narrativa não termina em tragédia – mesmo que não tenha o par romântico que tanto quer -, assumindo-se como o herói da história. Esta é uma fábula em tempos de Guerra Fria sobre a diversidade de uma ponta à ponta e um dos mais justos e melhores vencedores do Óscar de Melhor Filme. Além dessa categoria, “A Forma da Água” venceu outros 3 Óscares da Academia: Melhor Realizador, Melhor Banda-Sonora Original e Melhor Design de Produção.

“A Forma da Água” vence Melhor Filme

Um ano depois, nos Óscares 2019, foi a vez de vários dos filmes nomeados terem narrativas ou pequenos enredos com personagens LGBTQ+. Dos filmes à corrida ao prémio principal “Bohemian Rhapsody“, “Green Book – Um Guia para a Vida” e sobretudo “A Favorita” podem ser inseridos neste grupo, embora os dois primeiros sejam até bastante homofóbicos, como discutimos no nosso post-mortem.

Vejamos então o caso d’”A Favorita“, mas antes lembremo-nos da vitória mais chocante da última década nas categorias de interpretação, quando Olivia Colman destronou o favoritismo de Glenn Close no Óscar de Melhor Atriz.

Olivia Colman vence o Óscar de Melhor Atriz

A Favorita” , filme de época sobre uma personagem histórica e real, a Rainha Ana da Grã-Bretanha (1665 – 1714) e as duas mulheres por quem se apaixonou, conseguiu igualar “Cabaret” como o filme LGBTQ+ com mais nomeações aos Óscares: 10 no total. Importa entender, que ao contrário de “Bohemian Rhapsody“, ou “Green Book“, as personagens do filme de Yorgos Lanthimos não ‘saem do armário’ ou sequer os seus relacionamentos com pessoas do mesmo sexo é visto com estranheza. Não existem personagens unidimensionais e unilaterais, e o enredo de “A Favorita” está mais focado no poder da Rainha Ana e nas suas fragilidades físicas, em vez de nos questionar sobre a sua sexualidade. Como revelado na nossa crítica:

Trata-se também de uma das mais acutilantes representações de amor romântico nos anais do cinema inglês, dissecando as verdades mais venenosas que se encontram subjacentes a tal maravilha do coração humano.

Os Óscares 2018 traduziram-se em várias nomeações para atores que interpretam personagens queer: Rami Malek foi nomeado para o Óscar de Melhor Ator por interpretar Freddie Mercury, Mahershala Ali e Richard E. Grant estiveram na corrida ao Óscar de Melhor Ator Secundário por “Green Book” e “Memórias de uma Falsificadora Literária“, respetivamente; e Olivia Colman como Melissa McCarthy foram nomeadas a Melhor Atriz por desempenharam personagens lésbicas em “A Favorita” e “Memórias de uma Falsificadora Literária“. Emma Stone e Rachel Weisz que acompanharam Colman no filme “A Favorita”, concorreram a Melhor Atriz Secundária, também por personagens lésbicas.

Nos últimos 10 anos, poderemos entender o quanto a Academia comprovou ser espaço autêntico de celebração das mais ecléticas histórias de amor, que não só estão a ser contadas em Hollywood e por Hollywood, como nos diferentes cantos do globo.

Continua com a nossa análise sobre a última década de Óscares da Academia.




Parasitas, um necessário hino à inclusão

2020 foi um grande ano para o cinema, foi o ano em que a Academia quebrou finalmente a barreira e muros estabelecidos com os filmes com legendas.

Foi o ano em que pela primeira vez um filme de língua não inglesa ganhou o Óscar de Melhor Filme, o primeiro filme da Coreia do Sul a ter direito a essa honra, e ainda o primeiro filme do país a ser nomeado e a receber o galardão de Melhor Filme Internacional e o primeiro filme asiático a receber o Óscar de Melhor Argumento Original. Falamos claramente de “Parasitas“, realizado por Bong Joon Ho. Este é um dos filmes mais brilhantes dos últimos tempos, incomparável a qualquer outra obra, a que todos se renderam e que mereceu gritos, aplausos e ovações no Dolby Theatre.

Quando o anúncio foi feito por Jane Fonda, ninguém poderia imaginar o que estava prestes a acontecer. Apenas a longa pausa da atriz, que em breve receberá o Cecil B. DeMille pela sua carreira, fez-nos suspeitar do inimaginável. Pela primeira vez a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood conseguiu honrar um filme internacional com o seu prémio mais prestigioso. Primeiro ficámos chocados e depois chorámos com esta vitória tão merecida.

Na recepção do Óscar de Melhor Realizador, que também acabou por vencer, Bong Joon Ho prestou uma homenagem sentida aos seus colegas nomeados, o que incluiu ainda uma ovação a Martin Scorsese, cujo legado fica evidente em muitas obras do cinema contemporâneo. A vitória de “Parasitas” nos Óscares fez-nos igualmente repensar nas nomeações de “Roma”, vistas portanto com enorme otimismo e não apenas como consequência direta das campanhas de marketing da Netflix.

Bong Joon Ho vence o Óscar de Melhor Realizador

O enredo de “Parasitas” é uma história universal sobre a luta e imposição das classes sociais e estruturas culturais em que vivemos. É um filme feito na Coreia do Sul, como atores asiáticos, mas que poderia ser filmado em qualquer parte do mundo. É uma das histórias mais universais que poderás assistir nos dias de hoje. Praticamente um ano após a sua vitória, poderemos entender a sua aceitação como uma das melhores vitórias nos Óscares. A Academia abraçou as histórias de outros cantos do mundo. Curiosamente, foi apenas a segunda vez – desde “Marty” em 1955 -, em que o Óscar da Academia foi entregue a um filme vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Embora não tenha sido nomeado em nenhuma categoria de interpretação (Kang-Ho Song esteve perto e merecia estar na corrida a Melhor Ator Secundário), “Parasitas” venceu o prémio de Melhor Elenco entregue pelos SAG 2020, o sindicato de atores norte-americano e tornou-se um verdadeiro sucesso de bilheteira, com mais de 40 milhões de dólares arrecadados só nos Estados Unidos (o maior êxito de um filme de língua não inglesa de sempre). Internacionalmente, “Parasitas” também prosperou com mais de 160 milhões de dólares arrecadados. O público ocidental e os votantes da Academia querem mais filmes asiáticos, com personagens poderosas e que apelem à sua rotina.

Há uma forte probabilidade de no futuro vermos mais filmes como “Parasitas” na corrida ao Óscar de Melhor Filme, mas será que volta a acontecer já em 2021? Aparentemente, o impacto e a mensagem de “Parasitas” poderá repercutir-se em “Minari“, um filme americano sobre os imigrantes sul-coreanos no país do tio Sam. É o retrato mais honesto dos últimos anos sobre a interculturalidade e que merece ser homenageado na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Além disso, Dede Gardner pode tornar-se na única produtora da história a vencer o Óscar de Melhor Filme por três vezes. Enquanto não sabemos o que acontecerá, podes também ler a nossa análise à 92ª edição dos Óscares da Academia no nosso post-mortem anual.

Segue com a leitura para conhecer o nosso último ponto sobre os Óscares nos últimos 10 anos. 




Óscares: novos votantes e novas regras

Antes de darmos este especial por concluído, notemos igualmente as mudanças constantes de membros da Academia que trespassam eficazmente a questão da diversidade. A Academia transformou-se.

Em 2020, e antes mesmo da celebração de “Parasitas”, a Academia começou por incluir 819 novos membros. Deste grupo, 45% eram mulheres, 36% eram pessoas de cor e 49% eram pessoas provenientes de países fora dos Estados Unidos. Notável a inclusão de nomes como Zazie Beetz (“Joker“), LaKeith Stanfield (“Desculpe Incomodar”), Brian Tyree Henry (“Se Esta Rua Falasse“), John David Washington (de “Tenet“) Zendaya (a atriz da série “Euphoria“), Ana de Armas (de “Knives Out: Todos São Suspeitos“), Florence Pugh (de “Mulherzinhas“), Yalitza Aparicio de (de “Roma”) ou de Awkwafina e Lulu Wang (a protagonista e realizadora de “A Despedida”). Cynthia Erivo (de “Harriet“), também passou a fazer parte dos novos votantes nas categorias de música e interpretação.

De facto, nos últimos quatro anos e em consequência direta dos #OscarssoWhite em 2016, a Academia tem procurado alargar os seus votantes. Em 2016 foram convidadas 683 personalidades e em 2018, foram convidadas 928 novas caras. No ano de 2016, foram convidados rostos bem conhecidos do público como Mahershala Ali, Anthony Anderson, Adam Beach, John Boyega, Cliff Curtis, Loretta Devine e Carmen Ejogo, entre outros. Em 2018, os novos membros foram Doona Bae, Alice Braga, Dave Chappelle, Olivia Colman, Bárbara Lennie, Mia Maestro, Kumail Najiani, Tahar Rahim.

Óscares 2020
Óscares 2020 | “Parasitas” foi o grande vencedor

É um passo importante para não limitar a escolha dos melhores filmes e interpretações do ano à maioria masculina, branca e conservadora de outros tempos. A estatueta dourada não deve ser cega à multi-culturalidade dos dias de hoje. Por sua vez, uma das mudanças mais interessantes está ainda relacionada a categoria de Óscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira, designada desde a última edição como Óscar de Melhor Filme Internacional.

Contrariamente a outras categorias, o Óscar de Melhor Filme Internacional não tinha um grupo específico de votantes e incluía profissionais de diferentes categorias como realizadores e argumentistas que poderiam votar nos seus filmes preferidos. Inicialmente, havia um conjunto de voluntários, uma espécie de ‘comité preliminar’, responsável por eleger os seus sete filmes preferidos, enquanto um comité internacional, especializado em cinema de língua não inglesa, selecionavam os outros três filmes. Agora a Academia prescinde destes voluntários e o trabalho passará a ser feito pelo comité principal, que expandirá a lista de finalistas de 10 para 15 como acontece este ano. O processo será feito consoante as regras oficiais anunciadas abaixo:

1. A votação do Óscar de Melhor Filme Internacional decorrerá em duas rondas:

a) O comité preliminar do Óscar de Melhor Filme Internacional irá ver todas as submissões dos países e votará secretamente para eleger uma lista de finalistas de 15 filmes.

b) O comité responsável pelas nomeações ao Óscar de Melhor Filme Internacional deverá assistir aos 15 filmes e escolher secretamente os cinco nomeados à categoria.

Além disso, a estatueta será aceite pelo realizador em nome da equipa técnica do filme. O país será creditado como o nomeado e o nome do realizador constará na estatueta. Estas decisões são importantes, sobretudo para que filmes que são êxitos internacionais não sejam esquecidos nesta categoria e que por vezes acontecia. São exemplos “Gomorra” (Matteo Garrone, 2008), “Voltar” (Pedro Almodóvar, 2006), “Água” (Deepa Mehta, 2005), “Cidade de Deus” (Fernando Meirelles, 2002), “Fala com Ela” (Pedro Almodóvar, 2002), “O Escafandro e a Borboleta” (Julian Schnabel,2007) que foram selecionados pelos seus respetivos países para concorrer ao Óscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira, mas que acabariam por ser estranhamente esquecidos, apesar de alguns deles terem concorrido noutras categorias.

Além desta alteração, vale a pena destacar o quanto a diversidade veio mesmo para ficar nos Óscares, com a Academia a revelar um conjunto de novas regras de inclusão e legibilidade. O seu objetivo passa por celebrar os mais ecléticos filmes. Esta é uma forma justa para incluir artistas que anteriormente não teriam qualquer visibilidade e de, mostrar como o cinema é efetivamente uma arte global. Dez anos depois de ter expandido a categoria de Melhor Filme para um máximo de 10 filmes (que passará a ser de exatamente 10 filmes a partir dos Óscares 2022), a Academia quer fazer cumprir uma série de critérios de representatividade à frente e por detrás das câmaras. Não haverá mais espaço para o regresso de hashtags como #OscarsSoWhite. Se quiseres conhecer estas regras por completo, entra no nosso artigo sobre o significado destas novas regras de inclusão.

Apesar de ter gerado algumas críticas, a MHD concorda com estas novas regras. É um passo importante não só para o cinema como para outros setores profissionais dos Estados Unidos. É uma chamada de atenção urgente para um trabalho mais igualitário, menos machista e mais liberal. Estas novas regras não limitam em nada a criatividade dos cineastas e argumentistas, afinal os filmes não são feitos para serem nomeados aos Óscares. Os filmes são feitos para entreter, para pensar e alguns deles acabaram por originar debates saudáveis sobre as temáticas mais abordadas na nossa sociedade.

Representatividade, diversidade ou inclusão, independentemente de como lhe queiram chamar, devem ser obrigatórios sim, quer na Academia, quer nos filmes eleitos como em qualquer outro setor profissional. Criaremos mais espaço para as vozes menos escutadas e ambientes profissionais mais saudáveis quando estes valores forem amplamente difundidos.

É bom perceber que o fim de uma década nos Óscares vem acompanhado por novas possibilidades na década que iniciamos. Em 2021, filmes como “Nomadland – Sobreviver na América“, “Minari”, “Uma Miúda com Potencial” ou “Uma Noite em Miami…” podem estar na corrida aos Óscares por celebrarem histórias nunca antes vistas sobre nómadas, imigrantes sul-coreanos, mulheres que lutam pela justiça e personagens históricos que procuram o sentido da comunidade afro-americana. De qualquer forma, os Óscares estão aí para celebrar o melhor da arte do cinema e daquilo que nos define como seres humanos.

Entretanto, o anúncio dos nomeados para os Óscares 2021 acontecerá a 15 de março. A cerimónia vai para o ar em direto do Dolby Theatre no domingo dia 25 de abril. Fica atento aos conteúdos que vamos partilhar sobre os Óscares e sobre a temporada de prémios. Deixa-nos o teu comentário sobre este nosso post-mortem. 


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